domingo, 13 de setembro de 2015

PROPOSTAS/Educação VIII - Promover a aprendizagem de todos

"A garantia da aprendizagem tem estreita relação com o acesso à escola, a permanência nela e a conclusão de cada etapa na idade certa. Então, antes de qualquer aspecto, a universalização da aprendizagem requer que 100% das crianças e dos adolescentes brasileiros estejam matriculados e continuem na escola, aprendendo, o que não acontece atualmente. E isso não depende apenas dos órgãos educacionais, precisa de uma articulação com as políticas públicas em outros setores.

Os indicadores dessa área vêm melhorando gradativamente no Brasil, porém em ritmo lento diante de uma situação de extrema urgência. Um estudo realizado em 27 países identificou que o maior fator de exclusão escolar é o atraso decorrente da não aprendizagem e de sucessivos abandonos.

A qualidade da Educação é essencial para fazer com que nenhuma criança ou nenhum adolescente seja excluído da escola. Um levantamento feito com as redes que obtiveram os maiores avanços no Ideb constatou que elas tinham em comum seis práticas que podem ser inspiradoras na busca pela garantia do direito de aprender: foco na aprendizagem, aulas planejadas pelo professor em conjunto com a equipe pedagógica, acompanhamento individual, avaliação contínua dos estudantes, envolvimento da família e professores capacitados e motivados.

Essas e outras lições não podem ficar limitadas a poucas ilhas de excelência. As escolas que estão atingindo bons resultados precisam compartilhar seus conhecimentos e suas práticas com as que estão com dificuldades. Todas as redes têm o que ensinar e o que aprender."

Maria de Salete Silva é coordenadora de Educação do Unicef

Taxa de distorção idade-série no Brasil
Taxa de distorção
idade-série no Brasil

Fonte:
Gente que Educa

PROPOSTAS/Educação VII - Educar para as habilidades do futuro

"A Educação brasileira vive hoje o desafio de, ao mesmo tempo, solucionar problemas antigos e se adequar às demandas do futuro. O país ainda convive com falhas de infraestrutura como a ausência de bibliotecas, a raridade dos laboratórios de Ciências e o acesso ruim à internet. Outros problemas estão relacionados à desigualdade de condições entre escolas das zonas rural e urbana e entre unidades do centro e da periferia das grandes cidades. Tais pontos têm de ser resolvidos, claro, mas ao mesmo tempo as redes devem estar afinadas com as mudanças que a sociedade vive.

Os professores precisam saber lidar com os recursos que estão à sua disposição e que colaboram com o aprendizado, como vídeos, jogos e computadores conectados à internet. Tecnologias como essas permitem que a escola aborde habilidades típicas dos novos tempos, como o trabalho em equipe, a cooperação e a solução de problemas. E também há temas contemporâneos, como participação cidadã e sustentabilidade, que precisam estar integrados ao currículo.

Para que essas novas ferramentas e abordagens sejam colocadas a favor da aprendizagem, é necessário investir na formação docente e ampliar os recursos disponíveis, que devem ser geridos com responsabilidade. Também são necessárias medidas que eliminem as desigualdades entre escolas da mesma rede e beneficiem aquelas com piores índices nas avaliações externas, a fim de que elas alcancem o mesmo patamar das que foram mais bem avaliadas."

Maria Alice Setúbal é fundadora do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec)

Atitudes contemporâneas
Atitudes contemporâneas


Fonte:
Gente que Educa

PROPOSTAS/Educação VI - Cuidar da qualidade e do acesso à Educação Infantil


"Desde a primeira pesquisa sobre o tema, realizada nos Estados Unidos na segunda década do século 20, todos os estudos mostram que o fato de as crianças irem para a pré-escola influi positivamente nos resultados que apresentam na continuação da escolaridade, e quanto melhor essa experiência, mais significativos e duradouros são esses resultados.

Em matéria de acesso a essa etapa, o Brasil não está ruim, pois cerca de 80% da população de 4 e 5 anos é atendida e já foi estipulada a extensão da obrigatoriedade escolar para abranger a idade prevista para a pré-escola. O PNE, em tramitação no Congresso Nacional, também estipula metas para essa faixa etária.

Para alcançar esses objetivos, porém, o primeiro desafio é ter dados estatísticos mais confiáveis. Eles ainda são muito imprecisos e há discrepância entre os números do Inep e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Também é necessário olhar para as crianças não atendidas. Há desigualdades entre zonas rurais e urbanas e entre classes sociais que precisam ser revertidas.

Com relação à qualidade, estamos em má posição. Os ambientes de muitas creches e pré-escolas ainda são inadequados. Aspectos importantes de uma programação voltada para a faixa etária estão sendo negligenciados, como uma programação que crie oportunidades para as crianças ampliarem seus conhecimentos. Muitas iniciativas têm sido tomadas para melhorar esse quadro, mas ainda temos uma combinação nada frutífera: professores mal formados ou leigos e falta de currículos com sugestões de boas práticas.

Para superar essa situação, as instituições que formam professores devem reservar um espaço maior em seus currículos para conhecimentos sobre a Educação Infantil e as secretarias devem elaborar documentos curriculares que sigam as diretrizes nacionais e sejam adaptados à realidade local e aos recursos disponíveis."

Maria Malta Campos é pesquisadora da Fundação Carlos Chagas (FCC)

Aprendizado melhor
12% é o ganho na nota da Provinha Brasil de alunos que tiveram uma boa Educação Infantil em relação aos demais
Fonte:
Gente que Educa

PROPOSTAS/Educação V - Criar mecanismos para melhorar o clima escolar

"A influência de um ambiente favorável à Educação no rendimento dos alunos é algo comprovado e estudado internacionalmente. O bom clima envolve o conjunto de relações estabelecidas entre estudantes, professores e equipe gestora, as ações pedagógicas e administrativas, a infraestrutura e as percepções de todos sobre a qualidade da vida escolar. Países como os Estados Unidos discutem intensamente esse tema. Mas no Brasil ele ainda está fora da agenda nacional, por isso há poucos debates e poucas propostas de melhoria.

Por aqui, também ainda não há uma forma sistematizada de diagnóstico para detectar como o clima está e o que interfere nele. O sistema de avaliação externa avançou muito nos últimos anos, mas ele avalia a escola pelo desempenho cognitivo do aluno, gerando apenas indicadores de efetividade. E não é possível saber que elementos impactam nessa efetividade. Precisamos de indicadores de processo que consigam detectar como está cada uma das variáveis envolvidas no clima escolar. Por exemplo, se há problema de relacionamento entre os alunos, qual é a causa e como isso afeta o aprendizado.

Os estudos já realizados nos dão algumas pistas do que interfere no ambiente (leia sobre elas abaixo). Para que o gestor consiga dar conta desses aspectos, é preciso que seja bem formado e escolhido com critério, sem que sejam levados em conta apenas seus saberes acadêmicos de Pedagogia. Já os governos precisam criar uma política ativa para valorizar e melhorar as relações na escola, desenvolver instrumentos de avaliação e disseminação e inseri-los nas formações dos educadores."

Fernando Luiz Abrucio é pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV)

O que influencia o clima
O que influencia o clima
Fonte Gestão escolar e qualidade da educação: um estudo sobre dez escolas paulistas, FVC, 2010


Fonte:
Gente que Educa

PROPOSTAS/Educação IV - Articular as etapas da Educação Básica

"A Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio estão interligados do ponto de vista legal, constituindo a Educação Básica. Quem a termina pode pleitear uma vaga no Ensino Superior. Mas a lógica que existe na legislação não se mantém na real organização curricular. Na prática, há dispersão dos conteúdos ao longo das etapas e isso colabora para a evasão dos estudantes.

Temos um sistema nacional em que cada ente federativo tem atribuições próprias e reconhece o papel dos demais. Como prova disso, quem cursa o Ensino Fundamental no município é aceito no Ensino Médio da rede estadual. A grande questão a resolver é o currículo.

Quando as Diretrizes Curriculares Nacionais foram formuladas, na década de 1990, a intenção era ter uma base única e, ao mesmo tempo, assegurar a liberdade de estados e municípios de adaptar o que fosse necessário às suas realidades. Isso foi feito com o pressuposto de que teríamos um corpo docente com uma formação sólida para ensinar o que é indispensável em cada disciplina. Infelizmente, há vários empecilhos para que isso vire realidade e eles deveriam ser considerados na formulação de políticas públicas. A formação é insuficiente e os professores enfrentam precariedades, como escolas sem segurança e salários pouco atrativos.

Recomenda-se, portanto, a criação de um grupo que reúna as distintas esferas do governo, fóruns e conselhos. Ele realizaria um debate amplo sobre a relação entre a autonomia das secretarias e uma base curricular para todo o país, capaz de construir um currículo mínimo em consonância com a orientação legal das diretrizes e com as especificidades das escolas."
Taxas de abandono escolar
Carlos Roberto Jamil Cury é docente da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG)

Taxas de abandono escolar









Fonte:
Gente que Educa

PROPOSTAS/Educação III - Incorporar a tecnologia à sala de aula

"As políticas públicas e os programas formulados pelas redes de ensino na área de tecnologia precisam ser mais eficazes na maneira de apoiar e acompanhar as escolas. A presença dos equipamentos não é suficiente. Embora não seja uma tarefa simples, deve-se garantir um suporte consistente às escolas. Não adianta ter os equipamentos e não ter tomadas adequadas ou oferecer banda larga e não assegurar uma equipe capacitada para lidar com a rede de computadores e consertar o que for preciso.

As ações nessa área precisam ser descentralizadas e focadas em quem está na ponta para que o professor se sinta seguro para usar as tecnologias a favor da aprendizagem dos estudantes. Comumente, o educador tenta usar, gosta, mas a situação é tão complicada - por exemplo, o computador fica quebrado muito tempo, a internet falha... - que ele desiste.

Além de uma estrutura mais robusta, as redes necessitam estimular o efetivo ingresso das escolas e dos educadores na cultura digital. Isso é complexo porque exige uma mudança de paradigmas e o desenvolvimento de maneiras novas de trabalhar, focadas na colaboração, na coautoria e na interatividade, que caracterizam a revolução digital, algo que às vezes não está presente na estrutura das secretarias, seja na administração delas, nas formações ou nas propostas oferecidas às escolas. Uma alternativa é incentivar o trabalho colaborativo a distância em ambientes digitais entre professores e formadores da rede, para que todos experimentem as possibilidades de interação e de aprendizado em novos paradigmas e, assim, possam levá-las para seus alunos.

O uso das tecnologias também deve ser incluído no projeto pedagógico das instituições. Se a orientação está clara nesse documento, se foi uma construção do grupo, essa escola se organiza para aproveitar os recursos digitais como ferramenta de aprendizado, o que vai nortear o trabalho dos professores."

Márcia Padilha é consultora para programas de uso educativo de tecnologias digitais

Os principais problemas


Os principais problemas
Fonte O Uso dos Computadores e da Internet nas Escolas Públicas de Capitais Brasileiras, FVC, 2009

Fonte:

Gente que Educa

PROPOSTAS/Educação II - Usar as avaliações externas para aprimorar o ensino


"Olhar para os resultados de um trabalho é fundamental em qualquer gestão, inclusive na pedagógica. Mais que uma política pública, a avaliação serve para a sociedade monitorar o sistema de ensino e saber se o direito de aprendizagem dos alunos foi ou não atendido. E no Brasil, com tantas carências, não podemos deixar de dar sentido a isso.

O país tem produzido medidas que sintetizam o desempenho dos estudantes, mas ainda pode melhorar muito na transformação dos números em informações de utilidade pedagógica. Para que isso aconteça, os relatórios devem chegar às escolas em um formato que possa de fato ser utilizado por professores e gestores para direcionar suas decisões. Não basta saber apenas a nota média, como ocorre hoje.

Vale a pena observar o exemplo de Ontário, no Canadá. Lá, as escolas recebem os apontamentos da avaliação cerca de dois meses após ela ser realizada, um tempo bem menor do que no Brasil (onde isso se dá anos depois). Assim, a maioria dos diretores e professores usa os dados para identificar as áreas em que estão bem e aquelas que precisam de atenção. A evolução do desempenho dos estudantes ao longo dos anos mostra que isso faz a diferença no aprendizado. Por aqui, exceto em 2001, quando o Inep fez um esforço de produzir um relatório pedagógico substancial, pouco foi desenvolvido nesse sentido.

Um dos resultados gerados por uma avaliação é o mapa de itens. Ele indica o que foi aprendido em cada ponto da escala de avaliação e também o que os alunos ainda não sabem. O ideal é que os responsáveis pelos exames enviem relatórios para as instituições de ensino com os mapas comentados. Assim, será possível priorizar ações que atendam às dificuldades dos alunos e fazer intervenções mais efetivas."

José Francisco Soares é especialista em avaliação e medidas educacionais e pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Fonte:

Gente que Educa

PROPOSTAS/Educação I - Valorizar os docentes e a equipe escolar

"As formações continuadas oferecidas para professores e gestores no Brasil não atendem suas necessidades e não os valorizam. E isso é acentuado por condições de trabalho precárias e salários humilhantes.

Há muitos cursos, mas em geral os programas são fragmentados, focados em estratégias para ensinar certos conteúdos ou para garantir um bom desempenho em avaliações externas. O gestor enfrenta dificuldades específicas porque, quando deixa a sala de aula, leva consigo a experiência em ensinar, mas não em administrar. A formação voltada a ele não preenche essa lacuna e comumente é focada em temas como a didática.

A solução é promover uma formação centrada nas especificidades da escola e preocupada em responder aos problemas identificados. Isso não significa abandonar os conteúdos de base, mas dar mais atenção às prioridades de cada lugar. Com o foco certo, os educadores se sentirão mais valorizados e serão estimulados a refletir sobre suas práticas e transformá-las."

Vera Placco é professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)

O que é essencial para o trabalho do coordenador

Fonte O coordenador pedagógico e a formação de professores, FVC, 2010

















Fonte:

Gente que Educa

Os 10 maiores problemas da educação no Brasil (e suas possíveis soluções)




MAIS ALGUNS PROBLEMAS...


- Muitas faculdades e universidades não preparam o professor para a realidade da sala de aula.

- Baixa remuneração paga aos professores de Ensino Básico, principalmente da educação pública. Falta de um sistema que beneficie os profissionais mais eficientes.

- Carência em sistemas eficientes de aperfeiçoamento, capacitação e educação continuada para professores;

- Currículo pouco interessante para os alunos ou desconectados da realidade;

- Baixa participação dos pais na vida escolar dos filhos e nos assuntos da escola;

- Burocracia em excesso na administração escolar;

- Investimentos públicos insuficientes para atender com qualidades as necessidades educacionais;

- Elevados índices de repetência, principalmente em regiões mais carentes;

- Baixa permanência dos alunos nas escolas (média de 4 horas diárias);

- Existência de professores lecionando sem formação específica para a área (principalmente em regiões mais carentes do Brasil);

- Uso em excesso de métodos de ensino ultrapassados (questionários, cópias de lição na lousa, muitas aulas teóricas sem participação dos alunos, etc.);

- Falta de conexão entre os níveis de ensino (infantil, fundamental e médio);  

- Altas taxas de abandono de alunos devido ao fracasso escolar ou problemas financeiros;

- Carência de condições materiais em escolas de regiões pobres.

Correção: (Mudanças climáticas e ambientais e seus efeitos na saúde: cenários e incertezas para o Brasil)