Num primeiro momento, essas são duas palavras que parecem ter uma definição muito simples. Sustentabilidade é a preservação do meio ambiente e paz é a ausência da guerra. Já há algum tempo sabe-se que esses dois conceitos têm um significado muito mais amplo e estão intrinsicamente ligados.A sustentabilidade vai muito além da preservação da natureza. Sem dúvida nenhuma, a proteção e o uso racional dos recursos naturais do planeta fazem parte de um mundo sustentável, mas que também deve compreender os pilares social, econômico e cultural. E onde exatamente se encaixa o conceito de paz nesse conjunto?Problemas como a falta de segurança, a pobreza extrema, a exclusão social e a degradação do meio ambiente são estopins para convulsões civis, que em alguns casos, acabam tendo como fim uma guerra armada. Essa conexão entre a paz e a sustentabilidade fica ainda mais clara quando se pensa sobre a disputa dos países por recursos naturais, a superpopulação mundial e a escassez de alimentos e a consequente deterioração da natureza.Basta lembrar, como exemplo, um dos mais recentes conflitos mundiais, a Guerra do Golfo, na década de 90. Localizado no Golfo Pérsico, região rica em petróleo, o Kuwait foi invadido pelo Iraque. Com o pretexto de defender o país invadido, uma coalizão de forças ocidentais tendo Estados Unidos e Reino Unido como líderes, unidas a outro países do Oriente Médio, deflagraram uma ação militar. Foram meses de bombardeios e mortes. Aqui não se interessa discutir quem estava com a razão. O que se sabe hoje, décadas mais tarde, é que o conflito armado teve como causa os interesses dos envolvidos por um precioso recurso natural, o petróleo.Nesse caso, o desequilíbrio mundial foi provocado pela falta da paz. Segundo a constituição da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)*, como as guerras se iniciam nas mentes dos homens, é na mente dos homens que as defesas da paz devem ser construídas. A organização internacional foi criada justamente com o propósito de contribuir para a paz e a segurança, promovendo cooperação entre as nações por meio desses três instrumentos: cultura, educação e ciência.Durante os anos de 2001 e 2010, as Nações Unidas proclamaram o período como a Década Internacional da Promoção da Cultura da Paz e Não Violência em Benefício das Crianças do Mundo. Ao longo de dez anos foram realizados em todo mundo atividades, debates, projetos e ações desenvolvidas em conjunto pela UNESCO e organizações locais. No Brasil foram escolhidas quatro entidades parceiras para trabalhar o conceito de cultura da paz:
- Associação Palas Athena,
- Organização Brahma Kumaris,
- Comunidade Bahá’í e
- Fundação Peirópolis.E como difundir e deixar mais claro um conceito que parece ser tão filosófico? A resposta é mais simples do que se imagina. A cultura da paz prega a resolução de problemas por meio do diálogo, da negociação e da mediação. O entendimento entre os homens torna a guerra e a violência inviáveis. Traduzindo para uma linguagem comum a todos, poderíamos usar o famoso dito popular: conversando é que a gente se entende.A cultura da paz também engloba o acesso aos direitos fundamentais do ser humano. Toda criança tem direito à educação, saúde, à uma casa para morar. Ela deve ainda ser respeitada, ter dignidade, conviver com amor e carinho no seio familiar e ter acesso amplo à cultura e ao lazer. Para tal, é necessário que todo ser humano viva numa sociedade que respeite os valores democráticos da igualdade, justiça, diversidade cultural e religiosa. No campo econômico, o que se busca é a transição de uma economia competitiva de mercado para um modelo de desenvolvimento compartilhado, mútuo e sustentável.Tolerância e solidariedade são fundamentais para uma cultura da paz.Estamos em 2013. Dois anos se passaram desde o final da Década da Cultura da Paz, proclamada pela UNESCO. Sabe-se entretanto, que esses dez anos foram somente o pontapé inicial do processo. A cultura da paz é um processo de longo prazo e que deve ser colocado em prática diariamente – em casa, na escola, no trabalho, na cidade, no estado e no país. Começa pela palavra de carinho da mãe ao filho, a generosidade no trânsito, a ação voluntária na comunidade e que deve culminar no acordo de paz entre países em conflito.Vale ainda lembrar os seis princípios do Manifesto 2000, elaborado pela UNESCO para estimular a participação individual em direção a uma cultura da paz:
1. Respeitar a vida;
2. Rejeitar a violência;
3. Ser generoso;
4. Ouvir para compreender;
5. Preservar o planeta e
6. Redescobrir a solidariedade.
Por Suzana Camargo
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