sábado, 27 de fevereiro de 2016

Anti-inflamatório pode evitar a morte de vítimas do escorpião amarelo, sugere estudo

 

Com meros 7 centímetros de comprimento, o escorpião amarelo (Tityus serrulatus) não parece muito ameaçador, mas a espécie é, na verdade, a mais peçonhenta da América do Sul. Todos os anos, mais de 1,2 milhão de pessoas em todo o mundo são vítimas de seu veneno. Dessas, cerca de 3 mil acabam morrendo.
De acordo com dados da literatura científica, a maioria das mortes decorrentes da picada do escorpião amarelo – espécie venenosa prevalente no Sudeste brasileiro – está relacionada a complicações cardíacas e pulmonares que resultam em um quadro de insuficiência respiratória.

Um estudo publicado nesta terça (23/02) por pesquisadores brasileiros na revista Nature Communications sugere que o problema poderia ser evitado – ou pelo menos minimizado – com a pronta administração de medicamentos anti-inflamatórios encontrados em qualquer farmácia, como a indometacina e o celecoxibe.

“Nossos experimentos foram feitos com camundongos, mas há grandes chances de que os resultados se repliquem em humanos, pois as bases moleculares – os mediadores envolvidos na reação inflamatória pulmonar – são iguais nesse caso. Se isso se confirmar, será uma ferramenta importante no pronto atendimento das vítimas e certamente vai diminuir a mortalidade”, avaliou a pesquisadora Lúcia Helena Faccioli, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da Universidade de São Paulo (USP).

O trabalho foi desenvolvido com apoio da FAPESP durante o pós-doutorado de Karina Furlani Zoccal, no âmbito de um Projeto Temático coordenado por Faccioli na USP.

Conforme explicou a professora da FCFRP-USP, sempre que alguém é picado pelo T. serrulatus ocorre uma reação inflamatória local que causa fortes dores, mas não leva à morte. Em alguns casos, porém, também é desencadeada uma reação inflamatória sistêmica, que pode resultar em edema pulmonar (acúmulo de líquido no pulmão) e prejudicar a respiração.

Até o momento, o consenso entre os cientistas era que a gravidade do quadro de envenenamento dependeria essencialmente da relação entre a massa corporal da vítima e a dose de toxina inoculada. No entanto, o estudo da FCFRP-USP indica que pode haver fatores genéticos relacionados, que influenciariam na capacidade do indivíduo de produzir certas moléculas inflamatórias e anti-inflamatórias.

“Os mecanismos pelos quais essa reação sistêmica é disparada, os mediadores envolvidos, não eram conhecidos e foram objetos do nosso estudo”, contou Faccioli.

Em busca de um suspeito

Em trabalhos anteriores, o grupo coordenado por Faccioli já havia mostrado por meio de experimentos com camundongos que a peçonha do escorpião amarelo era reconhecida por receptores celulares do tipo Toll, que fazem parte do sistema imune inato. Também havia constatado que isso induzia a produção de um mediador inflamatório chamado interleucina-1 beta (IL-1β), além de mediadores lipídicos conhecidos como prostaglandina E2 (PGE2) e leucotrienos B4 (LTB4).

“Partimos, portanto, da hipótese de que o edema pulmonar pós-envenenamento seria induzido pela produção de IL-1β derivada da ativação do inflamassoma. Isso porque dados da literatura sugerem que quando uma substância é reconhecida por receptores do tipo Toll ocorre ativação do inflamassoma”, explicou a pesquisadora.

O inflamassoma é um complexo localizado no citoplasma das células de defesa e formado por várias proteínas, entre elas as caspases. Quando ele é ativado, ocorre a liberação de IL-1β, que induz o processo inflamatório tanto por mecanismo direto quanto indireto, por meio da produção de mediadores lipídicos como PGE2 e LTB4. Estes mediadores são os responsáveis pela atração para o pulmão de outras células de defesa e pelo edema pulmonar, que caracterizam o processo inflamatório. Embora a inflamação seja um mecanismo de defesa essencial, quando exagerada pode levar à morte.

Os primeiros testes in vitro, feitos com macrófagos “selvagens” (sem nenhum gene alterado) de camundongos, confirmaram que o veneno do escorpião amarelo de fato ativa o inflamassoma e induz a produção de IL-1β. Quando o mesmo experimento foi feito com células geneticamente alteradas – sem alguns dos genes codificadores das proteínas que compõem o inflamassoma –, não houve produção de IL-1β e nem de mediadores lipídicos.

O passo seguinte foi testar a hipótese in vivo. Ao analisar o tecido pulmonar de camundongos inoculados com a peçonha do T. serrulatus, os pesquisadores observaram a formação de edema e um aumento no número de neutrófilos (um tipo de célula de defesa) – dois fatores que indicam inflamação. Além disso, havia grandes quantidades de IL-1β, PGE2 e LTB4.

Para ter certeza de que a IL-1β era a peça-chave na reação inflamatória, o grupo usou dois modelos de camundongos geneticamente modificados. Um deles não tinha os genes que codificavam duas das proteínas formadoras do inflamassoma. O outro não tinha o gene da proteína que funciona como receptor de IL-1β nas células.

Nesses dois modelos, todos os animais sobreviveram mesmo quando inoculados com doses letais do veneno, confirmando que sem a atuação da IL-1β o edema pulmonar não progride ao ponto de tornar-se letal.

Aliado desconhecido

Ao analisar o tecido pulmonar desses camundongos geneticamente modificados que sobreviveram às doses letais de veneno, os cientistas notaram que eles produziam menor quantidade de PGE2 e de LTB4 quando comparados aos camundongos “selvagens”.

O grupo então decidiu investigar o papel desses dois mediadores na reação inflamatória e, para surpresa dos cientistas, descobriram que o LTB4 – até então descrito como uma molécula pró-inflamatória – tinha na verdade a função de proteger o tecido da inflamação.

“Fizemos o experimento com animais geneticamente modificados para não produzir a enzima que participa da produção do LTB4. Achávamos que certamente eles iriam sobreviver a uma dose letal do veneno, pois não tinham um dos componentes da resposta inflamatória. Mas, na verdade, observamos que eles morriam bem mais rápido que os camundongos selvagens e tinham uma inflamação pulmonar exagerada, com muita produção de IL-1β e PGE2”, contou Faccioli.

Em seguida, o grupo tratou animais “selvagens” inoculados com doses letais de veneno com indometacina – uma droga inibidora da síntese de prostaglandinas (inclusive a PGE2). Todos sobreviveram.

Por meio de estudos in vitro, o grupo descobriu que a PGE2 aumenta a produção de uma molécula chamada monofosfato cíclico de adenosina (cAMP), que por sua vez leva a um aumento de IL-1β e potencializa a inflamação. Já o LTB4 diminui a produção de cAMP e, consequentemente, de IL-1β.

“Se conseguirmos mostrar que em humanos o edema pulmonar também é mediado por PGE2 e IL-1β, o impacto para a população será grande. As vítimas poderão ser tratadas com medicamentos disponíveis em qualquer farmácia enquanto aguardam a chegada do soro antiescorpiônico”, disse Faccioli.

Em parceria com a Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP), o grupo pretende dosar todos esses mediadores envolvidos na reação inflamatória pulmonar no soro de pacientes picados pelo escorpião amarelo.

“Também faremos estudos in vitro usando células humanas estimuladas com a peçonha para ver se apresentam o mesmo padrão molecular que observamos nas células de camundongo. Se os resultados forem semelhantes, podemos pensar em um projeto – em parceria com médicos – para tratar vítimas do escorpião amarelo com indometacina”, afirmou Faccioli.


Por
Karina Toledo | Agência FAPESP

Fonte:
 

Rede Brasileira de Centros de Recursos Biológicos devem contribuir para a preservação da biodiversidade nacional


O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) divulgou alterações na Rede Brasileira de Centros de Recursos Biológicos, a Rede CRB-Br, que tem como objetivo principal preservar e fornecer recursos biológicos para aplicações tecnológicas nos setores científico, industrial, de agronegócio, ambiente e saúde. As alterações foram divulgadas, no dia 18 de fevereiro, em Portaria nº 130 do MCTI.

A Rede CRB-BR visa também promover e colaborar para o conhecimento e conservação da biodiversidade e prestar serviços de depósito de material biológico. De acordo com a Portaria, a Rede será constituída por Centros de Recursos Biológicos que atuam nas áreas de agronegócio, saúde humana e animal, ambiental e industrial.

Será criado um portal na internet para promover a interação entre pesquisadores e gestores e divulgação de suas atividades.


Biodiversidade

O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) contribuiu, no segundo semestre de 2015, para consulta pública da Lei da Biodiversidade (13.123/2015). A Lei foi sancionada no ano passado e atualmente está em processo de regulamentação.

Leia mais: http://portal.cfmv.gov.br/portal/noticia/index/id/4373/secao/6

Assessoria de Comunicação do CFMV

Por que beijamos (e outros animais não)?


Analisando friamente, beijar é algo um tanto estranho: a troca prolongada de saliva com outra pessoa aumenta a possibilidade de transmitir até 80 milhões de bactérias com um único gesto.

Ainda assim, praticamente todo mundo se lembra de seu primeiro beijo, com todos os detalhes íntimos e deliciosos. E beijar continua sendo uma parte importantíssima do romance.

Quem vive nos países do Ocidente pode pensar que o beijo na boca é um comportamento humano universal.

Mas um estudo recente, realizado por especialistas das Universidades de Nevada e Indiana, nos Estados Unidos, sugere que menos da metade das culturas do mundo adota o gesto. Beijar também é extremamente raro entre os bichos.

De onde vem o beijo, então? Se é algo útil, por que não é adotado por todos os humanos e outros animais?
 

Invenção recente

Bem, pode ser justamente o fato de outros não beijarem o que explicaria nossa preferência pelo gesto.

Segundo o estudo americano, que analisou 168 sociedades em todo o mundo, apenas 46% delas cultivam o hábito do beijo como uma demonstração romântica. Anteriormente, pensava-se que seriam 90%. A pesquisa excluiu o beijo entre pessoas da mesma família e se concentrou apenas no beijo na boca entre casais.


 Thinkstock
Os chimpanzés costumam se beijar depois de uma briga

Muitas sociedades que se baseiam na caça não demonstraram interesse em beijar, e algumas até consideram o ato repugnante. A tribo dos Meinacos, que vive no Xingu, teria se referido ao ato como "nojento", de acordo com os pesquisadores americanos.

Como esses grupos são os que possuem um estilo de vida mais próximo do de nossos ancestrais, é possível imaginar que o beijo tenha sido uma invenção recente.

Segundo o antropólogo William Jankowiak, um dos autores do estudo, o gesto parece ser um produto das sociedades ocidentais, passado de uma geração a outra.



'Aspirar a alma'

Algumas evidências históricas ajudam a comprovar essa tese.

O psicólogo Rafael Wlodarski, da Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha, passou um pente fino em inúmeros estudos para encontrar indícios de como o beijo mudou ao longo do tempo.

O sinal mais antigo de um comportamento parecido com o beijo vem de textos em sânscrito védico hindu de mais de 3,5 mil anos atrás. Neles, beijar é descrito como "aspirar a alma um do outro".

Por outro lado, hieróglifos egípcios retratam pessoas perto umas das outras, mas não com seus lábios colados.

Será, então, que o beijo é algo natural que algumas culturas reprimiram?

A melhor maneira de descobrir é observando os animais.
 


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Os machos da aranha viúva negra conseguem sentir pelo olfato o melhor momento de copular 

O poder dos odores

Os chimpanzés e os bonobos, nossos parentes mais próximos, se beijam.

O primatólogo Frans de Waal, da Universidade Emory, em Atlanta, nos Estados Unidos, já presenciou várias cenas de chimpanzés se beijando e se abraçando após um confronto. Para eles, o beijo é uma forma de reconciliação, e é mais comum entre machos. Ou seja, não é um ato romântico.

Já os bonobos se beijam com mais frequência e costumam usar suas línguas no gesto. Isso talvez não seja surpreendente porque essa espécie é altamente sexual: quando dois seres humanos são apresentados pela primeira vez, provavelmente trocam um aperto de mão; já os bonobos fazem sexo. Portanto, seus beijos não são necessariamente românticos.

Esses dois primatas são uma exceção. Até onde se sabe, outros animais não beijam. Alguns podem esfregar os rostos mas não trocam saliva ou estalam seus lábios.

Em vez disso, as espécies exalam odores tão fortes para atrair o sexo oposto que elas não precisam se aproximar para senti-lo. O principal componente desse odor são os feromônios, que despertam o desejo de acasalar.

Mamíferos como o javali, o hamster e o rato têm um olfato apurado e seguem o rastro dos odores para conseguir encontrar parceiros geneticamente diferentes.

Até mesmo as aranhas são dotadas do mesmo recurso: o macho da viúva negra consegue sentir o cheiro dos feromônios liberados pela fêmea que sinalizam se ela está de barriga cheia. Ele só se acasala com ela se entender que ela não está faminta e não o matará após a cópula. 


Thinkstock
Os elefantes demonstram afeição usando as trombas

Ou seja, os animais não precisam chegar muito perto uns dos outros para encontrar um bom parceiro em potencial.

O ser humano possui um olfato bastante rudimentar. Portanto, chegar bem perto de outra pessoa pode ser uma vantagem. E estudos mostram que, apesar do odor não ser o único sinal que usamos para avaliar se um parceiro é apropriado, ele tem um papel fundamental nessa escolha.
 

Suor masculino

Um estudo publicado em 1995 mostrou que as mulheres, assim com os camundongos, preferem os odores dos homens geneticamente diferentes delas. Isso faz sentido, já que a mistura de genes distintos tende a produzir filhotes mais saudáveis. Ou seja, beijar pode ser uma ótima maneira de se estar próximo o suficiente para farejar os genes do parceiro.

Em 2013, Wlodarski entrevistou centenas de voluntários sobre suas preferências na hora do beijo. A importância do cheiro foi citada pela maioria deles, e aumentava ainda mais quando as mulheres estavam em seu período mais fértil.

Cientistas descobriram que os homens também produzem uma versão do feromônio que é tão atraente entre os animais. O hormônio está presente no suor masculino e, quando as mulheres o percebem, tendem a ficar ligeiramente mais excitadas.

Segundo Wlodarski, os feromônios são essenciais na escolha de parceiros entre os mamíferos, e nós, humanos, temos alguns deles.

Desse ponto de vista, o beijo seria apenas uma maneira culturalmente aceitável de se chegar perto o suficiente de alguém para detectar seus feromônios.

Em algumas culturas, esse comportamento evoluiu para o contato físico entre os lábios. "É difícil saber quando exatamente isso aconteceu, mas o objetivo do beijo é o mesmo do farejar entre os animais", conclui o cientista.

Por:



BRASIL

Leia a versão original desta reportagem em inglês no site BBC Earth.

"Destruindo Relacionamentos" - Como seria se seu namorado agisse como cachorro?

Já imaginou como seria namorar alguém que agisse assim como cachorro? Pensa bem como seriam os passeios de carro, as almofadas perdidas e o olfato aguçado. Quem tem um cachorro em casa, vai se identificar com as situações.
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