Golfinhos são sádicos, vacas têm inimigas, gatos e cachorros são experts
em dissimulação e galinhas fazem planos para o futuro.
"Numa
manhã, enquanto Gregor Samsa acordava de sonhos inquietantes, descobriu
que tinha se transformado num inseto monstruoso. As várias pernas,
miseravelmente finas em comparação com o resto do corpo, agitavam-se
desesperadamente diante de seus olhos. ´O que aconteceu comigo?´,
pensou." Sim: este é o começo de A Metamorfose, do Franz Kafka: Gregor
Samsa acorda transformado numa barata. É tudo uma alegoria sobre a
solidão, a timidez...
Mas se acontecesse essa desgraça com você na vida
real, não precisaria se preocupar: uma barata é só uma máquina
programada para encontrar comida e fugir de chineladas. É burra como um
glóbulo branco. Uma barata não sabe que é uma barata. Você não teria
nojo de você mesmo se acordasse como uma - só iria pensar em comer uma
lata de Nescau na cozinha. Mas um golfinho sabe que é um golfinho. Um
elefante sabe que é um elefante. Um cachorro sabe que é... gente. O
incrível é que, até há pouco tempo, a ciência não aceitava isso. Dividia
tolamente a vida entre "humanos" e "animais" - como se uma baleia
tivesse mais a ver com uma ameba do que com você. A noção geral dos
cientistas hoje é bem mais complexa: a diferença entre as nossas
faculdades mentais e as dos gatos, chimpanzés e periquitos seria de
grau, não de tipo. É como comparar um Porsche com um Fusca: há uma clara
diferença de nível entre eles, mas ambos são carros. E saíram da
prancheta do mesmo projetista.
O próprio Charles Darwin é um
precursor da noção moderna de como a ciência vê os animais. Para o homem
que descobriu a identidade do projetista de homens e animais (a seleção
natural), a mente parecia seguir uma certa continuidade ao longo da
evolução das espécies. Os bichos mais abaixo na escala evolutiva também
teriam inteligência e sentimentos, só que em níveis distintos. E Darwin
estava certo. "As evidências de hoje indicam que muitos animais sentem
alegria, tristeza, pena...", diz o biólogo Marc Bekoff, da Universidade
do Colorado.
Claro que as pesquisas têm limitações: não existe
uma máquina capaz de entrar na cabeça de um gorila, de um cachorro ou de
uma galinha e mostrar o que é ver o mundo com os olhos de um gorila, de
um cachorro ou de uma galinha. Mas dá para chegar mais perto do que
você imagina.
CONSCIÊNCIA
Um camaleão
não sabe que está mudando de cor quando se camufla. Cobras não têm
consciência de que enganam predadores quando se fingem de mortas. E
pelicanos voam numa formação em V sem compreender que assim poupam
energia e facilitam a comunicação entre o bando e o líder. Tudo isso é
obra da seleção natural. Tem tanto a ver com inteligência quanto não
conseguir tirar os olhos de uma outra pessoa porque ela é bonita. É
instinto cego, obra da natureza.
Por outro lado, um corvo que
entorta um arame com o bico para utilizá-lo como vara de pesca não está
agindo de forma programada. Corvos fazem isso para fisgar peixes. E
tiveram de ser criativos para isso, tanto quanto nós, humanos, quando
inventamos nossas varas e anzóis num dia qualquer há 80 mil anos. Os
corvos agregaram uma nova ferramenta ao seu kit de instintos. Mas chamar
isso de inteligência pode, Arnaldo? Pode, Galvão. Não só pode como
deve.
Mas para começar a entender como funciona a inteligência
em mentes que não são de Homo sapiens, temos que compreender como elas
percebem o mundo. Para os humanos, uma rosa é uma flor romântica. Para
um besouro, ela é um território de caça. Um leopardo mal percebe que as
rosas existem. Um cachorro não vai ligar pra ela, a menos que ela
contenha xixi de outro cachorro ou tenha sido tocada pelo dono. Aí, sim,
ele vai dar à rosa um montão de significados.
"Enquanto somos
seres visuais, os cães sentem a realidade com o focinho", diz a
psicóloga americana Alexandra Horowitz, especialista em comportamento
animal. Ao cheirar um cafezinho, por exemplo, algumas pessoas conseguem
saber se ele foi adoçado com uma colherinha de açúcar. Já um beagle
consegue farejar uma colher de açúcar diluída numa quantidade de café
equivalente a duas piscinas olímpicas.
Assim, o universo dos
cachorros é um estrato de cheiros diferentes. Talvez por isso eles não
liguem para a própria imagem no espelho. Mesmo que não concluam que a
imagem é a deles, não sentem nenhum cheiro diferente, então não
interpretam como sendo outro cachorro. Esse supernariz também lhes
confere a habilidade de um detetive. Graças aos odores que você exala e
às células epiteliais que deixa pelo caminho, seu cão sabe quase tudo
sobre você: por onde andou, que objetos tocou, o que comeu, se beijou
alguém ou se correu um pouco. Exceto a comida, claro, ele não se
interessa pelos outros dados. O olfato do cão é capaz até de rastrear
doenças em humanos, como mostra um recente estudo da Universidade
Kyushi, no Japão. O labrador Marine, de 8 anos, detectou câncer de
intestino ao cheirar o hálito e as fezes de pacientes. Tumores de pele,
pulmão e bexiga também já foram farejados por cães em estudos
anteriores. Mas nem vem, cachorrada: nossa capacidade de ler placas lá
longe na estrada deixaria vocês morrendo de inveja...
Bom, para
sentir inveja, um animal precisaria ter autoconsciência - uma noção
ampla sobre quem ele é no mundo. Chimpanzés, por exemplo, têm
sentimentos complexos como inveja e vergonha (escondem o rosto quando
fazem alguma besteira). E quem tem vergonha não é menos consciente que
nós.
O teste mais clássico para auferir consciência é o do
espelho. Seu cachorro ou gato não passa por essa prova. Mas chimpanzés,
elefantes e golfinhos fazem isso sem problema. Eles não só sabem quem e o
que são como têm o poder de analisar o que os outros estão pensando. A
primatologista Jane Goodall observou que um chimpanzé evita até olhar
para uma fruta enquanto outros chimpanzés estão presentes - só para
abocanhá-la inteira quando está sozinho. Alguns tampam a cara para
impedir que os outros saibam que estão com medo. Tudo bem que falar de
chimpanzés é covardia: geneticamente, eles estão mais próximos de nós
que dos gorilas - se um ET chegasse à Terra, provavelmente não saberia
distinguir a Scarlet Johanson de uma chimpanzé mais ajeitada. Ele
pensaria: "Essa macacada é tudo igual"... Você não acha que ovelha, por
exemplo, é tudo igual? Claro. Mas as ovelhas não. Uma pesquisa da
Universidade de Cambridge mostrou que elas identificam o rosto de pelo
menos outras 50 ovelhas. É isso aí: até os animais menos brilhantes
podem surpreender. Mas nenhum é tão malandro quanto os que a gente tem
dentro casa.
ESPERTEZA
Poucas coisas
incomodam tanto quanto choro de gato com fome. Parece que ele vai morrer
se você não der comida na hora. Mas não se desespere: pode ser um
truque do bichinho. A cientista Karen McComb, da Universidade de Sussex,
na Inglaterra, descobriu que alguns gatos emitem uma súplica de alta
frequência, similar ao choro de um bebê, que dispara um senso de
urgência no cérebro humano. Resultado: os donos se sentem compelidos a
alimentá-los. Isso é um instinto que animais domésticos desenvolvem.
Eles nascem sabendo isso. Então não é indício de inteligência para
valer, certo? Errado: "Dos gatos que analisamos, só choravam assim os
que viviam em casas habitadas por uma só pessoa. Ou seja: gatos aprendem
a enfatizar dramaticamente o choro quando vivem com humanos numa
relação de um para um", diz McComb.
Com esse miau histérico,
Garfield e sua turma dão um show de inteligência emocional: eles sacam a
fraqueza do dono para manipulá-lo. Cachorros não são menos malandros.
Eles também fazem suas demandas de acordo com o público da casa. "Cães
aprendem rápido quem são as pessoas que podem colaborar e as que não
lhes dão bola", diz Horowitz.
Eles fazem isso melhor que
qualquer outro animal. Num ranking de inteligência emocional, os cães
seriam os campeões, de longe. O segredo deles é o contato visual. Eles
são os únicos bichos que sabem o que você está pensando: olhando nos
olhos eles podem detectar o nível de atenção dos donos e atuar de acordo
com ele. Essa habilidade é um atributo evolutivo: cães são descendentes
de lobos que trocaram a matilha pelas aglomerações humanas há 13 mil
anos. Os que melhor emulavam o comportamento humano (incluindo aí a
habilidade de ler a mente do outro olhando nos olhos) cresceram e se
multiplicaram porque viraram os preferidos dos humanos. Os que não
tinham esse dom ficaram pelo caminho. E hoje todo cão é um expert em
contato visual. Como eles sabem aplicar essa habilidade inata para
resolver desafios (identificar seus potencias colaboradores entre os
humanos da casa), não há como negar sua inteligência.
Mas o
brilho da mente dos cachorros e gatos não chega perto da de um
concorrente quase descerebrado: o papagaio. Um exemplar da espécie,
Alex, contava até 6 e manejava um vocabulário equivalente ao de uma
criança de 2 anos. O papagaio, morto em 2007, aos 31 anos, também
distinguia objetos pelo formato, cor e composição. Sua treinadora, Irene
Pepperberg, lhe mostrava 5 objetos de plástico (3 amarelos, 1 roxo e 1
vermelho) e um pedaço de madeira verde. Depois perguntava: "Qual é o
material verde, Alex?". Ele respondia: "Madeira". E quando ela indagava
"Quantos amarelos tem aqui?", ele tirava de letra: "Três".
Essa
capacidade de entender o mundo somada à habilidade que os papagaios têm
de imitar nossa voz fazia com que Alex fosse visto como uma pessoa com
asas, um desenho animado ao vivo. Era a noção humana de inteligência
encarnada numa ave com o cérebro do tamanho de 3 castanhas-do-pará.
Por essas Alex jogou uma pá de cal numa antiga noção da ciência: a de
que sempre há uma relação direta entre o tamanho do cérebro e a
capacidade cognitiva. Com seu cérebro de 9 g (o nosso tem 1 500 g), o
papagaio era mais perspicaz que um cachalote - dono do maior cérebro do
planeta, com quase 8 quilos. A proporção entre o tamanho do cérebro e o
tamanho do corpo também não diz tudo, pois favorece bichinhos nada
brilhantes. No esquilo, por exemplo, a relação entre o tamanho do
cérebro e o do corpo é de 3%, contra 2% no homem.
Outra
explicação clássica é o tamanho do neocórtex. É a parte mais externa do
cérebro, justamente a que evoluiu por último no reino animal. Só os
mamíferos têm (e o nosso é enorme). Mas hoje sabbe-se que ele não é
indispensável para o pensamento. Alex, que não era mamífero, não tinha
neocórtex. Mas raciocinava. E outros pássaros também dão show de
inteligência. Principalmente os corvos. O zoólogo de Cambridge
Christopher Bird (piada pronta: bird, hehe) viu corvos jogando pedras
dentro de um reservatório para fazer subir o nível da água e, assim,
poder tomá-la. Eles selecionavam as pedras maiores para que a água
subisse mais rápido. Nas praias do norte da Europa, corvos pegam conchas
com o bico na areia. Levam até o alto e jogam em cima das pedras.
Depois de alguns arremessos as conchas quebram e eles comem o recheio.
Seus parentes de áreas urbanas fazem a mesma coisa. Só que jogam as
conchas na faixa de pedestre das avenidas à beira-mar, esperam os carros
passar por cima e catam o recheio quando o sinal fica vermelho. É fato:
os corvos entendem causalidade ("se eu fizer X, acontecerá Y"). Em
outras palavras, eles pensam muito bem. E melhor do que qualquer outro
animal, fora os primatas e cetáceos.
LINGUAGEM
O Homo sapiens é o único animal capaz de dominar sintaxe, formar frases
complexas e registrar o que pensa. Fato. Mas alguns bichos podem
compreender a nossa linguagem quase como se fossem uma pessoa - embora
não consigam reproduzi-la com a desevoltura de um papagaio .
Que
o diga Kanzi, um bonobo (parente do chimpanzé) criado pela pesquisadora
americana Sue Savage-Rumbaugh. Ele cresceu exposto ao nosso vocabulário
e domina 400 palavras. Como não pode falar, Kanzi forma frases
apontando para um glossário com símbolos. Eles representam de
substantivos e verbos simples, como "banana" e "pular", a conceitos
complexos, como "antes" e "depois". Kanzi pode até conjugar verbos -
inclusive no passado e no gerúndio. É mais ou menos como você tentando
se virar numa viagem para o Camboja. Você pode até voltar entendendo
algumas palavras do cambojano, mas dificilmente vai ter aprendido a
conjugar algum verbo. É bem mais difícil. E olha que cambojanos e
brasileiros são todos animais da mesma espécie. Ponto para Kanzi, então.
Golfinhos aprendem linguagens artificiais, como demonstrou o
psicólogo Louis Herman, da Universidade do Havaí, EUA. Numa delas,
palavras representadas por sons de computador formavam 2 mil frases.
Quando os golfinhos ouviam "ESQUERDO BOLA BATER", por exemplo, entendiam
que era para bater na bola do lado esquerdo. E também compreendiam a
ordem das palavras. Sabiam que o pedido "PRANCHA PESA ÁGUA" era para que
levassem uma prancha a uma pessoa que estava na água. Já "PESA PRANCHA
ÁGUA" era para levar a pessoa à prancha na água. Não existe diferença
entre fazer isso e apremder um idioma. Ponto para os golfos.
Mas talvez nem eles sejam páreo para Chaser, uma border collie. A cadela
aprendeu o nome de mais de mil objetos - a maioria brinquedos, mas tudo
bem. Seu dono, um psicólogo, já nem conta mais quantas palavras ela
sabe. Agora ele prefere lhe ensinar rudimentos de gramática.
Então estamos de acordo: certos animais, quando treinados, conseguem
compreender parte da linguagem humana. Mas o que isso importa para os
outros animais de sua espécie? Kanzi não vai usar seu glossário com
bonobos que vivem na floresta. E Chaser pode até aprender versos de
Shakespeare, mas será inútil tentar esbanjar seu intelecto com outros
cães. Mas a ideia de que eles praticamente não se comunicam entre si
morreu faz tempo. Até as abelhas fazem isso: elas dançam para informar a
distância e a direção das fontes de alimentos.
Golfinhos têm
uma linguagem interna. Eles se comunicam por assobios e sinais corporais
como saltos, tapas da cauda na água e fricção da mandíbula. Cada animal
tem uma modulação única, o que lhe confere uma voz individual.
Kathleen Dudzinski, diretora do Dolphin Communication Project, escuta
esses animais há quase 20 anos com aparelhos que registram a frequência e
as nuances de sua linguagem. Mas admite que ainda falta muito para
decifrá-la, sobretudo porque golfinhos nadam rápido e é difícil captar
uma conversa entre vários animais debaixo d’água. Além disso, cada sinal
varia conforme o contexto. Com os humanos é igual: dependendo da
situação, uma pessoa que levanta a mão aberta quer dizer "tchau", "pare"
ou "custa R$ 5".
O mistério sobre a língua dos golfinhos - e a
das baleias, que se comunicam de um jeito parecido com o de seus primos
- continua. Mas a tecnologia pode dar uma força. Merlin, um golfinho
nariz-de-tesoura que vive em Puerto Aventuras, no Caribe mexicano, é o
primeiro de sua espécie a usar iPad. Seu treinador, Jack Kassewitz,
espera que a tela sensível ao toque do focinho comece a facilitar a
comunicação entre humanos e cetáceos. Bom, tomara que eles não fiquem só
jogando Angry Birds, como fazem os humanos quanto colocados diante do
tablet.
EMOÇÕES
Falando em Angry
Birds, passarinhos não só ficam nervosos como amam também. Mais de 90%
das aves são monogâmicas. Gansos e corvos passam a vida fiéis a um único
parceiro - já os casais de pombos não são tão pombinhos assim: eles
traem; mas não tiram a aliança da pata. "Desconfio que aves se apaixonam
mesmo, porque alguma recompensa interna [a sensação boa de amar alguém]
é necessária para manter um relacionamento de longo prazo", diz o
biólogo Bernd Heinrich, da Universidade de Vermont, EUA.
É
realmente improvável que o amor tenha aparecido entre os Homo sapiens
sem nenhum precursor na escala evolutiva. E, como imaginou Darwin, o
mesmo vale para o prazer, a dor... e a saudade.
Veja o caso dos
cachorros. A espécie evoluiu para se tornar mais que uma subespécie de
lobo. Emocionalmente ele está mais para um humano de quatro patas. Na
alegria e na tristeza. Alguns se recusam a comer quando o dono vai
viajar e voltam a aceitar o prato depois de ouvir a voz de seus pais
humanos no telefone. É uma forma primitiva de saudade.
Mas
poucos animais mostram suas emoções com tanta clareza quanto os
elefantes. Eles ficam de luto, por exemplo. Quando reconhecem a ossada
de um membro do grupo, eles gentilmente se reúnem em volta dele. Joyce
Poole, que estuda elefantes há mais de 30 anos, acredita que órfãos
dessa espécie sofrem de depressão, até: filhotes que presenciaram a mãe
ser morta acordam gritando. Chimpanzés órfãos também são emotivos:
passam horas se despedindo do corpo da mãe. Vacas também têm seus
momentos down. Mas a maior característica delas é outra: são
fofoqueiras. Formam pequenos grupos de amigas, têm rixas com outras
vacas e guardam rancor por anos. Elas também sentem prazer ao vencer
desafios. Um estudo da Universidade de Cambridge mostrou que, quando
elas aprendiam a abrir uma porta para obter comida, por exemplo, suas
ondas cerebrais e seus batimentos cardíacos mostravam um alto nível de
excitação. Acontecia a mesma coisa quando elas estavam prestes a transar
- mesmo quando quem vinha por trás era outra vaca, brincando de montar
em cima dela.
O prazer com o sexo também parece universal. E
entre os mamíferos é parecido com o nosso. Às vezes, melhor. As fêmeas
de bonobo têm órgãos sexuais enormes, do tamanho de bolas de futebol. E
clitóris comparável a um dedo. Elas passam o dia se masturbando e
chamando para a cama qualquer macho que passe pela frente - até por isso
os bonobos são os mais pacíficos entre os grandes macacos: os homens
não brigam por mulher. E mulher não briga por homem: na falta de macho,
elas se viram entre si.
Nada é tão comum entre nós e as outras
coisas vivas do mundo quanto a busca pelo prazer. Hipopótamos estiram as
pernas para deixar que os peixes mordisquem seus dedos, numa verdadeira
sessão de massagem. Os batimentos cardíacos dos cavalos caem quando têm
o cabelo da nuca escovado. Eles relaxam. O perfume Obsession for Men,
da Calvin Klein, é atrativo para fêmeas de guepardos. E existe o prazer
em fazer o mal também. Golfinhos, por exemplo, têm um lado sádico: se
aproximam sorrateiramente de gaivotas que descansam na água, dão um
caldo nelas e as liberam depois de mantê-las alguns segundos debaixo
d’água, sofrendo.
Mas o macaco rhesus, um primata asiático com
jeito de babuíno, está aí para redimir seus colegas aquáticos. Num
estudo da Universidade Northwestern, EUA, os macacos precisavam apertar
um botão para ganhar comida. Mas sempre que eles faziam isso outros
rhesus levavam um choque (de leve, mas um choque). Alguns macacos não se
importaram. Mas com outros foi diferente. O psicólogo americano Frans
De Wall conta melhor: "Um macaco parou de apertar o botão por 12 dias
depois de ver outro levar choque. Ele estava morrendo de fome para não
causar sofrimento aos outros". Pois é. Não precisa ser gente para
pensar, se emocionar ou aproveitar a vida. Nem para ser gente fina.
GALINHAS FAZEM PLANOS
Galinhas se preocupam com o futuro. Cientistas ensinaram galinhas a
bicar 2 botões para obter 2 recompensas distintas. Com o botão 1 elas
esperavam pouco (2 segundos) para obter pouca recompensa (3 segundos de
acesso a comida). Com o 2, elas esperavam muito (6 segundos) para obter
muito (22 segundos de comilança). A conclusão? A pesquisadora britânica
Christine Nicol resume: "Com incentivo, as galinhas foram capazes de
exercer auto-controle".
LÍNGUA PRIMATA
O vervet aqui em cima, um miquinho africano, tem um idioma próprio. É
um sistema de alarmes sonoros, em que cada grunhido corresponde a um
predador. Grandes macacos, como chimpanzés, também usam gestos e
expressões faciais. E tentam levar vantagem em tudo. Um macaco que tem
uma lesão na pata e descobre que, enquanto estiver ferido, não é atacado
pelo macho dominante, continua mancando na frente dele depois de a
ferida ter sarado completamente.
QI canino
Os mais inteligentes
• Border collie
• Poodle
• Pastor alemão
• Golden retriever
•Doberman
Os mais ou menos
• Dálmata
• Husky siberiano
• Greyhound
• Boxer
• Dinamarquês
Os menos
• Shih-tzu
• Chow chow
• Buldogue
• Basenji
• Afghan hound
Os mais espertos
1º Grandes macacos e cetáceos
Chimpanzés, gorilas, golfinhos e baleias se comunicam bem entre si e se entendem com os humanos.
2º Corvídeos
São aves superdotadas. Vivem em sociedades complexas, se reconhecem no
espelho (coisa rara no mundo animal). E confeccionam ferramentas.
3º Carnívoros sociais (leões, hienas, lobos)
Não são grandes crânios, mas na hora da caça cooperam com mais
eficiência que um time de futebol. Os cachorros, parte desse grupo, são
os que melhor entendem nossa mente.
4º Animais de rebanho (vacas, cabras)
Têm cara de burros. São burros. Mas mantêm alguns vínculos sociais. E sentem prazer, excitação e ansiedade.
Para saber mais
A Cabeça do Cachorro
Alexandra Horowitz, Best Seller, 2010
Minding Animals
Marc Bekoff, Oxford University Press, 2002
Wild Minds
Marc Hauser, Henry Holt, 2000
Fonte: