Há dois anos, ao perceber que o gato Nico estava com as patas traseiras praticamente sem funcionar, o português António Costa, 33, levou o bichano ao veterinário. O diagnóstico preocupante veio rápido: o peludo estava diabético. O animal, que é uma mistura de Siamês com vira-lata, estava com 9 anos e magro, e tempos antes já vinha apresentando dificuldades para saltar para a cama ou sofá. Porém, António não desconfiou de nada. “Ele se alimentava super bem, mais do que o normal. E bebia muita água. Hoje, sei que são sintomas do diabetes”, conta o proprietário lusitano. De acordo com a especialista em felinos Mariane Brünner, gatos de todas as idades podem apresentar a doença, mas cerca de 20% dos diagnósticos são feitos em bichos com idade entre 7 e 10 anos e 55% depois dos 10. Ela comenta também que o diabetes está intimamente ligado à obesidade.
“O número de casos de diabetes em gatos tem aumentado nos últimos anos por causa da elevação dos índices de obesidade felina e do consumo de dietas com altos níveis de carboidratos”, explica a veterinária que atende no Hospital Veterinário Santa Inês (SP).
Mas se bichanos obesos estão mais propensos a ter diabetes, por que Nico estava magro quando foi diagnosticado? A médica veterinária Carla Cattapan esclarece o fato explicando que, com o avanço da doença, os gatos tendem aperder peso mesmo, ainda que tenham aumento do apetite etambém da ingestão de água.
Portanto, se seu bigodudo está acima do peso, é preciso ficar atento ao quanto de água e de alimentos ele está ingerindo no dia a dia. E, claro, as consultas regulares ao veterinário são uma das maneiras mais eficazes de prevenir a enfermidade e também de tratar seu gato diabético.
Entenda a doença
O diabetes é uma desordem hormonal que causa hiperglicemia, ou seja, a taxa de açúcar do animal fica maior do que o considerado normal. Isso pode acontecer de duas formas: ou o pâncreas não produz o famoso hormônio insulina, responsável por absorver a glicose do sangue, ou o órgão até produz, entretanto, o organismo responde menos à sua presença, o que a longo prazo desgasta as células produtoras de insulina, levando à incapacidade de produção do hormônio.
No primeiro caso, que é conhecido como diabetes tipo 1, o animal nasce com a doença e é dependente das injeções de insulina. Já no segundo (diabetes tipo 2), o mal é adquirido de algumas situações como sobrepeso, alimentação rica em carboidratos e/ou gordura, sedentarismo e inflamações crônicas – sintomas comuns entre gatos castrados, e por isso é o tipo da doença que prevalece entre os bichanos.
“Os principais sintomas do diabetes felino são semelhantes aos do diabetes em humanos: sede excessiva, fome excessiva (nas fases iniciais), aumento nos episódios e nos volumes de micção, perda de peso. Nas fases mais avançadas da doença, o animal pode apresentar desidratação, vômitos, apatia, andar encostando os calcanhares no chão”, alerta Mariane.
Gato
(Foto: iStockphoto)
Atenção ao peso
Para controlar o peso do gato, nada mais indispensável do que cuidar da alimentação dele. Assim, é possível conter os níveis glicêmicos, mantendo-os estáveis e evitando picos de glicose. Dietas com alto teor de proteínas e baixa concentração de carboidratos são as mais eficazes nos casos de obesidade.
“Elas controlam a glicemia dos gatos diabéticos e promovem a perda de peso nos que estão obesos”, explica a veterinária Carla. Já em relação aos bichanos que já estão mais magros por conta da doença, o melhor é alterar a dieta conforme o ganho de peso. Assim que a balança atingir o número ideal, novas mudanças devem ser feitas no regime, sempre com acompanhamento veterinário.
Lembrando que cada gato é um animal diferente, ou seja, um caso novo. Sendo assim, a escolha da dieta deve ser feita dependendo das condições do paciente. É preciso moderar a quantidade de calorias nas refeições e, para isso, existem formulações especiais, com maiores teores de fibras e proteínas e menores de carboidratos. O alimento comercial é a melhor opção devido não só à sua praticidade. “As rações são completas e balanceadas, suprindo todas as necessidades do animal”, pondera Carla. A veterinária ainda adiciona que os nutrientes usados nas rações contribuem para o tratamento do diabetes.
Rotina é essencial
Diferentemente dos cães diabéticos, os gatos não precisam ser alimentados apenas nos horários em que recebem a aplicação de insulina. As refeições devem ser distribuídas no decorrer do dia, de seis a oito vezes. Essa divisão é feita porque, no passado, os grandes felinos faziam diversas refeições ao longo do dia e os gatos domésticos ainda mantêm esse hábito. Além disso, a ação da insulina no organismo é constante. A quantidade de alimento varia e depende do peso do gato. “Apesar de ser necessário o controle da obesidade, ele tem de ser feito de forma lenta e gradual”, diz Mariane.
É comum que em uma mesma família exista mais que um gato. E pode ser que um deles seja diabético e os outros não. “O ideal é que o diabético receba sua alimentação em separado dos seus companheiros. Se isso não for possível, a recomendação é que todos os animais recebam a alimentação especial”, orienta a especialista.
Se você possui um felino diabético, tenha em mente que o tratamento do diabetes é para a vida toda. “O gato deve ter acesso ilimitado a fontes de água e diversas liteiras espalhadas pela morada. O tutor ainda terá de administrar insulina por meio de injeções e deverá aprender a medir a glicemia de seu animal em casa, para melhor e mais fiel controle”, ressalta Mariane.
Para que o dia a dia do gato diabético seja bom para ele e para quem está cuidando, o indicado é que uma rotina seja estabelecida. “Oferecer as dietas específicas existentes para os gatos e não ceder a outros tipos de alimentação é a solução”, finaliza a veterinária Carla.
Revista Meu Pet/ Ed. 28