O Brasil aperece em 46º lugar no novo ranking de países verdes do
Environmental Performance Index (EPI), lista bienal elaborada pelas
Universidades de Yale e de Columbia.
O país somou 78.90 pontos
de 100, apresentando um avanço significativo em relação à edição de
2014, onde ocupava a 77ª posição. Mas ainda há muito para melhorar.
Apesar
de toda sua exuberância natural, o Brasil perde para Cuba, Ucrânia,
Argentina e Costa Rica no novo ranking. É que, pelos critérios do EPI, o
que conta mesmo é como os países cuidam dos seus recursos naturais. E
aí o desempenho brasileiro deixa a desejar.
O ranking classificou 180 países com base em 20 indicadores distribuídos
por 9 categorias: critérios de saúde ambiental; poluição do ar;
recursos hídricos; biodiversidade e habitat; recursos naturais;
florestas; energia e clima, entre outros. E cada categoria possui pesos
diferentes.
Na análise por categoria, o país apresentou melhor
desempenho no quesito qualidade do ar, com 91.78 pontos. Mas se saiu
pior na preservação de recursos florestais, levando apenas 37.86 de 100
pontos, o que coloca o Brasil no 83º lugar entre os países que melhor
cuidam de suas florestas.
Veja a pontuação do Brasil por categoria:
Fonte:
A poluição do ar é um problema grave nas grandes cidades e que afeta a saúde e o bem-estar humano, causando milhares de mortes anualmente no Brasil. Relatório da OMS (Organização Mundial da Saúde) divulgado no fim do ano passado indica que no mundo todo as emissões de poluentes no ar provocam a morte de 7 milhões de pessoas por ano, além de contribuir para as mudanças climáticas.
Somente no Estado de São Paulo morreram em 2011 mais de 15.000 pessoas, o que representa o dobro do número de óbitos por acidentes de transito de acordo com estudo apresentado pelo Instituto Saúde e Sustentabilidade no segundo semestre de 2015. O mesmo estudo aponta que a má qualidade do ar atinge a todos indistintamente diminuindo a expectativa de vida em 1,5 ano.
A principal fonte de poluição do ar nos grandes centros urbanos é a emissão de gases produzida pela utilização de combustíveis fósseis, principalmente o óleo diesel, que gera gases nocivos à saúde como o monóxido de carbono (CO), o dióxido de enxofre (SO2), dióxido de nitrogênio (NO2) e material particulado que causam inúmeras doenças respiratórias, cardiovasculares e câncer do pulmão entre outras.
Uma vez constatada a gravidade da situação, há medidas que podem ser adotadas para aliviar a pressão dos gases sobre o clima e a saúde humana. Uma das medidas mais efetivas e de curto prazo para enfrentar o problema está na diminuição da utilização dos combustíveis fósseis como alternativa energética predominante na movimentação da frota de veículos e a sua substituição gradativa por fontes renováveis como a bioenergia gerada a partir de biomassas como o álcool e o biodiesel.
No Brasil as medidas são ainda tímidas diante da gravidade do problema. Está em vigor a obrigatoriedade de percentual de 7% de biodiesel a ser acrescido ao óleo fóssil, numa mistura conhecida como B7. Em comparação, Londres terá um terço da frota de ônibus operando com diesel verde B20, feito a partir de mistura de diesel com biodiesel renovável, gerado a partir de resíduos como óleo de cozinha usado e sebo da indústria de processamento de carne.
Notícia positiva é que a partir deste ano o CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) autorizou o uso voluntário de biodiesel em quantidades superiores ao percentual obrigatório. Ao abrir essa possibilidade fica aberta a perspectiva de utilização do diesel verde – óleo de soja, por exemplo – quando seu preço for competitivo. Embora positiva há um aspecto que deve ser considerado, qual seja, é que os problemas causados pela poluição ficam atrelados a uma abordagem meramente econômica, custo baixo dos combustíveis renováveis. Nesse sentido a medida é claramente insuficiente e não atende a necessidade de evitar a permanência da mortandade causada pela poluição.
A questão da poluição do ar deve estar, prioritariamente, vinculada à preservação da saúde pública e a qualidade de vida. Neste contexto, as ações devem ser mais incisivas por parte o Estado. Trata-se de salvar vidas, não se justificando a adoção de medidas tímidas e paliativas.
Há óleo verde em quantidades suficientes, pois segundo a ABIOVE (Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais), as usinas de biodiesel do Brasil operam com 40 por cento de ociosidade. Além disso, o potencial de expansão das culturas de biodiesel é enorme.
Há que se considerar, ainda, que além do biodiesel o país tem outros componentes da biomassa em abundância e que podem ser utilizados para diminuir a contaminação do ar. Entre os mais acessíveis está a utilização do álcool misturado com combustíveis fósseis e a utilização do óleo de cozinha, que ao ser reciclado deixa de contaminar cerca de 20 mil litros de água.
O aumento da utilização da bioenergia deve, portanto, priorizar o social e o ambiental, sem desconsiderar o aspecto econômico. Para que isso ocorra, e o bem comum prevaleça, o Estado tem papel fundamental na regulação da atividade, pois o livre jogo do mercado não contabiliza as mortes e doenças provocadas pela poluição.
(*) Reinaldo Dias é professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, campus Campinas, doutor em Ciências Sociais e mestre em Ciência Política pela Unicamp, especialista em Ciências Ambientais.
Fonte:
Uma de suas características mais interessantes são suas orelhas caídas e
sua docilidade. Mas, você sabe quantas sub-raças de coelho Belier
existem? Em umComo queremos explicar quais são os tipos de coelho Belier,
há grande variedade: o coelho Belier francês, Belier inglês, Belier
holandês, Belier alemão, Belier de Cachemira ou o coelho Belier cabeça
de leão.
Coelho Belier francês
Este coelho é proveniente da França e Inglaterra; é o
resultado de um cruzamento entre o Belier inglês e o gigante de Flandes
ou o Borboleta. Estes coelhos em seus inícios eram selvagens, mas pouco
a pouco foram domesticados pelo ser humano. O coelho Belier francês é
um coelho de corpo largo, robusto, com musculatura firme e com ossos
fortes. Suas características orelhas caídas, chegam à
altura das bochechas, ainda que de tamanho são mais pequenas que a dos
Belier ingleses. Seu peso oscila entre os 3 e 4 quilos.
Imagem: elconejo.net
Coelho Belier inglês
Ainda que sua origem seja desconhecida, situa-se no norte da África,
que embora tenha temperaturas altas, as grandes orelhas fazem com que o
sangue se esfrie antes. Mas chama-se coelho Belier inglês, porque foram
os ingleses que o levaram primeiro à exposição. O coelho Belier inglês,
é um coelho muito tranquilo sendo uma mascote ideal. Tem as orelhas
longas, por isso devem ter cuidados especiais. Além disso, deve ter as
unhas curtas para evitar feridas em suas orelhas ao se coçar. Seu peso
oscila entre os 3 e 4,5 quilos.
Imagem: elconejo.net
Coelho Belier holandês
O coelho Belier holandês é uma mutação entre o
coelho Anão holandês, o Belier francês e o Belier inglês. Esse coelho
tem um pescoço curto e patas grossas mas curtas. Tem um pelagem
abundante e suave. Seu peso oscila entre os 1,5 kg e 2 kg. É o coelho
Belier mais pequeno.
Imagem: minifauna.com
Coelho Belier alemão
O coelho Belier alemão é um coelho robusto com um
peso entre os 2 e 3 quilos. O coelho Belier alemão tem uma cabeça larga e
achatada. Além das orelhas caídas tem outra característica que o torna
único entre os coelhos Belier; ele tem uma espécie de coroa na cabeça
mesmo onde se unem suas duas orelhas. Tem uma pelagem longa.
Imagem: animaliafriends.blogspot.com.es
Coelho Belier Cachemira
O coelho Belier Cachemira é também pequeno, e
costuma pesar 2 kg. Parece-se com o Belier holandês, mas diferencia-se
pela sua pelagem, pois o holandês é mais longo e se estende por todo o
corpo, sendo muito suave.
Imagem: animaliafriends.blogspot.com.es
Coelho Belier cabeça de leão
O coelho Belier cabeça de leão, também é pequeno já
que não costuma pesar bem mais de 2 kg. Parece-se com o Belier alemão. O
nome cabeça de leão é devido às mechas de cabelo que cobrem sua cabeça
como se fosse a cabeça de um leão. Sua pelagem é muito suave e lanosa.
Imagem: conejosbelier.com
Fonte:
À meia-noite do próximo sábado (20), os relógios devem voltar ao normal, ou seja, serem atrasados em uma hora nos Estados das regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste do país.
Foram quatro meses no sistema que agrada a alguns e deixa outros desanimados. O objetivo do horário diferenciado é reduzir o consumo de energia por empresas e indústrias. A população aproveita a intensificação da luz natural durante o verão e reduz o gasto de energia.
Está prevista economia de R$ 7 bilhões para o setor elétrico brasileiro, com a redução de 2.610 megawatts no consumo. O horário de verão ocorre todos os anos, sem interrupções, desde 1985, com algumas diferenças nos Estados que aderem à mudança e também em relação aos períodos de duração. O primeiro horário diferenciado ocorreu entre 1931 e 1932, adotado pelo presidente Getúlio Vargas, com duração de cinco meses.
Se o saldo for positivo, pode surgir uma nova modalidade na indução de ciência no Brasil, com o uso do modelo fast track para casos emergenciais, diz Paolo Zanotto, coordenador da Rede Zika
Enquanto os cientistas brasileiros se preparavam para uma eventual
epidemia de chikungunya e desenvolviam métodos para diagnosticar
rapidamente a doença, considerada altamente debilitante, o vírus Zika –
até então visto como benigno e causador de uma espécie de “dengue light” – foi se espalhando no país de forma quase despercebida.
Somente quando veio à tona sua possível associação com os crescentes
casos de microcefalia na região Nordeste, em 2015, as atenções do país e
do mundo se voltaram ao patógeno originário da Floresta de Ziika, em
Uganda.
O fato de o Brasil ter sido surpreendido por essa epidemia pode ter
ao menos um aspecto positivo: a criação de mecanismos para agilizar o
financiamento de pesquisas científicas no país. A avaliação foi feita
pelo professor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de
São Paulo (ICB-USP) Paolo Zanotto, que no último mês de dezembro ajudou a
articular a chamada Rede Zika, uma força-tarefa para pesquisar e
combater o vírus no Estado de São Paulo.
Segundo Zanotto, quando a FAPESP, em dezembro de 2015, aprovou em
questão de dias aditivos para projetos em andamento – de forma que parte
das atividades fosse redirecionada para responder questões emergenciais
relacionadas com a epidemia de Zika (Leia mais em: agencia.fapesp.br/22671/) – criou uma reação em cadeia em outros agentes indutores de pesquisa no Brasil.
“A Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior] viu
o que a FAPESP fez ao aprovar rapidamente os aditivos para projetos já
vigentes, o que encurta muito a velocidade de indução, irrigando com
recursos o que precisa ser irrigado, e está buscando agilizar o
processo. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI)
acompanhou esse processo e quer fazer o mesmo, em uma modalidade com
financiamento fast track via FAPs [as fundações de amparo à pesquisa dos diversos estados] e via INCTs [Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia], ou seja, todos entenderam que não temos tempo a perder”, afirmou Zanotto.
Se ao final da experiência o saldo for positivo, avaliou o professor
do ICB-USP, pode surgir uma nova modalidade na indução de ciência no
Brasil: um modelo fast track para casos emergenciais, acelerando processos de pesquisa e desenvolvimento
“Quando temos problemas exponenciais, as respostas têm que ser
exponenciais. E isso começou a ser bem entendido pelos gestores de
ciência e saúde no Brasil”, disse.
Esse e outros temas relacionados aos crescentes casos de Zika e de
microcefalia no Brasil foram comentados por Zanotto em entrevista à Agência FAPESP.
Agência FAPESP – Quais temas de pesquisa foram definidos como prioritários pela Rede Zika?
Paolo Zanotto – Temos uma visão parecida com a da União Europeia e do National Institutes of Health [NIH, principal órgão de pesquisa dos Estados Unidos]:
o ponto crucial neste momento é criar ferramentas para diagnóstico
rápido, capazes de discriminar o vírus Zika de outros arbovírus, como o
da dengue. A parte de ácidos nucleicos [exames do tipo PCR, que identificam o DNA viral no sangue e servem para a fase aguda] está muito bem desenvolvida, mas precisamos de diagnósticos sorológicos [que identificam anticorpos contra o vírus mesmo após a fase aguda].
A segunda questão é entender essa relação do vírus com a microcefalia.
São os dois temas fundamentais do ponto de vista da urgência. Depois há
outros aspectos também importantes, como o desenvolvimento de uma
vacina, estudos de entomologia, para entender a genética do mosquito e
sua capacidade de infectar as pessoas. E tem a parte de controle
biológico associado à entomologia. A BR3, uma empresa do Centro de
Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec) da USP, vem trabalhando
com o Bacillus thuringiensis (BTI), uma bactéria cujo esporo acumula quatro toxinas letais para o Aedes.
Isso é conhecido desde os anos 1980, mas o grande problema era como
fazer o esporo sobreviver no ambiente. A BR3 criou uma estrutura chamada
bio-oca. É uma pastilha que quando jogada na água vai para o fundo do
criadouro e forma uma espécie de iglu, que aos poucos libera os esporos.
Com a quantidade correta de pastilhas, cerca de 50% das larvas do
mosquito morrem nas primeiras cinco horas e, depois, o nível de
letalidade de 100% é mantido por 120 dias. Mas a questão do controle
biológico, inclusive a produção de mosquitos transgênicos, enfrenta um
problema de escalonamento. Ainda não há capacidade de produzir o
material em quantidade elevada para atender a demanda. Outra parte
importante do trabalho da rede é acompanhar o espalhamento do vírus.
Pretendemos isolar os vírus circulantes, sequenciar e depois estudar a
distância evolutiva entre eles em uma árvore de família para saber de
onde vêm. Tem ainda a parte de genética humana: investigar fatores que
podem influenciar na gravidade da doença. E a última tarefa, que é
crucial do ponto de vista de saúde pública, é o acompanhamento de
coortes de caso-controle, ou seja, no momento em que é confirmada uma
gestação, fazemos o teste para o vírus Zika e continuamos acompanhando a
mãe e o feto para ver o que acontece. Isso está sendo feito em Jundiaí,
São José do Rio Preto, Ribeirão Preto e aqui em São Paulo. À medida que
alguma das gestantes é infectada, muda a forma de seguimento. Depois
que tiver ocorrido alguns ciclos completos de gravidez nessas populações
vamos começar a entender, por exemplo, qual é o risco de uma mãe
infectada por Zika ter um filho com microcefalia. Pode haver influência
genética ou de exposição a outros agentes durante a gravidez, outros
vírus.
Agência FAPESP – A relação entre o vírus Zika e a microcefalia já está confirmada? Já se sabe como o vírus afeta o sistema nervoso?
Zanotto – O anúncio feito pela Organização Mundial da Saúde
(OMS) sugeriu que o vírus é culpado até provado inocente. É um
raciocínio extremamente racional, mas inverte a forma como a ciência
funciona. Geralmente, tentamos estabelecer a relação causal para depois
determinar o que acontece em nível do processo. O que estamos tentando
fazer: pegar o vírus Zika, jogar no sistema animal e mostrar que só com a
exposição ao vírus ocorre desenvolvimento de doença equivalente à
microcefalia. Depois infectamos células do sistema nervoso e avaliamos
se o vírus sozinho causa um determinado tipo de morte celular. Em
seguida, vamos destrinchando o problema e entendendo qual é o papel do
Zika no tecido. A ciência progride assim. Mas, numa situação de risco, a
gente tem de inverter um pouco as coisas. Quando há um problema em que a
vida das pessoas está em risco é preciso tomar uma decisão de ação,
assumir que o vírus é culpado até provado inocente. Há uma superposição
espaço-temporal muito boa entre os casos da doença e, em seguida, os
casos de microcefalia, tanto na Polinésia Francesa como no Brasil. No
entanto, a presença do Zika no cérebro de um feto com microcefalia,
abortado, foi demonstrada.
Agência FAPESP – Os casos de microcefalia que estão sendo
associados ao vírus Zika são semelhantes aos associados a
citomegalovírus (CMV), sífilis e outras doenças?
Zanotto – Parece haver um padrão próprio do vírus Zika, com algumas características semelhantes à da infecção por parvovírus B19 [causador de virose conhecida como eritema infeccioso],
como as calcificações no tecido. Também há fatores semelhantes aos já
observados na infecção por CMV, como a liquefação do tecido nervoso
ocorrendo tardiamente na gravidez. Por volta do sétimo, oitavo mês,
ocorre uma aparente destruição do tecido nervoso. O córtex, a parte de
cima do cérebro, praticamente desaparece. Nos casos que estamos
acompanhando, comprovamos que não houve infecção por CMV. Levamos em
consideração todos os fatores de risco para malformação congênita.
Agência FAPESP – Crianças pequenas também são suscetíveis a danos neurológicos se infectadas?
Zanotto – Não há evidência nesse sentido. Mas é preciso ficar
atento, pois existe sempre o fator demográfico. À medida que mais
pessoas são infectadas, manifestações severas começam a ser observadas.
Não posso dizer com certeza que “não”.
Agência FAPESP – Existe um período gestacional em que a infecção pode ser mais prejudicial?
Zanotto – Tenho conversado com pediatras e obstetras no Recife e
parece haver certas fases críticas de desenvolvimento do cérebro. Por
volta de 29 semanas, as células progenitoras de neurônios começam a se
diferenciar em neurônios de forma muito rápida e esses neurônios começam
a construir sinapses com outros neurônios. Ao mesmo tempo, os neurônios
que não estão fazendo sinapses começam a sofrer apoptose [morte celular programada].
Estamos deduzindo, pelas observações de múltiplos casos, que essa
semana 29 é importante. Isso precisa ser estudado com mais detalhes para
saber qual é a janela de tempo que temos para entrar com uma terapia,
por exemplo. Inicialmente, tínhamos a ideia de que talvez um evento que
acontecesse no primeiro trimestre da gestação fosse mais perigoso.
Depois, começamos a observar relatos de pessoas que faziam o exame
morfométrico no sexto ou sétimo mês e a criança aparentemente não tinha
problema. De repente, o cérebro literalmente se desmanchava. Sabemos
também que a pessoa pode ter sido infectada no primeiro trimestre da
gravidez e a complicação fetal surgir bem mais tarde. Precisamos
entender como ocorre esse dano tardio.
Agência FAPESP – O senhor acredita haver alguma relação
entre a microcefalia e a vacina contra rubéola ou entre o surto de Zika
com os mosquitos transgênicos como tem sido aventado em redes sociais?
Zanotto – O surto de Zika associado ao mosquito transgênico é
uma fábula interessante, porque há alguma relação com uma pseudociência,
mas vale ressaltar que o mosquito transgênico é macho e o macho não é
portador do vírus e não infecta ninguém, pois ele não pica e se alimenta
apenas em flores. Portanto, não faz sentido. O segundo aspecto também é
falso, porque desconsidera completamente certos aspectos fundamentais
em epidemiologia. Há uma questão espaço-temporal importante que precisa
ser observada. Os lotes de vacina usados na Polinésia Francesa e no
Brasil não foram os mesmos. E no Brasil, no caso de microcefalia
registrado em São Paulo, há o histórico da paciente, que foi atendida na
mesma Unidade Básica de Saúde (UBS) desde o seu nascimento, ou seja,
sabemos quais vacinas lhe foram aplicadas e quando. No caso de surtos de
dengue, por exemplo, há um espalhamento em gradiente. Para haver
relação com a vacina, o mesmo lote tem que ser repassado de Pernambuco
para Sergipe, Bahia, até São Paulo, da mesma maneira como os casos estão
sendo registrados, e isso não está acontecendo desse modo. Se olharmos o
padrão de microcefalia e ou síndrome de Guillain-Barré na Nova
Caledônia, na Polinésia Francesa e no Brasil, os registros são de
espalhamento viral. É questão de usar bom senso e ter mecanismos para
poder argumentar de forma lúcida sobre esses aspectos.
Agência FAPESP – O que já se sabe sobre outras possíveis formas de contágio além da picada de mosquitos do gênero Aedes?
Zanotto – Já existem dois casos identificados de transmissão
por transfusão de sangue em Campinas. Na saliva, conseguimos detectar o
vírus mais facilmente que no sangue. Na urina ele persiste mais tempo
que no sangue. Mas casos de transmissão por essas vias ainda não foram
confirmados. Existem três casos fortemente associados com transmissão
sexual. São pessoas que viajaram para países onde há casos de Zika,
manifestaram os sintomas quando regressaram ao país de origem, no qual
não há o vetor, e infectaram o cônjuge. Então pode sim haver transmissão
sexual. Mas a gente tem que tentar entender qual é a importância disso
do ponto de vista epidemiológico. Se for um fator importante muda
completamente o cenário. Mas também pode ser uma exceção, algo sem muito
impacto na dinâmica de espalhamento.
Agência FAPESP – O senhor acredita que a realização dos Jogos Olímpicos no Brasil pode contribuir para disseminação do vírus pelo mundo?
Zanotto – Tenho um pensamento ambíguo em relação a isso. Assim
como a Copa do Mundo, a Olimpíada acontece no inverno e, em temperaturas
mais baixas, os vetores têm dificuldade para manter populações
suficientes para sustentar surtos. Claro que isso não vale para os
estados do Nordeste e Norte, onde não há essa limitação climática. O
número de picadas que a pessoa recebe no inverno também é muito mais
baixo do que no verão e isso está diretamente relacionado com a
probabilidade de infecção. Mas, por causa do fenômeno El Niño,
estamos em um ano atípico, com muita precipitação, muita flutuação de
temperatura. Esse é um fator que precisa ser considerado. Há outra
questão importantíssima que é saber quais vetores o vírus está usando no
país, se é apenas o Aedes aegypti ou também o A. albopictus ou outras espécies de mosquitos. Esses estudos começaram há pouco tempo.
Agência FAPESP – Já há alguma evidência que mostre que o pernilongo ou algum outro inseto podem transmitir o vírus Zika?
Zanotto – Na árvore de família dos flavivírus tem um grupo que é vetorado pelo Culex [gênero ao qual pertence o pernilongo],
como o vírus da encefalite japonesa, o vírus do Oeste do Nilo e o vírus
da encefalite de São Luís. Em outro braço da família estão os vírus
associados ao Aedes, como os causadores de Zika, dengue e febre amarela. No caso da dengue, não há evidência de transmissão por Culex, então eu não esperaria que fosse um problema no caso do Zika. Mas é preciso testar. Já o A. albopictus
pode ser problemático. É uma das grandes preocupações dos países do
hemisfério norte. Ele poderia espalhar o vírus em toda a região
continental americana e entrar acima dos Pirineus e dos Alpes na Europa.
Agência FAPESP – Por que o calor favorece os surtos de dengue, Zika e outras arboviroses?
Zanotto – O metabolismo do Aedes se acelera à medida que
a temperatura ambiente sobe. Um aumento de 5 graus Celsius pode dobrar a
velocidade de replicação do mosquito e fazer com que ele produza mais
vírus em um menor tempo. Mas o vírus Zika é uma zoonose com
comportamento atípico. No Senegal, tem sido observada sua presença ao
longo de todo o ano desde a década passada. Na África, está sendo
investigado qual é esse mecanismo de manutenção. Pode ser a transmissão
vertical [quando a fêmea do mosquito põe ovos já infectados com o vírus] ou
a presença de reservatórios virais com ciclos de reprodução mais
rápidos, que não estão sendo detectados. Na África, há várias espécies
de Aedes infectadas com o vírus Zika e percebemos que o patógeno
se adapta rapidamente a cada vetor. É um vírus extremamente plástico,
com capacidade adaptativa adequada para se tornar pandêmico.
Agência FAPESP – O Brasil hoje tem condições para controlar o Aedes?
Zanotto – O ministro da Saúde foi criticado por dizer que o Brasil está perdendo a guerra contra o Aedes,
mas, na verdade, o mundo está perdendo essa guerra. Se olharmos o
espalhamento do mosquito no globo, percebemos que ele conquistou toda a
parte equatorial e tropical do planeta. Isso é um problema mundial,
incluindo os países mais avançados. Talvez se possa pensar na eliminação
do vetor, mas o mais adequado seria pensar no controle em locais onde
seja possível diminuir significativamente a infestação, porque a
diminuição significa número menor de surtos. Isso aconteceu, por
exemplo, no Guarujá, em 2013, quando encontramos focos e fizemos
intervenções, colapsando o surto causado pelo vírus dengue do sorotipo
4. Existem maneiras de se fazer intervenção em tempo real, detectar as
pessoas virêmicas, incluindo sua localização espacial, criando
mecanismos de ação localizados. É caro, mas é mais caro não fazer isso.
Então existem mecanismos que podem ser feitos localmente, mas envolvendo
a iniciativa privada, a academia, o governo e a sociedade.
Agência FAPESP – Além dos quatro vírus mais associados ao Aedes, há possibilidade de transmissão de outros, como o Mayaro e o Oropouche?
Zanotto – Sim, são vírus que estão no Brasil e têm um
espalhamento razoável. Ao todo, são dois milhões de tipos de febres que
ocorrem na região da Amazônia e não estão esclarecidos. A quantidade de
agentes é gigantesca. O Aedes e sua proximidade com os demais
vírus originários da África pode nos levar a ter que lidar no futuro com
uma lista imensa de vírus, alguns deles extremamente perigosos.
Atualmente, esses vírus já são bastante estudados. Nossa experiência
com o Zika vai ser útil para pesquisas a serem desenvolvidas como parte
de um convênio entre a USP, a Fiocruz e o Instituto Pasteur, que já tem
inclusive uma área alocada na USP de São Paulo. Uma das atuações que
teremos com o grupo com o qual colaboramos na África será começar, de
forma proativa, a ter plataformas montadas de detecção molecular e
sorológica desses vírus no Brasil. Se tivéssemos nos preparado para o
Zika há dez anos, talvez a história fosse diferente. Precisamos aprender
com essa situação. Esse momento nos fez mudar o entendimento sobre a
importância de acompanhar os vírus de forma proativa, mesmo que eles não
estejam no Brasil.
Agência FAPESP – No caso do chikungunya, que já provocou morte no Brasil, há possibilidade de um surto grande como o do Zika?
Zanotto – Para o vírus da febre chikungunya, por exemplo, já
estávamos mais preparados do que para o Zika. Existem métodos comerciais
de detecção disponíveis. Parte disso é porque as manifestações desse
vírus são muito mais severas. Há sete meses, acreditava-se que o Zika
não seria um problema, pois a maior parte dos casos é assintomática. Mas
a microcefalia mudou totalmente o patamar de gravidade desse agente.
Sabemos de interações entre chikungunya e Zika, de cocirculação e
sobreposição em várias partes da Ásia e do Pacífico, então é preciso
entender melhor isso.
Agência FAPESP – Se a maior parte das manifestações de Zika
não é percebida, como uma mulher grávida pode lidar com essas
informações? É possível pensar em um teste já no pré-natal?
Zanotto – Nesse momento, temos um pedaço da proteína do vírus
que é útil para discriminar o Zika dos outros flavivírus. Esse material
está chegando agora da África e sendo sintetizado pelo prof. Luis Carlos
Ferreira, no ICB da USP, que está iniciando a produção de proteínas em
bactérias para testar a reação do soro de nossos pacientes infectados
por Zika. Se tudo funcionar bem, poderemos ter, em breve, um sistema
para teste imunológico rápido. E isso pode ser extremamente importante,
pois a mãe, no acompanhamento, poderá saber se já foi infectada algum
dia por Zika. O cenário confuso gradualmente vai se dissipando, porque
temos conseguido avançar rapidamente no estado, inclusive com bancos de
sangue já reportando a presença de vírus (Leia mais em: agencia.fapesp.br/ 22657/). Enquanto
não temos um ensaio simples e rápido que discrimine o Zika de outros
arbovírus, somos obrigados a usar um teste mais demorado e
soroneutralização, no qual infectamos as células com os vírus junto com
soro de pacientes que, se neutralizarem a infecção, indicam que eles
foram infectados por Zika. Temos feito muitas confirmações em termos
acadêmicos, mas ainda não podemos fazer isso em massa para a população.
Por isso, a chegada desses peptídeos e sua produção na USP pode nos
ajudar a criar testes diagnósticos rápidos para todos.
Agência FAPESP – A visibilidade que essa questão dá aos atores envolvidos propicia uma projeção internacional à pesquisa brasileira?
Zanotto – Há duas maneiras de medir esse avanço. Uma é a
produção científica, que depende de acesso a materiais e recursos,
inclusive físicos, para desenvolver os trabalhos. Há dificuldades, mas
estamos nos organizando. A Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] está
auxiliando, facilitando a entrada de recursos e de materiais, como
reagentes, que está funcionando bem. Temos um potencial enorme de
geração de ciência no Estado de São Paulo. Por outro lado, tem um
segundo componente crucial, que é o controle da epidemia. O fato de
estarmos gerando esses dois componentes, conhecimento científico e
controle, é importante. O Brasil vai dar uma grande contribuição, até
porque é aqui que temos a maior quantidade de casos. Percebo,
atualmente, pelas várias propostas que estão surgindo, as modalidades de
interação, de financiamento da comunidade europeia, financiamento no
NIH, que estão levando em consideração esse aspecto de que eles têm
parceiros aqui, o que é muito bom para todos. No nosso caso, a postura é
a de parceria, colaboração. A comunidade científica brasileira é
desenvolvida e tem capacidade de lidar bem com isso, dadas as
circunstâncias de uma boa estrutura, com a academia funcionando, bom
financiamento, boas articulações entre as instituições para um trabalho
em rede, e boas articulações internacionais, que são necessárias até
pela velocidade de evolução de certas soluções fundamentais.
Agência FAPESP – O que tem sido feito para acelerar os estudos relacionados à epidemia de Zika?
Zanotto – Estamos acompanhando alguns casos de microcefalia em São Paulo e pretendemos desenvolver pesquisa básica totalmente
inserida num contexto de utilidade pública quase que imediata. Qualquer
coisa encontrada, potencialmente útil, deve ser disponibilizada, pois
pode ter repercussão no diagnóstico, no acompanhamento das mães. Nesse
sentido, a Capes viu o que a FAPESP fez ao aprovar rapidamente aditivos
para projetos já vigentes, o que encurta muito a velocidade de indução,
irrigando com recursos o que precisa ser irrigado, e está buscando
agilizar o processo. O Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação
acompanhou esse processo e quer fazer o mesmo em uma modalidade com
financiamento via FAPs e INCTs, ou seja, todos entenderam que não temos
tempo a perder. Se fôssemos fazer os trâmites nos prazos convencionais,
não teríamos tempo. A Capes está atenta a isso e quer tentar uma
modalidade de fast track. A FAPESP fez isso e causou uma reação
em cadeia em outros agentes indutores da pesquisa no Brasil. Isso é
muito importante, pois criou mecanismos de agilização. Se isso tudo
funcionar e tivermos no final dessa experiência um resultado positivo,
podemos estar criando uma nova modalidade de atuação na indução de
ciência no Brasil. Porque quando temos problemas exponenciais, as
respostas têm que ser exponenciais. E isso começou a ser bem entendido
pelos gestores de ciência e saúde no Brasil.
Por
Karina Toledo e Samuel Antenor
Fonte: