As prioridades de cada cidade são diferentes, mas de maneira geral encontramosquatro focos de melhorias que tem potencial de provocar impactos significativos no bem estar da população. Os quatro pontos mais comuns encontrados nas cidades brasileiras de grande porte são:
- a redução dos congestionamentos e melhoria dos sistemas de transporte públicos;
- melhoria na segurança pública, com redução dos índices de criminalidade;
- melhoria nos serviços de saúde e educação e
- melhores facilidades e funcionalidades na disponibilização dos serviços públicos aos cidadãos.
Entretanto, muitas vezes debatem-se estas questões minimizando-se seus impactos econômicos, que são enormes. Neste post, vou situar estas questões sob a ótica econômica, para vermos como, por exemplo, um trânsito congestionado afeta negativamente a economia, enquanto um trânsito que flui com rapidez, apoiado por um eficiente sistema de transporte público, aumenta signficativamente a produtividade e funciona como um pólo de atração para criação de novos negócios.
O trânsito, cada vez mais congestionado nas grandes e até mesmo médias cidades brasileiras, é um ponto que aparece com destaque nos debates. Um trânsito que flui adequadamente e um eficiente serviço de transporte público de massa tem influência significativa na economia das cidades. Este lado econômico passa despercebido, mas um trânsito eficiente permite deslocamento mais rápido dos funcionários para seus locais de trabalho, aumentando a sua produtividade, bem como diminui sensivelmente os custos das operações logísticas. Como resultante, temos melhoria na qualidade de vida da população, uma maior produtividade econômica e menos poluição. Os congestionamentos tem um custo muito alto para a economia. Algumas estimativas apontam que chegam a custar 4% do PIB da cidade em Manila (Filipinas), 2,6% na Cidade do México e 2,4% em São Paulo. Nos EUA, os dados indicam que o tempo desperdiçado em congestionamentos chega a 4,2 bilhões de horas, com uma perda econômica em produtividade de cerca de 87 bilhões de dólares.
O trânsito acarreta também outros custos impactantes, quando se estima que acontecem, por ano, em todo o mundo, cerca de 50 milhões de acidentes nas estradas, com uma perda em vidas humanas ultrapassando 1,2 milhões de pessoas. Sugiro a leitura do paper publicado pela World Health Organization, “World Report on Road Traffic Injury Prevention: Main Messages”, acessado aqui.
Com o crescimento econômico dos países, a situação tende a piorar. São Paulo, por exemplo, emplaca cerca de 1.000 novos veículos por dia. Em algumas cidades da Índia, como Mumbai, Delhi e Bangalore, o trânsito cresce quatro vezes mais rápido que a população.
Por outro lado, um trânsito mais eficiente impacta positivamente a economia dos países e das cidades. Um recente estudo efetuado no Reino Unido mostrou que uma redução de 5% no tempo das viagens nas estradas poderia se traduzir em uma redução de custos de 2,5 bilhões de libras ou cerca de 0,2% do PIB.
Os outros pontos também têm impactos significativos na economia. Uma cidade considerada segura atrai o turismo e a criação de novos empreendimentos. Um sistema educacional adequado atrai trabalhadores com maior skill, ampliando a oportunidade de criação de novos negócios de maior valor agregado. Por outro lado, alguns estudos demonstram claramente que cidades consideradas inseguras não atraem investimentos estrangeiros e desestimulam a criação de negócios “skill-intensive”, que são os mais atrativos econômicamente. Sugiro a leitura do paper do Center for Urban and Regional Studies, University of North Carolina, “The importance of quality of life in the location decisions for new economy firms”, aqui.
Portanto, dar os passos na direção de se tornar uma cidade inteligente passa por compreender que os problemas atuais podem ser, eles mesmos, impeditivos do crescimento econômico, criando um círculo vicioso. A criação de uma cidade inteligente obriga a gestão pública a ter uma perspectiva integrada dos principais sistemas que compõem uma cidade, como trânsito, segurança pública, saúde e educação. Um trânsito eficiente e mais seguro não apenas reduz o congestionamento, mas melhora a saúde da população pela redução da emissão de dióxido de carbono e diminui o número de acidentes. Isto implica em uma maior produtividade da economia e abre oportunidades para criação de novos negócios, como no setor de entretenimento. Já vimos dados que mostram que em algumas cidades, a redução dos congestionamentos implicou em um aumento nas vendas do comércio.
Um grande aliado neste processo de transformação para uma cidade inteligente é a tecnologia, cada vez mais ubíqua. Uma cidade instrumentada e conectada, que obtém e analisa dados do seu dia a dia, como fluxo de veículos, identificação dos pontos de maior criminalidade, situação de utilização dos leitos hospitalares, etc, agindo diretamente na correção dos problemas ou melhor ainda, agindo preventivamente para evitar que tais problemas ocorram, é sim, uma cidade inteligente.
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