terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Visita de pets: O programa estabelecido no Hospital Israelita Albert Einstein


Receber a visita de seus animais de estimação sempre foi um desejo dos pacientes e seus familiares. Como o objetivo do Hospital é favorecer a recuperação dos pacientes em todos os níveis: físico, mental, emocional, social e espiritual, decidiu-se transformar essa solicitação numa rotina com procedimentos e regras claramente definidos. O princípio que regeu a opção da Instituição foi a designação “Planetree”, selo de humanização internacional pelo qual o Einstein foi reconhecido de forma exclusiva na América Latina e que preconiza a oportunidade de fazer escolhas enquanto hospitalizado.

Para isso foi então desenvolvida uma política de segurança para a visita do animal de estimação, baseada nas evidências descritas na literatura médica já supracitadas e, hoje, toda a Instituição esta envolvida e sensibilizada com o tema. Essa iniciativa teve início em 2009, mas vem crescendo desde sua implantação. Desde então o Hospital recebeu 53 visitas de gatos, coelho e pássaros, porém os pedidos e visitas mais frequentes são de cachorros.

Considerações finais

Embora existam numerosos estudos que demonstraram o benefício psicológico, físico e social com a presença dos animais, estes oferecem riscos potenciais para infecção. Cabe a cada instituição, assim como ao Hospital Israelita Albert Einstein, definir uma política para quais pacientes estará liberada essa esta atividade, as medidas de controle de infecção, segurança, procedimento pós-acidente com o animal (arranhão e mordida) e treinamento dos animais, para assegurar a qualidade no serviço e proporcionar um ambiente seguro para as pessoas e animais.

Referências

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KOBAYASHI CT, USHIYAMA ST, FAKIH T, ROBLES RAM, CARNEIRO IA, CARMAGNANI MIS. Desenvolvimento e implantação de Terapia Assistida por Animais em hospital universitário. Rev. Bras. Enferm. 2009; 62(4): 632–6.

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Terapia mediada por animais em hospitais: as recusas à visita





Uma retrospectiva de 450 visitas (2006–2007)
Adaptação e atualização de trabalho publicado nos Anais do I Congresso Brasileiro de AET. São Paulo,



Nos últimos anos, a concepção de que o animal doméstico é benéfico para a saúde física e mental das pessoas ampliou-se, bem como, aumentaram as implantações de projetos de terapia mediada por animais, que visam a prevenção e promoção da saúde humana. Estas intervenções são organizadas levando animais para visitar indivíduos em instituições de saúde ou outras, como parte de um processo terapêutico, cuja finalidade é ajudar na resolução de problemas humanos.

O Projeto Pet Smile desenvolveu atividades em São Paulo, na área de terapia mediada por animais de junho de 1997 a dezembro de 2010. Nesses treze anos de trajetória realizou mais de 13000 visitas com um elenco variado de animais. Constam em sua história funcional incontáveis experiências que comprovam a contribuição positiva da presença do animal para a humanização hospitalar.

No entanto, este não é um trabalho universalmente aceito pelos beneficiários em potencial. No contexto relacionado às recusas para receber a visita dos voluntários com os animais em ambiente hospitalar, dados empíricos emergiram e emergem (FUCHS, 2007; BIRGEL, 2013), mostrando que esta atividade não é uma panacéia.

O Projeto Pet Smile atuou seguindo várias diretrizes e, entre elas, destacavam-se o registro de visitas, com especificação de quartos e leitos dos pacientes beneficiados, bem como dos animais visitantes, para controle do Projeto, das Instituições participantes e possíveis indagações zoonóticas.

Com o monitoramento deste levantamento, observou-se que havia um expressivo número de recusas em receber os animais. Sendo assim, resolveu-se iniciar um estudo retrospectivo com os seguintes objetivos:

a) investigar a frequência de aceitações e recusas;
b) sondar as justificativas para recusas.

Para esta finalidade realizou-se um levantamento de 30 formulários de visitas mensais, no período compreendido entre junho de 2006 até março de 2007, em quatro instituições hospitalares, duas eram particulares e duas públicas, e apenas uma compreendia pacientes adultos, as outras eram pediátricas. Foram contatados e convidados 450 participantes para receber as visitas dos voluntários levando, conforme a escolha do paciente, um ou vários animais da lista a seguir: cão, coelho, chinchila, porquinho da Índia, tartaruga, peixe Betta splendens em aquário pequeno.

O formulário padrão utilizado em todas as visitas desde o início do Projeto, continha itens, com as seguintes finalidades:

1 identificação do beneficiado (nome, idade, sexo, número do quarto ou leito);
2 arrolamento da aceitação ou recusa da proposta de visita;
3 nos casos de aceitação: especificação e sequência da apresentação dos animais, dos voluntários e familiares presentes;
4 nos casos de recusa: questionamento do motivo e anotação da resposta;
5 identificação dos pacientes sujeitos a precaução de contato. Estes pacientes não foram convidados.

Os dados dos protocolos eram relevantes por servir como fonte de evidência da eficácia e segurança das intervenções, com a interação ser homem-animal, em ambiente hospitalar. 

Além de propiciar a transparência e subsídios para avaliação por parte de órgãos superiores, no quesito de um trabalho que não implicava em danos ou riscos para a população participante.

Pode-se observar na figura 2, os motivos de recusa dos convidados para receber o projeto de Terapia mediada por animais. Vale ressaltar que muitas das recusas à visita eram decorrentes de impedimentos em virtude das condições do momento, tais como paciente dormindo entre outras.

Dos 450 convidados, 141 recusaram a visita (31%), sendo 20% das recusas oriundas de condições hospitalares e 11% diretas dos pacientes ou de seus acompanhantes, o que contrasta com o lado aparentemente fácil da realização de terapia mediada por animais em hospitais. As recusas foram divididas em três categorias principais e as porcentagens referem-se a representação do motivo no quantitativo total de recusas: 1) Impedimentos por condições do momento da rotina hospitalar: isolamento/precaução de contato (23%), incluindo recém - nascidos (5%); procedimentos: atendimento fisioterápico, médico ou da equipe de enfermagem, banho e higiene pessoal (8%); preparo para cirurgia ou ausência para realização de exames com consequente “encontro do leito vazio”, bem como alta hospitalar não comunicada (9%); paciente dormindo (25%); 2) recusa verbalizada pelo acompanhante: em função de déficit cognitivo presumido (7%); 3) recusas do paciente por: a) estados subjetivos, tais como dor, sono, irritação, cansaço, crises (9%); b) outros (postura frente ao mundo animal) (14%): recusa sem justificativa (10 pessoas), 8 pacientes disseram que tinham medo e 2 que não apreciavam animais. Algumas destas recusas, quando relacionadas às crianças, foram expressas pelos pais, justificando terem medo de animais.

Na ausência do paciente, por diversos motivos, quem se beneficiava da visita era o acompanhante.

Vale a pena comentar o fenômeno da recusa parcial, sem registros numéricos: a) na abordagem inicial o paciente dizia que não queria ver bicho e depois de vê-los de longe, pedia, por exemplo, o cachorro; b) aceitava a visita, mas não interagia, em virtude de outros interesses, tais como jogos eletrônicos.

Este estudo foi descritivo. Para sua ampliação seria necessário um aprofundamento na sondagem dos motivos reais ou imaginários das recusas, inclusive a história pessoal de cada envolvido. 

Confirmou-se que:
• a terapia mediada por animais em instituições hospitalares não é aceita de forma unânime, como fazem crer os relatos publicados na mídia;
• neste levantamento a recusa foi maior para a população de instituições hospitalares particulares, ou seja pacientes de condições sócio-econômicas mais favorecidas; acomodados em quarto particular (maior controle sobre o ambiente externo). Os pacientes em enfermaria poderiam ter mais dificuldade em recusar a visita por se sentirem em minoria ou mais propensos a aderir ao programa por um “efeito contágio”;
• para uma maior adesão ao trabalho seria necessária uma preparação dos beneficiados em potencial, por parte da instituição;
• a recusa como tal poderia ser interpretada, em termos psicológicos, como um dos poucos momentos em que o paciente, sujeito (submisso) ao rígido controle hospitalar, tem o poder da autonomia, de modificar seu mundo externo. A interação com o animal em ambiente hospitalar representa uma das vias possíveis para ajudar na diminuição da ansiedade dos pacientes, pelo fato de estarem doentes, o que configura um momento de crise.

O desafio para todos é como se adaptar a outra maneira de estar no mundo. Não é da competência do animal curar males físicos ou mentais, mas a interação com ele pode ser uma via eficaz para atender as necessidades básicas do ser humano de amor, compreensão e aceitação.


Referências
FUCHS, H.; OLIVEIRA, D.; et al. O outro lado da Terapia Assistida por animais: as recusas ao trabalho. I Congresso Brasileiro de AET. 2007. São Paulo. p. 18–21.
BIRGEL, E.H. Comunicação pessoal. São Paulo: 4 de abril de 2013.

Fuchs, Hannelore
Médica Veterinária – FMVZ-USP. Psicóloga – PUC/SP. Mestre e Doutora em Psicologia – Instituto de Psicologia/USP. Fundadora e Coordenadora do Projeto de Terapia Mediada por Animais – Pet Smile (1997–2010).
E-mail: afuchs@amcham.com.br • Fone: (11) 3863-9214

Oliveira, Déria de
Administradora de Empresas. Psicóloga. Mestre em Psicologia da Saúde pela UMESP. Especialista em Psicologia Hospitalar pela FMABC. Doutoranda em Psicologia Clínica pela PUC/SP. Voluntária pesquisadora do Projeto Pet Smile (2006–2010).

Fonte:

Terapia com cães O projeto "tan amigos"



Conviver com animais de estimação traz benefícios importantes para as pessoas em muitos níveis e os veterinários, nas suas consultas, podem ver diariamente a profunda interação entre as pessoas e os animais.

Mas também há uma grande ignorância da verdadeira natureza dos animais que vivem conosco produzindo problemas de adaptação e de condutas inadequadas que causam o abandono ou até o sacrifício de muitos desses animais de companhia.

Desde 2005, o nosso trabalho no projeto "tan amigos" está consubstanciado na utilização de cães procedentes de abrigos (abandonados por diversas razões) para dar assistência em vários centros e residências a enfermos acometidos com paralisia cerebral, autismo, doença de Alzheimer, demência senil ou em programas de atendimento a deficiência física ou mental, ou de educação em escolas regulares sobre a posse responsável de animais.
Zooterapia é a técnica baseada na estimulação por animais, principalmente cães, mas também, gatos, cavalos, golfinhos, cobaias, aves etc, a fim de facilitar tanto a aprendizagem, o correto diagnóstico , como a adaptação de pacientes com capacidades diferentes, idosos e pessoas com distúrbios emocionais.
O objetivo principal é que o animal (no nosso caso, exclusivamente o cão) sirva como um elo entre o terapeuta e o paciente.
Devido a essa ampla gama de aplicações no projeto "tan amigos" podemos distinguir:
Educação Assistida por Animal (EAA )
Atividades escolares, cuja finalidade é a aproximação de animais de estimação com crianças jovens para fins educacionais e de sensibilização. Estas atividades são executadas com o apoio dos professores da escola (pode ser de ensino regular ou especial) e o pessoal do projeto “tan amigos”.

Terapia Assistida por Animais (TAATAA )

São intervenções em que um animal é incorporado como parte integrante do processo de tratamento, com o objetivo direto de promover a melhora das funções física, psicossocial e/ou cognitiva das pessoas tratadas. São lideradas por um especialista em TAA e desenvolvidas por uma equipe interdisciplinar.

A TAA pode ser direcionada para uma ampla gama de usuários: afetados pelo autismo, paralisia cerebral, depressão, problemas de comportamento, etc.
Qualquer interação com os animais pode ser desenvolvida em uma grande variedade de ambientes, de acordo com os requisitos das patologias, e pode ser realizada individualmente ou em grupos.

Deve haver um estudo preliminar de viabilidade do projeto, e também uma fase de adaptação de todos os participantes (guia do cão, paciente) antes de definir metas para cada indivíduo ou sessão.

Para ser considerado como terapia, o trabalho deve ser cuidadosamente documentado tanto em termos de definição de objetivos quanto de sua avaliação correspondente.

Por causa dessas exigências, qualquer pessoa que esteja trabalhando com um cão não pode ser chamada de "terapeuta", nem qualquer interação entre o cão e os pacientes deve ser considerada "terapia", porque a TAA é o resultado do trabalho de uma equipe interdisciplinar na qual o cão vai ser a ferramenta fundamental para a obtenção de objetivos.

No caso da TAA, o animal “co-terapeuta” deve seguir critérios veterinários específicos, pois é uma parte essencial do progresso terapêutico.
A metodologia utilizada neste tipo de interação depende sempre do perfil dos usuários a quem ela é dirigida. No âmbito do projeto "tan amigos", podemos distinguir dois tipos de aplicação: um programa de estimulação e um programa relacional.

Programa de estimulação

O cão e o seu guia interagem para produzir um estímulo primário na pessoa. Para que possa ser atribuído ao cão um programa dessa natureza, ele deve ser:

• Especialmente selecionado
• Treinado especificamente de forma contínua
O guia funciona com o cão que é convidado para realizar uma ação específica para alcançar uma estimulação adequada: ruído, tato, movimento, etc.

O grupo de pacientes, para os quais este programa é normalmente direcionado, é composto por pacientes com déficits físicos e cognitivos elevados e, nestes casos, os responsáveis pelo programa tem papel de observadores para quantificar pequenas mudanças que possam ocorrer durante a interação.
Programa relacional

O cão atua como um intermediário e permite que “coisas aconteçam” mas que normalmente não aconteceriam em outros ambientes. O guia interagirá com o paciente e este, por sua vez, com o cão especificamente selecionado pelas suas características. O treinamento do cão será contínuo e trabalhado em conjunto com os usuários.

Para os participantes com menores deficiências físicas e/ou cognitivas, mas onde se deve intervir em seus déficits psiquiátricos ou mentais, o programa proporcionará a internalização das normas, o aumento da auto-estima e das habilidades sociais, graças ao aprendizado por reforço positivo representado pelo próprio animal. Ou seja, os usuários treinam os cães e por sua vez os pacientes aprendem as normas e os padrões de comportamento que não ocorreriam em outro ambiente. Isto seria difícil ou não ocorreria sem esta ajuda que é a maximização da comunicação e motivação que surgem no contato direto com os cães participantes.

Conclusões
Na nossa experiência desenvolvida após várias interações, é a de que se produz uma série de reações causadas pelo papel do cão como “co-terapeuta”:

Aumento da empatia
A maioria das pessoas (especialmente crianças) se identificam com os animais. É mais fácil ensinar uma criança a sentir empatia por um animal do que por um ser humano. Isto pode ser explicado porque é mais fácil determinar os sentimentos de um animal através da sua linguagem corporal do que em uma pessoa.

Facilidade para provocar momentos de entretenimento e jogos
A presença e a observação do cão oferecem diversão e alegria. Mesmo aqueles que não gostam muito de animais, observam suas reações e jogos. Especialmente em casas residenciais ou retiros de idosos, onde a pessoa permanece por longos períodos de tempo, o cão dinamiza as reuniões e fornece um contexto de domesticidade em um ambiente que, às vezes, pode parecer hostil, o que inclui os membros da equipe, que também desfrutam de momentos únicos em contextos nos quais geralmente não ocorrem eventos inesperados e agradáveis.

Estimulação mental
Ao aumentar o desejo de comunicação, estimula-se a capacidade mnemônica, a memória recente e a memória remota, pode-se tirar proveito desses momentos de lucidez para trabalhar a estimulação cognitiva que ajuda a preservar as suas habilidades e sua localização no tempo e no espaço, etc.

Oaumento da sensação de ser aceito e pertencer a um grupo
Cães aceitam as pessoas sem reservas. Sua linguagem corporal é simples de entender e não muda. Os participantes das terapias sabem o que esperar da atitude de seus cães, de sua alegria, carinho, disposição ao contato físico, de suas habilidades…

Enquanto isso, os cães não perguntam, nem julgam, devem ser apenas escovados, acariciados e recompensados.
Melhoria das relações interpessoais

Diminui o sentimento de isolamento e temos visto também ao longo das nossas sessões, que se abre um canal de comunicação emocionalmente seguro entre o terapeuta e o usuário. Cães ajudam-nos a dar um ar de interação de segurança emocional. Sua presença permite alterações, desde a resistência inicial por parte do paciente, seguido pela busca de contato com o cão, até a generalização do comportamento fora das sessões, devido à alta motivação que há para que eles continuem no programa.

A presença deles aumenta a sociabilidade entre as pessoas:
1 entre os pacientes,
2 entre os pacientes e a equipe de trabalho,
3 entre pacientes, funcionários, familiares e outros.

Mudança de percepção de sua situação

Os cães ajudam as pessoas com déficit mental, que têm baixa auto-estima, depressão, etc., a mudar o foco de seu ambiente, obtendo conversas neutras, ou seja, essas pessoas pensam e falam dos animais, ao invés dos seus problemas.

Atualmente, o projeto "tan amigos", com os seus quatorze cães, atende mensalmente a vinte centros. Os cães estão presentes em todos os tipos de enfermidades e deficiências, de modo que parte do sucesso do trabalho com as pessoas também depende da seleção adequada do cão que será usado para cada interação.

Portanto, a recuperação de cães adultos, de qualquer raça ou tamanho, nos permite uma grande adaptação a diferentes contextos e indivíduos. Pode-se fazer uma interação bem-sucedida de uma criança de um ano com deficiência grave, um adulto com problemas de comportamento e controle de impulsos ou uma idosa com demência avançada e sua consequente fragilidade.

Observa-se que essas variações na morfologia e cores dos cães, também é um ponto positivo no desenvolvimento das sessões, e permite que os usuários expressem suas preferências ou rejeitem o que os assusta.
Em conclusão, a motivação faz com que a interação com nossos cães permita a iniciativa da escolha e o trabalho coletivo para aqueles para os quais é quase impossível fazer isto no seu dia a dia, além de propiciar, em todos os momentos, melhoria em seu bem-estar físico e mental, dentro das possibilidades individuais e das melhorias generalizadas em sua vida diária.

Alexia Falcó Santamaría

Médica Veterinária – Diretora Técnica do Projeto "tan amigos"
e-mail :alexiafalco@tanamigos.es
site: http://www.youtube.com/user/proyectotanamigos
Artigo fornecido por Prof.Dr.Carlos Eduardo Larsson – CRMV SP 1037
e-mail: larsderm@hotmail.com
Tradução: Alexandre Develey – CRMV SP 203



Fonte:


Pontos críticos a serem considerados na Terapia Assistida por Animais


A razão: "A Terapia Assistida por Animais – TAA, é uma técnica empregada, por profissionais da área da saúde, no tratamento de patologias no âmbito da saúde física, mental ou social. Tem objetivos terapêuticos específicos, sendo a terapia adaptada e direcionada à demanda clínica do profissional que a promove e utiliza o animal de estimação como ferramenta do processo terapêutico." (MONTEIRO, A. 2007 – CENTRONATI/ANIMALLIS).

Dentre as TAA, a Equoterapia, foi reconhecida como método terapêutico em 1997 pelo Conselho Federal de Medicina, e se baseia na equitação, em uma abordagem multidisciplinar e transdisciplinar, cujo objetivo principal consiste na estimulação e desenvolvimento biopsicossocial de indivíduos portadores de deficiências ou necessidades especiais.

A precaução: Considerando as diversas possibilidades de relação, exposição e contato direto e indireto com os diferentes animais antes, durante e após os procedimentos planejados da TAA, preocupa estabelecer quais os pontos ou fatores devamos considerar críticos desta relação, identificando aqueles que oferecem algum tipo de possibilidade de dano ao paciente (assistido), ao agente (executor/assistente), ao animal (instrumento), aos coadjuvantes (apoiadores, acompanhantes, assistentes), e o ambiente (teatro de operações, manejo, trânsito).

A primeira e mais evidente preocupação está no perigo zoonótico, quando a exposição e o contato direto e frequente entre espécies animais e humanos de alguma forma fragilizados orgânica e psicologicamente, determinam uma circunstância de risco de contagio.

O animal envolvido na TAA deve obrigatoriamente estar submetido a um rigoroso e controlado processo sistematizado de monitoramento contínuo que possa assegurar sua inocuidade zoonótica. O processo estende-se da avaliação da origem, do perfil clínico e comportamental, das tendências estruturais e fisiológicas, da relação com os ambientes que está exposto, do manejo alimentar e higiênico que está submetido, das substâncias químicas e farmacêuticas que recebe. Esta rigorosa monitoração deve considerar as condições da microbiota existente(oral, conjuntival, cutânea, intestinal, genital), pelo que pode representar.

DE LORENZO, J. (2010), abordando o Ecossistema Bucal, nos indica que, a microbiota bucal é a mais complexa de todo o organismo: só de bactérias existem mais de 30 gêneros diferentes, abrangendo mais de 500 espécies diferentes. Socransky e Haffajee (2002) relataram que, na boca (humana), existem aproximadamente 350 espécies bacterianas já cultivadas e mais de 200 que foram reconhecidas por métodos genéticos.

BRAGA,C E COLS (2005), avaliaram a microbiota periodontal de 29 cães, constatando que 27 cães (93,10%), apresentavam vários sítios com quadro clínico de gengivite, e, somente 2 cães (6,90%), apresentavam todos os sítios avaliados saudáveis. Seiscentas e setenta e duas amostras microbianas foram isoladas dos cães, sendo 379 (56,40%) bactérias anaeróbias estritas, 236 (35,12%) anaeróbias facultativas, 46 (6,84%) aeróbias estritas ou microaerófilas e onze (1,64%) leveduras. A identificação microbiana permitiu o agrupamento dos isolados em 49 espécies diferentes, entre as quais se destacam:





O que nos chama a atenção é a ocorrência de Pasteurella spp, E. coli, Staphylococcus spp, Streptococcus β hemolitico, Corynebacterium spp e Bastonete e cocobacilo G- e G+, Fusobacterium spp e Bacteroides spp reconhecidamente de potencial zoonótico oportunista.

VIEIRA E COLS (2009), descreveram a recuperação e a identificação de bactérias da microflora oral de 48 equinos adultos sadios quando foram isolados Staphylococcus spp e Streptococcus spp, Moraxella spp, Nocardia spp e Bacilus spp das regiões periodontal e terço médio da língua. Das espécimes periodontais foram isolados uma grande concentração de Staphylococcus spp 81,25% (39/48) em relação aos Streptococcus spp 41,67% (20/48). 
Segundo Smith e MacFarlane (1999), da mesma forma que o estafilococos pode ser considerado um organismo transiente da cavidade oral, sua frequente presença neste local pode ser considerada uma potencial fonte de infecção, sugerindo uma detecção detalhada da microbiota oral não só de animais clinicamente saudáveis.

Segundo SANTIN, (2009), as leveduras do gênero Candida são componentes da microbiota de humanos e animais clinicamente sadios e são descritos como agentes oportunistas causadores de micoses em todo o mundo. Em cães, Candida spp. já foi isolada da mucosa vaginal, oral e anal, bem como da pele, meato acústico externo e espaço interdigital (CLEFF et al., 2005; BRITO et al, 2009). Malassezia pachydermatis é a espécie mais estudada em animais e é considerada parte da microbiota de vários sítios anatômicos em cães e gatos, principalmente do meato acústico externo e tegumento cutâneo, embora também possa ser isolada do reto, sacos anais, vagina e espaço interdigital (NOBRE et al.,1998; NASCENTE et al., 2004).

Segundo BENTUBO E COLS, (2010), a literatura indi-ca que os principais gêneros de fungos associados com a colonização do pelame e cavidades naturais de cães e gatos são: Aspergillus spp., Cladosporium spp.,Candida spp., Cryptococcus spp., Fusarium spp., Geotrichum spp., Malassezia spp., Microsporum spp., Penicillium spp., Rhodotorula spp., Scopulariopsis spp., Trichophyton spp., e Trichosporon spp. (Cabañes et al., 1996; Cleff et al., 2007). Os autores ressaltam que os animais, principalmente os domésticos, podem desempenhar papel importante como reservatórios de C. albicans para seres humanos susceptíveis que mantêm contato próximo com esses animais (Edelmann et al., 2005). Leveduras do gênero Rhodotorula, encontradas em fontes naturais e superfícies úmidas, também são integrantes da microbiota residente/transitória normal da pele de cães (Gambale et al., 1987; Cabañes et al., 1996;Lunardi et al., 2006). Segundo Holanda et al. (2007), Rhodotorula spp. têm sido apontadas como emergentes em quadros de infecção humana.

ISHIKAWA E COLS, (2006), motivados pela escassez de publicações com enfoque sobre a microbiota fúngica de equinos hígidos, investigaram a ocorrência das principais espécies de dermatófitos em 175 equinos com e sem lesões suspeitas de dermatofitoses. Foram isolados no grupo desprovido de lesões cutâneas (133 equinos), Penicillium spp (80,4 %), Rhizopus spp (62,4%), Aspergillus spp (41,3%), Fusarium spp (40,6%), Cladosporium spp (33,1%), Trichoderma spp (21,0%), Mucor spp (18,0%), Epicoccum spp (12,0%), Mycelia sterillia (8,8%), Rhodotorula spp (2,2%), Neurospora spp (4,5%), Alternaria spp (3,7%), Aureobasidium spp (3,7%), Geotrichum spp (3,0%), Paecilomyces spp (2,0%), Monascus spp (2,2%), Cephalosporium spp (1,5%), Nigrospora spp (0,7%), Scopulariopsis brevicaulis (0,7%), e Trichosporun spp (0,7%).

GATTO; KOZUSNY, (2011), investigaram, por cultivo, amostras cutâneas de equinos hígidos no noroeste paulista, onde foi verificada presença de Trichophyton mentagrophytes (9), T. verrucosum (25) e T. equinum (12). Em 16% dos animais foram isolados Microsporum gypseum e 8% M. equinum. Verificou-se que 12 animais que apresentaram T. verrucosum estavam também contaminados com M. gypseum. Todos os animais com lesões apresentaram T. equinum . Os resultados obtidos mostram a importância da determinação por meio de cultivos dos dermatófitos presentes em pelos de equinos para direcionar o tratamento e evitar a disseminação dos agentes para o ser humano. Recomendamos a leitura atenciosa e muito interessante do Guidelines for environmental Infection Control in Healthcare Facilities. Recommendations of CDC and the Healthcare Infection Control Pratics Advisory Committee (HICPAC). U.S. Department of Health and Human Service Atlanta: Centers for Disease Control-CDC. 2003, que faz recomendações e sugestões muito adequadas ao propósito de assistir tecnicamente com competência e segurança os procedimentos da TAA.

A monitoração: Há denominados pontos críticos e sugerimos alguns que julgamos importantes e colocamos em discussão:

Quanto a espécie envolvida no TAA:

• Origem; procedência conhecida; perfil hereditário; histórico de relações com pessoas e antecedentes históricos gerais.
• Perfil comportamental; temperamento; instinto; atitude; habilidades; previsibilidade; controle; equilíbrio; reatividade/resposta e tendência.
• Perfil orgânico; condição física; antecedentes clínicos; funções orgânicas; desempenho e habilidades físicas.
• Perfil epidemiológico; imunizações; condição parasitária; exposição a sinantrópicos e contato com outros animais.
• Perfil microbiológico; microbiota oral, auricular, conjuntival, cutânea (pelame), intestinal e genital.
• Procedimentos de preparo para o procedimento de TAA.
• Qualificação e Certificação para nível de exposição em TAA.
Quanto ao manejo e apoio operacional em TAA:
• Habilidade e capacitação do assistente (fisiologia, comportamento, bem-estar animal, biossegurança, contenção, transporte e primeiros socorros).
• Imunização e antecedentes clínicos; higiene pessoal.
• Equipamentos de proteção individual e de segurança complementar.
• Uniforme.
• Equipamentos.
Quanto ao ambiente de operação/procedimento de TAA:
• Localização; acesso; espaço disponível; iluminação; ventilação; restrições e limitações operacionais; ruídos e inspeção prévia.
• Presença de outras espécies(silvestres, pets, domésticas, sinantrópicas).
• Proteção ambiental; ergonomia; conforto físico, térmico e higiênico.
• Condição climática e ambiência.
• Programação; horário e frequência.
• Higienização prévia e pós atividade; desinfecção e destinação de resíduos.

A competência responsável: O caráter multidisciplinar e transdisciplinar da TAA, demanda competências e habilidades gerais e específicas de cada participante envolvido no conjunto/equipe promotor. A logística necessária ao planejamento, operação e avaliação dos procedimentos exige coordenação, administração e responsabilidade técnica, do mais elevado nível de integração, simplesmente por ter como objeto a vida (recuperada, adaptada, preservada e aprimorada).

Os programas de TAA devem ser profissionalizados intensivamente e oferecidos sobre a responsabilidade técnica da competência legal constituída, assegurando credibilidade e qualidade à população assistida.


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http://www.centronati.com/

http://www.centronati.com/terapia-assistida-por-animais

Prof. Dr. Carlos Augusto Donini
Doutor em Medicina Veterinária Preventiva; Mestre em Saúde Pública Veterinária; Professor de graduação e pós-graduação de Zoonoses e Saúde Pública, Extensão e Saúde Ambiental – FMU-SP


Fonte:




A equoterapia é um método educacional e terapêutico



A equoterapia é um método educacional e terapêutico, que utiliza o cavalo como instrumento de trabalho dentro de uma abordagem interdisciplinar, nas áreas de saúde, educação e equitação. Ela foi reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina como recurso terapêutico de reabilitação motora no dia nove de abril de 1997, e como método educacional pela Divisão de Ensino Especial da Secretaria de Educação do Distrito Federal, instituição conveniada à ANDE-BRASIL. Tramita atualmente no Congresso Nacional projeto de lei que visa colocar a Equoterapia como método terapêutico atendido pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

A semente da Equoterapia foi plantada no Brasil na década de 70. Entre os anos de 1976 e 1977, um rapaz portador da síndrome de Down participava e era conduzido em aulas de hipismo, na Sociedade Hípica de Brasília (SHBr), dentro do respeito às suas limitações. As modificações de comportamento e o desempenho escolar desse rapaz, sempre para melhor, começaram a ser relatadas por seus familiares, amigos e professores. Nesta ocasião, quem desempenhava as funções de chefe e técnico da equipe de equitação da Sociedade Hípica de Brasília (SHBr) era o Sr. Lélio de Castro Cirillo, oficial de Cavalaria do Exército Brasileiro, já na reserva, porém, homem ligado ao cavalo e à educação desde 1954, quando se especializou como instrutor dessa modalidade equestre pela Escola de Equitação do Exército.

O desempenho deste rapaz com síndrome de Down chamou a atenção do Sr. Lélio Cirillo, que procurou verificar a relação entre as mudanças observadas no comportamento de seu aluno e a equitação. Contudo, somente em 1986 a resposta aos seus questionamentos foi encontrada numa reportagem de “O Globo” que abordava a atividade equestre para deficientes, e tinha o título “Equitação para crianças retardadas”, termo utilizado na época. A pessoa entrevistada era a Dra. Danielle Citterio, médica italiana e presidente da Associação Italiana de Reabilitação Equestre (ANIRE).

Finalmente o Sr. Cirillo obteve a confirmação que precisava, ou seja, de que havia um fundamento científico a ser observado, mas a fonte das informações necessárias seria encontrada somente na Europa. Então em 1988, após viagens de estudos por vários países europeus e um trabalho que contou com a colaboração de diversas pessoas, dentre elas do General Carracho, outro importante aliado da vinda da Equoterapia para o Brasil, formulou-se uma estratégia de implantação e institucionalização das práticas terapêuticas feitas com o cavalo e a cavalo, dentro de uma doutrina nacional brasileira. Dos estudos decorrentes dessas viagens à Itália, Suíça, França e Inglaterra, concluiu-se que seria conveniente a criação de uma associação de abrangência nacional e de uma palavra peculiar, fora da influência estrangeira, que englobasse todos os conceitos de reabilitação e educação feitos com o cavalo.

O primeiro passo foi a criação da Associação Nacional de Equoterapia (ANDE-BRASIL), em 10 de maio de 1989 e a denominação da prática como Equoterapia.

A Equoterapia do Brasil teve grande influência da ANIRE e da Dra. Danielle Citterio, inclusive participando como palestrante no primeiro curso de formação em Equoterapia no Brasil. Em abril de 2012 foi convidada para vir ao Brasil, participando do “I Workshop Internacional de Equoterapia Caballiana”, evento realizado dentro da Feira Caballiana, onde multiplicou seus conhecimentos e atualizações com apoio da ANDE BRASIL e Instituto Passo a Passo.

Atualmente, a equoterapia é realizada em locais em que se possa oferecer uma estrutura para o trabalho com cavalos, constituídos de pistas, cocheiras, baias e piquetes (pasto). Hoje, o Brasil possui 284 centros de Equoterapia agregados ou filiados à ANDE-BRASIL, sendo a maioria localizada na região sudeste do país.


A maior concentração está no Estado de São Paulo, onde encontramos alguns centros de referência da prática, e dentre eles, o Instituto Passo a Passo que fica na cidade de Itatiba e atende gratuitamente 96 praticantes com as mais diversas necessidades.

A Equoterapia promove benefícios físicos, cognitivos, emocionais e comportamentais. É indicada no tratamento de pessoas com comprometimentos físicos, alterações emocionais e/ou de aprendizagem.

A inserção na Equoterapia varia de acordo com a demanda de cada praticante, e esta pode ser realizada através de encaminhamentos médicos e de outros profissionais da saúde e educação, tais como fonoaudiólogos, psicólogos, pedagogos, terapeutas ocupacionais e educadores físicos, entre outros. Porém, o início do tratamento somente pode ocorrer com a autorização médica.

Inicialmente é realizada uma entrevista com os pais ou responsáveis, para identificar a queixa e a área de maior necessidade do praticante (motora, emocional ou aprendizagem). Após a entrevista, é realizada uma avaliação com o praticante para verificar em detalhes suas dificuldades e assim estabelecer o melhor programa de atendimento. Os atendimentos ocorrem uma vez por semana, geralmente com duração de 1 hora, mas cada sessão de Equoterapia pode variar de 30 a 60 minutos, dependendo do programa onde o praticante será inserido.

Os praticantes são avaliados a cada semestre para verificar a evolução, e a alta dependerá da enfermidade instalada, cabendo a cada profissional determinar o término ou continuação do tratamento. Geralmente o tempo de dois anos é suficiente para o praticante demonstrar avanços significativos no seu desenvolvimento.

O responsável pela mediação entre praticante e cavalo é o equoterapeuta, portanto é necessário que este proporcione uma relação saudável e sem riscos para ambos. A Equoterapia, diferente dos atendimentos em consultório, é realizada em um ambiente aberto e envolve a relação com animais. Portanto, é importante estar sempre muito atento em relação aos estímulos ambientais, vestimentas, acessórios e equipamentos de montaria, para que estes não interfiram no comportamento do cavalo e não o assustem, colocando o praticante em risco. Também devem ser observadas as reações do praticante (medo, euforia, ansiedade, etc.), e as reações do cavalo, além de estar atento com os equipamentos de segurança.

Devemos salientar um aspecto fundamental, a formação deste equoterapeuta. Este profissional deve ter curso superior nas áreas da saúde ou educação, ter a formação básica mínima em Equoterapia, que hoje é recomendada entre 80 a 200 horas de formação e aprimoramento, incluindo curso básico, avançado e de aprimoramentos, além de ter experiência profissional no atendimento equoterápico, e experiência de, no mínimo, um ano em Equitação e Etologia Equina.

Existem alguns locais de referência para a formação de profissionais no Brasil. Dentre eles podemos citar a ANDE-BRASIL, que possui os cursos de formação e aprimoramento, e o Instituto Passo a Passo, que também realiza o curso básico de Equoterapia, dentre outros diversos cursos de aprimoramento. Todos eles são apoiados pela ANDE-BRASIL. Ademais, o Instituto Passo a Passo foi o primeiro centro de Equoterapia do Brasil a citar o tripé fundamental para a sua sustentabilidade: Aspectos terapêuticos X cavalo X gestão. Toda prática do Instituto Passo a Passo se baseia em atingir a excelência deste tripé.




Profa. Dra. Raquel Yvonne Arantes Baccarin Departamento de Clínica Médica
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – USP
Claudia da Costa Mota
Fonoaudióloga, Psicodramatista
Gestora do Instituto Passo a Passo – diretoria@passoapasso.org.br



Fonte:


Sustentabilidade e bem-estar animal: sim, tudo a ver!



Questionados sobre a eventual relação entre o que se
entende por sustentabilidade e por bem-estar animal,
usaremos este espaço no Boletim APAMVET para apresentar
a minha visão sobre o assunto. Sem a pretensão
de apresentar uma fundamentação formal e científica
sobre o tema, irei apenas trazer algumas considerações
empíricas a respeito.

Antes, porém, é preciso que uma premissa seja considerada:
a de que nós, seres humanos, estamos em
constante evolução, inclusive e principalmente, ética.
Esta é a dimensão no complexo processo da evolução
que nos interessa para o presente contexto. A Professora
Terezinha Azerêdo Rios nos diz que ética é “o olhar
agudo que procura descobrir os fundamentos dos valores,
tendo como referência a dignidade humana e, como
horizonte, a construção do bem comum”.

Em síntese, ética está relacionada, basicamente,
à preocupação com algo além de si mesmo. Esse algo
começa pelos familiares e se expande. Passa por outras
pessoas próximas na sociedade, por outros seres desconhecidos
da mesma espécie, por outros seres de espécies
diferentes, e assim por diante, até chegar à preocupação
com o planeta e o Universo. Talvez ainda estejamos no
início remoto desse processo evolutivo, mas é fato que
estamos em progresso. Particularmente, entendo que
se trata de um processo contínuo, irreversível e, mais
ainda, que se acelera com o tempo, em especial pela capacidade
de aprendizado coletivo e da capacidade de
transmissão de herança social, características essas que
diferenciam o ser humano dos demais animais.

Ainda sobre a premissa da evolução ética, é necessário
considerar que – diferentemente do que muitos
críticos pensam – o ser humano tende a se preocupar
mais com os outros naturalmente e não apenas como
consequência de uma necessidade de sobrevivência ou
de utilidade. Para exemplificar, a defesa de políticas de
redução de emissão de gases de efeito estufa é de fácil
compreensão, porque se não o fizermos, corremos o
risco de vivermos em um mundo de clima mais quente.

Por outro lado, podemos nos preocupar com o risco de
extinção do Cheilinus undulatus, que é um peixe oceânico
que vive em corais na costa leste da África, sem
termos muita (ou mesmo nenhuma!) ideia do porquê a
existência dessa espécie seria importante para nós. Talvez
sua existência até nem tenha importância prática
alguma, mas poderia ter uma importância ética para
algumas pessoas, e esta deve ser considerada. É essa
ética “sem fins utilitários” que me parece cada vez mais
relevante e que não pode ser desconsiderada nem desrespeitada.

Em síntese, podemos nos preocupar com o
outro, sem termos nenhum interesse direto com isso.

Mas, mesmo assim, nos preocupamos; queremos o seu
bem, como falamos coloquialmente. Por que cuidar?

Porque fazer o bem nos faz bem, e basta.
Apesar de a ciência já nos ter dado evidências desse
processo de evolução, não faz muito tempo que as instituições
mundiais reconheceram-no, ao propor políticas
mundiais para o desenvolvimento do bem comum.

No início dos anos 1990, a FAO, Organização das Nações
Unidas para Alimentação e Agricultura, lançou
sua concepção sobre sustentabilidade para contemplar
a garantia da obtenção e satisfação continuadas
das necessidades humanas para a geração atual e para
as futuras gerações. A preocupação com o ambiente e,
consequentemente, com as gerações futuras que dele
dependerão, estava no foco.

Atualmente, a teoria de sustentabilidade da FAO
contempla a garantia dos direitos e do bem-estar humanos,
sem reduzir a capacidade do planeta em manter
a vida e sem ocorrer às custas do bem-estar de outros.

Pode parecer pequena a mudança de concepção nesses
vinte e poucos anos, mas não é. Fala-se de bem-estar
humano, capacidade do planeta em manter a vida e
bem-estar dos outros. Observa-se que “necessidade” foi
substituída por “bem-estar”. Houve, portanto, uma expansão
significativa da concepção de sustentabilidade,
em pouco tempo. Parece-me mais uma demonstração
do reflexo da nossa evolução.

Mas e o bem-estar animal, como se insere no contexto?
A própria FAO desenvolveu toda uma política em
prol do bem-estar animal (visite: http://www.fao.org/
ag/againfo/themes/animal-welfare/en/ para melhor
conhecê-la).

Existem paradoxos significativos para serem trabalhados
na busca pela sustentabilidade, imaginando-se
que o bem-estar animal está inserido nesta concepção.

De um lado, ainda temos 12,5% da população mundial
que passa fome crônica (desnutrição estrutural).

Sem querer endossar o discurso batido de que temos
que acabar com a fome doa a quem doer( ambiente,
animais etc.) porém, de uma visão eminentemente
pragmática, animais continuarão sendo fonte importante
para o suprimento humano. Por outro lado, o
aumento de renda de outra parte significativa da população
– inclusive no Brasil – tem permitido que
pessoas optem por dietas alternativas, que poupam
certos impactos ao ambiente, inclusive sobre os animais.

Temos, portanto, uma sociedade extremamente
heterogênea, com necessidades, anseios e níveis de
bem-estar diferentes, mas o fato é que o mundo é um
só. E que, portanto, temos que estabelecer acordos entre
os diferentes grupos sociais, sempre na tentativa de
nos pautar por respeito, democracia, racionalidade e,
principalmente, ética. Conflitos e tensões continuarão
ocorrendo e teremos que saber lidar com eles.

Os segmentos produtores terão cada vez mais que
se preocupar com as exigências éticas dos consumidores.

Estes, por sua vez, também precisam compreender
a complexidade existente por traz de um processo
produtivo, especialmente o agropecuário. Há exageros
dos dois lados: atrocidades acontecem todos os dias em
fazendas e agroindústrias; mas preconceitos irracionais
e exagerados também estão diariamente nas falas
e ações de consumidores, especialmente os dos grandes
centros urbanos, que desconhecem a complexidade da
natureza e de sua exploração. Não há vilões ou mocinhos.

Consumidor culpar produtor é um equívoco dos
mais perversos, mesmo porque não haveria produção se
não fosse para atender ao consumo (uma das leis mais
básicas da economia). Precisamos sim, melhorar a comunicação
entre os diversos segmentos da sociedade.

Colocar as cartas na mesa, dispondo-se para um diálogo
aberto e transparente.

Parece-me que o acesso ao conhecimento, especialmente
pelo avanço tecnológico nos meios de comunicação,
será um fator cada vez mais decisivo no contexto.

Informações poderão ser utilizadas para esclarecer as
pessoas, para que possam tomar decisões mais esclarecidas
e racionais. Marcas e produtos “mais éticos” certamente
ganharão espaço. Campanhas “pró” ou “contra”
alguma coisa serão cada vez mais recorrentes. E são
muitíssimo bem vindas.

Os cientistas terão papel central nesse processo
de revisão de sistemas produtivos. Novas tecnologias
surgirão para pouparem recursos escassos. Não terão
apenas que buscar tecnologias mais produtivas, como
faziam (e a maioria ainda faz) até então. Terão que buscar
produtividade associada à menor impacto ambiental
e maior preocupação com a qualidade de vida dos animais.

Paulatinamente estamos começando a presenciar
o surgimento de grandes projetos de pesquisa multidisciplinares,
alguns na grande área da Zootecnia e Recursos

Pesqueiros.
Mas não está apenas na ciência a estratégia para
seguirmos em busca do desenvolvimento e da evolução.

Tento defender a tese de que, com o estoque de
conhecimento que já temos, poderíamos – e muito
– melhorar o bem-estar de milhares de animais de
produção. Ainda temos problemas evidentes de má-
-nutrição, sanidade, ambiência, manejo e gestão, em
todos os cantos do país, em todas as espécies. Já dispomos
de soluções conhecidas, mas que, na prática,
não aplicamos, independentemente do motivo. Jogar
toda a responsabilidade da sustentabilidade e do bem-
-estar animal na ciência é um exagero e mesmo uma
injustiça. Nós, técnicos, temos uma enorme responsabilidade
no cotidiano. Responsabilidade de garantir
condições mínimas de uma vida decente para os animais.

Em muitas situações do dia a dia, sabemos como
agir, mas nem sempre o fazemos da melhor forma.

Está na mão de todos nós a busca por um mundo
mais sustentável, mais ético. Precisamos de mais respeito
a nós mesmos, aos próximos, aos animais, e
ao ambiente. É um processo que está acontecendo.

E assim continuará. Talvez em um ritmo muito lento,
para os mais ativistas. Talvez em um ritmo muito rápido,
para os mais conservadores. Mas continuará.
Ainda bem!

Prof. Augusto Hauber Gameiro
Laboratório de Análises Socioeconômicas e Ciência Animal
(www.facebook.com/LAE.FMVZ.USP)
Departamento de Nutrição e Produção Animal
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia -
Universidade de São Paulo
gameiro@usp.br

Fonte: