Estudo revela que filhos de sobreviventes do Holocausto podem ter herdado modificações genéticas causadas pela violência do período
Filhos de sobreviventes do Holocausto podem herdar as mudanças genéticas causadas pelos traumas da tragédia. A descoberta, publicada no periódico Biological Psychiatry, na última semana, é mais uma a reforçar as evidências de que as experiências de vida de uma pessoa podem ser passadas às gerações futuras por meio do DNA.
Para chegar a essa conclusão, pesquisadores do Hospital de Monte Sinai, nos Estados Unidos, realizaram um estudo do DNA de 32 judeus, homens e mulheres que tiveram alguma experiência traumática durante o Holocausto, como internação em um campo de concentração, testemunho, submissão à tortura ou necessidade de se esconder durante a II Guerra Mundial. A equipe também analisou os genes dos filhos dos participantes e os comparou com informações genéticas de famílias judias que viviam fora da Europa no mesmo período.
Os pesquisadores descobriram marcas genéticas nas mesmas regiões do DNA de pais e filhos, ligadas à regulação de hormônios do estresse. A possibilidade de que essas mudanças fossem resultado de um trauma que as crianças experimentaram foi descartada após uma análise mais detalhada. Além disso, a presença dos mesmos sinais genéticos em duas gerações não foi encontrada no grupo de indivíduos que estavam fora da Europa durante a guerra.
Marcas da vida - O sinal genético que os pesquisadores perceberam pode estar relacionado à teoria da herança epigenética, que afirma que fatores ambientais podem afetar os genes dos progenitores. Essa área ainda desafiadora da ciência explica que as mudanças acontecem nos marcadores químicos presos ao DNA, que "ligam e desligam" os genes. São essas modificações, que deveriam ser "apagadas" durante a produção de óvulos e espermatozoides para a produção de um novo indivíduo que, inexplicavelmente, estão passando para as próximas gerações.
"Além de ter encontrado a região do genoma onde aconteceram as modificações, os cientistas também mostraram que isso foi transmitido para os filhos, o que é surpreendente", disse ao site de VEJA a geneticista Lygia Pereira, professora do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva da Universidade de São Paulo (USP). "Era esperado que os traumas afetassem o genoma, mas reconhecer que eles podem ter impacto nos filhos ainda é muito recente."
Alguns pesquisadores ainda questionam os achados da epigenética, pois a tradição científica estipula que os genes do DNA são a única forma de transmitir informação biológica para as próximas gerações. De acordo com Lygia, o próximo passo é tentar compreender como isso acontece no organismo, o que poderia ser um grande avanço para as pesquisas médicas.
"Estamos vendo que algumas características que adquirimos ao longo da nossa vida podem ser transmitidas para os nossos filhos. Isso dá ainda mais responsabilidade aos pais, pois mudanças causadas por, por exemplo, o tabagismo, poderiam influenciar o DNA das gerações futuras", diz a professora.
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Eles são os maiores mamíferos terrestres que existem no nosso planeta, chegando a pesar sete toneladas. Não é à toa que são lembrados sempre que alguém quer enfatizar que algo é grande. Mas não é (só) por isso que, quando queremos dizer que uma pessoa não se esquece de nada, usamos a expressão "memória de elefante".
Esses enormes animais são gregários e cada grupo de até cerca de 100 indivíduos é liderado por uma fêmea mais velha, a "matriarca". Elas são duronas e chegam a expulsar os jovens machos que atingem a maioridade sexual e deixam de respeitar a hierarquia.
Sem ajuda do "macho-alfa", a matriarca tem de arcar com muitas responsabilidades: "A fêmea que lidera o grupo tem como uma de suas obrigações memorizar os locais onde existe água nos tempos de seca e alimento, para garantir o bem-estar do grupo", conta a bióloga Flávia Taconi, da Fundação Parque Zoológico de São Paulo. É daí, segundo ela, que nasceu a expressão famosa sobre a memória desses animais.
Estudos sugerem que essa e outras informações são passadas para os outros membros do grupo por meio de infrassom, ou seja, ondas sonoras com frequência inferior a 20 hertz e, portanto, inaudíveis para os seres humanos.
"Essa habilidade de memorização espacial foi moldada ao longo do tempo pelas experiências de vida dos indivíduos, adaptando-se às condições ambientais para sobrevivência e perpetuação da espécie", continua a bióloga.
"Os elefantes acumulam e retêm o conhecimento social e ecológico , e eles se lembram por décadas dos aromas e das vozes de indivíduos de outras rotas migratórias, de lugares especiais e de habilidades apreendidas", ensina um artigo enviado a pedido do UOL por Petter Granli, da ONG ElephantVoices, voltada para a conservação desses animais.
O texto cita o exemplo de uma integrante da ONG chamada Joyce Poole, que, em meados de 1980, estabeleceu uma relação de "amizade" com um jovem elefante macho chamado Vladimir. Ao estacionar o carro, ele vinha até a janela do veículo e permitia que ela tocasse seu tronco e suas presas. Eles fizeram isso diversas vezes ao longo de cinco anos. Por uma série de razões, ambos ficaram sem se encontrar por 12 anos. Depois desse período, Poole reencontrou o animal, mas ficou na dúvida se aquele macho envelhecido era mesmo Vladimir. Já o elefante não teve dúvidas de que se tratava da "amiga": foi logo até o carro e se esfregou para que ela abrisse a janela e lhe tocasse.
Inteligência
Se a boa memória é algo que as pessoas comumente associam aos elefantes, quem entende desses animais não hesita, também, em destacar sua inteligência. A ElephantVoices reitera que esses mamíferos são capazes de usar e até de fabricar ferramentas - usando as protuberâncias na ponta da tromba de forma parecida com a que os primatas usam o polegar e os dedos para manipular objetos.
A tromba desses bichos, aliás, é um capítulo à parte. Fusão de nariz e lábio superior, é usada para transportar alimento, cheirar, levantar e analisar objetos, como comenta a bióloga do Zoológico de São Paulo. "Também é utilizada para beber - os elefantes chupam água por ela (até 14 litros de cada vez) e depois a despejam para dentro da boca", diz.
O apêndice também ajuda nas interações sociais - é enrolando a tromba que os elefantes conhecidos se cumprimentam, assim como seres humanos apertam as mãos. O órgão também é usado nos momentos de brincadeiras, nas carícias entre mães e filhos, e até para demonstrar força: "Uma tromba levantada pode ser sinal de aviso ou ameaça, enquanto uma caída pode ser sinal de submissão", revela a especialista.
Empatia
Estudos do córtex cerebral dos elefantes indicam que os animais possuem uma rede grande e complexa de neurônios. Eles também possuem o hipocampo e os lóbulos temporais bem desenvolvidos, o que é compatível com a boa memória que esses mamíferos demonstram ter.
Os cientistas também já identificaram diversos comportamentos dos elefantes que demonstram empatia, como a tendência a ajudar animais com dificuldade para se alimentar ou se locomover, por exemplo. Para a ONG, há indícios até de que os elefantes são capazes de compreender a morte, tanto que realizam uma série de rituais diante do corpo de um membro do grupo, como guardar e cobrir os restos mortais. A entidade cita, inclusive, um estudo publicado na revista New Scientist, em 2005, em que pesquisadores do Kenya e do Reino Unido descrevem como elefantes ficam agitados e demonstram enorme interesse ao se deparar com caveiras de elefantes, o que não acontece quando os ossos encontrados são de outros animais. Trata-se de um comportamento bem diferente do registrado entre macacos ou leões, que parecem não dar nenhuma importância à morte de companheiros de espécie
Fonte:
Uma das possibilidades seria inserir no vírus vacinal da dengue um
gene codificador de uma proteína-chave do vírus Zika; outra seria criar
um vírus Zika atenuado (foto: Eduardo Cesar/FAPESP)
Karina Toledo | Agência FAPESP – A tecnologia desenvolvida na formulação da vacina brasileira contra a dengue – que contou com apoio
da FAPESP e já entrou na fase final de ensaio clínico – pode ser
adaptada para criar um imunizante contra o vírus Zika, afirmou o diretor
do Instituto Butantan, Jorge Kalil, em entrevista concedida à Agência FAPESP.
Segundo ele, uma das possibilidades seria inserir no vírus vacinal da
dengue um gene codificador de uma proteína-chave do vírus Zika. Outra
ideia seria criar um vírus Zika atenuado, usando método semelhante ao
empregado no desenvolvimento da vacina da dengue.
O Instituto Butantan, que integra a recém-criada Rede Zika
(força-tarefa apoiada pela FAPESP e formada por cerca de
40 laboratórios), também já deu início a pesquisas voltadas ao
desenvolvimento de um soro que poderia ser aplicado em gestantes
infectadas para combater o vírus Zika circulante no organismo antes que
ele cause danos ao feto.
Ainda durante a entrevista, Kalil falou sobre os preparativos
necessários para o início da imunização dos voluntários participantes da
terceira etapa de ensaios clínicos da vacina tetravalente contra a
dengue, prevista para começar este mês.
“Estamos vivendo uma crise aguda de Zika, mas não podemos minimizar a
dengue. É uma doença que persiste, ainda mata no país e deve vir com
muita força este ano”, avaliou. Leia a seguir os principais trechos da
entrevista.
Agência FAPESP – No último mês de dezembro, a Anvisa
autorizou o início da terceira fase de ensaios clínicos da vacina contra
a dengue. O que foi feito desde então?
Jorge Kalil – Desde que recebemos o aval da Anvisa, em 11 de
dezembro de 2015, demos início às tratativas finais necessárias antes da
imunização dos voluntários, que deve começar este mês. Precisamos, por
exemplo, fazer novas preparações vacinais, pois as amostras que tínhamos
prontas estavam perto do término da validade. Já preparamos um lote do
imunizante de acordo com as novas normas deliberadas pela Anvisa para a
produção de amostras usadas em ensaios clínicos. Para isso foram
necessárias algumas alterações na área de produção. Também contratamos
um seguro para todos os participantes e uma empresa do tipo CRO (do
inglês, Clinical Research Organization) de atuação internacional para fazer o gerenciamento do estudo.
Agência FAPESP – Qual será o papel dessa empresa?
Kalil – Os ensaios clínicos são, de maneira geral, muito
complexos e envolvem muitas pessoas. Essas CROs auxiliam no treinamento
das pessoas dos centros participantes, acompanham o processo para
garantir que os pesquisadores atuem de acordo com o procedimento
descrito e avaliam a qualidade dos dados recolhidos. Isso não pode ser
feito pelo próprio Instituto Butantan, que é parte interessada e
funciona como um patrocinador da pesquisa. E, como desejamos obter um
registro internacional da vacina, contratamos uma CRO de atuação
internacional. Os 14 centros participantes terão um pesquisador
principal, sem nenhuma relação com o Instituto Butantan.
Agência FAPESP – Quando exatamente terá início a imunização dos voluntários e como será o processo?
Kalil – A data exata será anunciada pelo governador Geraldo
Alckmin em breve. As primeiras imunizações serão feitas em São Paulo, no
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo (HCFMUSP) e, depois, nos outros 13 centros. Serão vacinados 17 mil
voluntários, que serão acompanhados por até cinco anos. Mas antes
disso, possivelmente dentro de um ano, já devemos ter a resposta
principal: se a vacina protege ou não contra a dengue. Esse tempo vai
depender da incidência da doença nos diferentes locais onde será feito o
estudo nos próximos meses e também de nossa capacidade de imunização
dos voluntários.
Agência FAPESP – A disseminação do vírus Zika pelo país pode atrapalhar de alguma forma o ensaio clínico?
Kalil – Nossa principal preocupação deverá ser capacitar os
centros para fazer o diagnóstico com precisão, distinguindo os casos de
Zika e dengue. Fora isso, não vejo problema.
Agência FAPESP – Pode haver interação do vírus da dengue atenuado usado na vacina com o vírus Zika que circula pelo país?
Kalil – Ainda não há dados sobre isso, mas é um fator que sem dúvida vamos observar durante a pesquisa.
Agência FAPESP – É possível adaptar a vacina desenvolvida contra a dengue para que ela imunize contra o vírus Zika ?
Kalil – Uma das ideias é utilizar o mesmo arcabouço viral da
vacina contra a dengue, que é o próprio vírus da dengue atenuado, e
inserir o gene que codifica uma proteína do envelope viral do Zika (bicamada lipídica que fica na parte mais externa do vírus).
Já se sabe que os anticorpos que protegem contra essas doenças virais –
os chamados anticorpos neutralizantes – são dirigidos contra proteínas
do envelope viral. Outra possibilidade seria criar uma vacina usando o
próprio vírus Zika atenuado por um método parecido com o empregado para
criar a vacina contra a dengue. Vamos testar diferentes possibilidades.
Agência FAPESP – Nesse caso, os testes com a nova vacina teriam de começar desde a fase pré-clínica ou poderiam andar mais rápido?
Kalil – Tem de começar tudo de novo, mas talvez o processo ande
um pouco mais rápido, pois seria muito semelhante ao que foi feito e já
mostramos que o método é seguro. Diante da pressa, teríamos de conversar
com as autoridades sanitárias.
Agência FAPESP – O Butantan também trabalha em um soro contra o vírus Zika?
Kalil – Sim. Já estamos cultivando o vírus em células in vitro.
A ideia é isolar antígenos específicos para imunizar cavalos. Então
temos de observar se o animal produz quantidades significativas de
anticorpos neutralizantes, isolar e purificar essas imunoglobulinas em
nossa fábrica – algo semelhante ao que fazemos para produzir soros
contra toxinas e venenos. Depois é necessário obter fragmentos dessa
imunoglobulina de cavalos que funcionem como anticorpos neutralizantes e
possam ser injetados na mulher para combater o vírus. Já começamos a
imunizar camundongos e já estamos desenvolvendo testes para avaliar se o
anticorpo produzido é do tipo neutralizante. As primeiras etapas estão
em andamento.
Agência FAPESP – O avanço dos casos de microcefalia
possivelmente ligados ao vírus Zika foi considerado uma emergência
internacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Isso deve
contribuir para acelerar o andamento dessas pesquisas?
Kalil – Sem dúvida. Isso chama maior atenção para o tema,
promove maior colaboração entre os cientistas e, sobretudo, maior
alocação de recursos para as pesquisas. O caso do ebola é um exemplo.
Por ter sido considerado uma emergência, as pesquisas avançaram no
sistema fast track, que permite avaliar e aprovar os resultados
com maior rapidez. Isso também depende das agências reguladoras locais,
que deverão acompanhar a decisão da OMS.
Fonte:
Tomar sol faz bem para a saúde. A luz solar nos ajuda a produzir vitamina D, substância que vem apresentando bons resultados no combate à doenças como asma, demência, artrite, complicações na gravides e impotência sexual. Agora, cientistas da Universidade de Edimburgo, na Escócia, acreditam que o Sol pode influenciar também na fertilidade - pelo menos na dos animais.
O estudo foi realizado com base em ovelhas selvagens da região de St Kilda, também na Escócia. De acordo com a pesquisa, os animais com maiores níveis de vitamina D no final do verão eram os mesmos que acabavam tendo mais filhotes no começo da primavera. É a primeira vez que um estudo relaciona a substância com a fertilidade de animais selvagens. Os cientistas acreditam que isso pode demonstrar que a vitamina D é de alguma forma ligada à questões evolutivas.
Não se sabe exatamente como isso se relaciona na questão dos humanos. A própria pesquisa chega a citar estudos que ligam a quantidade de vitamina D presente nos sistemas de homens e mulheres as suas respectivas condições reprodutivas, porém, os autores do novo texto tendem a ser mais cautelosos. "Examinar benefícios, além dos ósseos, da vitamina D em seres humanos é difícil porque as pessoas estão expostas a diferentes quantidades de luz do Sol a cada dia", afirma Richard Mellanby, diretor da área de Medicina para Pequenos Animais, da universidade. "Estudar a relação entre pele e fontes alimentícias de vitamina D - e os resultados a longo prazo - é mais preciso em ovelhas que vivem em uma pequena ilha", diz.
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