sábado, 30 de janeiro de 2016

Alimentação de cães que inclui frutas deve ser equilibrada: há contraindicações

 Alimentação de cães que inclui frutas deve ser equilibrada, diz veterinárioSegundo os médicos a ração nunca deve ser substituída.
'Frutas não têm todos nutrientes que cães precisam; há contraindicações.


Cães devem consumir frutas com moderação, segundo veterinários (Foto: Lucas Dellareti/Arquivo Pessoal)

As frutas fazem parte de uma alimentação saudável para os humanos e também podem fazer o mesmo efeito para cães, segundo veterinários. Mas é preciso ter cautelas, pois cada caso precisa ser avaliado individualmente. "Ao contrário do que muitos donos pensam, os cães também podem comer frutas, mas é preciso ter equilíbrio e jamais substituí-las pela ração, pois são animais carnívoros", disse a veterinária de Divinópolis, Francany Moura.

O estudante Lucas Dellaretti diz que as frutas fazem parte da alimentação dos cinco cães dele. Além disso ele ainda incluiu verduras na dieta dos bichinhos. Para o veterinário Yuri Paiva, nem todas as frutas são indicadas.

"A gente parte do mesmo principio de que as frutas são fontes de vitamina e fibras, mas há limitações. Não se tem muitos estudos de cães que comem frutas, mas é necessário ter equilíbrio, evitar os excessos é sempre a dica mais pertinente, pois se há um animal que às vezes tem um problema cardíaco, por exemplo, esse problema pode agravar se ele ingerir bananas em excesso, onde há alta incidência de potássio", explicou o profissional.


Lucas diz que sempre deu frutas aos cães dele (Foto: Lucas Dellareti/Arquivo Pessoal)


O veterinário completa que se o dono do cão tver ciência de determinado problema de saúde do animal, ele precisa conversar com um profissional para saber se pode consumir ou não determinados alimentos frutíferos. " Sabemos que há benefícios, certamente e inclusive, há rações que incluíram frutas cristalizadas que ajudam a melhorar o pelo, melhora a absorção dos outros alimentos e também dá mais disposição aos animais. Se a vontade do dono é dar frutas aos cães eles precisam também aliar isto a uma boa ração", completou o veterinário.

O administrador de empresas Gustavo Mourão tem três cães com idades entre um a quatro anos. Luidy, Nayla e Pretinha moram em um sítio e no local a variedade de frutas é grande. Entre as frutas preferidas dos cães está a jabuticaba. Neste mês os bichinhos foram filmados durante um almoço farto com a fruta. Mas segundo veterinários, a jabuticaba não é indicada. Veja vídeo abaixo.

"Primeiro por conta da casca e depois o caroço. Em alguns casos pode ocorrer prisão de ventre. Eles comem sem limite e pode causar mal estar. Além disso os caroços podem parar no intestino e se o cão parar de defecar ele pode ter obstrução e aí precisará passar por procedimento cirúrgico. Além de assustar o dono pois pode acarretar em vômito, o bichinho pode ficra prostarado mesmo. Eles não têm o mesmo cuidado que nós humanos então tudo que a gente der e eles se dispuserem eles vão de fato comer e sem limites. Por isso, cabe aos donos esse cuidado”, disse Franciany.

O dono dos cães mostrados no vídeo conta que não sabia da contraindicação e diz ainda que, sempre partiu do princípio de que se frutas são saudáveis para os humanos, então elas também são para os . Os animais dele nunca tiveram problemas, mas quando soube que a jabuticaba não é recomendado, ele logo decidiu suspender a fruta na alimentação dos animais. "Agora que sei, vamos suspender com certeza. Eles gostam muito de frutas e se deixar eles preferem elas do que a ração. Comem ainda amoras, bananas e mangas", contou.

Mesmo sendo fontes de vitaminas, alguns cães podem desencadear algumas alergias com certas frutas e, por isso, também devem ser escolhidas conforme o estado de saúde do animal. Na dúvida sobre a saúde do cão, é sempre indicado que os donos levem a uma consulta. "Um alimento tanto pode ser ótimo para o equilíbrio do organismo, quanto tóxico e maléfico", disse o veterinário Yuri.


Algumas frutas não são indicadas para o consumo animal (Foto: Lucas Dellareti/Divulgação)


É importante ainda que os cães passem por exames para que tenham uma dieta que contribua com a longevidade. O G1 separou algunas dicas dos veterinários, do que pode e o que não pode ser consumidos pelos cães. Veja abaixo.


Frutas permitidas   Frutas não permitidas
Banana   Abacaxi
Manga   Laranja
Melancia   Uva
Goiaba   Jabuticaba
Figo   Abacate
Amora   Jambo
Ameixa   Carambola
Caqui     Mamão

No caso da manga é preciso fatiar, o caroço é perigoso pois pode causar obstrução intestinal, segundo Franciany.

Ela ainda alerta que a banana deve ser ingerida por eles sem a casca. A maça e pera devem ser dadas a eles sem o talo, pois nele há uma substância prejudicial ao intestino do cão. A goiaba, o figo, ameixa e caqui podem ser oferecidas sem restrições.

As frutas cítricas como laranja e mexerica fazem mal ao estômago do bichinho e elas também podem soltar o intestino como no caso do mamão. Essas frutas podem provocar uma desidratação. O abacaxi também é muito ácido. A melancia deve ser oferecida em pequenas quantidades e sem o caroço.

Nem no casos de animais obesos há recomendação de substituir a ração por frutas.

"São animais carnívoros, precisam de ração. A dieta para animais obesos é diferente e é bem simples, é só incluir ração diet e fazer atividade física. mas isso vai depender do grau de obesidade e cada caso é diferente, vale ressaltar que a avaliação deve ser feita por um especialista", finalizou a veterinária.


Cacau, da raça Lhasa Apso, come melancia para refrescar no calor (Foto: Vanessa Pires/G1) 


Anna Lúcia Silva Do G1 Centro-Oeste de Minas

Fonte:

Ciência - O que ocorre com nosso cérebro vendo vídeos de animais fofinhos



Mais de 219 milhões de pessoas assistiram a um vídeo de 16 segundos que mostra um bebê panda espirrando e assustando sua mãe. No mínimo, isso são 58 milhões de minutos, ou 111 anos, gastos assistindo essa sensação viral.


Há, ainda, todo um canal no YouTube dedicado às aventuras de pequenos hamsters comendo alimentos minúsculos, comemorando aniversários minúsculos e fazendo festas minúsculas. O canal tem mais de 29 milhões de visualizações.
 
Lil Bub, um gatinho órfão resgatado com um caso extremo de nanismo, é uma sensação na internet. O que começou como um Tumblr fotográfico chamado de “BuBlog” se transformou em dezenas de posts no BuzzFeed e mensagens no Reddit, uma aparição na TV, um documentário e uma linha de mercadorias.

Fofura: uma questão de sobrevivência

Mas parece que o nosso caso de amor com coisinhas peludas do tamanho de uma caneca pode ser uma questão de sobrevivência. Segundo a rede CNN, cientistas descobriram que os seres humanos são atraídos instintivamente a qualquer coisa que tem características semelhantes às de um bebê. Olhos grandes, bochechas redondas, testas grandes e características geralmente arredondadas nos atraem. “Essas características são tão arraigadas em nós que respondemos a elas”, afirmou Oriana Aragon, psicóloga da Universidade de Yale, em entrevista à CNN.
Muitos cientistas acreditam que nós desenvolvemos esta atração a fim de sobreviver. “Nossa sobrevivência depende de nós cuidarmos dos mais novos. É parte de nossa espécie humana responder a estas características”, explicou a pesquisadora.
E assim, quando vemos estas propriedades em animais – olhos e cabeças grandes em corpos pequenos – nós reagimos da mesma forma que fazemos quando as vemos em bebês. Na verdade, empresários e designers têm aplicado esses tipos de características em carros para chamar nossa atenção. É só pensar no New Beetle ou no Mini Cooper.

Tomando a sua dose de fofura

Mas nós não ficamos estupidamente cegados por animais fofos. Na verdade, estudos descobriram que os centros de prazer do nosso cérebro acendem quando vemos algo fofo porque há um disparo de dopamina no cérebro. É uma resposta semelhante a quando comemos açúcar ou de temos relações sexuais.
“É uma espécie de vício. Queremos a nossa dose de fofura”, afirma Aragon. “É algo que nos dá prazer e nos faz voltar”. Assim como comer alimentos de alto teor calórico ricos foram essenciais para nossa sobrevivência no passado, ver e cuidar de algo bonitinho age de uma forma semelhante em nosso cérebro; vemos um bebê fofo e instintivamente tentamos abraçá-lo, o nosso cérebro recebe um impulso de dopamina para nos recompensar e BUM – estamos felizes!

Emoções vs. expressões

Alguma vez você já se pegou querendo apertar um filhote de cachorro ou morder o rosto de um bebê de tão fofos que eles são? Se você pensar sobre a sobrevivência, isso na verdade parece o contrário de cuidar de uma criança. Por que alguém iria querer comer seu bebê, afinal?
Porém, como seres humanos, temos toda uma série de expressões em nossos rostos que não correspondem de maneira alguma às nossas emoções no interior. Exemplos são lágrimas de alegria, gritar de emoção ao assistir um show da sua banda favorita ou querer beliscar as bochechas de um bebê.
 
Essas expressões que parecem contrárias às nossas emoções são chamadas de “expressões dimorfas”, e os cientistas acreditam que este pode ser um mecanismo de autorregulação que nos permite manter nossas emoções sob controle. Está se sentido muito feliz? Vamos equilibrar isso com algumas lágrimas. Ou já se sentiu tão frustrado com uma situação que acaba rindo, simplesmente porque você não sabe mais o que fazer? Mais uma vez, pode ser um mecanismo para ajudar a lidar com o fato de ficar sobrecarregado com a situação.
“Este feedback facial envia informações de volta para o cérebro e ajuda a disputar com a emoção primária”, diz a professora. Ou seja, quando estamos sobrecarregados com alguma emoção, é isso que nos ajuda a recuperar o equilíbrio.

Agressão fofa

Aragon tem estudado especificamente a “agressão fofa”- quando as coisas são tão fofas, você não consegue suportar e apresenta um comportamento agressivo. Na verdade, vários idiomas têm palavras específicas para descrever essa sensação. Filipinos a chamam de “gigil”, que descreve a vontade de ranger os dentes ou beliscar bochechas. Os franceses dizem “mignon a croquer”, que se traduz literalmente como “tão fofo que você quer morder”.
Para testar sua tese, Aragon e sua equipe mostram a participantes do teste imagens de versões filhotes e adultas de animais como elefantes, patos e gatos. Noventa participantes viram essas fotos enquanto seguravam plástico bolha. Quando viram os filhotes, os participantes apertaram mais bolhas do que quando viram os animais adultos.

Focando com fofura

Um estudo semelhante no Japão descobriu que os participantes tiveram melhor desempenho em tarefas de alta concentração quando tinham visto imagens de animais fofos quando comparados com imagens de comidas ou outras fotos não bonitas.
Então, da próxima vez que você for pego assistindo vídeos de animais fofos no trabalho, você pode dizer ao seu chefe que não está procrastinando: você está aumentando a sua produtividade.  

Fonte:
CNN

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Em Portugal, quem maltrata animais fica longe deles por cinco anos

 Quem infligir dor ou sofrimento a animais domésticos em Portugal não vai poder ter animais durante cinco anos. Nova lei foi já publicada em Diário da República e tem novas penas para maus tratos e abandono.
O crime de maus tratos ou abandono de animais de companhia passou a ser punido com outras penas, além da prisão ou multa, e quem lhes infligir dor ou sofrimento não vai poder ter animais durante cinco anos.

A lei hoje publicada em Diário da República lista um conjunto de penas acessórias para os crimes contra animais de companhia, tanto os maus tratos, como o abandono.

Quem tratar mal ou abandonar os animais domésticos passa a ficar privado do direito de ter animais num período que pode ir até cinco anos, e de participar em feiras, exposições ou concursos relacionados com este tema, por um máximo de três anos.

O encerramento de estabelecimentos relacionados com animais de companhia e a suspensão de permissões administrativas, como autorizações ou licenças relacionadas com animais de companhia, ambos por um período máximo de três anos, são outras penalizações previstas na nova componente da lei para os maus tratos ou abandono.

Os maus tratos “sem motivo legítimo”, já eram penalizados com pena de prisão até um ano ou multa até 120 dias e, quando resultam na morte, na privação de “importante órgão ou membro” ou quando afetem de forma permanente a capacidade de movimento levam à prisão até dois anos ou multa até 240 dias.

Já o abandono dos animais por aqueles que têm o dever de guardar, vigiar ou dar assistência, ficando em risco a sua alimentação e outros cuidados, é punido com pena de prisão até seis meses ou multa até 60 dias.

A lei, aprovada na Assembleia da República a 22 de julho de 2015, também inclui um ponto relacionado com a detenção de cães perigosos e aponta para a necessidade de ser entregue nas entidades competentes, como a junta de freguesia, o certificado de registo criminal, “constituindo indício de falta de idoneidade o facto de o detentor ter sido condenado” por crimes contra animais, ou outros, como homicídio por negligência, crime contra a integridade física ou a autodeterminação sexual, tráfico de pessoas ou de armas.


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Os animais selvagens sofrem com os antibióticos que usamos (e abusamos)

 
Podem ser os países desenvolvidos aqueles que usam mais antibióticos e sabonetes anti-germes, mas as bactérias super-resistentes também chegam aos animais selvagens em África. O problema é global.
 
A sociedade está cada vez mais obcecada com os germes – basta ver pela publicidade aos sabonetes e detergentes que “eliminam 99,9% das bactérias”. A isso juntem-se os pedidos desesperados dos doentes que querem antibióticos para tratar qualquer doença – e os médicos que inconscientemente o fazem – e estão criadas as condições ideiais para que se desenvolvam bactérias super-resistentes. Até os animais selvagens sofrem com isso.

Como? De cada vez que usar um antibiótico ou um desses sabonetes “mata-germes” não vai conseguir eliminar todas as bactérias (“99,9%”, mostra logo que não há garantias). Naturalmente as que sobrevivem são as mais fortes, estão melhor adaptadas para sobreviverem às adversidades, e caso se multipliquem, esse antibiótico ou sabonete já não serve para as matar.


Pior do que os antibióticos que tomamos são os antibióticos que usamos (e abusamos) nos animais de criação. Se um antibiótico não for completamente metabolizado no fígado e transformado noutro composto, acaba por ser eliminado na urina contaminando as águas residuais. Como as estações de tratamento de águas residuais não têm capacidade para eliminar antibióticos, nem tão pouco as hormonas das pílulas femininas, a água tratada que sai da estação não está assim tão “limpa”.

A poluição da água dos rios e lagos com antibióticos (mas também com hormonas e outros compostos resultantes dos medicamentos que tomamos) vai afetar, no mínimo, as espécies selvagens que dele dependem. Lembre-se que os humanos, os mamíferos e outros animais dependem das bactérias – das “boas” -, que controlam e combatem as bactérias “más”, que ajudam na digestão e das quais dependemos para sobreviver – 90% dos células do corpo humano são bactérias.

Até os animais selvagens do Parque National do Chobe e das duas aldeias no norte do Botswana estudados parecem estar sofrendo as consequências desta contaminação, segundo as investigadoras Sarah Elizabeth Jobbins e Kathleen Ann Alexander, do Instituto Politécnico da Virgínia (Estados Unidos) e Centro de Conservação dos Recursos Africanos (Botswana), noticia a Quartz. Cerca de metade das amostras de fezes das 18 espécies – fossem leopardos, girafas ou elefantes – tinham bactérias resistentes aos 10 tipos de antibióticos testados, conforme os resultados publicados na revista científica Journal of Wildlife Diseases.

“O aparecimento de resistência anti-microbiana é provavelmente a ameaça mais importante à saúde humana e animal”, começam as autoras no artigo. Os efeitos dos antibióticos podem chegar muito longe do sítio onde foram inicialmente prescritos. Esta dispersão da resistência das bactérias por vários locais diferentes aumentam as fontes e o perigo para os humanos. Imagine uma manada de elefantes, carregados de bactérias resistentes no intestino, nas suas extensas migrações na África – é fácil perceber como as bactérias podem rapidamente chegar a outros locais.

Segundo o estudo, as espécies mais afetadas por enquanto são as espécies que dependem da água, como os hipopótamos, os carnívoros (que se alimentam de animais contaminados) e as espécies que vivem junto às zonas urbanas. Mas para as bactérias não existem limites.


Fonte:

Cães - Quando os donos vêem beleza nas “aberrações"

Alguns cães estão condenados a uma vida difícil. Criadas para serem bonitas, muitas raças têm à partida problemas de saúde que acompanharão os animais toda a vida, seja ela longa ou muito curta.
 

O lobo é o animal selvagem mais próximo do cão, mas do husky siberiano, que denuncia fisicamente a sua origem, ao pug, de focinho achatado, ou ao xoloitzcuintle, a raça mexicana sem pelo, muita coisa mudou no caminho. Nenhuma outra espécie doméstica apresenta aspetos tão distintos entre as diferentes raças. Alguns foram selecionados pela utilidade, como os cães São Bernardo, outros pela beleza, como os pequineses. Mas os cruzamentos seletivos em busca das características desejadas trouxe consigo um problema: as doenças genéticas.
“O cão é certamente a espécie doméstica com maior número de raças que, além disso, também apresenta a maior variedade de conformações e tamanhos, ou até mesmo de tipos de pelagens”, disse ao Observador Rita Payan Carreira, veterinária e professora na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

Os criadores podem optar por três tipos de cruzamento entre animais – inbreeding (consanguíneo), linebreeding (em linha) ou outcrossing (aberto) -, explicou ao Observador Manuel Piçarra Correia, criador de cães há 33 anos. Mas este criador prefere um linebreeding espaçado, como o cruzamento entre um bisavô e uma bisneta, porque lhe “interessa manter a homogeneidade fenotipicamente [as características morfológicas externas]”, mas não quer um excesso de consanguinidade, como num cruzamento entre pai e filha ou entre dois meios-irmãos (inbreeding).

Rita Carreira, num comentário ao trabalho de 2004 da equipa de Heidi Parker, na altura investigadora na Centro de Investigação em Cancro Fred Hutchinson, disse que o estudo “mostra que algumas [raças] são ainda geneticamente muito próximas do lobo, enquanto que outras se foram afastando em resposta à seleção imprimida pelo homem”.

“Alguns cães com pedigree vêm de um grupo de reprodução muito limitado, logo de uma variedade genética limitada, e foram reproduzidos durante várias gerações para acentuarem certos aspetos da sua aparência.”
Cuidados com o seu cão, Sophie Collins, Presença

O aumento da consanguinidade diminui a variedade genética e pode aumentar a frequência dos defeitos genéticos e doenças. Por isso, alguns criadores podem ter de recorrer esporadicamente ao outcrossing. “Para refrescar o sangue”, ilustrou Manuel Correia. O outcrossing consiste no cruzamento entre animais que não são aparentados, cujas histórias familiares nunca se cruzaram, logo com “zero por cento de consanguinidade”.

Cada característica física é normalmente definida por um gene (ou um conjunto de genes). Cada gene tem dois alelos – duas versões – e cada alelo ou é dominante ou recessivo. Havendo um alelo dominante é essa a característica que se vai manifestar no indivíduo. Mas a combinação dos alelos vindos do pai e da mãe em cada um dos cachorros da ninhada é aleatória e cada animal pode apresentar características físicas distintas. Por isso é que os criadores tentam manter uma diversidade genética mais ou menos controlada.

“O outcrossing é um tiro no escuro em termos de criação”, referiu o criador. Manuel Correia procura ter os melhores animais em termos físicos e mentais, para isso precisa conhecer muito bem qual o resultado provável do cruzamento. Os criadores podem inclusivamente escolher machos noutros países para encontrar a melhor combinação com as fêmeas que querem reproduzir.



As características manchas dos dálmatas têm um preço a pagar: o risco perda de audição. Veja outros problemas genéticos na fotogaleria

Scott Barbour/Getty Images

O outro lado é que “um excesso de genes consanguíneos predispõe o aparecimento de doenças que podem ter uma manifestação que facilita a sua deteção, como a surdez, a cegueira, a displasia da anca ou do cotovelo, e outras que podem ser mais difíceis de perceber, como uma falha na imunidade ou a infertilidade”, explicou Rita Carreira.

O pedigree, que corresponde à árvore genealógica dos animais de linhagem pura, ajuda o criador a perceber se os seus animais reprodutores podem passar doenças à descendência. Mas há algumas doenças que, mesmo estando presentes nos genes, ainda não se manifestaram em nenhum dos elementos da família. Uma análise genética pode ajudar a despitar as doenças mais comuns para cada raça, contou ao Observador Hugo Carvalho, veterinário e diretor clínico do laboratório veterinário Cedivet. O teste é feito aos progenitores e “os criadores conscenciosos acabam por tirar estes animais dos cruzamentos”.

“Quando [uma raça] entra na moda todos querem ganhar dinheiro com isso. Há misturas que são feitas só para ganhar exposições.”
Manuel Correia, criador de beagles no Casal da Vinha


Mas como lembrou ao Observador Claudia Rodrigues, veterinária no Hospital Veterinário Montenegro, não existe legislação específica sobre os cruzamentos de cães, “nem todos os criadores respeitam as regras estabelecidas pelos clubes das raças e [além disso] qualquer pessoa pode cruzar animais, mesmo que depois não tenham pedigree”. O critério parece ser “cruzar com o cão do vizinho”, lamentou Manuel Correia.

“Existem atualmente no mercado dois tipos de criadores de cães de raça pura: os criadores selecionadores, inscritos no Clube Português de Canicultura (CPC), que produzem cachorros certificados com LOP (Livro de Origens Português), a partir de exemplares de genealogia certificada nacional e internacionalmente, e os criadores que eu chamo de ‘multiplicadores’ que possuem exemplares que cumprem os padrões raciais, mas que não são certificados, e que geralmente são menos criteriosos na seleção dos cruzamentos”, criticou Rita Carreira.

Sobre seleções e cruzamentos, novas raças e doenças genéticas, a Associação Portuguesa de Médicos Veterinários Especialistas em Animais de Companhia disse ao Observador que: “não tem uma posição oficial sobre esta temática, porque é uma questão muito controversa”.


Manuel Correia tem atenção às características genéticas que quer manter na sua linhagem. Entre outros problemas, os beagles podem ter glaucoma (elevada pressão dentro do globo ocular, que pode levar a perda de visão) – Timothy A. Clarky/AFP/Getty Images

Manuel Correia criticou também certas seleções feitas e alguns critérios aprovados pelos clubes da raça. Para o rafeiro alentejano cumprir o estalão tem de ter “movimentos lentos e bamboleantes” – uma característica pouco útil para um cão de trabalho, lembrou. “Os pelos longos também são uma aberração.” Na natureza os pelos ficaram presos nos galhos e formam ninhos. “Não há tosquiador.” O criador não percebe como se podem promover características desvantajosas para os animais, como o excesso de peso no mastim napolitano.
 

Vida de cão: características nada úteis

Para Manuel Correia os animais devem ser saudáveis e ter um bom temperamento, e se forem bonitos melhor. Mas o criador também aprecia cães que mantêm características mais próximas dos ancestrais, capazes de sobreviver na natureza, como os podengos portugueses. “[Porque] há raças que para sobreviverem estão dependentes do homem.” Como os basset hound e o bulldog inglês que, “por uma questão anatómica, não conseguem ter um acasalamento natural”.

“Estima-se que os cães foram domesticados há cerca de 14 mil anos, mas os estudos genéticos revelam que a maioria das raças modernas se originaram apenas há cerca de 200 anos.”
Rita Carreira, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro


O criador deu outro exemplo, o dos pastores alemães, que foram sendo seleccionados para terem as patas traseiras mais esticadas para trás, o que faz com que a cabeça do fémur (na parte superior da perna) salte facilmente do encaixe da bacia. E a veterinária Claudia Rodrigues deu como exemplo os shar pei, que antes dos seis meses, têm de retirar algumas das pregas faciais para evitarem lesões nos olhos. Uma intervenção que pode ser repetida várias vezes ao longo da vida do animal.

A veterinária explicou que as cirurgias estéticas, como o corte das orelhas e da cauda, estão proibidas, e que este tipo de intervenção só é possível por motivos médicos, como em caso de lesão. Mas outras cirurgias são quase obrigatórias. Nas raças de pastoreio amputam-se os dedos acessórios das patas posteriores, porque dificultam a locomoção e podem ficar presos, provocando uma lesão. E os braquicéfalos – os cães de focinho curto como os bulldog – são operados ainda pequenos para prevenir complicações respiratórias. “Aquilo que as pessoas gostam é um problema de saúde”, disse Claudia Rodrigues, referindo-se ao roncar característico destas raças.


Raça portuguesa: cão de fila de São Miguel

Wikimedia Commons
Caen Elegans, no blogue Dog Behavior Science, escreveu sobre como as raças têm mudado ao longo do tempo, mais propriamente nos últimos 100 anos. Nas versões atuais, o bull terrier tem um excesso de dentes e um comportamento compulsivo de perseguição da cauda, o basset hound tem problemas nas vértebras e orelhas demasiado grandes, o boxer tem dificuldade em controlar a temperatura em ambientes quentes – o que faz com que tenha um mau desempenho físico nestas condições -, o teckel ficou tão alongado que tem problemas na coluna que podem levar a paralisia. E o que dizer do São Bernardo, outrora um cão de trabalho, agora tem um excesso de peso e de pele que não lhe permite controlar o sobreaquecimento.

Algumas experiências nos últimos anos:

Labradoodle = labrador + poodle
Cockapoo = cocker spaniel + poodle
Puggle = Pug + beagle
Poogle = Poodle + beagle
Schnoodle = Schnauzer + poodle


“Há raças que são disparatadas. Aberrações”, afirmou o criador. “Tudo o que é aberração tem valor comercial para a humanidade, mas há raças que exageram.” E quando as raças se tornam populares e os cruzamentos são feitos sem terem em consideração se o animal é saudável ou se é portador de alguma doença, nascem animais que podem ter problemas graves.
 

As raças, os genes e as doenças

Hugo Carvalho referiu que atualmente é possível fazer testes específicos por raça a mais de 40 doenças, entre elas a doença de Von Willebrand nos dobermann, que pode originar hemorragias, ou a displasia da retina nos samoieda, que pode resultar em cegueira. Mas os testes genéticos podem ir mais longe e ajudar a determinar a paternidade de um animal, confirmar a raça quando não existe pedigree ou avaliar a probabilidade da descendência ter determinado padrão de cor.

“Raças que possuam poucos indivíduos estarão em maior risco de estrangulamento genético se não houver cuidados na sua criação, do que raças em que o número de indivíduos é grande”, alertou Rita Carreira. Por isso é que para Manuel Correia “o que interessa é a linhagem que se utiliza” e garantiu que para criar os beagles (que tem agora) – ou os rottweiler, setters islandeses e cães da Serra de Aires (que criou no passado) -, usa as “melhores linhagens do mundo”. 





Os pugs no Reino Unido têm um nível de consanguinidade tão grande que estão geneticamente mais ameaçados do que os pandas-gigantes.

“Pedigree Dogs Exposed”/BBC

O criador reforçou que “é preciso ter conhecimentos de genética” e “um grau de exigência muito grande” para não acontecer o mesmo que acontece com a grande maioria dos cães que existem em Portugal ou Espanha: “são histéricos, pouco equilibrados”.

Mas há problemas que surgem quase intencionalmente ou que nada se faz para que sejam evitados, como acusou o documentário da BBC “Pedigree Dogs Exposed”. Os leões-da-rodésia, segundo o padrão definido pelo guia de raças do The Kennel Club, devem ter uma coluna saliente (ridgeback) e os criadores matam as crias que não têm esta característica – que afinal traz problemas aos animais. Mais, os animais que apresentam ridgeback têm um pequeno furo na pele que é um canal aberto para a medula espinal provocando graves infeções. Os que não têm ridgeback não.

Problemas nos olhos dos labradores, uma deficiência numa enzima que acontece apenas nos springer spaniel, alta incidência de cancro nos golden retriever ou propensão a alergias nos westie, são outras das doenças apontadas no documentário da BBC. The Humane Society Veterinary Medical Association publicou uma lista com as doenças congénitas das várias raças. Por exemplo, os podengos portugueses e os cães-de-água portugueses podem ter um crescimento anormal das pestanas – que podem causar lesões nos olhos – ou um encaixe deficiente entre os dois maxilares, assim como muitas outras complicações – incluindo epilepsia.

A epilepsia é uma doença comum em várias raças de cães, uma entre as mais de 500 doenças genéticas conhecidas (algumas delas identificadas aqui). São menos do que nos homens, mas afeta os cães com mais frequência. Rita Carreira referiu ainda outras doenças com elevada prevalência – até 4% dos animais – “a cardiomiopatia dilatada e a estenose aórtica, o hipotiroidismo, a displasia da anca e do cotovelo, a dermatite atópica, o criptorquidismo e as cataratas”.

“Existem algumas raças onde ocorrem com mais frequência, pelo que devemos estar alerta, mas devemos estar também conscientes de que a prevalência descrita para estas doenças varia com a população na localização geográfica do estudo e com a data em que foi feita, e que estas doenças também podem ocorrer em animais sem raça definida – rafeiros.”

Mas não são só as doenças conhecidas ou as mais comuns nas raças que podem afetar os animais, como descobriu Henrique Saldanha. Apesar de saber que os boxers poderiam ter alguns problemas de coração, nada fazia prever que Dallas apresentasse, aos três meses, uma doença de cão velho — uma cardiopatia dilatada. Nenhum dos elementos mais velhos da família, nem os irmãos, nem os primos, apresentaram alguma vez esta doença.


Henrique Saldanha escolheu um boxer porque se integra bem na vida familiar

Henrique Saldanha

“As doenças congénitas são aquelas com que o cão nasce, mas nem todas têm um fundamento genético. Por exemplo uma falha de ácido fólico pode levar ao não encerramento do palato, que é observável quando o cachorro nasce”, disse Rita Carreira, lembrando que “as doenças congénitas não são exclusivas das raças puras”.

A veterinária aconselha que os futuros donos, antes de adquirirem um cão, se aconselhem com um médico veterinário, visitem o espaço onde os criadores têm os cães, conheçam o animal antes de o levar para casa – “e nunca levem para casa um cachorro com menos de sete semanas” – e que verifiquem se têm as condições ideais para receber aquela raça. “Os cães não são biblots. Como com qualquer ser, tem personalidades e necessidades diferentes consoante a raça e mesmo o sexo.”


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