sábado, 2 de janeiro de 2016

Brincar ao ar livre faz bem à visão infantil




Um estudo realizado na China identificou uma possível maneira de conter o desenvolvimento de miopia em crianças
Em pesquisa feita com 12 escolas chinesas, o resultado apontou que pelo menos 40 minutos por dia de brincadeiras ao ar livre trazem benefícios à visão de meninos e meninas.

Mingguang He e outros pesquisadores pediram a seis escolas que levassem os alunos para brincar fora todos os dias; como grupo de controle, as outras seis mantiveram a rotina de estudos dentro da sala de aula.

Os pais também foram estimulados a incentivar brincadeiras ao ar livre aos finais de semana – nesse ponto, os dois grupos se igualaram.

Depois de três anos, eles passaram a fazer testes com as crianças para identificar se havia sinais de miopia. No inicio do experimento, menos de 2% de cada grupo tinha o problema.

Entre as crianças das escolas que aplicaram a estratégia de brincar ao ar livre, 30% desenvolveram algum grau miopia (259 de 853 crianças).

Já entre aquelas que ficaram nas salas de aula, 40% desenvolveram o problema (287 de 726 crianças) – a pesquisa só considerou miopia os exames que apontavam pelo menos 0,5 grau.

A diferença não é grande, mas é significativa, dizem os pesquisadores. E ela se mantém mesmo quando se leva outros fatores em consideração, como o histórico familiar de miopia.

O estudo sugere que as crianças precisam equilibrar atividades realizadas mais de perto, em lugares fechados, como ler, com atividades que usam a visão à distância.

Conclusões
"Isso é importante clinicamente porque crianças que desenvolvem miopia cedo têm mais chances de que o problema avance com o tempo, o que também aumenta o risco de elas desenvolverem a miopia patológica", disseram os pesquisadores na publicação científica Jama.

"Além disso, um atraso no desenvolvimento de miopia em crianças pequenas, que tendem a ter uma maior taxa de progressão, poderia proporcionar benefícios gigantescos para a saúde dos olhos a longo prazo."

Na publicação, Michael Repka, da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, afirma que mais estudos são necessários para confirmar e compreender as conclusões dessa pesquisa.

Segundo ele, os resultados do estudo podem significar que mais tempo ao ar livre limita a quantidade de tempo gasta em atividades realizadas mais de perto, em locais fechados; ou que estar mais exposto à luz do sol ajuda a desenvolver melhor as funções dos olhos.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde divulgados no ano passado, o número de pessoas com miopia dobrou nos últimos anos no mundo. O problema costuma estar bastante ligado ao uso do computador ou de outros itens tecnológicos – como tablet, celular, etc – por muitas horas durante o dia.

No Brasil, um estudo realizados pelo CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia) em 2014 com crianças entre 9 e 13 anos que utilizavam computador ou videogame por seis horas ininterruptas mostrou que 21% delas desenvolveram algum grau de miopia.

Pesquisas internacionais, como a realizada na China, tentam descobrir se já existe uma forma de diminuir o risco de desenvolvimento do problema mudando hábitos das pessoas, principalmente na infância.

O mistério da sexualidade entre os animais


Cientistas notaram que fêmeas do macaco-japonês buscam prazer com outras fêmeas

 

Durante a temporada de acasalamento de inverno, a competição por uma fêmea de macaco-japonês é acirrada. Os machos não têm de disputar apenas com outros machos, mas também com outras fêmeas.

Entre esses animais, objetos de estudo do psicólogo Paul Vasey, da Universidade de Lethbridge, no Canadá, uma fêmea sobe na outra e estimula seus genitais esfregando-os na parceira. As duas se olham nos olhos durante a relação e tendem a permanecer semanas juntas, inclusive para dormir e se defender de possíveis rivais.

Já se sabe que o comportamento homossexual é bastante comum no reino animal, envolvendo de insetos a mamíferos. Mas será que é possível chamar esses bichos de homossexuais?


No caso dos macacos-japoneses, Vasey e sua equipe observaram que mesmo participando de relações sexuais com outras fêmeas, elas continuavam interessadas nos machos. Entre esses animais, as fêmeas frequentemente montam no macho, aparentemente para incentivá-los a acasalar.

Em alguns casos, existem razões evolucionárias para explicar o comportamento homossexual dos animais.

Por exemplo: em seus primeiros 30 minutos de vida, machos das moscas-das-frutas tentam copular com qualquer outra mosca, macho ou fêmea. Só depois eles aprendem a reconhecer o odor das fêmeas virgens e se concentram nelas.

Essa abordagem de tentativa e erro pode parecer ineficaz. Mas para o biólogo David Featherstone, da Universidade de Illinois, trata-se de uma boa estratégia. Na natureza, moscas de diferentes habitats podem apresentar misturas de feromônios ligeiramente diferentes.

"Um macho poderia perder a oportunidade de ter filhotes viáveis se fossem programados para reconhecer apenas um tipo de odor", afirma.
O primeiro livro que trouxe o assunto para o centro das discussões foi Biological Exuberance, de Bruce Bagemihl, publicado em 1999. O texto citava inúmeros exemplos de relações homossexuais em uma grande variedade de espécies, que logo viraram objeto de estudo sistemático por parte dos cientistas.

Evolução



Besouros machos depositam esperma em outros e acabam por fertilizar mais fêmeas Segundo Vasey, apesar de centenas de espécies terem sido observadas em relações sexuais com parceiros do mesmo sexo em ocasiões isoladas, poucas delas fazem disso uma parte rotineira de suas vidas.


Os besouros-castanhos machos usam um truque diferente. Eles copulam entre si e até depositam esperma no parceiro. Se o macho que estiver carregando esse esperma acasalar depois com uma fêmea, esse esperma poderá ser transferido – assim, o macho que produziu o esperma fertiliza uma fêmea sem ter que cortejá-la.

Em ambos os casos, os machos estão usando um comportamento homossexual como uma maneira de fertilizar mais fêmeas.

Por isso, fica claro por que esses comportamentos podem ter sido favorecidos durante a evolução das espécies. Mas também se nota que essas duas espécies estão longe de serem estritamente homossexuais.

'Homo' ou 'bi'?


Entre aves, algumas fêmeas se unem a outras para cuidar de seus filhotes 

Outros animais, no entanto, realmente parecem ser totalmente gays. Um deles é o albatroz-de-laysan, que vive no arquipélago americano do Havaí. 
Entre esses enormes pássaros, os casais normalmente permanecem 'casados' por toda a vida e participam ativamente dos cuidados com os filhotes.

Mas em uma população da ilha de Oahu, 31% dos casais são formados por duas fêmeas sem parentesco entre si. E mais: elas cuidam de filhotes cujos pais são machos que já estão em um 'casamento estável' com outra fêmea, mas 'pulam a cerca' para acasalar com uma ou ambas as fêmeas do casal de mesmo sexo.

Segundo a bióloga Marlene Zuk, da Universidade de Minnesota, se as fêmeas de albatrozes não criassem seus filhotes com outra fêmea, teriam mais dificuldades para chocar seus ovos e buscar comida.

Mas, novamente, não se trata de animais inerentemente homossexuais. Estudos dessa e de outas espécies de pássaros sugerem que a união homossexual ocorre como uma resposta à falta de machos e é mais rara quando uma população tem uma proporção mais equilibrada entre os dois sexos


Bonobos

 
Bonobos podem usar o sexo para ganhar influência em um grupo E se olharmos para nossos parentes mais próximos, os primatas hominoides? Os bonobos, por exemplo, são uma espécie de chimpanzé extremamente ativa sexualmente. Tanto machos quanto fêmeas apresentam comportamentos homossexuais.


Mas o sexo entre esses animais também tem a função de consolidar as relações sociais. Bonobos podem usar o sexo para se aproximar de membros dominantes do grupo e assim ganhar mais status. Até mesmo os mais jovens costumam confortar outros com abraços e atos sexuais.

Algumas espécies de golfinhos também apresentam comportamentos homossexuais que os ajudam dentro do grupo. Mas, no fim, todos acasalam com membros do outro sexo para se reproduzirem.

Todas essas espécies seriam melhor descritas como 'bissexuais', pois transitam facilmente entre os dois comportamentos e não mostram uma orientação sexual consistente.
 

Homossexuais 'puros'


Segundo cientistas, 8% dos carneiros domesticados permanecem com sua opção pelo mesmo sexo 


Apenas duas espécies reconhecidamente exibem preferência pelo mesmo sexo pelo resto da vida, mesmo quando há parceiros suficientes do outro sexo. Uma delas, claro, é a espécie humana. A outra é o carneiro domesticado.

Em rebanhos ovinos, até 8% dos machos preferem outros machos mesmo quando há fêmeas férteis no grupo.

Em 1994, neurocientistas descobriram que esses machos tinham o cérebro ligeiramente diferente do resto, com um hipotálamo menor – a parte que controla a liberação de hormônios sexuais.

Isso endossaria o polêmico estudo do neurocientista Simon LeVay, que em 1991 descreveu uma diferença entre a estrutura cerebral de homens gays e heterossexuais.

Mas LeVay acredita que carneiros selvagens não apresentam o mesmo comportamento. Segundo ele, o animal domesticado foi aos poucos sendo 'manipulado' por criadores para produzir fêmeas que se reproduzem o mais frequentemente possível, o que pode ter permitido o aumento do número de machos homossexuais.

Por isso, tanto LeVay quanto Vasey afirmam que os humanos são o único caso documentado de 'verdadeira' homossexualidade entre animais selvagens.

Talvez nunca encontremos um animal selvagem que seja estritamente homossexual como muitos humanos. Mas podemos estar certos de que vamos descobrir cada vez mais animais que não se encaixam nas categorias tradicionais de orientação sexual.

Eles usam o sexo para satisfazer todo tipo de necessidade, do simples prazer à afirmação social. E isso exige flexibilidade.

Melissa Hogenboom Da BBC Earth

Leia a versão original desta reportagem em inglês no site BBC Earth


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