sábado, 17 de janeiro de 2015

Gripe A (H1N1): vigilância e prevenção.


Decorrido vários anos após o surgimento do novo vírus de influenza (A/H1N1) 
que se iniciou no México em abril de 2009, muitas ações já foram realizadas
no mundo, sejam elas de pesquisa, prevenção ou controle.
A Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA/SAA-SP), da Secretaria de Agricultura
e Abastecimento de São Paulo, participa desse processo
de atenção a nova enfermidade pandêmica, atuando principalmente
na vigilância dos rebanhos de suínos.

O sistema de vigilância adotado pela CDA/SAA-SP prioriza o monitoramento de propriedades rurais com suínos que tenham histórico de contato com pessoas
comprovadamente infectadas pelo novo vírus. Também é
dada especial atenção aos sistemas de produção de suínos,
cujos animais apresentem problemas respiratórios. Este
trabalho tem como fonte de informação as notificações recebidas
e a busca ativa de evidências epidemiológicas. 

trabalho de vigilância é constante, pois os suínos são suscetíveis
ao novo vírus.

Os sinais clínicos são semelhantes aos observados em humanos,
e idênticos aos provocados por outras cepas de influenza
comum do próprio suíno. A principal via de transmissão é
o contato direto, por meio de secreções nasofaríngeas contaminadas
pelo vírus. A carne suína e seus derivados, inspecionada
pelo serviço oficial (SIF, SISP ou SIM), e manuseados
de acordo com as boas práticas de higiene, comprovadamente
não são fontes de disseminação do vírus da influenza.

Devemos proteger os rebanhos suínos de uma eventual
infecção pelo vírus A/H1N1. Para os sistemas de criação
uma das medidas mais importantes a serem aplicadas é a
Biosseguridade.

A prevenção sempre foi e continuará sendo
a melhor estratégia a ser aplicada. Recomendamos a todos
os produtores de suínos que façam o monitoramento para
doenças respiratórias sugestivas de gripe e intensifiquem as
medidas de Biosseguridade em suas propriedades e, qualquer
eventualidade, notifique a Defesa Agropecuária para o
atendimento.

Med. Vet. Luís Guilherme de Oliveira
Gerente do Programa Estadual de Sanidade de Suídeos –
PESS/CEDESA
Coordenadoria de Defesa Agropecuária – CDA/SAA-SP
luis.guilherme@cda.sp.gov.br


O papel da medicina veterinária na conservação da biodiversidade.


Na medida em que as questões ambientais ganham
relevância para a sociedade, assumem status de lei e
passam a integrar as políticas públicas, no campo da
conservação da biodiversidade, que hoje é um setor
em franca expansão, começam a surgir boas e novas
oportunidades de trabalho. O problema, segundo especialistas,
é a escassez de profissionais qualificados
para atuar a campo em projetos de conservação da
fauna silvestre, em particular aqueles com formação
em medicina veterinária.

Reportagem de Maria A. Medeiros.
O papel da medicina
veterinária na conservação da
biodiversidade.

Para falar sobre o assunto, a Academia Paulista de Medicina
Veterinária convidou o veterinário Paulo Magalhães Bressan.
Nesta entrevista, ele fala sobre o papel
do médico veterinário ambientalista, as perspectivas no mercado
de trabalho e a necessidade de se estabelecerem programas
bem estruturados de formação acadêmica para esses
profissionais.

APAMVET: Muitas pessoas ainda não conhecem o trabalho
da Fundação na área da conservação da fauna silvestre. O
sr. poderia falar um pouco sobre o assunto?

PAULO BRESSAN: A conservação é uma das competências
previstas no Estatuto da Fundação. Portanto, desde a sua

criação, em 1958, já estava claro que a Fundação não seria apenas um parque com animais
silvestres aberto à visitação. Entre as suas
atribuições, estava prevista a criação de uma estação de pesquisa biológica voltada para a fauna nativa na sua área de implantação, isto é, dentro de um fragmento de Mata Atlântica.
Naquela época, há mais de 50 anos, isso não refletia a visão da sociedade, mas o tempo passou e as pessoas começaram
a perceber o quanto estavam comprometendo a própria
sobrevivência não se preocupando com o ambiente. 

Quando assumimos a direção da Fundação, em 2001, nossa equipe
– que foi a primeira diretoria executiva formada por veterinários
– começou a discutir o papel da Fundação a longo prazo, como
instituição que deveria participar dos processos de conservação
da fauna. Essa discussão evoluiu internamente e nos levou à
conclusão de que, sendo uma instituição vinculada à Secretaria
de Esporte e Turismo, dificilmente a Fundação avançaria nesse
objetivo. Foi então que surgiu a proposta de mudança para a
Secretaria de Meio Ambiente, o que se efetivou em 2004. 

Essa nova situação nos deixou mais confortáveis para discutir dentro
do governo a questão da conservação da fauna no Estado de São
Paulo e propor políticas públicas nessa direção. Hoje a FPZSP
participa ativamente da política ambiental do Estado, sendo
responsável pelo projeto Fauna Silvestre da Secretaria de Meio
Ambiente, que visa normatizar a proteção da fauna silvestre,
instalar locais de recebimento de animais silvestres capturados
e combater o comércio ilegal de animais.

APAMVET: Na mídia fala-se muito em conservação das
florestas, mas pouco na conservação da fauna silvestre. Como
o sr. vê essa questão?

P. B.: No debate político que se instalou
no país e é notícia do cotidiano na
mídia, a mata, isto é, a vegetação, aparece
como referência da questão ambiental.
Então nós perguntamos: será que as
matas existiriam sem a fauna? Certamente
não, porque os animais têm um
papel essencial na manutenção das florestas,
participando de vários processos
como a polinização, a disseminação de
sementes etc. Portanto, uma floresta sem animais é uma floresta
morta. Mas essa discussão já está tomando vulto e vemos que a
imprensa e a sociedade já começam a olhar a fauna como parte
essencial dos ecossistemas.
APAMVET: Estamos avançando de fato na proteção da fauna?

P. B.: Sim, só para citar um exemplo, no Estado de São
Paulo a política ambiental está se consolidando e, a exemplo
do que já acontece na Secretaria de Estado de Meio ambiente,
que mantém uma equipe especializada na gerência de fauna,
em muitos municípios estão sendo criadas secretarias ou departamentos
de proteção ambiental, incluindo aí a questão da
fauna local.

APAMVET: Que dificuldades ou desafios o sr. vê neste momento?

P. B.: Em relação à conservação da fauna, uma das dificuldades
que percebemos hoje é a falta de profissionais qualificados
para o trabalho de campo. Nós temos biólogos e alguns
veterinários com experiência na fauna silvestre mantida em cativeiro,
como os que trabalham aqui no Zoológico, mas existem
pouquíssimos veterinários ambientalistas, que são os profissionais
treinados para atuar com a fauna de vida livre. O problema
é que no Brasil ainda não existe um programa específico para
a formação desses profissionais. Nós entendemos que, assim
como as universidades preparam seus alunos para cuidar dos
animais de companhia ou dos rebanhos de valor econômico,
elas devem começar a oferecer qualificação específica na área
ambiental. Essa necessidade já começa a ser reconhecida e eu
acredito que este seja um momento de virada, de mudança.

APAMVET: Qual é o papel da medicina veterinária na conservação
da fauna silvestre?

P. B.: Isso já foi tema de vários encontros e congressos aqui
na Fundação, porque nós identificamos que esses profissionais
fazem muita falta nos programas de conservação in situ. O
Brasil tem uma diversidade faunística muito grande, mas ainda
pouco conhecida do ponto de vista da medicina veterinária. Carecemos
de pesquisas nessa área, assim como de profissionais
capazes de avaliar o estado sanitário de
certas populações, em especial as que
se encontram em risco de extinção ou
que estejam sendo afetadas pelas atividades
humanas, e orientar a tomada de
decisões. Para ser realmente efetivas, as
ações de conservação têm de levar em
conta os vários aspectos ambientais envolvidos,
e isso requer uma equipe multidisciplinar,
capaz de agregar conhecimento de diversas áreas, como a botânica,
a zoologia, a ecologia e também a medicina
veterinária.

APAMVET: Quais seriam os principais
campos de trabalho para esses profissionais?

P. B.: O leque de possibilidades é muito
grande. No setor de empreendimentos,
podemos citar como exemplo a obra do
Rodoanel, no Estado de São Paulo. A construção desse sistema
viário deve levar 20 anos, e ainda temos pelo menos 10 anos
pela frente. 

Em torno dele, diversas outras obras terão de ser
realizadas para completar os acessos aos municípios abrangidos
no projeto, todos grandes empreendimentos que afetam diretamente
a condição de equilíbrio ambiental, tanto do ponto de
vista da vegetação como do ponto de vista da fauna que habita
essas regiões. O que fazer com essa fauna? Em primeiro lugar,
faz-se um levantamento faunístico dessas áreas para então decidir
se os animais serão capturados e transportados para outro
local. Aqui, o papel do biólogo é claro – ele faz a avaliação das
espécies, identifica as espécies, faz o manejo, mas não está em
sua competência atestar as condições sanitárias dessa fauna e
decidir se esses animais podem ser transportados com segurança.

Quando são capturados, os animais precisam receber atendimento
e acompanhamento veterinário durante todo o processo
de realocação.
Outros exemplos são as grandes barragens, que geralmente
envolvem a captura de um grande número de animais, os empreendimentos
imobiliários e industriais, como as usinas sucroalcooleiras
e outros. Todas essas obras precisam também de
licenciamento ambiental, o que exige a elaboração de um laudo
de fauna com informações veterinárias.

APAMVET: Se faltam veterinários nesses projetos, devemos
presumir que os laudos de hoje sejam deficientes ou incompletos?

P. B.: Sim. Hoje os laudos técnicos são muito completos
no que diz respeito à vegetação, mas, com relação à fauna, eles
pecam pela deficiência de informações. Os próprios empreendedores
não dão muita importância para a questão da fauna
porque eles sabem que do outro lado, nos órgãos fiscalizadores,
também não existem profissionais em condições de avaliar corretamente
esse laudo. Então, o próprio empreendedor não se
preocupa muito, apesar de isso ser uma exigência legal. É claro
que os biólogos fazem uma boa avaliação dentro da competência
deles, mas na competência do veterinário não há quem
faça. Dificilmente se encontra um laudo com acompanhamento
de um veterinário, nem do lado do empreendedor, nem do lado
do órgão fiscalizador. Veja que só aí existe
demanda para dois profissionais em um
único projeto.

APAMVET: E quanto aos programas
de conservação?

P. B.: É possível quase contar nos dedos
das mãos os veterinários que atuam
a campo prestando serviços e assessoria
para as entidades conservacionistas. A demanda
existe e a tendência é que aumente rapidamente. Nós já
sentimos isso aqui na Fundação. Frequentemente somos chamados
a participar de projetos e muitas vezes temos que recusar
porque não temos capacidade operativa para tanto. Também
temos feito um grande esforço para auxiliar o governo na sua
política pública de gestão da fauna silvestre do Estado, mas às
vezes não temos condições de atender a essa demanda. Outro
campo em aberto são as Prefeituras do interior paulista, que certamente
vão precisar de técnicos em sua estrutura organizacional
para atender à legislação ambiental, sob pena de perder parte
dos recursos a que têm direito. Essa é uma demanda que está aí, e é importante que os 
profissionais sejam treinados para isso.

APAMVET: Pode-se dizer então que esta é uma área bastante
promissora.

P. B.: Sem dúvida. O mercado está absolutamente aberto,
não há concorrência e os profissionais são bastante valorizados.
Para se ter uma ideia, existe uma única profissional especialista
em tamanduás, que é uma espécie nativa em risco de extinção
e, portanto, alvo de grande interesse para a conservação. Essa
veterinária, que é a dra. Flávia Miranda, hoje é respeitadíssima
e muito requisitada no mundo inteiro. Não existe outra. Então,
as perspectivas são muito boas, desde que o profissional perceba
o seu real valor, pois ele é um elemento que está faltando no
processo e ele é essencial a esse processo.

APAMVET: E quanto à questão da qualificação?

P. B.: Em primeiro lugar, é importante que as academias desenvolvam
programas dentro de suas competências nas universidades
para a formação desses profissionais. É a academia que
tem competência para produzir programas bem estruturados.

Do contrário, corremos o risco de se estabelecerem fora delas
programas de conteúdo duvidoso. 

Enquanto isso não ocorre, a alternativa para os interessados é buscar formação em instituições do terceiro setor voltadas para a conservação. 

Sabemos que o nosso profissional veterinário tem grande capacidade de
aprendizado quando colocado à prova no campo. Então, é uma
questão de treinamento, porque ele já tem uma base teórica que
lhe permite evoluir e ser reconhecido no mercado de trabalho.



Paulo Magalhães Bressan
Nascimento: 26.06.1944. Médico Veterinário graduado pela Faculdade de
Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, 1970. Pós-
-graduado em Saúde Pública Veterinária pela Faculdade de Saúde Pública
da Universidade de São Paulo, 1979. Durante sua vida profissional, trabalhou
nas seguintes instituições: Fazenda Haras Mondesir; Dow Chemical do
Brasil; Eaton/Paraquimica S.A.; Laboratórios Andrômaco S.A.; Prefeitura do
Município de São Paulo; Governo do Estado de São Paulo. Cargos ocupados:
Diretor de Divisão no Departamento de Vigilância Sanitária de Alimentos
da Secretaria de Saúde do Município de São Paulo (1978-1981); Assessor
Técnico de Gabinete da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São
Paulo (1982-1985); Diretor do Departamento de Controle de Zoonoses da
Secretaria de Saúde do Município de São Paulo (1986-1994); Secretário Adjunto
da Secretaria de Administração e Modernização do Estado de São Paulo
(1995-2000); Diretoria de Administração da Fundação Pró-Sangue de São
Paulo - Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo (2000-2001); Diretor
Presidente da Fundação Parque Zoológico de São Paulo - Secretaria do Meio
Ambiente do Estado de São Paulo (2001-2004); Subprefeito da Lapa - Prefeitura
do Município de São Paulo (2005- 2007); Diretor Presidente da Fundação
parque Zoológico de São Paulo - Secretaria do Meio Ambiente do Estado de
São Paulo (2007- ).

Entrevista CFMV - Responsabilidade do veterinário quanto ao impacto ambiental gerado para a fauna silvestre


O Médico Veterinário pode gerar algum
tipo de impacto ambiental para
a fauna silvestre?
Sim, caso não seja qualificado para manejar animais
silvestres.

Exemplifique
É necessário e obrigatório que o Médico Veterinário
conheça os habitats e nichos ecológicos de
nossa fauna, seu comportamento e hábitos, os
fatores estressantes gerados durante a captura e o
cativeiro, sabendo identificar corretamente as espécies
com domínio da nomenclatura científica,
as formas de resgate indicadas para as diferentes
espécies, as formas corretas de contenção física e
química. Importante também é conhecer as características
e particularidades de nossos ecossistemas
e biomas, a cadeia alimentar, a alimentação
correta das espécies na natureza e em cativeiro,
a zona de conforto térmico e de umidade para
as espécies manejadas e formas para melhorar a
ambientação da fauna resgatada entre outros fatores,
que permitirão o correto manejo e adequada
destinação de animais silvestres, evitando-se assim
o mal direcionamento tanto para cativeiro como
para o revigoramento de populações silvestres. A
falta de qualificação no manejo da fauna silvestre
poderá gerar impactos ambientais ainda maiores
do que os já registrados pela retirada de animais
silvestres da natureza, uma vez que uma soltura
mal planejada poderá ser desastrosa para um
ecossistema, como por exemplo, o revigoramento
de uma espécie de carnívoro topo de cadeia em
uma região onde esta espécie não ocorra naturalmente.

Este carnívoro poderá vir a morrer por
falta de alimentação ou então poderá acabar com
grande parte das espécies consumidoras primárias
e secundárias da cadeia alimentar, quebrando elos
importantes desta cadeia no local onde foi erroneamente
solto, podendo alterar a dinâmica populacional
da fauna deste ecossistema.

O que é habitat?
É o lugar onde vive ou pode ser encontrado um
organismo

O que é nicho ecológico?
É o lugar ocupado por um organismo incluindo
seu papel funcional na comunidade, por exemplo,
sua posição na cadeia trófica; é o lugar onde existe
uma população organizada com relação de dominância
sobre o espaço físico.

O que é fragmentação de paisagem?
É uma transformação da terra onde há conversão
de grandes habitats naturais em pequenas
partes, representa a quebra de habitat ou de tipo
de solo em pequenas parcelas que são desigualmente
separadas.

O que é revigoramento populacional?
É a soltura de espécimes de uma determinada
espécie, com a intenção de aumentar o número
de indivíduos de uma população, em seu habitat
e distribuição geográfica originais.

Que tipo de impactos ambientais gerados
por desmatamentos podem ser
detectados pelo Médico Veterinário?
É grande a responsabilidade do Médico
Veterinário atuante na área ambiental, nossas
competências nos permitem detectar aspectos
e impactos ambientais de alta relevância sobre
a manutenção do equilíbrio e da saúde de
ecossistemas. Desmatamentos podem gerar
ou potencializar a poluição do ar por perda da
capacidade de produção e emissão de oxigênio
pelo processo de fotossíntese; diminuir o seqüestro
de gás carbônico que é naturalmente
realizado pela vegetação; aumentar a emissão
de gás carbônico para a atmosfera, uma vez que
a queima de biomassa vegetal é uma das fontes
de emissão deste gás de efeito estufa, sendo
este tipo de impacto considerado como altamente
preocupante uma vez que alterações da
qualidade do ar influenciam diretamente sobre
a saúde do meio ambiente e a manutenção da
vida em nosso planeta. 

Desmatamentos e queimadas
alteram e/ou destroem a cobertura de
vegetação do solo que perde matéria orgânica,
mineral e microrganismos importantes para
manutenção e reciclagem de ciclos biológicos,
deixando os solos mais expostos a intempéries
com facilitação de processos erosivos. Desmatamentos
matam, ferem e afugentam a fauna
local que perdendo seus habitats e nichos ecológicos
é obrigada a invadir novas áreas que já
tem populações pré-estabelecidas, alterando a
dinâmica populacional de ecossistemas do entorno,
aumentando assim o grau do impacto
ambiental gerado pela supressão de vegetação;
aumentam a predação pela caça e/ou facilitação
para o tráfico de animais; alteram a cadeia alimentar
que perde importantes elos entre presas,
predadores, competidores e decompositores.


Desmatamentos causam fragmentação de paisagem
com formação de “ilhas” de vegetação
afastando populações de flora e fauna; isolam
populações nos fragmentos florestais interferindo
sobre a riqueza biológica local de forma
diferenciada de espécie para espécie, na medida
em que reduz a capacidade de recolonização;
quebram a conectividade de paisagens reduzindo
a condução e escoamento de fauna e flora;
levam a alterações estruturais nos fragmentos
de vegetação causadas por fatores bióticos e abióticos,
dentre eles o aumento de temperatura,
a redução da umidade do solo e do ar, a maior
penetração de luz solar, o aumento da exposição
aos ventos e a potencialização de incêndios
devido ao surgimento de espécies generalistas,
como capoeiras, cipós e trepadeiras que com a
maior exposição aos ventos nas bordas dos fragmentos
provocam um maior aporte de caules,
ramos e folhas facilitando a passagem do fogo
que por ventura esteja grassando no entorno
do fragmento; provocam a competição entre
espécies da flora generalistas e espécies do interior
dos fragmentos florestais que por sua
vez acabam morrendo, visto que as generalistas
adaptam-se melhor a condições degradadas,
podendo a perda da flora acarretar em perda
de espécies da fauna silvestre dependentes da
mesma para sobreviver. Desmatamentos reduzem
a migração de espécies da fauna, uma
vez que alguns animais silvestres relutam em
atravessar áreas mais abertas entre fragmentos
florestais podendo assim levar a diminuição da
biodiversidade local por estabilização genética
destas populações isoladas. Outro ponto importante
na saúde do meio ambiente a ser analisado
pelo médico veterinário diz respeito a aspectos
da saúde humana, animal, vegetal e as doenças
que são determinadas por fatores ambientais.

Desmatamentos têm potencial para causar alterações
na dinâmica populacional de vetores,
hospedeiros e agentes infecciosos, que a princípio
estavam em equilíbrio na floresta preservada,
mas que sujeitos a novas condicionantes
ambientais (como diminuição de precipitações
pluviométricas, alterações na movimentação
dos ventos, alterações na temperatura média local
ou até mesmo regional, dependendo do tamanho
da área desmatada) pode gerar situações
críticas com surgimento de eventos epidemiológicos.

A aproximação e facilitação de contato
entre fauna silvestre, populações humanas e de
animais domésticos também é avaliada pelo
médico veterinário, uma vez que podem ser
criadas condições favoráveis para o surgimento
de enfermidades diversas, entre elas zoonoses,
doenças emergentes e reemergentes, além do
aumento da probabilidade de transmissão de
doenças tipicamente humanas ou de animais
domésticos para a fauna silvestre.

Maria do Rosário Lira Castro
Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Fluminense, RJ (1979), pósgraduação
"lato sensu" em Ciências Ambientais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2004)
e em Manejo, Biologia e Medicina da Conservação de Animais Selvagens pela Fundação RIOZOO,
RJ ( 2008). Atualmente é médica veterinária de Projeto Ambiental que monitora, resgata, maneja,
recupera clinicamente e destina fauna silvestre em rodovia federal na região serrana do estado do
Rio de Janeiro. Tem experiência em resgates, identificação de espécies, manejo, cuidados clínicos e
revigoramento de fauna silvestre. Faz parte da equipe do Projeto de Monitoramento de mamíferos
terrestres de médio e grande porte no mosaico de Unidades de Conservação da Mata Atlântica
central Fluminense. É membro da Comissão Nacional de Saúde Ambiental - CNSA - do Conselho
Federal de Medicina Veterinária - CFMV.
E-mail: lcastro1102@globo.com



Fonte:

Uma reflexão sobre a Saúde Ambiental - CNSA (Comissão Nacional de Saúde Ambiental)

É notória a degradação progressiva dos ecossistemas, a contaminação
crescente da atmosfera, solo e água, bem como o aquecimento
global são exemplos dos impactos das atividades humanas
sobre o ambiente. 

Esses problemas são exacerbados em situações
locais em que se acumulam fontes de riscos advindas de processos
produtivos tais como a disposição inadequada de resíduos
industriais, nos quais podemos nos considerar em parte responsáveis,
pois estamos intrinsecamente ligados a estes processos.

Saúde Ambiental é uma realidade, uma necessidade e o caminho
para a consciência ambiental que é crescente em um mundo
globalizado.

A Comissão Nacional de Saúde Ambiental representa uma
nova etapa, onde Médicos Veterinários podem e devem possuir
ciência sobre esta nova dinâmica que integra a saúde animal, vegetal
e humana.

Portanto é necessária a sensibilização de nossa classe sobre a
problemática ambiental que nos rodeia, para podermos diagnosticar
aspectos e impactos ambientais relevantes, implantar ações
preventivas e corretivas, visando o equilíbrio entre a espécie humana
e natureza, equilíbrio este vital para a sobrevivência de todas
as espécies de nosso planeta.

Uma Reflexão
É importante que os Médicos Veterinários façam uma reflexão
sobre o importante papel que tem a exercer não só como cidadãos,
mas principalmente como profissionais habilitados a atender
as demandas imediatas e expectativas da sociedade relativas a
eventos ambientais. Atualmente observamos que há uma grande
necessidade de profissionais qualificados, de diferentes formações
acadêmicas, para atuação no mercado ambiental e que dispomos
de um número ainda insuficiente de Médicos Veterinários qualificados
para tal. 

É vital que nossos profissionais tenham um
olhar técnico diferenciado sobre meio ambiente, que constatem
que além de nossas especializações dentro da Medicina Veterinária
também precisamos nos preparar para executar atividades
técnicas que necessitem de um olhar e uma qualificação mais ampla,
que transponha os limites clássicos de nossos conhecimentos
acadêmicos. 

Desta forma estaremos capacitados a exercer trabalhos
com eficiência e em condições de igualdade com outros
profissionais de equipes multidisciplinares, ou seja, de diferentes
formações acadêmicas, atuando de forma interdisciplinar, uma
vez que existe um elo entre aptidões profissionais na área ambiental.

Precisamos também entender nossa responsabilidade como
técnicos e nos enxergar dentro deste contexto, uma vez que todas
as atividades exercidas pelos Médicos Veterinários têm potencial
para gerar algum tipo de impacto para o meio ambiente.



Fonte:

Dermatite Atópica Tratada com Cyclosporina


História
Nos últimos três anos, o cão
apresentou prurido limitado a época
do verão, localizado sobretudo nas
patas, focinho, ao redor dos olhos
e lábios, nas orelhas, axilas, virilha
e abdomen. Este ano, pela primeira
vez, o cão também apresentou mau
cheiro, áreas de alopecia e crostas
de cera amareladas. O cão está
sendo tratado mensalmente com a
selamectina,durante todo o ano.

Exame clínico
Nenhuma alteração foi detectada
no exame geral. No exame
dermatológico, há uma marcada
alopecia auto-induzida na parte do
tronco, eritema ao redor dos olhos
e na parte interna das pernas, hiperpigmentação
e liquenificação
no tronco, abdomen, axilas e face
ventral do pescoço. O odor do cão é
forte e um exsudato cremoso e claro
é observado no canal auricular.

Lista de diagnósticos diferenciais:
Prurido: devido à sazonalidade,
dermatite atópica por pólen
Alopecia: auto-induzida devido
à coceira ou causada por infecções
bacterianas foliculares.
Hiperpigmentação e liquenificação:
dermatite crônica e / ou bacteriana
e / ou infecção por Malassezia.

Exames laboratoriais
Raspados superficial e profundo
exames de pelos foram negativos
para ectoparasitos.
Exame tricoscópico revelou raízes
anágenas e pontas de pelo quebradas,
indicativos de alopecia autoinduzida.
Exame citológico a partir da virilha
revelou bactérias intracelulares
e Malassezia.
A citologia do exsudato da orelha
revelou uma infecção bacteriana
com Malassezia, sem leucócitos.

Diagnóstico
Dermatite atópica sazonal complicada
por bactérias e dermatite e
otite por Malassezia.

Terapia
O cão foi tratado com cefalexina
na dose de 25mg/kg, duas vezes ao
dia e itraconazol na dose de 7mg/
kg, uma vez por dia, administrado
com ração durante 21dias. Um
shampoo a base de clorexidina foi
aplicado duas vezes por semana
durante três semanas. Foi feita,
diariamente,uma limpeza do canal
auditivo seguida de uma aplicação
de um produto à base de orbifloxacine
e posaconazol.

Para a dermatite atópica, por ser
ela sazonal e de curta duração (3 meses),
decidiu-se não realizar testes
cutaneos nem hiposensibilização alergeno-
específica. Mas recomendou-se
tratar o animal sintomaticamente
com ciclosporina, na dose diária de
7mg/kg, durante 30 dias. Depois, o
produto foi aplicado em dias alternados
até o final da estação quente.
Foi aconselhado iniciar o tratamento
com ciclosporina a cada
início da estação quente, antes que
infecções secundárias compliquassem
o processo alérgico.

Evolução do caso
Após oito semanas de tratamento,
o cão apresentou remissão completa
do prurido e uma boa melhora das
lesões cutâneas.
O exame citológico da pele e do
canal auditivo não revelou a presença
de microorganismos.


Fonte: