domingo, 6 de março de 2016

Idade compromete sistema imune e reduz eficácia de vacinas


Mais de 10% dos indivíduos que compõem a população brasileira atual têm idade superior a 60 anos. E, a exemplo do que já ocorre no Japão e nos países europeus, essa porcentagem deverá aumentar nas próximas décadas.

Um dos desafios que o envelhecimento da população apresenta relaciona-se com o possível aumento das comorbidades. Problemas cardíacos, respiratórios, de mobilidade, de cognição são alguns exemplos de morbidades que podem se associar no idoso, levando, eventualmente, à incapacitação de um indivíduo ainda produtivo.

Além disso, vários estudos têm mostrado que a resposta imune de defesa contra patógenos e tumores também se apresenta diminuída em idosos. Assim, uma porcentagem de indivíduos com mais de 60 anos não fica imunizada após a vacinação. Quanto maior a idade, maior o número de indivíduos que, apesar de vacinados contra influenza, são internados por infecções respiratórias associadas a patógenos.

Um estudo conduzido na cidade de São Paulo procurou avaliar se a população idosa residente no município apresentava as mesmas alterações no sistema imune observadas no Japão e nos países europeus. E buscou saber também se a Propionibacterium acnes (P.acnes), a bactéria causadora da acne, poderia ser utilizada para estimular o sistema imune de idosos, tornando-se assim, em condições controladas, um adjuvante para vacinas ou outras terapias.

A pesquisa, “Análise imunológica de indivíduos idosos e propostas em vacinação”, coordenada por Valquiria Bueno, professora de imunologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), teve o apoio da FAPESP.

“Trabalhamos com culturas de células in vitro, utilizando, como material biológico, amostras de sangue de idosos fornecidas pelo Estudo Sabe (Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento), da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, também apoiado pela FAPESP”, disse Bueno à Agência FAPESP.

“Ativamos essas culturas com fito-hemaglutinina, um mitógeno [indutor de mitose ou divisão celular] bem conhecido na literatura, e as estimulamos também com P.acnes, para saber se, após o estímulo, as células de idosos apresentavam respostas semelhantes às das células de pessoas mais jovens”, prosseguiu a pesquisadora.

A primeira constatação foi que, embora o perfil imunológico de nossa população seja muito heterogêneo, o padrão celular de envelhecimento em São Paulo é muito semelhante àquele descrito no Japão e nos países europeus. Quando se consideram os valores médios, aqui também os idosos têm diminuídas suas taxas de proliferação celular e de produção de citocinas [moléculas envolvidas na comunicação entre as células durante o desencadeamento das respostas imunes]. Isso significa que o sistema imunológico desses indivíduos apresenta menor capacidade de responder aos antígenos [proteínas capazes de desencadear a resposta imune] presentes nas vacinas ou em novas infecções.

“Quando vacinamos alguém, esperamos que as células circulantes do sistema imune sejam capazes de responder aos antígenos. Isto é, que proliferem e produzam citocinas e anticorpos para combater essas proteínas estranhas. Ao fazê-lo, as células mudam seu fenótipo, transformando-se de células naives [inexperientes] em células efetoras [experientes], ficando, depois, armazenadas no organismo como células de memória. Nos idosos, porém, esse mecanismo apresenta-se parcialmente modificado”, informou Bueno.

Tal processo, chamado de “imunosenescência”, caracteriza-se, na amostra, pela diminuição da porcentagem de células naives, capazes de reconhecer e responder a antígenos novos, e pelo aumento da porcentagem de células de memória que não são capazes de responder a patógenos diferentes daqueles contra os quais já se especializaram. Por isso, a resposta a vacinas, novas infecções e tumores torna-se menos eficaz.

Terapias diferenciadas por gênero

“Um achado importante do nosso estudo foi que a tendência à imunosenescência é mais acentuada em homens do que em mulheres da mesma faixa etária. Os homens tendem a acumular mais células de memória e a apresentar maior redução de células naives, além de menor produção de citocinas. Esse achado sugere que, para indivíduos idosos, as terapias talvez tenham que ser utilizadas de forma diferente de acordo com o ‘gênero’”, afirmou a pesquisadora.

“Nossos dados encontram apoio em estudos realizados no Japão, nos quais se observou ainda que as mulheres necessitaram de doses menores de vacina do que os homens para produzir a mesma concentração de anticorpos protetores”, continuou.

A pesquisa realizada com células in vitro na Unifesp também corroborou dados obtidos em estudo populacional realizado na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM-Unicamp): “Internações por doenças respiratórias em idosos e a intervenção vacinal contra influenza no Estado de São Paulo”. Esse estudo, coordenado por Priscila Maria Stolses Bérgamo Francisco, mostrou que a incidência de doenças respiratórias em pessoas vacinadas é de 4% para mulheres e de 7% para homens, na faixa dos 60 anos, e pouco menor do que 30% para mulheres e quase 50% para homens, na faixa dos 80 anos.

“A vacinação tem que continuar a ser realizada, é claro. Mas é preciso fazer algo mais, no intuito de melhorar a resposta vacinal”, comentou Bueno. “Um procedimento testado em grupo controlado de idosos no Japão foi substituir a dose única anual de vacina contra influenza por duas ou três doses menores, escalonadas em intervalos de seis ou quatro meses. O parcelamento da vacina estimula o sistema imune várias vezes. E, aparentemente, isso tem um efeito melhor do que a ministração da dose inteira de uma vez só.”

Apesar de poder ser aprimorado, seguindo talvez o exemplo do Japão, o sistema de vacinação pública adotado no Brasil, baseado em campanhas maciças, é melhor do que o de alguns países europeus. Na Espanha, por exemplo, a rede pública só vacina os idosos quando estes se encontram hospitalizados.

Na investigação do eventual emprego da P.acnes como adjuvante vacinal, a pesquisa contou com a colaboração da professora Ieda Maria Longo Maugéri, da Escola Paulista de Medicina (EPM) da Unifesp, que conduz atualmente o estudo “Efeito adjuvante da Propionibacterium acnes e de sua fração polissacarídica purificada sobre a imunogenicidade de uma vacina para o vírus da imunodeficiência humana tipo 1 (HIV-1)”, também apoiado pela FAPESP.

“Verificamos que a P.acnes aumentou discretamente a proliferação de linfócitos B [produtores de anticorpos]. Mas o mesmo não ocorreu em relação aos linfócitos T [produtores de citocinas e estimuladores de outras células]”, disse Bueno.

“É provável que a P.acnes tenha estruturas capazes de se ligar aos receptores do tipo toll dos linfócitos B, induzindo, assim, sua proliferação. Já no caso dos linfócitos T, eu acredito que seja preciso haver células dendríticas [apresentadoras de antígenos] intermediando o processo para que o antígeno presente na bactéria inativada possa ter o efeito adjuvante desejado. Então, para um aumento da resposta vacinal, além da P.acnes, a vacina precisaria conter também células dendríticas”, conjecturou a pesquisadora.

Além dos resultados obtidos, o projeto possibilitou que Valquiria Bueno e colaboradores estabelecessem uma ampla rede de contatos com pesquisadores de outras instituições, como o grupo que desenvolve o Estudo Sabe, coordenado pela professora Maria Lúcia Lebrão na Universidade de São Paulo, e o Institute of Inflammation and Ageing, dirigido pela professora Janet Lord, na Universidade de Birmingham, Reino Unido. Uma colaboração entre a equipe brasileira e a equipe britânica está atualmente em curso, apoiada pela FAPESP mediante convênio com o British Council e o Newton Fund. Os times parceiros estão finalizando a redação de um livro, The Ageing Immune System and Health, previsto para ser publicado ainda em 2016 pela editora Springer, e organizando o workshop “Ageing and health: how to get there?”, agendado para 16 a 18 de março na Unifesp. 


José Tadeu Arantes | Agência FAPESP

Fonte:
 

Alegria também pode provocar doença no coração, indica estudo suíço

Um estudo suíço concluiu que dores no peito e falta de ar podem ser causadas não apenas pelo estresse emocional despertado por momentos de raiva, tensão e pesar, mas também pela alegria.

De acordo com pesquisadores do Hospital Universitário de Zurique, pelo menos 1 entre cada 20 casos da cardiomiopatia de Takotsubo, uma alteração no ventrículo esquerdo do coração ligada ao estresse, é causado por alegria em excesso. As conclusões foram divulgadas na publicação científica European Heart Journal.

A condição costuma ser temporária – os pacientes geralmente se recuperam.

O estudo do hospital analisou 1.750 pacientes. Os médicos descobriram que alguns deles apresentaram problemas cardíacos causados por uma série de ocasiões felizes, entre elas:
  • Uma festa de aniversário
  • O casamento de um filho
  • Um reencontro de amigos após 50 anos
  • Tornar-se avó
  • A vitória de uma equipe esportiva
  • Ganhar em um cassino
  • O resultado positivo de um exame de saúde
Segundo os pesquisadores, a maioria dos casos era de mulheres que passaram pela menopausa.

Image copyright iStock
Image caption Doença é conhecida como 'síndrome do coração partido'
Jelena Ghadri, uma das cientistas, disse que o estudo revelou a existência de mais mecanismos por trás da cardiomiopatia de Takotsubo, desafiando o estereótipo de quem sofre da doença – geralmente definido como paciente da "síndrome do coração partido".

"A doença também pode ser causada por emoções positivas. Os médicos precisam estar a par de que pacientes que chegam à emergência de um hospital também podem estar sofrendo da síndrome de Takotsubo mesmo depois de um evento feliz."
Ghadri afirma que os resultados sugerem que tristeza e alegria compartilham o mesmo "caminho emocional" que leva à doença.

Fonte:
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/03/160305_alegria_coracao_mal_estudo_fd BRASIL 

Confira as 5 matérias mais visitadas no blog no mês de fevereiro/2016

CFMV forma grupo de trabalho responsável por elaborar propostas relacionadas a biotérios

O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) publicou, em janeiro, portaria que cria o grupo de trabalho responsável por apresentar propostas de treinamentos, Resoluções e outras ações relacionadas a biotérios. O GT Biotérios será formado pelos médicos veterinários Klena Sarges Marruaz da Silva, que presidirá o grupo, Marcelo Alves Pinto e Vítor Valério Maffili.

Entre os objetivos estão a elaboração de proposta de treinamento de médicos veterinários para atuar na área, além do treinamento dos profissionais para serem responsáveis técnicos em biotérios. O GT também vai contribuir com conteúdo para o Projeto Arca – Banco de Conhecimento da Medicina Veterinária e Zootecnia que será lançado pelo CFMV.

O presidente do CFMV, Benedito Fortes de Arruda, ressalta que a formação dos grupos de trabalho dará início a uma nova fase de planejamento do Conselho Federal. “A maior capilaridade nos proporcionará um trabalho com mais profundidade e aprimoramento, pois são profissionais que trarão seus conhecimentos para socializar com profissionais, estudantes e a sociedade brasileira”, afirma.

O GT deve concluir seus trabalhos até o dia 30 de julho de 2016.

Diretriz Brasileira que estabelece princípios para uso de animais com fins científicos

 Foi divulgada no último dia 03 de fevereiro a publicação da versão mais recente da Diretriz Brasileira para o Cuidado e a Utilização de Animais em Atividades de Ensino ou Pesquisa Científica (DBCA), do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal, órgão do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

O objetivo da DBCA é apresentar princípios de condutas que permitam garantir o cuidado e o manejo éticos de animais produzidos, mantidos ou utilizados para fins científicos ou didáticos.

Os princípios devem orientar pesquisadores, professores, estudantes, técnicos, instituições, Comissões de Ética no Uso de Animais (Ceuas) e todos os envolvidos no cuidado e manejo de animais utilizados em ensino ou pesquisa.

A Resolução Normativa nº 30 de 2 de fevereiro de 2016, que baixou a Diretriz, entrou em vigor na data de sua publicação.