terça-feira, 13 de janeiro de 2015

A equoterapia é um método educacional e terapêutico



A equoterapia é um método educacional e terapêutico, que utiliza o cavalo como instrumento de trabalho dentro de uma abordagem interdisciplinar, nas áreas de saúde, educação e equitação. Ela foi reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina como recurso terapêutico de reabilitação motora no dia nove de abril de 1997, e como método educacional pela Divisão de Ensino Especial da Secretaria de Educação do Distrito Federal, instituição conveniada à ANDE-BRASIL. Tramita atualmente no Congresso Nacional projeto de lei que visa colocar a Equoterapia como método terapêutico atendido pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

A semente da Equoterapia foi plantada no Brasil na década de 70. Entre os anos de 1976 e 1977, um rapaz portador da síndrome de Down participava e era conduzido em aulas de hipismo, na Sociedade Hípica de Brasília (SHBr), dentro do respeito às suas limitações. As modificações de comportamento e o desempenho escolar desse rapaz, sempre para melhor, começaram a ser relatadas por seus familiares, amigos e professores. Nesta ocasião, quem desempenhava as funções de chefe e técnico da equipe de equitação da Sociedade Hípica de Brasília (SHBr) era o Sr. Lélio de Castro Cirillo, oficial de Cavalaria do Exército Brasileiro, já na reserva, porém, homem ligado ao cavalo e à educação desde 1954, quando se especializou como instrutor dessa modalidade equestre pela Escola de Equitação do Exército.

O desempenho deste rapaz com síndrome de Down chamou a atenção do Sr. Lélio Cirillo, que procurou verificar a relação entre as mudanças observadas no comportamento de seu aluno e a equitação. Contudo, somente em 1986 a resposta aos seus questionamentos foi encontrada numa reportagem de “O Globo” que abordava a atividade equestre para deficientes, e tinha o título “Equitação para crianças retardadas”, termo utilizado na época. A pessoa entrevistada era a Dra. Danielle Citterio, médica italiana e presidente da Associação Italiana de Reabilitação Equestre (ANIRE).

Finalmente o Sr. Cirillo obteve a confirmação que precisava, ou seja, de que havia um fundamento científico a ser observado, mas a fonte das informações necessárias seria encontrada somente na Europa. Então em 1988, após viagens de estudos por vários países europeus e um trabalho que contou com a colaboração de diversas pessoas, dentre elas do General Carracho, outro importante aliado da vinda da Equoterapia para o Brasil, formulou-se uma estratégia de implantação e institucionalização das práticas terapêuticas feitas com o cavalo e a cavalo, dentro de uma doutrina nacional brasileira. Dos estudos decorrentes dessas viagens à Itália, Suíça, França e Inglaterra, concluiu-se que seria conveniente a criação de uma associação de abrangência nacional e de uma palavra peculiar, fora da influência estrangeira, que englobasse todos os conceitos de reabilitação e educação feitos com o cavalo.

O primeiro passo foi a criação da Associação Nacional de Equoterapia (ANDE-BRASIL), em 10 de maio de 1989 e a denominação da prática como Equoterapia.

A Equoterapia do Brasil teve grande influência da ANIRE e da Dra. Danielle Citterio, inclusive participando como palestrante no primeiro curso de formação em Equoterapia no Brasil. Em abril de 2012 foi convidada para vir ao Brasil, participando do “I Workshop Internacional de Equoterapia Caballiana”, evento realizado dentro da Feira Caballiana, onde multiplicou seus conhecimentos e atualizações com apoio da ANDE BRASIL e Instituto Passo a Passo.

Atualmente, a equoterapia é realizada em locais em que se possa oferecer uma estrutura para o trabalho com cavalos, constituídos de pistas, cocheiras, baias e piquetes (pasto). Hoje, o Brasil possui 284 centros de Equoterapia agregados ou filiados à ANDE-BRASIL, sendo a maioria localizada na região sudeste do país.


A maior concentração está no Estado de São Paulo, onde encontramos alguns centros de referência da prática, e dentre eles, o Instituto Passo a Passo que fica na cidade de Itatiba e atende gratuitamente 96 praticantes com as mais diversas necessidades.

A Equoterapia promove benefícios físicos, cognitivos, emocionais e comportamentais. É indicada no tratamento de pessoas com comprometimentos físicos, alterações emocionais e/ou de aprendizagem.

A inserção na Equoterapia varia de acordo com a demanda de cada praticante, e esta pode ser realizada através de encaminhamentos médicos e de outros profissionais da saúde e educação, tais como fonoaudiólogos, psicólogos, pedagogos, terapeutas ocupacionais e educadores físicos, entre outros. Porém, o início do tratamento somente pode ocorrer com a autorização médica.

Inicialmente é realizada uma entrevista com os pais ou responsáveis, para identificar a queixa e a área de maior necessidade do praticante (motora, emocional ou aprendizagem). Após a entrevista, é realizada uma avaliação com o praticante para verificar em detalhes suas dificuldades e assim estabelecer o melhor programa de atendimento. Os atendimentos ocorrem uma vez por semana, geralmente com duração de 1 hora, mas cada sessão de Equoterapia pode variar de 30 a 60 minutos, dependendo do programa onde o praticante será inserido.

Os praticantes são avaliados a cada semestre para verificar a evolução, e a alta dependerá da enfermidade instalada, cabendo a cada profissional determinar o término ou continuação do tratamento. Geralmente o tempo de dois anos é suficiente para o praticante demonstrar avanços significativos no seu desenvolvimento.

O responsável pela mediação entre praticante e cavalo é o equoterapeuta, portanto é necessário que este proporcione uma relação saudável e sem riscos para ambos. A Equoterapia, diferente dos atendimentos em consultório, é realizada em um ambiente aberto e envolve a relação com animais. Portanto, é importante estar sempre muito atento em relação aos estímulos ambientais, vestimentas, acessórios e equipamentos de montaria, para que estes não interfiram no comportamento do cavalo e não o assustem, colocando o praticante em risco. Também devem ser observadas as reações do praticante (medo, euforia, ansiedade, etc.), e as reações do cavalo, além de estar atento com os equipamentos de segurança.

Devemos salientar um aspecto fundamental, a formação deste equoterapeuta. Este profissional deve ter curso superior nas áreas da saúde ou educação, ter a formação básica mínima em Equoterapia, que hoje é recomendada entre 80 a 200 horas de formação e aprimoramento, incluindo curso básico, avançado e de aprimoramentos, além de ter experiência profissional no atendimento equoterápico, e experiência de, no mínimo, um ano em Equitação e Etologia Equina.

Existem alguns locais de referência para a formação de profissionais no Brasil. Dentre eles podemos citar a ANDE-BRASIL, que possui os cursos de formação e aprimoramento, e o Instituto Passo a Passo, que também realiza o curso básico de Equoterapia, dentre outros diversos cursos de aprimoramento. Todos eles são apoiados pela ANDE-BRASIL. Ademais, o Instituto Passo a Passo foi o primeiro centro de Equoterapia do Brasil a citar o tripé fundamental para a sua sustentabilidade: Aspectos terapêuticos X cavalo X gestão. Toda prática do Instituto Passo a Passo se baseia em atingir a excelência deste tripé.




Profa. Dra. Raquel Yvonne Arantes Baccarin Departamento de Clínica Médica
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – USP
Claudia da Costa Mota
Fonoaudióloga, Psicodramatista
Gestora do Instituto Passo a Passo – diretoria@passoapasso.org.br



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