Conviver com animais de estimação traz benefícios importantes para as pessoas em muitos níveis e os veterinários, nas suas consultas, podem ver diariamente a profunda interação entre as pessoas e os animais.
Mas também há uma grande ignorância da verdadeira natureza dos animais que vivem conosco produzindo problemas de adaptação e de condutas inadequadas que causam o abandono ou até o sacrifício de muitos desses animais de companhia.
Desde 2005, o nosso trabalho no projeto "tan amigos" está consubstanciado na utilização de cães procedentes de abrigos (abandonados por diversas razões) para dar assistência em vários centros e residências a enfermos acometidos com paralisia cerebral, autismo, doença de Alzheimer, demência senil ou em programas de atendimento a deficiência física ou mental, ou de educação em escolas regulares sobre a posse responsável de animais.
Zooterapia é a técnica baseada na estimulação por animais, principalmente cães, mas também, gatos, cavalos, golfinhos, cobaias, aves etc, a fim de facilitar tanto a aprendizagem, o correto diagnóstico , como a adaptação de pacientes com capacidades diferentes, idosos e pessoas com distúrbios emocionais.
O objetivo principal é que o animal (no nosso caso, exclusivamente o cão) sirva como um elo entre o terapeuta e o paciente.
Devido a essa ampla gama de aplicações no projeto "tan amigos" podemos distinguir:
Educação Assistida por Animal (EAA )
Atividades escolares, cuja finalidade é a aproximação de animais de estimação com crianças jovens para fins educacionais e de sensibilização. Estas atividades são executadas com o apoio dos professores da escola (pode ser de ensino regular ou especial) e o pessoal do projeto “tan amigos”.
Terapia Assistida por Animais (TAATAA )
São intervenções em que um animal é incorporado como parte integrante do processo de tratamento, com o objetivo direto de promover a melhora das funções física, psicossocial e/ou cognitiva das pessoas tratadas. São lideradas por um especialista em TAA e desenvolvidas por uma equipe interdisciplinar.
A TAA pode ser direcionada para uma ampla gama de usuários: afetados pelo autismo, paralisia cerebral, depressão, problemas de comportamento, etc.
Qualquer interação com os animais pode ser desenvolvida em uma grande variedade de ambientes, de acordo com os requisitos das patologias, e pode ser realizada individualmente ou em grupos.
Deve haver um estudo preliminar de viabilidade do projeto, e também uma fase de adaptação de todos os participantes (guia do cão, paciente) antes de definir metas para cada indivíduo ou sessão.
Para ser considerado como terapia, o trabalho deve ser cuidadosamente documentado tanto em termos de definição de objetivos quanto de sua avaliação correspondente.
Por causa dessas exigências, qualquer pessoa que esteja trabalhando com um cão não pode ser chamada de "terapeuta", nem qualquer interação entre o cão e os pacientes deve ser considerada "terapia", porque a TAA é o resultado do trabalho de uma equipe interdisciplinar na qual o cão vai ser a ferramenta fundamental para a obtenção de objetivos.
No caso da TAA, o animal “co-terapeuta” deve seguir critérios veterinários específicos, pois é uma parte essencial do progresso terapêutico.
A metodologia utilizada neste tipo de interação depende sempre do perfil dos usuários a quem ela é dirigida. No âmbito do projeto "tan amigos", podemos distinguir dois tipos de aplicação: um programa de estimulação e um programa relacional.
Programa de estimulação
O cão e o seu guia interagem para produzir um estímulo primário na pessoa. Para que possa ser atribuído ao cão um programa dessa natureza, ele deve ser:
• Especialmente selecionado
• Treinado especificamente de forma contínua
O guia funciona com o cão que é convidado para realizar uma ação específica para alcançar uma estimulação adequada: ruído, tato, movimento, etc.
O grupo de pacientes, para os quais este programa é normalmente direcionado, é composto por pacientes com déficits físicos e cognitivos elevados e, nestes casos, os responsáveis pelo programa tem papel de observadores para quantificar pequenas mudanças que possam ocorrer durante a interação.
Programa relacional
O cão atua como um intermediário e permite que “coisas aconteçam” mas que normalmente não aconteceriam em outros ambientes. O guia interagirá com o paciente e este, por sua vez, com o cão especificamente selecionado pelas suas características. O treinamento do cão será contínuo e trabalhado em conjunto com os usuários.
Para os participantes com menores deficiências físicas e/ou cognitivas, mas onde se deve intervir em seus déficits psiquiátricos ou mentais, o programa proporcionará a internalização das normas, o aumento da auto-estima e das habilidades sociais, graças ao aprendizado por reforço positivo representado pelo próprio animal. Ou seja, os usuários treinam os cães e por sua vez os pacientes aprendem as normas e os padrões de comportamento que não ocorreriam em outro ambiente. Isto seria difícil ou não ocorreria sem esta ajuda que é a maximização da comunicação e motivação que surgem no contato direto com os cães participantes.
Conclusões
Na nossa experiência desenvolvida após várias interações, é a de que se produz uma série de reações causadas pelo papel do cão como “co-terapeuta”:
Aumento da empatia
A maioria das pessoas (especialmente crianças) se identificam com os animais. É mais fácil ensinar uma criança a sentir empatia por um animal do que por um ser humano. Isto pode ser explicado porque é mais fácil determinar os sentimentos de um animal através da sua linguagem corporal do que em uma pessoa.
Facilidade para provocar momentos de entretenimento e jogos
A presença e a observação do cão oferecem diversão e alegria. Mesmo aqueles que não gostam muito de animais, observam suas reações e jogos. Especialmente em casas residenciais ou retiros de idosos, onde a pessoa permanece por longos períodos de tempo, o cão dinamiza as reuniões e fornece um contexto de domesticidade em um ambiente que, às vezes, pode parecer hostil, o que inclui os membros da equipe, que também desfrutam de momentos únicos em contextos nos quais geralmente não ocorrem eventos inesperados e agradáveis.
Estimulação mental
Ao aumentar o desejo de comunicação, estimula-se a capacidade mnemônica, a memória recente e a memória remota, pode-se tirar proveito desses momentos de lucidez para trabalhar a estimulação cognitiva que ajuda a preservar as suas habilidades e sua localização no tempo e no espaço, etc.
Oaumento da sensação de ser aceito e pertencer a um grupo
Cães aceitam as pessoas sem reservas. Sua linguagem corporal é simples de entender e não muda. Os participantes das terapias sabem o que esperar da atitude de seus cães, de sua alegria, carinho, disposição ao contato físico, de suas habilidades…
Enquanto isso, os cães não perguntam, nem julgam, devem ser apenas escovados, acariciados e recompensados.
Melhoria das relações interpessoais
Diminui o sentimento de isolamento e temos visto também ao longo das nossas sessões, que se abre um canal de comunicação emocionalmente seguro entre o terapeuta e o usuário. Cães ajudam-nos a dar um ar de interação de segurança emocional. Sua presença permite alterações, desde a resistência inicial por parte do paciente, seguido pela busca de contato com o cão, até a generalização do comportamento fora das sessões, devido à alta motivação que há para que eles continuem no programa.
A presença deles aumenta a sociabilidade entre as pessoas:
1 entre os pacientes,
2 entre os pacientes e a equipe de trabalho,
3 entre pacientes, funcionários, familiares e outros.
Mudança de percepção de sua situação
Os cães ajudam as pessoas com déficit mental, que têm baixa auto-estima, depressão, etc., a mudar o foco de seu ambiente, obtendo conversas neutras, ou seja, essas pessoas pensam e falam dos animais, ao invés dos seus problemas.
Atualmente, o projeto "tan amigos", com os seus quatorze cães, atende mensalmente a vinte centros. Os cães estão presentes em todos os tipos de enfermidades e deficiências, de modo que parte do sucesso do trabalho com as pessoas também depende da seleção adequada do cão que será usado para cada interação.
Portanto, a recuperação de cães adultos, de qualquer raça ou tamanho, nos permite uma grande adaptação a diferentes contextos e indivíduos. Pode-se fazer uma interação bem-sucedida de uma criança de um ano com deficiência grave, um adulto com problemas de comportamento e controle de impulsos ou uma idosa com demência avançada e sua consequente fragilidade.
Observa-se que essas variações na morfologia e cores dos cães, também é um ponto positivo no desenvolvimento das sessões, e permite que os usuários expressem suas preferências ou rejeitem o que os assusta.
Em conclusão, a motivação faz com que a interação com nossos cães permita a iniciativa da escolha e o trabalho coletivo para aqueles para os quais é quase impossível fazer isto no seu dia a dia, além de propiciar, em todos os momentos, melhoria em seu bem-estar físico e mental, dentro das possibilidades individuais e das melhorias generalizadas em sua vida diária.
Alexia Falcó Santamaría
Médica Veterinária – Diretora Técnica do Projeto "tan amigos"
e-mail :alexiafalco@tanamigos.es
site: http://www.youtube.com/user/proyectotanamigos
Artigo fornecido por Prof.Dr.Carlos Eduardo Larsson – CRMV SP 1037
e-mail: larsderm@hotmail.com
Tradução: Alexandre Develey – CRMV SP 203
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