Cães têm autoconsciência? Muitos acreditam que sim, mas a ciência até agora não tinha conseguido provar isso.
Um novo estudo da Tomsk State University, na Rússia, reclama ter demonstrado, no entanto, que cães – e provavelmente muitos outros animais – possuem uma ideia de si mesmos e sabem se reconhecer.
Os resultados foram publicados na revista Ethology, Ecology and Evolution.
Teste do espelho cheiro
A autoconsciência tem sido estudada principalmente através da análise das respostas de animais e crianças a seus reflexos no espelho. A prova final de consciência do seu próprio corpo e identidade é avaliada com base na capacidade do indivíduo de perceber seu reflexo e tocar uma marca (geralmente um ponto vermelho, aplicado sob anestesia) em seu próprio corpo.
Este teste é conhecido como “teste do espelho”. Seres humanos e chipanzés, por exemplo, são notórios por passarem neste teste.
Muitos cientistas, no entanto, não acham que esse teste seja infalível, ou mesmo seja uma boa prova de autoconsciência para todos os animais. “A capacidade de reconhecer a sua própria imagem no espelho é extremamente rara no reino animal”, disse Roberto Cazzolla Gatti, autor do novo estudo. “Até agora, somente os seres humanos e os grandes símios (exceto gorilas), um único elefante asiático, alguns golfinhos, pegas (aves) e algumas formigas passaram no teste do espelho. Uma grande variedade de espécies falha no teste, incluindo várias espécies de macacos, pandas e leões-marinhos”.
Cães, em particular, não mostram nenhum interesse em se olhar no espelho (se você tem um, sabe muito bem disso). Porém, esses animais, como os lobos e os golfinhos, têm um alto nível de complexidade cognitiva. “Eu acredito que, porque os cães são muito menos sensíveis a estímulos visuais do que, por exemplo, seres humanos e muitos macacos, é provável que a falha desta e de outras espécies no teste do espelho é devido principalmente à modalidade sensorial escolhida pelo investigador para testar a autoconsciência e não, necessariamente, à ausência dela”, explicou Gatti.
A pesquisa
Gatti criou um novo teste para ir além da versão do espelho, usando outro sentido dos cães que eles preferem muito mais: o olfato.
A pesquisa foi realizada com quatro cães, todos vira-latas de rua. Gatti coletou amostras de urina de cada cão e as armazenou em recipientes específicos. Em seguida, realizou quatro testes com os animais, no início de cada estação do ano.
O teste consistiu de apresentar aos cães cerca de cinco amostras contendo o aroma de urina de cada um dos quatro animais e uma em branco, com algodão inodoro. Eles podiam se mover livremente por cinco minutos, e o tempo levado por cada cão para farejar cada amostra foi registado.
O resultado foi surpreendente: todos os cães dedicaram mais tempo para cheirar as amostras de urina dos outros do que a sua própria, e este comportamento confirmou a hipótese de que os cães parecem conhecer o seu próprio cheiro exatamente e são, portanto, autoconscientes.
Mudança de paradigma
O estudo mostrou ainda uma correlação entre a idade dos cães e o tempo gasto cheirando as amostras de urina, um resultado que apoia firmemente a ideia de que o autoconhecimento aumenta com a idade, como demonstrado em outras espécies, como chimpanzés e humanos (um adulto tem uma melhor ideia de si mesmo do que um bebê).
A abordagem inovadora usada para testar a autoconsciência de um animal destacou a necessidade de mudar o paradigma antropocêntrico do teste do espelho para uma perspectiva mais específica para cada espécie.
Os resultados são uma forte evidência empírica de que outros animais podem ser testados para a autoconsciência usando percepção auditiva ou olfativa.
Quando a autoconsciência é comprovada, outros traços comportamentais podem ser deduzidos, como a empatia. A capacidade de diferenciar-se dos outros é muitas vezes considerada um pré-requisito para a compreensão de que alguém pode estar feliz ou triste, por exemplo.
Quem possui um cão como animal de estimação diria sem sombra de dúvidas que seus bichinhos sabem reconhecer emoções – e também as sentem.
Fonte:
[Phys]
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