Hemocentro de São Paulo usará teste desenvolvido com apoio da
FAPESP para triar bolsas destinadas a gestantes e a transfusões
intrauterinas (foto: Wikimedia Commons)
Karina Toledo | Agência FAPESP
Um método para detectar a presença do vírus Zika no sangue usado em transfusões foi desenvolvido no âmbito de um projeto apoiado pela FAPESP e coordenado por José Eduardo Levi, chefe do Departamento de Biologia Molecular da Fundação Pró-Sangue/Hemocentro de São Paulo – instituição ligada à Secretaria de Estado da Saúde e à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
De acordo com o pesquisador, inicialmente, a metodologia seria indicada apenas para a triagem de bolsas de sangue destinadas a gestantes ou a transfusões intrauterinas (nas quais o sangue é transfundido diretamente no feto). A iniciativa é medida de precaução, já que não existe confirmação de que a transmissão transfusional do vírus represente risco ao feto.
“No caso do Zika, a grande preocupação é com grávidas e fetos. Achamos que não seria boa ideia, nesses casos, usar sangue com risco de ter o vírus. Nossa proposta foi fazer um teste para ser usado em um pequeno número de bolsas de sangue – 0,16% do estoque do banco de sangue – destinado a esse público-alvo. Pretendemos começar a aplicar o teste no Hemocentro de São Paulo logo após o Carnaval”, afirmou.
Desde o início da epidemia de Zika no Brasil, em 2015, pelo menos dois casos de transmissão por meio de transfusão sanguínea foram confirmados no Hemocentro da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), interior de São Paulo.
Em relação à dengue, já é conhecida a possibilidade de ocorrer transmissão transfusional. Segundo Levi, estima-se que até 1% dos doadores de sangue – nos períodos de pico epidêmico – sejam positivos para o vírus da dengue no momento da doação, mas não é feita nenhum tipo de triagem laboratorial.
“Isso nunca foi considerado um problema, pois, na maioria das vezes, o receptor do sangue nem sequer chega a desenvolver a doença. No Brasil, nunca foi detectado um caso grave de dengue transfusional. Esse primeiro receptor contaminado com Zika em Campinas também não apresentou sintomas da doença, embora tenha sido confirmada a presença do vírus em seu sangue (o segundo paciente morreu em decorrência dos ferimentos por arma de fogo que levaram à necessidade de transfusão). De maneira geral, ainda não há evidências de que o vírus Zika seja algo problemático do ponto de vista transfusional, com exceção das grávidas”, explicou o pesquisador. "Não temos evidência, por exemplo, de que o Zika adquirido pela via transfusional possa causar microcefalia, mas acreditamos que exista uma alta probabilidade de que isso ocorra."
Levi também é professor do Instituto de Medicina Tropical da USP e integra a chamada Rede Zika – grupo articulado de maneira emergencial no último mês de dezembro, sob a coordenação do professor Paolo Zanotto, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, para tratar de questões relacionadas à epidemia de Zika e aos crescentes casos de microcefalia associados.
“Já estava em andamento um projeto, apoiado pela FAPESP, dedicado à prevenção da transmissão transfusional da malária no Estado de São Paulo. Em dezembro, solicitamos um recurso adicional que foi usado no desenvolvimento do teste para detectar o vírus Zika”, contou Levi.
A metodologia alia um método de biologia molecular conhecido como PCR (reação em cadeia da polimerase) em tempo real a protocolos desenvolvidos no Centro de Controle de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, para detecção do vírus Zika.
“O protocolo do CDC sugere alguns reagentes específicos, primers e sondas, já testados e aprovados para detecção do vírus Zika usando PCR em tempo real. Fizemos algumas adaptações nesse protocolo aqui no Hemocentro de São Paulo”, contou.
A validação do método foi feita com controles positivos (isolados do vírus cultivados em laboratório que servem para confirmar se o que está sendo detectado é de fato o vírus Zika) fornecidos por pesquisadores da Rede Zika.
“Depois validamos também no plasma do receptor contaminado por transfusão – gentilmente cedido pelo dr. Marcelo Addas, do Hemocentro da Unicamp. Como obtivemos sucesso, já distribuímos o método para a Rede Zika, para quem quiser usar”, contou Levi.
Diante da falta de evidências sobre a importância de triar todo o sangue doado para a presença do vírus Zika, avaliou Levi, não haveria possibilidade e/ou necessidade de incluir o teste na rotina de todos os bancos de sangue do país. “Estamos observando atentamente a evolução dos casos e, se forem surgindo evidências de que isso é necessário, vamos batalhar para obter mais recursos. Por enquanto o que entendemos prudente é triar apenas essa pequena parcela”, avaliou.
Fonte:
Karina Toledo | Agência FAPESP
Um método para detectar a presença do vírus Zika no sangue usado em transfusões foi desenvolvido no âmbito de um projeto apoiado pela FAPESP e coordenado por José Eduardo Levi, chefe do Departamento de Biologia Molecular da Fundação Pró-Sangue/Hemocentro de São Paulo – instituição ligada à Secretaria de Estado da Saúde e à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
De acordo com o pesquisador, inicialmente, a metodologia seria indicada apenas para a triagem de bolsas de sangue destinadas a gestantes ou a transfusões intrauterinas (nas quais o sangue é transfundido diretamente no feto). A iniciativa é medida de precaução, já que não existe confirmação de que a transmissão transfusional do vírus represente risco ao feto.
“No caso do Zika, a grande preocupação é com grávidas e fetos. Achamos que não seria boa ideia, nesses casos, usar sangue com risco de ter o vírus. Nossa proposta foi fazer um teste para ser usado em um pequeno número de bolsas de sangue – 0,16% do estoque do banco de sangue – destinado a esse público-alvo. Pretendemos começar a aplicar o teste no Hemocentro de São Paulo logo após o Carnaval”, afirmou.
Desde o início da epidemia de Zika no Brasil, em 2015, pelo menos dois casos de transmissão por meio de transfusão sanguínea foram confirmados no Hemocentro da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), interior de São Paulo.
Em relação à dengue, já é conhecida a possibilidade de ocorrer transmissão transfusional. Segundo Levi, estima-se que até 1% dos doadores de sangue – nos períodos de pico epidêmico – sejam positivos para o vírus da dengue no momento da doação, mas não é feita nenhum tipo de triagem laboratorial.
“Isso nunca foi considerado um problema, pois, na maioria das vezes, o receptor do sangue nem sequer chega a desenvolver a doença. No Brasil, nunca foi detectado um caso grave de dengue transfusional. Esse primeiro receptor contaminado com Zika em Campinas também não apresentou sintomas da doença, embora tenha sido confirmada a presença do vírus em seu sangue (o segundo paciente morreu em decorrência dos ferimentos por arma de fogo que levaram à necessidade de transfusão). De maneira geral, ainda não há evidências de que o vírus Zika seja algo problemático do ponto de vista transfusional, com exceção das grávidas”, explicou o pesquisador. "Não temos evidência, por exemplo, de que o Zika adquirido pela via transfusional possa causar microcefalia, mas acreditamos que exista uma alta probabilidade de que isso ocorra."
Levi também é professor do Instituto de Medicina Tropical da USP e integra a chamada Rede Zika – grupo articulado de maneira emergencial no último mês de dezembro, sob a coordenação do professor Paolo Zanotto, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, para tratar de questões relacionadas à epidemia de Zika e aos crescentes casos de microcefalia associados.
“Já estava em andamento um projeto, apoiado pela FAPESP, dedicado à prevenção da transmissão transfusional da malária no Estado de São Paulo. Em dezembro, solicitamos um recurso adicional que foi usado no desenvolvimento do teste para detectar o vírus Zika”, contou Levi.
A metodologia alia um método de biologia molecular conhecido como PCR (reação em cadeia da polimerase) em tempo real a protocolos desenvolvidos no Centro de Controle de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, para detecção do vírus Zika.
“O protocolo do CDC sugere alguns reagentes específicos, primers e sondas, já testados e aprovados para detecção do vírus Zika usando PCR em tempo real. Fizemos algumas adaptações nesse protocolo aqui no Hemocentro de São Paulo”, contou.
A validação do método foi feita com controles positivos (isolados do vírus cultivados em laboratório que servem para confirmar se o que está sendo detectado é de fato o vírus Zika) fornecidos por pesquisadores da Rede Zika.
“Depois validamos também no plasma do receptor contaminado por transfusão – gentilmente cedido pelo dr. Marcelo Addas, do Hemocentro da Unicamp. Como obtivemos sucesso, já distribuímos o método para a Rede Zika, para quem quiser usar”, contou Levi.
Diante da falta de evidências sobre a importância de triar todo o sangue doado para a presença do vírus Zika, avaliou Levi, não haveria possibilidade e/ou necessidade de incluir o teste na rotina de todos os bancos de sangue do país. “Estamos observando atentamente a evolução dos casos e, se forem surgindo evidências de que isso é necessário, vamos batalhar para obter mais recursos. Por enquanto o que entendemos prudente é triar apenas essa pequena parcela”, avaliou.
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