Em tempos de epidemia de dengue e surtos de novas doenças, como zika vírus e febre chikungunya as ações de combate ao Aedes aegypti, vetor das três doenças, têm se intensificado. Com o início do verão, o período de chuvas provoca uma maior proliferação do mosquito, que é considerado atualmente um dos principais problemas de Saúde Pública no Brasil.
Segundo o Ministério da Saúde, em 2015 houve o registro de mais de 1,6 milhão de casos prováveis de dengue no país, número recorde em 25 anos. O estudo do Ministério da Saúde também apontou 863 vítimas da doença.
No mesmo ano, foram registrados 20.661 casos de febre chikungunya no país e, até o dia 9 de janeiro de 2016, 3.530 casos suspeitos de microcefalia relacionados ao zika vírus.
Apesar dos esforços, o mosquito tem se dispersado ainda mais pelo país, seja pela facilidade de reprodução do vetor, seja pela urbanização, infraestrutura inadequada e pelas condições ambientais. A demanda crescente ampliou a necessidade de profissionais da saúde atuando no combate e prevenção do vetor, o que inclui o aumento de médicos veterinários dentro das secretarias de saúde municipais e estaduais nos últimos anos.
“Cada vez mais gestores públicos demandam um profissional como o médico veterinário, que conheça a dinâmica bioecológica do Aedes aegypti e as medidas de controle vetorial”, afirma o integrante da Comissão Nacional de Saúde Pública Veterinária do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CNSPV/CFMV), Fred Monteiro, que também é responsável pelo Laboratório de Entomologia Médica do Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) de Amapá (AP).
No Pará, por exemplo, são 60 profissionais atuantes na Secretaria de Estado de Saúde Pública. Na Bahia, 47 médicos veterinários compõem o quadro atual da Secretaria do Estado. Já na Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, são 19 médicos veterinários ativos e 36 médicos veterinários especialistas em políticas e gestão da saúde.
No Ceará há registros de casos de dengue desde a década de 80. O estado possui condições favoráveis ao desenvolvimento do Aedes aegypti por conta das altas temperaturas. Atualmente, cerca de 30 médicos veterinários atuam direta ou indiretamente com ações de vigilância em saúde na Secretaria da Saúde do estado, de acordo com o coordenador de Promoção e Proteção à Saúde da Secretaria e médico veterinário, Márcio Garcia.
Em sua visão, o conhecimento sobre a história natural da doença e as características do agente etiológico, vetor, hospedeiro e meio ambiente colaboram para o trabalho do médico veterinário no combate ao Aedes aegypti. Outro ponto de destaque é a epidemiologia, ciência que estuda os eventos de saúde em uma determinada população.
“Para o médico veterinário ou qualquer outro profissional que queira atuar na saúde pública é indispensável o raciocínio epidemiológico. Precisamos fazer uma saúde baseada em evidências e a epidemiologia nos dará essas evidências para nortear o planejamento e desenvolvimento das ações”, afirma Garcia.
Além disso, ele destaca competências humanísticas necessárias à atuação do médico veterinário nesse campo, como a capacidade de trabalhar em grupo, a iniciativa, a humildade e a liderança.
Atuação integrada
A atuação do médico veterinário está diretamente ligada às ações preventivas das doenças, e incluem o planejamento, coordenação e orientação nas estratégias adotadas como medidas de controle. A prevenção ou redução da transmissão dos vírus da dengue, zika e chikungunya dependem inteiramente do controle do mosquito vetor ou da interrupção do contato humano com o vetor.
“O médico veterinário também pode atuar na identificação do mosquito, tanto na forma alada, quanto imatura, e realizar o monitoramento da dispersão e densidade do mosquito”, explica Fred Monteiro.
No combate ao Aedes aegypti, o profissional trabalha de forma integrada, em conjunto com outras áreas da Saúde. “A prevenção e o controle das doenças transmitidas pelo mosquito envolve um trabalho conjunto, que além das ações governamentais deve contar com a participação popular, imprescindível para o sucesso do programa”, diz o integrante da CNSPV/CFMV.
Márcio Garcia também acredita que a multidisciplinaridade e a intersetorialidade são fundamentais para o desenvolvimento de um trabalho de qualidade ao se falar de vigilância em saúde. “É necessário pensar e agir na lógica de uma Saúde Única, identificando interfaces entre a saúde humana e animal, e levando em considerações todas as questões do meio ambiente”, afirma.
Os médicos veterinários inseridos nos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (Nasf) também podem trabalhar na atenção básica e fornecer orientações de medidas de controle e de educação em saúde. Durante visitas domiciliares em busca do foco do Aedes aegypti ou em monitoramentos por meio de armadilhas, os profissionais têm contatos mais próximos com a população.
“Nesses momentos são repassadas medidas de controle para evitar a proliferação do mosquito e ações de prevenção para reduzir o contato com o vetor”, explica Fred Monteiro.
Medidas importantes
Estima-se que em torno de 2/3 ou mais dos focos de Aedes aegypti estejam dentro dos domicílios. O diálogo e as orientações para a população são, portanto, fundamentais para que o indivíduo entenda seu papel e pratique o combate ao mosquito na sua rotina.
“Um trabalho de inspeção e eliminação de focos de Aedes aegypti, em cada domicílio, uma vez por semana, é suficiente para manter o espaço livre do mosquito”, afirma Márcio Garcia. Segundo ele, o maior desafio é reforçar as ações que evitem que o mosquito nasça.
Em nota, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, também reforçou a importância de um combate coletivo ao Aedes. “É preciso que todos se mobilizem. É muito importante verificar sempre o adequado armazenamento de água em suas casas, o acondicionamento do lixo e eliminação de todos os recipientes sem uso”, afirmou.
Saiba que fazer:
- - Elimine locais com acúmulo de água e lixo, propícios à reprodução do mosquito. Alguns exemplos são vasos de plantas, lixo e garrafas pet.
- - Nas áreas rurais, fique atento a locais usados para armazenar grãos.
- - Limpe sua residência semanalmente.
- - Aplique repelentes na pele exposta ou nas roupas.
- - Use mosquiteiros.
- - Em ambientes fechados, recomenda-se o uso de inseticidas. Telas em janelas e portas também podem reduzir as picadas.
- - Quando um foco do mosquito é detectado e não pode ser eliminado pelos moradores do local, acione a Secretaria Municipal de Saúde do local.
A CNSPV/CFMV publicará um artigo na próxima edição da Revista CFMV (nº 68), sobre o papel do médico veterinário no controle do Aedes aegypti.
Assessoria de Comunicação do CFMV com informações do Ministério da Saúde
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