Diretora da Sanofi Pasteur fala sobre doses necessárias, contraindicações e previsão de chegada ao mercado do novo medicamento
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou nesta segunda-feira (28) a primeira vacina contra a dengue no Brasil. A vacina, produzida pela empresa francesa Sanofi Pasteur, promete reduzir em até 93% os casos graves da dengue
– aqueles que podem levar à hospitalização ou ao óbito. Sheila Homsani,
diretora médica da Sanofi Pasteur, conversou com a reportagem de ÉPOCA e
explicou como funciona a vacina. Serão três doses, uma a cada seis
meses, para imunizar os pacientes. Segundo ela, a vacina é uma
importante ferramenta para controlar a doença, mas isso não significa
que a população deve se descuidar da prevenção – continua sendo
importante não deixar água parada e eliminar os criadouros do Aedes aegypti. "É importante mostrar para as pessoas que a vacina não vai resolver o problema sozinha", afirma Sheila.
ÉPOCA - A gente pode considerar que a vacina é completamente segura? Existe contraindicação?
Sheila Homsani - É uma vacina segura, tanto é que a Anvisa aprovou. Mas ela é contraindicada para menores de nove anos e não pode ser usada por gestantes, porque é de vírus vivo atenuado. É como a vacina de rubéola, que também não é indicada para gestantes. Pacientes imunodeprimidos, como os de HIV positivo, também não podem. Essas são as contraindicações. Para os outros casos, é uma vacina muito segura.
ÉPOCA - O que é uma vacina de vírus vivo atenuado?
Sheila Homsani - A vacina é feita com o vírus vivo da doença, mas a gente atenua, enfraquece esse vírus. Ele fica tão fraco que não pode causar a doença, mas permite que o nosso sistema imunológico reconheça a forma dele, o genoma. Com isso, cada vez que o vírus entrar em contato com o organismo, nosso organismo já sabe como ele é e já produz os anticorpos.
ÉPOCA - Como essa vacina será aplicada?
Sheila Homsani - É uma injeção. São aplicadas três doses, uma a cada seis meses. A partir da primeira dose ela já faz efeito, mas são necessárias três para que ela tenha um equlíbrio e uma boa proteção contra os quatro tipos de vírus de dengue que existem e para a proteção ser duradoura. Até agora a gente não observou a necessidade de mais doses de reforço. Então, são três doses para a vida inteira. Pode ser que, no futuro, a gente observe na prática que precise de mais alguma dose. Em princípio, não. Para toda vacina nova é assim, tem de ir observando.
ÉPOCA - E se o paciente tomar essas três doses, ele estará protegido dos quatro tipos de dengue?
Sheila Homsani - Ela protege contra os quatro vírus. A eficácia geral dela é em torno de 66%. A proteção contra o Tipo 4 é de 83%, contra o Tipo 3 é de 73%, contra o Tipo 1, 58% e contra o Tipo 2, 47%. Os quatro tipos podem causar a versão grave da dengue, mas a vacina protege 93% das formas graves, o que é muito bom. São aqueles casos que levam à hospitalização, ao óbito. Então, esse tumulto que existe hoje nos corredores dos hospitais, com pessoas em casos graves morrendo, isso não aconteceria mais.
ÉPOCA - Quando a gente fala que reduz em 93%, isso significa que algumas pessoas, mesmo tomando a vacina, podem ficar doentes.
Sheila Homsani - Pode ocorrer. Nenhuma vacina é 100% eficaz. Mas mesmo nesses casos em que a vacina não conseguiu proteger o paciente, ele vai ter uma dengue leve, será mais fraca.
ÉPOCA - Com essa aprovação da Anvisa, nós já podemos ter uma ideia de quando a vacina estará disponível para os cidadãos?
Sheila Homsani - Agora vai depender da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (órgão da Anvisa). É ela que define o preço. Quando ela fizer isso, a gente traz a vacina para o Brasil. Esse processo em média leva até três meses. É só isso que falta.
ÉPOCA - Estamos com um surto muito grande de dengue aqui no Brasil. Quando a vacina passar por essa última fase, teremos condição de produzir todas as vacinas necessárias?
Sheila Homsani - Nós temos uma fábrica em Neville, na França, com capacidade para produzir 100 milhões de doses, para o mundo inteiro. O que precisamos é saber com antecedência se teremos a vacina no calendário público, para ter as doses necessárias. Precisa ser com antecedência porque leva tempo para produzir essa vacina. Também é importante mostrar para as pessoas que a vacina não vai resolver o problema sozinha. A gente tem de continuar limpando os criadouros, não permitir a água parada. A vacina protege só contra a dengue, não protege contra zika ou chikungunya. Se as pessoas continuarem deixando água nos potinhos, vai continuar proliferando o mosquito. Todo mundo tem de fazer a sua parte.
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