terça-feira, 27 de outubro de 2015

Descoberta da senciência nos animais pode acarretar mudanças na Medicina Veterinária



Um grupo de neurocientistas canadenses resolveu estudar a possibilidade de consciência nos bichos. A partir daí surgiu um novo olhar que merece atenção na Medicina e no mercado veterinário: a senciência dos animais.

O neologismo, que significa ter consciência, emoções e sentimentos, antes não foi pesquisado nos pets em virtude da crença dos cientistas que tinha o córtex cerebral como o grande responsável por tal peculiaridade. Entendia-se que os animais não tinham esta área tão desenvolvida como a do homem, conceito que foi desconstruído, já que eles possuem, sendo assim, seres sencientes. O marco principal para a compreensão da habilidade nos animais foi em dezembro de 2012, através de Conferência Internacional na Universidade de Cambridge, no Reino Unido, quando o pesquisador Philip Low expôs a descoberta.

Todos os mamíferos, aves e outros seres do reino animal, como peixes e moluscos, são dotados destas sensibilidades. As galinhas, por exemplo, são fortes seres sencientes. A revista Scientific American, em abril de 2014, deu destaque ao assunto inusitado. Segundo a publicação, cientistas descobriram que essas aves podem ser dissimuladas, com habilidades de comunicação equivalentes as de alguns primatas e usam sinais sofisticados para transmitir suas intenções.

Por outro lado, a ciência ainda não tem certeza sobre tais sensibilidades em répteis. Mas, segundo o jornalista e disseminador da senciência no Brasil, Gilberto Pinheiro, se as atitudes dos bichos de sangue frio forem observadas, quando tratados com respeito e carinho, os mesmos também são capazes de demonstrar afabilidade. “Com isso, podemos concluir que, empiricamente, os répteis também são dotados de senciência”, aposta o especialista.


Há quem diga que gatos não possuem a mesma ligação sentimental dos cães com os donos. Porém, apesar dos felinos serem reservados, também possuem sentimentos, por isso, são sencientes. Uma história que pode ser considerada como uma prova disso é a do gato Oscar. O felino vive em uma instituição para idosos nos Estados Unidos e, conforme explicou um dos médicos do local, o gato costuma perambular pela clínica e visitar os pacientes que não têm muito tempo de vida. Pelo o que consta, o gato teria acertado em 50 ocasiões, nos últimos cinco anos, pois fazia carinho e ronronava apenas para quem faleceria dias depois, como publicado em portais como Hypescience e Telegraph.

Os animais também sentem alegria e tristeza e podem apresentar as mesmas enfermidades dos humanos, é o caso do processo de depressão. A falta de felicidade pode ter consequências graves e isso justifica quando algum animal que enfrenta a morte de seu tutor falece em seguida

À medida que a sociedade abraça a causa animal por essas e outras peculiaridades, o mercado pet se expande e, segundo Pinheiro, com a divulgação e compreensão da senciência, o setor veterinário enxergará, cada vez mais, a necessidade de alterações e aprimoramentos, assim como já vem ocorrendo aos poucos como, por exemplo, os intensos estudos sobre a palatabilidade dos animais para a produção de medicamentos mais agradáveis a esses paladares

Atualmente, o setor que atende os pets é um dos que mais cresce no mundo, com a produção de rações, alimentos próprios e medicamentos. Segundo Pinheiro, a mídia televisiva também abre espaço para propagandas com animais, pois eles comovem o coração das pessoas. Apenas de uns tempos para cá é que a sociedade mundial vem dando mais atenção aos pets, com ampla atividade de , assunto já tratado pela Cães&Gatos VET FOOD, e a indústria no atendimento a eles se diversificou. Hoje, é possível encontrar inúmeros serviços para saúde e bem-estar dos animais, como colônias de férias, grifes de roupas, comidas especiais, além dos filmes destacando animais como protagonistas, entre outras ações. “É um processo natural que cresce paralelamente ao amor aos animais”, atesta o profissional que entende que a descoberta da senciência nos animais veio para estimular o entendimento dos profissionais da área pet de que as espécies não são apenas constituídas de carne e osso, mas também de consciência, sentimentos e emoções e isso fará com que todo o setor evolua, em prol dos bichos.

Ainda assim, poucos lugares dos quatro cantos do planeta reconhecem a senciência como parte da realidade pet. A França, por exemplo, legitima essa capacidade dos animais e o Código Civil do País tem um capítulo especial, reconhecendo estas peculiaridades. Os Estados Unidos, a Argentina e boa parte do ocidente, principalmente, tem esta consciência em desenvolvimento.

No Brasil, no entanto, o assunto ainda é pouco discutido, divulgado e defendido. Pinheiro, defensor da disciplina ‘Direitos dos Animais’ em séries escolares e também como disciplina propedêutica em cursos superiores, é um dos poucos profissionais que disseminam o tema no País. “No Rio de Janeiro, desenvolvo sozinho este trabalho de conscientização em escolas e universidades. A Secretaria Municipal de Educação também me convidou para conversar e ministrar palestra sobre o respectivo assunto”, relata.

O artigo 32 da lei federal brasileira 9605/98, deixa claro que todo ser humano que maltratar um animal será levado à Justiça caso haja presença de provas documentais, fotografias ou testemunhas, poderá ser condenado por um período de três meses a um ano de reclusão. “Todavia, ninguém vai preso”, pasma Pinheiro.

Para piorar a situação, na visão do profissional, o Código Civil Brasileiro, atualizado em 2002, entende os animais como seres semoventes, ou seja, indivíduos que possuem movimentos próprios e que são considerados patrimônio ou propriedade de alguém. “Cruelmente são entendidos como ‘coisas’, objetos que se movem, uma interpretação inaceitável para os dias de hoje”, avalia.

Para compreender e respeitar os animais de acordo com o que a descoberta propicia hoje, o profissional ainda destaca que é preciso tomar cuidado para não confundir as expressões senciência e sapiência. Senciência tem íntima ligação com consciência, sentimentos e emoções. Já a sapiência significa apenas sabedoria e, por enquanto, não há indícios da existência do saber nos animais conhecidos, até então, como irracionais.
 
Fonte:
http://www.caesegatos.com.br/descoberta-da-senciencia-nos-animais-pode-acarretar-mudancas-na-medicina-veterinaria/
 

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