sábado, 31 de janeiro de 2015

Pancreatite em cães e gatos: Diagnóstico, tratamento e cuidados


O pâncreas é o órgão abdominal responsável pela produção de enzimas que digerem os alimentos previamente à sua absorção; e pela produção da hormona insulina, que regula as concentrações de glucose no sangue e previne Diabetes mellitus. A pancreatite é uma inflamação do pâncreas e desenvolve-se quando as enzimas produzidas e armazenadas no pâncreas se tornam activas e começam a digerir o próprio pâncreas. São vários os factores que podem despoletar esta anormal auto-digestão do pâncreas.

Em seres humanos a pancreatite é mais frequentemente causada por cálculos biliares e consumo excessivo de álcool, factores que não são importantes em cães e gatos. Outras causas de pancreatite incluem vários fármacos e toxinas, condições tais como choque e trauma que afectam o fornecimento de oxigénio ao pâncreas, factores genéticos, factores alimentares, excesso de gordura na circulação sanguínea, e tumores ou parasitas no sistema de ductos pancreáticos. Em vários cães e gatos com pancreatite não se encontra evidência de nenhum destes factores predisponentes, e a causa é desconhecida.

Os sinais clínicos de pancreatite são altamente variáveis, o que provavelmente é o reflexo da grande variação na ativação das enzimas digestivas que podem estar presentes num determinado cão ou gato. Normalmente, o diagnóstico de pancreatite é efectuado com base na história e sinais clínicos (depressão, pouco ou nenhum apetite, e vómitos) e um padrão sugestivo de anormalidades em análises de rotina ao sangue. A confirmação do diagnóstico ( que simultaneamente descarta outras doenças que causam sinais clínicos semelhantes) pode ser difícil e normalmente requer análises de sangue especiais, exame radiográfico e ecografia abdominal, e por vezes exame directo e biópsia do pâncreas através de cirurgia.

Uma vez efetuado o diagnóstico, é importante relembrar que a pancreatite é uma doença altamente imprevisível com vários graus de gravidade, e é difícil ou por vezes até impossível estabelecer um prognóstico. Se a causa subjacente é conhecida e pode ser corrigida (por exemplo, exposição a uma toxina, efeito secundário de um fármaco, ingestão de uma refeição muito rica em gordura), cuidados de suporte e fluidoterapia por alguns dias levam normalmente a uma recuperação completa. Os animais com excesso de peso têm uma maior probabilidade de ter uma pancreatite severa e de ter uma recuperação mais demorada ou até complicações fatais.

A maioria dos cães e gatos com pancreatite sem complicações associadas provavelmente recuperam naturalmente após um único episódio e continuam bem desde que sejam evitados alimentos muito ricos em gordura. Muitos cães recuperam totalmente após um episódio isolado de pancreatite severa. Infelizmente, em alguns animais com pancreatite aguda severa fulminante existem sinais clínicos que podem constituir uma ameaça à vida, podendo levar à morte apesar das medidas de suporte agressivas. Em outros casos, pancreatites relativamente suaves ou moderadas, crónicas ou recorrentes, persistem apesar da terapia, e o animal morre em exacerbação severa aguda da doença ou é eutanasiado devido ao facto de não apresentar melhorias e às despesas dos cuidados de suporte a longo prazo.

Os cuidados especiais normalmente incluem fluidoterapia endovenosa e fornecimento de um bom suporte nutricional através de alimentação por tubo se os vómitos não forem muito severos. Se os vómitos forem severos, pode interromper-se a administração de alimento durante alguns dias numa tentativa de “dar repouso” ao pâncreas. Devido ao facto de o jejum poder não ser bem tolerado, a alimentação endovenosa ou a alimentação através de um tubo colocado no intestino pode ser recomendada a longo prazo (especialmente em gatos).

Apesar de existir muita investigação, não existem medicamentos “mágicos” para o tratamento da pancreatite. Tenta-se remover a causa se esta for conhecida. O objectivo é manter o animal confortável, bem nutrido, e bem hidratado. É importante que os cuidados médicos de suporte sejam agressivos e fazer tudo o que for possível para evitar que o pâncreas comece a digerir-se a si próprio. Em muitos pacientes esta abordagem é bem sucedida, mas não é possível prever que animais irão ficar bem.

Quando os cães e gatos recuperam de uma pancreatite, não é necessário nenhum tratamento especial, a não ser evitar factores de risco conhecidos, particularmente alimentos ricos em gordura e obesidade. Em alguns pacientes (especialmente Schnauzers miniatura) a pancreatite desenvolve-se lentamente, por vezes sem sinais clínicos óbvios, e o pâncreas pode ser destruído gradualmente. Se as células pancreáticas que produzem enzimas digestivas forem destruídas, o animal pode eventualmente necessitar que enzimas especiais sejam adicionadas às refeições, de modo a que a comida seja digerida, prevenindo a perda de peso e diarreia. Se as células pancreáticas que produzem insulina forem destruídas, pode desenvolver-se Diabetes mellitus e pode ser necessária terapia com insulina. Felizmente, estas complicações de pancreatite são raras.


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