Uma pesquisa da Universidade de Salamanca analisou os dados sobre atropelamentos de animais na última década em Castela e Leão, comprovando que aumentaram paulatinamente nos últimos anos e que se concentram em determinados pontos da rede viária, bem como em determinados momentos do ano. A corça, o javali e o cervo são as espécies que protagonizam a maioria das colisões com vertebrados, que aumentam no outono. Apenas 1% das redes viárias da região concentra mais de 20% dos acidentes. Burgos é a província em que estão registrados mais atropelamentos, seguida por Soria, León, Palencia e Zamora, enquanto nas demais províncias o problema é menor.
O trabalho originou a tese doutoral de Víctor Javier Colino Rabanal, intitulada “Contribuições à análise da mortandade de vertebrados em estradas”, que foi orientada por Salvador Peris e Miguel Lizana, professores da área de Zoologia da Universidade de Salamanca. A principal contribuição deste trabalho, segundo explicou a DiCYT seu autor, foi desenvolver uma metodologia que permitiu uma aproximação ao problema, já que uma análise detalhada contribui à busca de soluções.
O fato de que as colisões aumentem no outono parece estar relacionado com o período reprodutivo de espécies como o javali ou o cervo, de modo que estes animais “encontram-se mais ativos”, afirma Víctor Javier Colino, ainda que a época de acasalamento da corça seja a primavera e de que esta seja um dos vertebrados mais envolvidos em acidentes.
Ao entardecer e nas primeiras horas da noite é quando se produzem mais acidentes deste tipo. Ademais, um aspecto que chama a atenção dos pesquisadores é que nas fases da lua cheia também produz-se uma maior concentração de acidentes, quando a lógica leva a pensar o contrário. “Teoricamente, com mais luz vemos antes o animal que cruza e podemos frear”, indica Víctor Colino, mas vendo os resultados parece que outros fatores podem influenciar, como o fato de que esta luminosidade interfira na atividade dos animais ou no nível de prudência dos condutores.
Quanto às regiões nas quais se produzem os atropelamentos, predominam as paisagens em mosaico, ou seja, regiões que combinam distintos tipos de superfície: pastos, florestas, cultivos, etc. Este tipo de lugares variados são ideais para a maior parte da fauna, porque possuem distintos tipos de recursos de água e alimentação.
Regiões cercadas nem sempre funcionam
A tese analisa o caso de alguns animais. Por exemplo, os atropelamentos de lobos estão muito vinculados às variáveis do trânsito e, curiosamente, são mais numerosos em estradas com cercas. “O fato de uma via estar cercada nem sempre impede o acesso de um animal, ainda que a cerca esteja bem desenhada, em muitas ocasiões a execução não é a correta e, uma vez que o animal entra na estrada, tem dificuldade para sair”, comenta o especialista.
Para evitar os atropelamentos podem ser implementadas várias medidas cuja idoneidade depende das circunstâncias concretas de cada lugar. A cerca parcial pode ser uma delas, mas quando se converte em cerca total forma uma barreira que, como no caso do lobo, pode agravar o problema. As passarelas elevadas e submersas podem ser uma boa solução em muitos casos. A sinalização de perigo na estrada pode ser complementada com espelhos e outros dispositivos que refletem a luz dos carros ao campo e dissuadem os animais. Finalmente, é possível recorrer inclusive à alta tecnologia, com sensores de movimento que acendam sinais verticais nas estradas ao detectar animais nas proximidades, já que um dos problemas é que “não respeitamos os sinalização fixa”.
A documentação sobre a qual este trabalho foi realizado procede de acidentes da Guarda Civil e dados da Direção Geral de Trânsito (DGT), do Conselho de Fomento da Junta de Castela e Leão e dos ministérios de Fomento e Meio Ambiente, Meio Rural e Marino. A comunidade registra em média 5.000 atropelamentos por ano. A intensidade do trânsito é uma das variáveis mais importantes para determinar a quantidade de atropelamentos realizados em uma estrada, mas não é possível estabelecer uma correlação direta, já que “existem estradas em que o trânsito é tão intenso que os animais nunca cruzam, de modo a não ocorrer atropelamentos”, indica. Por essa razão, as estradas em que se produzem mais acidentes, além de estar em ambientes naturais com muitos animais, costumam ser as que tem uma densidade média de veículos.
Víctor Colino comenta a aplicação prática deste trabalho, que permite identificar pontos negros e atuar, já que com os dados coletados pôde desenhar mapas que mostram os pontos de maior conflito. No entanto, seria necessário realizar estudos sobre a rentabilidade de tomar certas medidas em alguns lugares, analisando os custos e benefícios, adverte.
Outras espécies
Este trabalho focou-se nos vertebrados, porque os atropelamentos de muitas espécies não são registrados, mas o cientistas sabem que algumas como o porco-espinho sofrem um grande declínio populacional devido a sua morte em estradas. O caso dos anfíbios é especialmente significativo, sobretudo em algumas espécies de sapo que em determinadas épocas do ano migram a açudes e concentram seu deslocamento em poucas noites. Definitivamente, para muitos animais a estrada está sendo convertida na “principal causa de mortandade unida à fragmentação do terreno”.
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