quarta-feira, 11 de maio de 2016

Toxoplasmose - Sintomas, diagnóstico, prevenção e tratamento


A toxoplasmose é uma doença infecciosa causada por um parasita, Toxoplasma gondii, muito comum no meio ambiente, responsável pela cocidiose dos gatos e felinos silvestres. É uma zoonose que afeta mais de 200 espécies animais entre mamíferos e aves. Está entre os dez principais agentes transmitidos pela ingestão de alimentos contaminados no mundo. Estima-se que 1/3 da população humana esteja infectada pelo Toxoplasma atualmente.
Como eu pego toxoplasmose?
O Toxoplasma gondii apresenta um ciclo biológico de vida com várias formas evolutivas (Figura 1) utilizando dois tipos de hospedeiros: o chamado definitivo que são felídeos, ou seja, gatos e felinos silvestres (gato do mato, onça, lince, tigre e outros); e os intermediários, como roedores, cães, suínos, ovinos, caprinos, aves domésticas, e até mamíferos aquáticos. Em cada um dos tipos de hospedeiros, o parasita assume formas diferentes que poderão dar origem à infecção. No intestino dos felídeos, estas formas são excretadas pelas fezes e por não serem facilmente destruídas no meio ambiente, podem permanecer vivas em ambientes úmidos como terra, solo, areia, baia, pastagem, jardim, e também nos alimentos que entrarem em contato com fezes desses animais infectados, incluindo água. Quando o animal ou o homem ingerem alimento e água ou tiverem contato com materiais ambientais contaminados com fezes de animais infectados; estas formas se transformam em cistos que se multiplicam alojando-se nos músculos, no globo ocular, no sistema nervoso; provavelmente pelo resto da vida do indivíduo, o que caracterizará a infecção crônica. Ocorre também como doença ocupacional para médicos veterinários e profissionais de que lidam com animais domésticos, rebanhos de produção e nos abatedouros, tanto pelo contato direto com animais ou com as suas excreções. Durante a gestação, podem atravessar a placenta e atingir o feto causando más formações e/ou abortamento. Em cerca de 40% dos fetos de mães que adquiriram a infecção pela via transplancentária durante a gravidez nascem com toxoplasmose ou seqüelas de infecção. A transmissão direta entre pessoas não ocorre, porém é possível na transfusão de sangue e transplante de órgãos. Crianças que brincam em tanques de areia em parques e escolas onde passeiam gatos errantes que ali defecam, podem vir a adoecer com toxoplasmose. A maior ocorrência de casos humanos se dá principalmente pela ingestão de carne crua e mal cozida de suínos e ovinos e de leite de cabras, quando infectados ou doentes. Os sintomas aparecem após 10 a 23 dias da ingestão desses alimentos; de 5 a 20 dias, após ingestão acidental de fezes de gatos. Nos animais domésticos, gatos e cães, a toxoplasmose ocorre pela ingestão de cistos presentes em carne crua ou por via transplacentária. A toxoplasmose em animais de produção ocorre necessariamente pela coabitação com gatos e felinos selvagens.

Quais são os sintomas da toxoplasmose nos animais?
Geralmente, os animais não apresentam sinais clínicos evidentes, ou podem ser muito variados, como febre, gânglios inflamados e doloridos (ínguas), pneumonia, encefalite, convulsões e abortamentos. Não foram ainda descritos casos clínicos de toxoplasmose em bovinos. Nos cães e nos felinos, pode aparecer juntamente com outras doenças, como a cinomose e leucemia felina respectivamente. Nos ovinos, caprinos e suínos, além das manifestações citadas, está associada aos transtornos reprodutivos, como abortamento e nascimento de animais fracos.

Quais são os sintomas da toxoplasmose nos seres humanos?
A toxoplasmose apresenta manifestações variadas, sem sintomas e benigna até generalizada e extremamente grave, principalmente em pessoas com tumores, em tratamento de quimioterapia ou com HIV. Os cistos do Toxoplasma gondii persistem por período indefinido neste tipo de paciente, que a qualquer momento pode vir a óbito. Febre, gânglios inflamados e doloridos (ínguas) principalmente no pescoço, diarreia, pneumonia, miocardite, inflamação intensa dos músculos, hepatite, encefalite e erupções na pele podem ser observados. Esse quadro pode persistir de uma semana a um mês, devendo-se realizar o diagnóstico diferencial com mononucleose infecciosa. A inflamação da retina (olhos) por toxoplasmose é a lesão mais frequente, e em 30% a 60% dos pacientes acometidos ocorre a perda progressiva de visão, algumas vezes chegando à cegueira. A doença em crianças pode apresentar-se de três maneiras: congênita (transmitida pela mãe ao feto durante a gestação), adquirida e ocular. Uma vez que a mãe pode não apresentar sintomas, o acompanhamento pré-natal da grávida é fundamental para imediato tratamento. No bebê, a toxoplasmose congênita, pode manifestar-se basicamente de quatro formas: já ao nascer; nos primeiros meses de vida, sendo grave ou discreta; como reativação de infecção uterina não diagnosticada; ou como infecção subclínica, isto é, sem sintomas ou discretos. Os sintomas, na forma congênita, podem ser neurológicos ou generalizados. Quando a infecção ocorre no início da gestação, são observadas calcificações intracranianas, problemas de visão, convulsões, microcefalia, hidrocefalia e retardo mental. A forma generalizada é resultante de infecção fetal mais tardia na gestação e apresenta, além das alterações anteriores, o aumento do fígado e do baço, gânglios inflamados e doloridos (ínguas) espalhados pelo corpo, icterícia (amarelão) e anemia. Alguns lactentes podem permanecer sem sequelas da infecção ou desenvolver estrabismo, retardo neuropsicomotor, hidrocefalia, convulsões e surdez em meses ou mesmo anos após o nascimento. O diagnóstico diferencial da toxoplasmose no recém-nascido deve ser realizado com Zica vírus, citomegalovírus, vírus Herpes simplex, vírus da rubéola, T. pallidum (lues), Listeria monocytogenes, Borrelia burgdorferi, além da eritroblastose fetal e doenças degenerativas. O acompanhamento médico é fundamental.

Diagnóstico
O diagnóstico da toxoplasmose não é fácil, pois ocorrem sinais clínicos variáveis, a confirmação depende dos exames laboratoriais. Vários são os exames laboratoriais a partir do sangue, liquido cefalorraquidiano, saliva, secreção nasal e ocular empregados para se confirmar a toxoplasmose. Entretanto, são os testes sorológicos os mais empregados, pois permitem a detecção de anticorpos que podem auxiliar na diferenciação da fase da infecção. No Brasil, tem-se notado o aumento no número de notificações de problemas oculares em crianças e adultos sadios com toxoplasmose crônica, sendo as lesões de retina as mais frequentes. Exames oftalmológicos de rotina associados com as outras técnicas mencionadas auxiliam no diagnóstico diferencial da enfermidade.

Como prevenir a toxoplasmose?
O controle da toxoplasmose é dificultado pela elevada capacidade do parasito em se adaptar a ambientes urbanos ou rurais, proporcionando a manutenção do seu ciclo de vida e aumentando as chances de infecção acidental de seres humanos e animais. A principal e mais frequente forma de contaminação para seres humanos é a via oral. A prevenção se faz evitando o consumo de carnes suína, ovina, caprina ou de caça cruas ou mal cozidas; ingestão de leite não pasteurizado; de vegetais mal higienizados; e água não tratada.

O uso de luvas é fundamental durante procedimentos e avaliação clínica dos animais, na limpeza dos ambientes e contêineres de dejetos evitando o contato com fezes. Quando do recolhimento de animais abandonados e errantes fazer uso de equipamentos de proteção individual, nunca colocá-los imediatamente junto ao convívio da família e de outros animais sem que haja uma prévia consulta da médico veterinário.

O gato sadio, castrado, vermifugado e devidamente assistido pelo médico veterinário, raramente se constitui em uma fonte de infecção para a toxoplasmose e demais zoonoses. Nas propriedades rurais, o acesso de felídeos aos comedouros e bebedouros dos animais de produção deve ser evitado. No Reino Unido e França há uma vacina comercial disponível para ovinos e que demonstra eficácia para suínos, porém não testada ou regulamentada para uso no Brasil.

No acompanhamento médico pré-natal das mulheres gestantes, o exame de toxoplasmose é obrigatório. Alguns países obtiveram sucesso na prevenção da contaminação intrauterina fazendo testes laboratoriais em todas as gestantes. Em pessoas com deficiência imunológica, a prevenção pode ser necessária com o uso de medicação dependendo de uma análise individual de cada caso.

Como tratar a toxoplasmose?
O tratamento curativo para toxoplasmose baseia-se em coccidiostáticos, que dificultam a multiplicação do parasita, mas não eliminam a infecção crônica. A suspeita clínica de exposição aos fatores de risco é de suma importância para o médico.

Podem ser realizados protocolos terapêuticos em gestantes com a enfermidade, porém as dosagens variam conforme o medicamento e o indivíduo, o papel do médico é fundamental na condução do caso. Não existe vacina para humanos.

O diagnóstico humano conta com o serviço do Ambulatório de Zoonoses do Instituto de Infectologia Emilio Ribas, na capital paulista. O endereço é: Avenida Dr. Arnaldo, 165 – Prédio dos Ambulatórios - Pacaembu. O contato telefônico pode ser feito pelo número (11) 3896-1200. As consultas podem ser agendadas por telefone ou pelo site http://www.emilioribas.sp.gov.br/. Os trabalhos são coordenados pelo Dr. Marcos Vinicius da Silva (marcos.silva@emilioribas.sp.gov.br).

Também contam com grupos de estudo, diagnóstico e apoio ao tratamento humano (itens 1 e 2) e animal (3 e 4) as seguintes entidades:

1-Instituto de Medicina Tropical, Universidade de São Paulo, Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 470, Telefone: (11) 3061-7010. Site: www.imt.usp.br

2-Instituto Adolfo Lutz, Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, Av. Dr. Arnaldo, 355, Telefone (11) 3068-2876. Site: www.ial.sp.gov.br

3-Instituto Biológico, Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo, Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 1252, Telefone: (11) 5087-1772. Site: www.biologico.sp.gov.br

4-Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, Av. Prof. Dr. Orlando Marques de Paiva, 87, Telefone (11) 3091-7701. Site: www.fmvz.usp.br


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