Há uns 8 mil anos, quando o homem começou a plantar a própria comida e a dominar as técnicas da agricultura, os cachorros gostaram daquela aglomeração maior de pessoas em um único espaço. Ou melhor: gostaram mesmo foi daquela fartura de comida fácil. E decidiram ficar por lá.
É por isso que dois biólogos especialistas em cachorros, Raymond Coppinger e Lorna Coppinger, apostam em uma nova teoria sobre a história do relacionamento entre nós e eles. Segundo eles, homens nunca domesticaram cão nenhum. A decisão teria partido dos bichos e não de nós: os cachorros teriam se domesticado sozinhos, para manter a boca livre. Valia muito mais a pena se adaptar aos humanos do que seguir na vida louca da floresta, na busca diária por comida e proteção.
O casal Coppinger vai na contramão de outros pesquisadores. A maioria deles acredita que, um belo dia, alguns caçadores-coletores viram nos lobos uma utilidade, poderiam ajudá-los a caçar. Então, começaram a alimentá-los e domesticá-los. Os dois lados gostaram da relação e, pronto, os cães viraram nossos melhores amigos.
Só que a vida dos cachorros de rua pode mostrar o contrário. Os Coppinger analisaram a dinâmica desses animais, por uma razão científica: esses cães se parecem muito mais com os primeiros lobos domesticados do que cachorros que moram em casas.
E eles perceberam que nem todos esses cães sofrem por não ter um lar - exceto quando algum humano decide fazer maldades. Alguns se dividem em grupos, enquanto outros vagam sozinhos. Outros ainda se encostam em uma só vizinhança, ganham comida dos moradores, e passam anos por lá - e mesmo quando alguém tenta adotá-los, os bichos voltam para a vida livre.
Para os Coppinger, essa é a prova de que cães escolhem seus donos e não o contrário. E, pela mesma lógica, não foram domesticados se domesticaram.
Os dois biólogos defendem que a ciência preste mais atenção aos mais de 750 milhões de cães que vivem nas ruas. Eles somam três quartos do total de cachorros espalhados pelo mundo. Só assim entenderíamos melhor como esses animais se entenderam tão bem conosco.
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