Quando os negociadores internacionais reunidos em Paris se sentarem para o jantar, poderão refletir sobre o impacto da sua refeição sobre o clima.
De fato, em meio a uma crescente - e animadora - conversa global sobre como lidar com a ameaça comum da mudança climática, os níveis mais altos dos governo têm prestado muito pouca atenção no impacto que nossas dietas e práticas agrícolas têm sobre as emissões de carbono.
Em outras palavras: se estivermos falando sério sobre mudar o clima, temos de encarar seriamente a mudança na agricultura.
O impacto climático das comidas processadas e da agricultura industrial - baseadas em combustíveis fósseis e, não por acaso, extremamente pouco saudáveis - ainda é pouco levantado nas discussões sobre o clima, que se concentram essencialmente em usinas de carvão, refinarias de petróleo e veículos motorizados.
Mas, embora a energia seja de fato a maior fonte de emissões de gases causadores do efeito estufa, o sistema alimentar vem em segundo lugar. As melhores estimativas disponíveis sugerem que o sistema industrial de agricultura e criação de animais responde por até um terço de todas as emissões que causam a mudança climática.
As raízes dessa situação estão em décadas de agricultura não-sustentável, consumo excessivo de carne (mais de um quarto das terras do planeta são usadas, direta ou indiretamente, para criar animais para consumo humano), monoculturas e o sobreuso de fertilizantes à base de nitrogênio.
Aproximadamente um terço do carbono [agora] na atmosfera estava sequestrado no solo, na forma de material orgânico, mas desde que começamos a desflorestar e a preparar a terra para o plantio, estamos liberando enormes quantidades desse carbono na atmosfera...
O sistema alimentar como um todo - que inclui agricultura, processamento e transporte de alimentos - contribui com algo entre 20%-30% dos gases causadores do efeito estufa produzidos pela civilização - mais que qualquer outro setor, com exceção do de energia.
Além disso, essas emissões têm forte correlação com comidas e dietas que hoje sabemos ser muito pouco saudáveis.
A comida industrial, especialmente a carne industrial, contém pesticidas, hormônios e antibióticos que podem contribuir para muitas doenças. A chamada "dieta ocidental", que inclui grandes quantidades de carne e comidas altamente processadas, é associada a altos níveis de obesidade, diabetes tipo 2 e câncer.
Em contraste, populações que se alimentam essencialmente de plantas e comidas não processadas têm índices muito mais baixos dessas doenças.
O que podemos fazer?
Simples: podemos fazer uma escolha - uma escolha que vai beneficiar nosso planeta e nossa saúde. Discuto essas questões - e essas escolhas - num novo documentário, Time to Choose (hora de escolher, em tradução livre), que estará disponível no Huffington Post a partir do início da conferência da ONU sobre mudança climática, em Paris.
Ou continuamos nos alimentando usando milhões de litros de combustíveis fósseis para produzir fertilizantes sintéticos e pesticidas para manter as monoculturas que sustentam o sistema alimentar atual ou então escolhemos a agricultura orgânica moderna e regenerativa.
A boa notícia é que, graças às inovações dos agricultores mais criativos, sabemos como fazer as coisas direito.
Podemos produzir comidas mais saudáveis e ao mesmo tempo podemos manter o carbono no solo - carbono retirado da atmosfera, portanto ajudando a reverter a mudança climática.
Agricultores, consumidores, empreendedores e líderes do mundo todo começam a implementar a agricultura sustentável em grande escala. Mas ainda há muito a fazer - e, quanto mais gente entender os desafios e as soluções, mais perto estaremos de um sistema alimentar realmente sustentável.
Espero que nossos líderes olhem para seus pratos com cuidado enquanto estiverem em Paris, e que percebam que uma parte crucial da solução para o clima está espetada em seus garfos.
Este artigo foi originalmente publicado pelo HuffPost US e traduzido do inglês.
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