Vivemos desconectados das nossas florestas. Com poucas exceções, repetimos um modelo de desenvolvimento em que grandes populações são adensadas em centros urbanos cinzas e áridos, repletos de serviços de todos os tipos, mas distantes dos serviços ambientais tão importantes à nossa sobrevivência e qualidade de vida. A água, vamos buscar cada vez mais longe. Uma cidade arborizada e biodiversa, com temperaturas mais frescas, clima regulado e ar puro, é quase sonho.
A causa essencial dessa desarmonia entre percepção e realidade se dá pela falta de conhecimento sobre o papel das florestas nas nossas vidas. Acreditamos que florestas são apenas aquelas grandes extensões de copas de árvores distantes das cidades, mas nos esquecemos que nossas próprias cidades foram construídas sobre essas áreas verdes e ainda dependem muito do que delas sobraram.
No Brasil, 72% da população, algo como 145 milhões de pessoas, vive nas 3.429 cidades da Mata Atlântica e dependem dos serviços ambientais prestados pelo bioma. Essas cidades apresentam também um dos maiores índices de urbanização do país, com quase 90% da população vivendo em áreas urbanas. E qual a surpresa se não que boa parte do que restou da Mata Atlântica e hoje encontra-se protegida também está próxima ou inserida nessas mesmas regiões urbanizadas.
O dado é de um recente estudo em que a SOS Mata Atlântica buscou compreender os desafios dessa relação entre urbanização, conservação da natureza e cidadania, mapeando, pela primeira vez, a situação das Unidades de Conservação (UCs) Municipais da Mata Atlântica.
As UCs são áreas que possuem recursos fundamentais para a vida e, por isso, são protegidas por lei e devem receber o cuidado de todos. Elas estão dividias em 12 categorias, algumas bastante restritivas e que não permitem a entrada de pessoas; outras não apenas permitem como estimulam a visitação, como são os casos dos parques – dois exemplos são os famosos Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro, e o Parque Nacional do Iguaçu, em Foz do Iguaçu, no Paraná.
O levantamento da SOS Mata Atlântica identificou 730 Unidades de Conservação Municipais, que totalizam 2,3 milhões de hectares (ha). A maior parte dessas UCs (715 unidades ou 2,29 milhões de ha) estão em áreas de florestas ou ecossistemas associados. Outras 15 unidades (80 mil ha) foram registradas na Zona Marinha. As UCs Municipais identificadas representam 46% do total de unidades existentes na Mata Atlântica.
Mais de 80% das UCs Municipais da Mata Atlântica estão sob influência dos centros urbanos e próximas das pessoas. Isto porque a maioria dessas unidades estão localizadas nas cidades (71%) ou no seu entorno (10%).
Mesmo em menor número (19%), as unidades inseridas no ambiente rural dos municípios representam a maior cobertura territorial, o equivalente a 81%, sendo sua principal contribuição a proteção e manutenção da água doce e bacias hidrográficas que abastecem os centros urbanos.
Essas florestas inseridas ou próximas das cidades trazem ainda diversos outros benefícios, como a regulação do clima, a qualidade do ar e a proteção da saúde das pessoas, temas que ficam para um segundo artigo.
Para conservar e recuperar as áreas verdes das nossas cidades, antes temos um desafio extremamente importante pela frente: reconectar meio ambiente e sociedade. Nossa qualidade de vida, saúde, alimentação, equilíbrio e bem-estar social dependem da natureza.
Artigo de Marcia Hirota e Evangelina Vormittag*, originalmente publicado no Blog do Planeta
*Marcia Hirota é diretora-executiva da Fundação SOS Mata Atlântica; Evangelina Vormittag é diretora presidente do Instituto Saúde & Sustentabilidade.
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