Divulgação/Associação Mata CiliarOnça-pintada: lidar com animais silvestres é um dos desafios que o país enfrenta
Na cidade de Jundiaí, no interior de São Paulo, uma área de 30 hectares serve de lar transitório para animais silvestres, como onças, macacos e tucanos. Lá, está localizada a ONG Mata Ciliar, que recebe em média 1,9 mil animais por ano vítimas de maus tratos, choques, atropelamentos ou do tráfico.
Depois de chegar à instituição, os bichos passam por uma triagem e recebem o tratamento médico adequado até que tenham condições de voltar para a natureza. Dos que chegam, apenas 40%, em média, conseguem ser devolvidos ao seu habitat.
"É difícil mensurar a perda de um animal. No meio ambiente ele exerce um papel que interfere em toda a cadeia", diz Cristina Adania, médica veterinária e responsável pela instituição. "Nosso trabalho é tentar recuperá-los ou, caso isso não seja possível, garantir que ele tenha um fim de vida digno".
O trabalho na Mata Ciliar reflete um dos maiores desafios que o país enfrenta - o de lidar com os animais silvestres que são traficados ou com os 475 milhões que morrem anualmente nas estradas.
EXAME.com foi conhecer de perto o dia a dia da instituição e mostra quais são as etapas do tratamento dos bichos - da hora em que chegam até o momento em que voltam para casa. Esta é a primeira reportagem da série "Bastidores do Brasil".
Rita Azevedo/Exame.com
O lugar
A ong está localizada junto a Serra do Japi, em Jundiaí, e próxima das rodovias Anhanguera e Bandeirantes.Toda a área é dividida em ambientes que simulam o habitat natural dos animais.
No centro do terreno, fica a cozinha - onde são preparadas e fracionadas as refeições dos bichos -, um centro de triagem, onde é feita a documentação dos animais, e um consultório veterinário, local onde ocorre os primeiros atendimentos.
Mais ao fundo, está localizado o berçário, onde os filhotes ficam até ganhar porte suficiente para morar nos recintos.
Ao lado, há um centro cirúrgico. É lá que os veterinários fazem operações como a de Leôncio, uma onça parda de quatro anos diagnosticada com catarata em um dos olhos.
Além do centro de reabilitação, a área também abriga o Centro de Felinos, um criadouro científico onde são feitas pesquisas para a conservação das oito espécies de felinos do país.
Há sete anos, a instituição fez um dos primeiros procedimentos de inseminação artificial de jaguatiricas na América Latina. Na época, embriões congelados foram transferidos para o útero de oito fêmeas. Três filhotes nasceram e dois sobreviveram.
Rita Azevedo/Exame.com
Pica-pau: animais são vítimas de tráfico ou sofrem acidentes como choques elétricos ou atropelamentos
A chegada
Todos os dias, motoristas, vizinhos e policiais rodoviários entram na Mata Ciliar com uma caixa de papelão nas mãos. Nelas estão pássaros que quebraram o bico após bater em uma vidraça, ouriços atacados por cães, veados atropelados ou um macaco que tomou um choque após se aventurar em fios de alta tensão.
Acidentes em áreas urbanas são um dos principais motivos para a chegada de bichos na instituição. Com o passar dos anos, esse número só tem aumentado. Os atropelamentos, aliás, são a principal principal causa de morte de bichos silvestres no país, superando caça ilegal, desmatamento e poluição.
São 15 animais mortos por segundo, ou 1,3 milhão por dia e até 475 milhões por ano, segundo projeção do CBEE (Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas), da Universidade Federal de Lavras (MG).
"Isso mostra que o ambiente natural não está tão bom para os bichos. Com o aumento das áreas desmatadas e a invasão de condomínios, esses bichos perdem suas casas e vão parar no meio das cidades", diz Cristina Adania.Outra das motivações, e não menos importante, é o tráfico dos animais silvestres. Cristina estima que sete em cada dez animais que chegam à instituição foram alvos de venda e compra ilegal.
A maior parte deles é formada por pássaros, que chegam aos montes e, muitas vezes, em condições precárias, dentro de caixas de madeira ou potes plásticos.
As aves são, no Brasil, os animais mais visados pelo mercado negro, de acordo com uma pesquisa da organização WWF.
Em 2014, 1939 animais passaram pela Mata Ciliar - 60% deles eram aves, 25% eram mamíferos e 15% répteis. Neste ano, o número deve ser ultrapassado. "Só até setembro, tratamos pouco mais de 1,7 mil bichos", diz Cristina.
A chegada
Todos os dias, motoristas, vizinhos e policiais rodoviários entram na Mata Ciliar com uma caixa de papelão nas mãos. Nelas estão pássaros que quebraram o bico após bater em uma vidraça, ouriços atacados por cães, veados atropelados ou um macaco que tomou um choque após se aventurar em fios de alta tensão.
Acidentes em áreas urbanas são um dos principais motivos para a chegada de bichos na instituição. Com o passar dos anos, esse número só tem aumentado. Os atropelamentos, aliás, são a principal principal causa de morte de bichos silvestres no país, superando caça ilegal, desmatamento e poluição.
São 15 animais mortos por segundo, ou 1,3 milhão por dia e até 475 milhões por ano, segundo projeção do CBEE (Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas), da Universidade Federal de Lavras (MG).
"Isso mostra que o ambiente natural não está tão bom para os bichos. Com o aumento das áreas desmatadas e a invasão de condomínios, esses bichos perdem suas casas e vão parar no meio das cidades", diz Cristina Adania.Outra das motivações, e não menos importante, é o tráfico dos animais silvestres. Cristina estima que sete em cada dez animais que chegam à instituição foram alvos de venda e compra ilegal.
A maior parte deles é formada por pássaros, que chegam aos montes e, muitas vezes, em condições precárias, dentro de caixas de madeira ou potes plásticos.
As aves são, no Brasil, os animais mais visados pelo mercado negro, de acordo com uma pesquisa da organização WWF.
Em 2014, 1939 animais passaram pela Mata Ciliar - 60% deles eram aves, 25% eram mamíferos e 15% répteis. Neste ano, o número deve ser ultrapassado. "Só até setembro, tratamos pouco mais de 1,7 mil bichos", diz Cristina.
Divulgação/Associação Mata Ciliar
Filhote de ouriço: tratamento médico para que possa voltar ao hábitat natural
Cuidado médico
Assim que chegam, os animais são atendidos por uma equipe de três veterinários que se revezam em turnos. Os bichos ficam em observação por alguns dias em gaiolas ou pequenos recintos e são medicados.
Depois de algum tempo, curativos e doses de remédios, os bichos passam por uma nova consulta. É nesse momento que os veterinários avaliam se eles têm ou não condições de voltar à natureza. Caso eles possam ser reintroduzidos ao meio ambiente, começa uma nova fase de tratamento: a reabilitação.
Cuidado médico
Assim que chegam, os animais são atendidos por uma equipe de três veterinários que se revezam em turnos. Os bichos ficam em observação por alguns dias em gaiolas ou pequenos recintos e são medicados.
Depois de algum tempo, curativos e doses de remédios, os bichos passam por uma nova consulta. É nesse momento que os veterinários avaliam se eles têm ou não condições de voltar à natureza. Caso eles possam ser reintroduzidos ao meio ambiente, começa uma nova fase de tratamento: a reabilitação.
Divulgação/Associação Mata Ciliar
Coruja: o desafio de reaprender funções básicas como voar e procurar alimento
A reabilitação
Além de recuperar a saúde, os animais precisam, muitas vezes, reaprender funções básicas como andar ou voar e se habituar a caçar os próprios alimentos.
Nessa época, os bichos quase não têm contato com humanos. A ideia é preservá-los e diminuir o trauma da mudança.
Como numa espécie de quarentena, eles chegam a ser analisados com a ajuda de câmeras, que monitoram, por exemplo, se uma onça é capaz de encontrar uma presa escondida no recinto ou se consegue capturá-la viva.
Não há um tempo pré-determinado para essa etapa do tratamento, que pode durar de duas semanas ou até mais de um ano, como no caso de filhotes.
Os bebês
No caso de filhotes, que geralmente chegam sem os pais, o tratamento é diferenciado.
Eles são colocados em um local onde a temperatura é controlada minuciosamente, assim como o horário das mamadeiras e das papinhas.
Joyce Cachulo é a tratadora responsável pelo berçário. Atualmente ela cuida de Azeitona, um ouriço-cacheiro de dois meses, dos gatos-do-mato DVT e Zoey, de quatro meses, e do bugio Pitoco, um macaquinho de pêlos castanhos encontrado em uma área urbana há pouco mais de três meses.
A reabilitação
Além de recuperar a saúde, os animais precisam, muitas vezes, reaprender funções básicas como andar ou voar e se habituar a caçar os próprios alimentos.
Nessa época, os bichos quase não têm contato com humanos. A ideia é preservá-los e diminuir o trauma da mudança.
Como numa espécie de quarentena, eles chegam a ser analisados com a ajuda de câmeras, que monitoram, por exemplo, se uma onça é capaz de encontrar uma presa escondida no recinto ou se consegue capturá-la viva.
Não há um tempo pré-determinado para essa etapa do tratamento, que pode durar de duas semanas ou até mais de um ano, como no caso de filhotes.
Rita Azevedo/Exame.comGato-do-mato Zoey: temperatura e horário das mamadeiras controlados
Os bebês
No caso de filhotes, que geralmente chegam sem os pais, o tratamento é diferenciado.
Eles são colocados em um local onde a temperatura é controlada minuciosamente, assim como o horário das mamadeiras e das papinhas.
Joyce Cachulo é a tratadora responsável pelo berçário. Atualmente ela cuida de Azeitona, um ouriço-cacheiro de dois meses, dos gatos-do-mato DVT e Zoey, de quatro meses, e do bugio Pitoco, um macaquinho de pêlos castanhos encontrado em uma área urbana há pouco mais de três meses.
Rita Azevedo/Exame.com
Quati: o animal que não tem condições de ser solto ganha um recinto na ong
Os moradores fixos
Cerca de 300 animais que não puderam ser soltos ganharam recintos na ong, que reproduz o ambiente com o qual eles estão acostumados.
Em geral, são bichos que, segundo Cristina, não teriam muitas condições de sobrevivência no meio do mato por ter graves sequelas ou por terem sido criados como animais domésticos.
Um dos exemplos é Bailarina, uma arara vermelha criada em uma residência que teve as patinhas atrofiadas devido à alimentação inadequada.
Para melhorar um pouco a vida desses bichinhos e diminuir o estresse, é feito o chamado enriquecimento ambiental, uma série de simulações de situações que eles poderiam encontrar na natureza, como o ter que pular para alcançar uma presa.
Hora do rango
Semanalmente, são consumidos 400 quilos de carne, frutas e e hortaliças no local. O cardápio varia dependendo do dia da semana. Em dias quentes, há até quem ganhe um sorvete de frutas ou de carne.
A alimentação é preparada na hora pelos tratadores, que também são responsáveis pela distribuição da comida. No caso das onças, foram colocados túneis que levam o alimento até o animal.
A liberdade
Devolver um animal à natureza não é uma tarefa tão simples quanto abrir uma caixa ou uma gaiola. Biólogos e veterinários analisam o local de onde determinado bicho apareceu, assim como os hábitos de determinada espécie.
Feito isso, é realizada uma visita de campo para verificar se, por exemplo, um lobo irá encontrar presas e água em determinado terreno.
No caso dos pássaros que, por causa do tráfico, podem chegar de qualquer lugar do país, a soltura é feita em locais parecidos com o de seu habitat natural, que podem ser tanto uma área aberta com temperaturas mais altas quanto uma mata fechada perto de uma cachoeira.
"Cada animal tem um comportamento que deve ser respeitado", diz Cristina. "Precisamos ter a certeza de que ele se sairá bem e que poderá seguir sua vida".
Os moradores fixos
Cerca de 300 animais que não puderam ser soltos ganharam recintos na ong, que reproduz o ambiente com o qual eles estão acostumados.
Em geral, são bichos que, segundo Cristina, não teriam muitas condições de sobrevivência no meio do mato por ter graves sequelas ou por terem sido criados como animais domésticos.
Um dos exemplos é Bailarina, uma arara vermelha criada em uma residência que teve as patinhas atrofiadas devido à alimentação inadequada.
Para melhorar um pouco a vida desses bichinhos e diminuir o estresse, é feito o chamado enriquecimento ambiental, uma série de simulações de situações que eles poderiam encontrar na natureza, como o ter que pular para alcançar uma presa.
Hora do rango
Semanalmente, são consumidos 400 quilos de carne, frutas e e hortaliças no local. O cardápio varia dependendo do dia da semana. Em dias quentes, há até quem ganhe um sorvete de frutas ou de carne.
A alimentação é preparada na hora pelos tratadores, que também são responsáveis pela distribuição da comida. No caso das onças, foram colocados túneis que levam o alimento até o animal.
Divulgação/Associação Mata CiliarSoltura de lobo-guará: estudos de campo
A liberdade
Devolver um animal à natureza não é uma tarefa tão simples quanto abrir uma caixa ou uma gaiola. Biólogos e veterinários analisam o local de onde determinado bicho apareceu, assim como os hábitos de determinada espécie.
Feito isso, é realizada uma visita de campo para verificar se, por exemplo, um lobo irá encontrar presas e água em determinado terreno.
No caso dos pássaros que, por causa do tráfico, podem chegar de qualquer lugar do país, a soltura é feita em locais parecidos com o de seu habitat natural, que podem ser tanto uma área aberta com temperaturas mais altas quanto uma mata fechada perto de uma cachoeira.
"Cada animal tem um comportamento que deve ser respeitado", diz Cristina. "Precisamos ter a certeza de que ele se sairá bem e que poderá seguir sua vida".
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