segunda-feira, 9 de março de 2015

ANTI-INFLAMATÓRIOS E ANALGÉSICOS EM CAVALOS (Parte 1)

Introdução


As funções modernas e as doenças comuns predispõem os cavalos a condições de dor e inflamação. A inflamação é comum a todos os tecidos lesionados do organismo e a resposta básica é a mesma, independentemente da causa da lesão. Os sinais clínicos associados com a inflamação têm sido descritos na literatura médica á milhares de anos. Celsius, no século I dC, descreveu os sinais de inflamação como "vermelhidão e inchaço com calor e dor". Virchow no século 19 citou "função perturbada" para a definição. Embora possa ser difícil de avaliar vermelhidão na pele coberta de pelos, inchaço com calor, dor e perda de função são facilmente reconhecidos nas condições inflamatórias do cavalo. As demandas de lazer, passeios competitivos e corridas resultam em muitas condições inflamatórias do sistema musculoesquelético. A natureza do trabalho que os cavalos executam os causa entorses e distensões, e, em alguns casos, a insuficiência de ligamentos, tendões, ossos e articulações, o que pode levar à incapacidade permanente ou temporária. Doenças comuns de cavalos, como pneumonia e cólicas também envolvem a inflamação.
A inflamação é um mecanismo de defesa natural contra a lesão tecidual e geralmente leva á cicatrização do tecido. Por vezes o próprio processo inflamatório provoca mais prejuízos. Em tais circunstâncias, é apropriado intervir com analgésicos e anti-inflamatórios. Existem várias categorias de medicamentos que controlam a dor e a inflamação nos cavalos. As drogas não esteroides anti-inflamatórias, os corticosteroides e as drogas condroprotetoras agem predominantemente no local da lesão para controlar a inflamação e, assim, controlar a dor. Anestésicos locais atuam em receptores de dor para alterar a percepção da dor, sem modificar a inflamação.

O processo inflamatório
A inflamação é uma resposta celular primária para um insulto ou ferimento a partir de bactérias ou outros organismos infecciosos, ou agentes químicos e físicos. O ácido araquidônico é um componente fosfolipídio da membrana das células. Quando a membrana celular é lesionada, a enzima fosfolipase A2 cliva o ácido araquidônico a partir da sua posição na membrana da célula. Uma vez livre da membrana celular, o ácido araquidônico é ativado pelas enzimas ciclo-oxigenase ou lipoxigenase. As ciclooxigenases são encontradas em todas as células, exceto nos glóbulos vermelhos. Quando a ciclooxigenase atua no ácido araquidônico, o resultado final é a formação da prostaglandina, tromboxano e prostaciclina. Estas substâncias têm efeitos potentes sobre o sistema vascular. Pelos seus efeitos opostos em circunstâncias normais, elas fornecem um equilíbrio do sistema que mantém o tônus muscular e vasos sanguíneos normais. Em condições inflamatórias, este equilíbrio é perdido. Inicialmente, o efeito de prostaciclina predomina e causa um aumento do fluxo sanguíneo para o tecido danificado causando dilatação dos vasos sanguíneos. O aumento do fluxo de sangue aumenta a oferta de nutrientes, oxigênio, anticorpos, leucócitos e outras substâncias de defesa para o local lesionado. O edema e calor são resultantes do aumento do fluxo de sangue e de fluidos sanguíneos que vazam para os tecidos adjacentes. Seguindo a atividade do processo inflamatório, tromboxano e prostaglandina dominam, resultando em vasoconstrição generalizada, dor, febre, agregação plaquetária, formação de trombos (coágulos sanguíneos), e redução do fornecimento de oxigênio para os tecidos. As prostaglandinas no cérebro são responsáveis por atingirem receptores no hipotálamo causando a febre.

As prostaglandinas tem efeitos benéficos sobre a função renal, funções do sistema gastrointestinal e reprodutivas e cicatrização óssea normal. No rim, as prostaglandinas locais mantém a produção de urina e fluxo sanguíneo renal. No trato gastrointestinal inibem a secreção de ácido gástrico e aumentam a secreção de muco gástrico para proteção. A perda destas prostaglandinas protetoras faz com que o cavalo possa desenvolver úlceras gastrointestinais. As prostaglandinas também têm efeitos importantes sobre o sistema reprodutivo. Elas causam a regressão do corpo lúteo (fonte de progesterona para manter a prenhez) e fazem com que o útero se contraia, induza o parto ou aborto. As prostaglandinas também estão envolvidas na formação óssea normal, de modo que a administração de fármacos anti-prostaglandina podem retardar a cura de fraturas e diminuir a remodelação óssea.
Como alternativa para a via da ciclooxigenase, o ácido araquidônico pode ser ativado pela enzima lipoxigenase, para produzir os leucotrienos. As lipoxigenases estão localizadas em células brancas do sangue, plaquetas, e várias células nos pulmões. Os leucotrienos causam a constrição das vias aéreas, a constrição dos vasos sanguíneos (com saída de fluidos do sangue dos vasos sanguíneos), e a formação de coágulos sanguíneos. Eles também atraem glóbulos brancos circulantes para a área da inflamação.

Anti-inflamatórios não-esteróides (AINEs)
Os medicamentos anti-inflamatórios não esteróides estão entre os medicamentos mais utilizados na medicina veterinária. Alguns AINEs têm propriedades terapêuticas valiosas, e alguns têm um grande potencial de toxicidade. Devido ao seu potencial para uso indevido, um conhecimento profundo de sua farmacologia clínica é importante para utilização efetiva.
Os AINEs habitualmente utilizados em cavalos são:
aspirina
fenilbutazona
dipirona
flunixin meglumine
ácido meclofenâmico
cetoprofeno
Todos os AINEs são ácidos fortemente ligados às proteínas no sangue. Portanto, eles são bem absorvidos a partir do estômago, e em seguida, por causa da ligação às proteínas, a maior parte da droga permanece no sangue. Baixos níveis de AINEs são encontrados em tecidos normais e fluidos articulares. Em tecidos danificados e articulações, no entanto, os AINEs podem aumentar para níveis terapêuticos devido ao aumento do fluxo sanguíneo e ao extravazamento de fluidos de sangue dos vasos sanguíneos danificados.


Mecanismo de ação
Os AINEs bloqueiam a enzima ciclo-oxigenase, interrompendo a formação de tromboxano, prostaciclina e das prostaglandinas a partir do ácido araquidônico. Isso resulta em ação antipirética (reduz a febre), diminuição da dor, efeitos anti-inflamatórios e inibição da agregação plaquetária. Pesquisas recentes também mostraram que alguns dos AINEs atuam sobre os receptores da dor no sistema nervoso central e bloqueiam a dor da mesma forma que a morfina. Os AINEs também alteram as respostas do sistema imunológico e suprimem mediadores inflamatórios provenientes da ciclo-oxigenase.

Interações medicamentosas
A ocorrência de potenciais perigos de interações medicamentosas deve ser considerada com a utilização terapêutica dos AINEs. Em geral, qualquer AINEs administrado em conjunto terá efeito somado. Uma vez que todos os AINEs agem pelo mesmo mecanismo de inibição da ciclo-oxigenase, uma dose mais alta de um único NSAID deverá produzir a mesma resposta.
Devido a todos os AINE serem altamente ligado às proteínas do sangue, o cuidado deve ser tomado quando outros medicamentos também ligados às proteínas são administrados. A competição por receptores de ligação da proteína podem resultar em aumentos dramáticos de drogas livres disponíveis na circulação e podem causar toxicidade.
Por exemplo, alguns dos efeitos do diurético furosemida (Lasix®), são dependentes de níveis normais de prostaglandina. A administração concomitante de furosemida e AINEs pode reduzir a eficácia de furosemida.

Efeitos adversos
Os efeitos adversos dos AINEs estão relacionadas com o bloqueio da ciclo-oxigenase em tecidos em que as prostaglandinas são benéficas. A redução de prostaglandinas protetoras resulta em constrição dos vasos sanguíneos e danos nos tecidos do rim, redução do fluxo sanguíneo e da produção de muco protetor no sistema gastrointestinal resultando em úlceras, cólicas e diarréia. Os AINEs têm uma maior incidência de toxicidade em potros, porque sua função renal não está totalmente desenvolvida. Quando é necessário o uso de AINEs em potros, eles devem ser administrados nas doses mais baixas possíveis. Os AINEs devem ser administrados com muita cautela em cavalos desidratados. As concentrações sanguíneas são maiores do que no cavalo normal e propensas a causar toxicidade.
O tratamento da toxicidade de AINEs é intensivo e principalmente de suporte. A hipoproteinemia que resulta da perda de proteínas do sangue através de úlceras no sistema gastrointestinal, pode ser corrigida com infusões intravenosas de plasma. As perdas de fluidos e eletrólitos que acompanham a diarreia são repostas com fluidos intravenosos comercialmente disponíveis. Antibióticos de amplo espectro são indicados quando há evidência de septicemia bacteriana (infecção do sangue). Dor de cólica deve ser controlada com analgésicos opióides, e a terapia com AINEs adicional deve ser evitada. Medicamentos antiulcerosos podem ser benéficos e aceleraram a recuperação. A remoção cirúrgica das partes danificadas do intestino pode ser necessária em alguns casos. A recuperação é geralmente lenta e, em casos graves, o prognóstico é sempre 

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