E determinar o "campeão da gordura" nem de longe é uma questão de tamanho. Um exemplo: a baleia azul. O maior animal do mundo é o que também conta com a maior quantidade de gordura. Em um estudo de 1968 envolvendo 49 espécies de mamíferos dos Estados Unidos e do Brasil, pesquisadores descobriram que o cetáceo tinha a maior percentagem de gordura corporal - mais de 35%.
Como as baleias azuis pesam até 180 toneladas, a quantidade de gordura no corpo delas é uma espécie de recorde mundial.
Mas isso em valores absolutos. Se os critérios forem quanto à proporção de gordura, teremos surpresas com alguns dos animais mais “gordos”.
Comecemos com o blubber, nome dado ao tecido adiposo de mamíferos marinhos, e cujas funções vão desde ser uma reserva de energia à defesa contra impactos e auxilio para a flutuação.
As baleias de blubber mais espessa são as da espécie franca. Ganharam o apelido em inglês de baleias “certas” durante o auge da caça aos cetáceos, no século 19. “Elas são lentas e gordas e, quando arpoadas, flutuavam, o que ajudava na captura. A maioria das outras baleias afunda”, explica Sam Ridgeway, presidente da National Marine Mammal Foundation, em San Diego (EUA)
Óleo
Essas baleias flutuam porque têm alta percentagem de lipídios em seu blubber. Elas estão praticamente extintas por causa da caça indiscriminada – no século 19, seu óleo era usado para fazer desde sabão a combustível de lamparinas.
As baleias-da-groenlândia, que vivem no Ártico, sobrevivem às águas geladas graças a uma camada gordurosa de quase um metro de espessura. O biólogo marinho Craig George descobriu que seu percentual corporal de gordura blubber variava entre 43% e 50% de sua massa. “Mas essas baleias também têm lipídios em suas línguas, intestinos e mesmo ossos, o que sugere um percentual total maior”, afirma George. Image copyright NPL Image caption O óleo da baleia franca era usado para fazer sabão
Pinipídeos - a família de animais que inclui focas e leões-marinhos - também disputam o título de animal mais gordo do mundo. Filhotes recentemente desmamados em especial podem atingir altos percentuais de gordura após se alimentar do leite de suas mães, que é extremamente rico em lipídios. Filhotes de elefantes-marinhos, por exemplo, podem chegar a 50% de gordura no corpo.
Mas tal percentual não é definitivo. Perto da água, leões-marinhos podem parecer gordos, mas medições feitas em fêmeas adultas na Groenlândia revelaram que elas tinham percentual de massa muscular de até 44% e só 18% de gordura blubber.
As aparências também enganam com hipopótamos: pelo menos 18% da tonelada e meia que costumam pesar é pura pele: debaixo de uma camada de no mínimo 5 cm, os mamíferos têm um revestimento relativamente fino de gordura. Image copyright Alamy Image caption Morsas não são tão gordas quanto parecem
Animais terrestres também podem ser “enganosos”. Castores, por exemplo, têm consideráveis reservas gordurosas em suas caudas. Com apenas alguns ossos, ligamentos e músculos, as caudas são basicamente feitas de gordura e podem chegar a 45cm de comprimento e 20cm de largura. Image copyright NPL Image caption E hipopótamos também...
Assim como as baleias, os depósitos de gordura dos castores eram cobiçados por caçadores no passado. Felizmente, a espécie está se recuperando graças a esquemas de repovoamento.
Mas o hábito dos castores de derrubar árvores e represar rios pode causar controvérsias. Embora se alimentem de ervas e plantas aquáticas nos meses de verão, os roedores precisam armazenar energia durante o inverno.
Engorda
Engordar para enfrentar o frio é uma estratégia comum com mamíferos. No Ártico, ursos polares podem armazenar reservas de gordura que equivalem à metade de sua massa corporal. Isso é obtido através da ingestão de gordura blubber e da alimentação de filhotes com leite que pode conter até 30% de gordura.
A gordura os mantém aquecidos, mas produz água fresca quando metabolizada, algo fundamental para a hidratação dos bichos. Image copyright Nic Redhead Image caption A gordura dos camelos ajuda a produzir água
E, por falar em hidratação, por que não analisar o caso dos camelos, que não poderiam viver em condições mais diversas que a de ursos polares. Suas corcovas não estão cheias d’água, mas sim são depósitos nutricionais de gordura que podem pesar até 35 kg. No geral, porém, camelos são animais magros e sua gordura está concentrada nas corcundas.
A teoria é que a concentração de gordura reduz o isolamento térmico de seus corpos, facilitando sua missão de viver em um ambiente quente.
Curiosamente, porém, alguns dos animais mais gordos em vivendo em terra são... INSETOS.
Mariposas e suas larvas são conhecidas por aborígenes australianos como lanchinhos gordurosos. A enfermeira australiana Lesley Salem desenvolveu até um guia nutricional especializado em degustação de mariposas. Seu estudo descreve como larvas de um tipo de inseto, a Endoxyla leucomochla, têm 20% de gordura, enquanto espécimes adultos da Agrotis infusanas são compostos por quase 40% de gordura. Image copyright Alamy Image caption Está servido de uma porção de larvas Endoxyla leucomochla?
E uma outra espécie de mariposas é, proporcionalmente, o mais gordo animal do mundo. A actébia americana, tipo de traça comum às pradarias do oeste dos EUA, costuma atormentar fazendeiros.
Por volta de junho, elas migram para climas mais frios para se alimentar do néctar de flores silvestres. E durante os meses de verão, engordam o suficiente para chegar a níveis de gordura de 72% no outono.
“Gordura é importante para insetos, especialmente os que fazem voos migratórios. Alguns podem voam 100 km em um único dia sem se alimentar, e por isso precisam de grandes reservas de energia”, explica Todd Gilligan, entomologista da Universidade de Ohio, nos EUA.
Assim, como as mariposas australianas, as traças também percorrem longas jornadas e ainda precisam de energia para se reproduzir.
É a verdadeira lei da sobrevivência do mais gordo.
Fonte:
Como as baleias azuis pesam até 180 toneladas, a quantidade de gordura no corpo delas é uma espécie de recorde mundial.
Mas isso em valores absolutos. Se os critérios forem quanto à proporção de gordura, teremos surpresas com alguns dos animais mais “gordos”.
Comecemos com o blubber, nome dado ao tecido adiposo de mamíferos marinhos, e cujas funções vão desde ser uma reserva de energia à defesa contra impactos e auxilio para a flutuação.
As baleias de blubber mais espessa são as da espécie franca. Ganharam o apelido em inglês de baleias “certas” durante o auge da caça aos cetáceos, no século 19. “Elas são lentas e gordas e, quando arpoadas, flutuavam, o que ajudava na captura. A maioria das outras baleias afunda”, explica Sam Ridgeway, presidente da National Marine Mammal Foundation, em San Diego (EUA)
Óleo
Essas baleias flutuam porque têm alta percentagem de lipídios em seu blubber. Elas estão praticamente extintas por causa da caça indiscriminada – no século 19, seu óleo era usado para fazer desde sabão a combustível de lamparinas.
As baleias-da-groenlândia, que vivem no Ártico, sobrevivem às águas geladas graças a uma camada gordurosa de quase um metro de espessura. O biólogo marinho Craig George descobriu que seu percentual corporal de gordura blubber variava entre 43% e 50% de sua massa. “Mas essas baleias também têm lipídios em suas línguas, intestinos e mesmo ossos, o que sugere um percentual total maior”, afirma George. Image copyright NPL Image caption O óleo da baleia franca era usado para fazer sabão
Pinipídeos - a família de animais que inclui focas e leões-marinhos - também disputam o título de animal mais gordo do mundo. Filhotes recentemente desmamados em especial podem atingir altos percentuais de gordura após se alimentar do leite de suas mães, que é extremamente rico em lipídios. Filhotes de elefantes-marinhos, por exemplo, podem chegar a 50% de gordura no corpo.
Mas tal percentual não é definitivo. Perto da água, leões-marinhos podem parecer gordos, mas medições feitas em fêmeas adultas na Groenlândia revelaram que elas tinham percentual de massa muscular de até 44% e só 18% de gordura blubber.
As aparências também enganam com hipopótamos: pelo menos 18% da tonelada e meia que costumam pesar é pura pele: debaixo de uma camada de no mínimo 5 cm, os mamíferos têm um revestimento relativamente fino de gordura. Image copyright Alamy Image caption Morsas não são tão gordas quanto parecem
Animais terrestres também podem ser “enganosos”. Castores, por exemplo, têm consideráveis reservas gordurosas em suas caudas. Com apenas alguns ossos, ligamentos e músculos, as caudas são basicamente feitas de gordura e podem chegar a 45cm de comprimento e 20cm de largura. Image copyright NPL Image caption E hipopótamos também...
Assim como as baleias, os depósitos de gordura dos castores eram cobiçados por caçadores no passado. Felizmente, a espécie está se recuperando graças a esquemas de repovoamento.
Mas o hábito dos castores de derrubar árvores e represar rios pode causar controvérsias. Embora se alimentem de ervas e plantas aquáticas nos meses de verão, os roedores precisam armazenar energia durante o inverno.
Engorda
Engordar para enfrentar o frio é uma estratégia comum com mamíferos. No Ártico, ursos polares podem armazenar reservas de gordura que equivalem à metade de sua massa corporal. Isso é obtido através da ingestão de gordura blubber e da alimentação de filhotes com leite que pode conter até 30% de gordura.
A gordura os mantém aquecidos, mas produz água fresca quando metabolizada, algo fundamental para a hidratação dos bichos. Image copyright Nic Redhead Image caption A gordura dos camelos ajuda a produzir água
E, por falar em hidratação, por que não analisar o caso dos camelos, que não poderiam viver em condições mais diversas que a de ursos polares. Suas corcovas não estão cheias d’água, mas sim são depósitos nutricionais de gordura que podem pesar até 35 kg. No geral, porém, camelos são animais magros e sua gordura está concentrada nas corcundas.
A teoria é que a concentração de gordura reduz o isolamento térmico de seus corpos, facilitando sua missão de viver em um ambiente quente.
Curiosamente, porém, alguns dos animais mais gordos em vivendo em terra são... INSETOS.
Mariposas e suas larvas são conhecidas por aborígenes australianos como lanchinhos gordurosos. A enfermeira australiana Lesley Salem desenvolveu até um guia nutricional especializado em degustação de mariposas. Seu estudo descreve como larvas de um tipo de inseto, a Endoxyla leucomochla, têm 20% de gordura, enquanto espécimes adultos da Agrotis infusanas são compostos por quase 40% de gordura. Image copyright Alamy Image caption Está servido de uma porção de larvas Endoxyla leucomochla?
E uma outra espécie de mariposas é, proporcionalmente, o mais gordo animal do mundo. A actébia americana, tipo de traça comum às pradarias do oeste dos EUA, costuma atormentar fazendeiros.
Por volta de junho, elas migram para climas mais frios para se alimentar do néctar de flores silvestres. E durante os meses de verão, engordam o suficiente para chegar a níveis de gordura de 72% no outono.
“Gordura é importante para insetos, especialmente os que fazem voos migratórios. Alguns podem voam 100 km em um único dia sem se alimentar, e por isso precisam de grandes reservas de energia”, explica Todd Gilligan, entomologista da Universidade de Ohio, nos EUA.
Assim, como as mariposas australianas, as traças também percorrem longas jornadas e ainda precisam de energia para se reproduzir.
É a verdadeira lei da sobrevivência do mais gordo.
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