quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Como se diferenciar dos 'diferentões'


Viver não é fácil. Quando crianças e adolescentes, temos pouco controle e autonomia. Quando adultos, temos pouco foco e muitas responsabilidades. Quando velhos, temos menos tempo pela frente e pouca autonomia física. Falando assim, parece que nem vale a pena estar vivo. Mas, se não valesse, não estaríamos todos aqui.


Observando-se os diferentões, que registram a tragédia das próprias vidas em conversas informais e pelas mídias sociais, percebe-se a curiosa tendência humana à frustração e autopiedade. Não sei exatamente de onde vem isso, ainda que tenha uma série de hipóteses que talvez caibam em outro texto.

Eu não sou muito de reclamar, mas nem sempre fui assim. Já encarei o mundo como essencialmente injusto, cruel e com tendências à falência total e irremediável. Ainda bem, essa impressão passou. Credito a mudança a um processo de maturidade, tanto passivo como ativo. Em relação à parte que não controlo, tenho pouco a dizer e muito a agradecer. Minha personalidade (que não escolhi) e criação (pela qual tive o prazer de passar) ajudaram demais a construir minha visão de mundo.

A partir dessa estrutura, posso dizer que comecei a agir para as coisas se ajeitarem para o meu lado. Eu tenho uma série de estratégias que utilizo para viver melhor. E sempre estou em busca de mais. Esse processo é curioso, principalmente, porque muitas vezes eu me percebo executando uma estratégia inédita, ou seja, ainda não racionalizada por mim. O legal de fazer isso é que, a partir daí, posso usufruir dela quando bem entender, passando a executá-la de forma consciente. Aconteceu comigo um dia desses.

Em meio à correria cotidiana e reflexões diárias, é possível que encontremos tempo para pensar exatamente no que estamos fazendo naquele momento. Por exemplo, você está parado no sinal rumo ao trabalho pedido em devaneios sobre aquela sua reunião planejada para durar 15 minutos, mas que vai levar 2 horas e, então, olha para o lado. Se você mora em Brasília, é possível que dê de cara com um ipê amarelo.
Esse milagre da natureza, por alguns segundos, apagou seus devaneios e preocupações e você se deu ao luxo de simplesmente aproveitar o momento com o seu ipê, o que pode ter lhe gerado um sorriso, um suspiro ou apenas a consciência de que existem coisas lindas demais nesse mundo horroroso (calma, gente, também não precisa ser tão dramático).

Essa consciência do "agora" é poderosa e melhora minha vida de uma forma prática. Tanto que acabei a nomeando: microvitória ou microderrota cotidiana. Os termos definem a ação de aproveitar as pequenas coisas legais e ruins que acontecem recorrentemente - e, por isso mesmo, não são valorizadas ou passam despercebidas - e considerá-las vitórias ou derrotas que tornam nossas vidas mais divertidas, significativas e didáticas. Exemplos?

Microvitórias
Chegar à parada de ônibus e, segundos depois, seu ônibus aparecer. YES. Dormir com barulho de chuva. BOOM. Achar uma vaga rapidamente em um estacionamento lotado. FLAWLESS VICTORY. Ter batata frita para o almoço em casa. AHAM-AHAM. Encontrar acidentalmente com um amigo querido que não se vê há tempos. RÁ! Conseguir tirar aquela comida presa entre os dentes depois de uma hora tentando. WE. ARE. THE. CHAMPIONS.


Microderrotas
Passar pelo mesmo engarrafamento diariamente. URG. SAIR MAIS CEDO OU MAIS TARDE. Quase bater o carro por desatenção. VIGI. OLHOS NA PISTA SEMPRE. Derramar café sobre o teclado. RAPAZ... CAFÉ SÓ NA COPA AGORA? Trincar a tela do celular por descuido. NÃÃÃO! COMPRAR UMA CAPINHA?

A cada microvitória cotidiana, meu dia melhora. E há muitas delas para aproveitar. Já as microderrotas, para não se perderem no limbo da falta de sorte, viram lições que devem gerar mudanças de atitude.

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Assimilar algo tão complexo como a vida não é fácil. Por isso, a gente costuma fazer análises superficiais que, como já mencionei, tendem à catástrofe do mundo.
Mas, se você for, aos pouquinhos, percebendo as pequenas coisas boas da vida e como as pequenas coisas ruins podem te ajudar a ser alguém melhor, talvez sua percepção possa ganhar escala e se transformar em algo cada vez mais significativo.
Com sorte, você perceberá com mais clareza como é bom viver.
 
Rodrigo Borges
 Publicitário, adepto do "calma, gente" 

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