A maioria de nós já passou uma parte considerável de nossa vida
procurando o amor verdadeiro – o nosso par perfeito, a outra metade da
laranja, a tampa da panela e todos aqueles outros equivalentes. A busca
por um parceiro ideal não é exclusiva dos seres humanos, e muitos outros
animais também fazem isso. Mas, de uma perspectiva evolutiva, não é
realmente claro por que nós formamos casais. Por que gastar tempo e
esforço com isso quando poderíamos estar reproduzindo?
Agora, um novo estudo com aves traz novos fatos sobre este problema
de longa data, sugerindo que há benefícios evolucionários em esperar
pelo amor e encontrar o parceiro ideal. Os resultados também podem ser
aplicados aos seres humanos.
Então, como você sabe quem é o seu parceiro ideal? A resposta parece
mudar de espécie para espécie. Como as fêmeas costumam investir mais na
reprodução do que os machos, elas tendem a ser o sexo com mais critérios
de escolha. Muitas vezes, há um amplo consenso de quais machos são os
mais desejáveis: aqueles que oferecem mais ou melhores recursos, como um
território muito bom, ou genes superiores que garantem uma prole
saudável.
Somos meio diferentes
Nos seres humanos também existem alguns indivíduos que são geralmente
um consenso no quesito “ser extremamente atraente”. Este tipo de
consenso, no entanto, não é necessariamente um fator importante quando
se trata de escolher um parceiro de longo prazo. Na verdade, quando se
trata de encontrar “o chinelo velho para o pé cansado”, o companheiro
certo parece variar de pessoa para pessoa.
Embora o comportamento em relação a relacionamentos de longo prazo
dos seres humanos seja bastante raro entre os mamíferos, essa
característica é compartilhada com muitas espécies de aves. Uma dessas
espécies é o mandarim, um pássaro comum, muitas vezes usado em
pesquisas. Como as pessoas, os mandarins formam casais de longo prazo, e
cada pássaro tem a sua preferência.
O novo estudo, publicado na revista “PLoS Biology”, investigou qual
pode ser o motivo disso. Os pesquisadores pensaram que se os animais se
esforçavam tanto para encontrar o parceiro perfeito, então deve haver um
benefício de reproduzir com esse parceiro em vez de outro, ou muitos
outros.
Casais penados
Para descobrir o que está por trás disso, eles deixaram 160 aves
escolherem seus próprios parceiros num grande recinto comum. Depois que
os pássaros tinham escolhido seus pares, eles foram colocados em gaiolas
menores por dois meses. Metade dos casais foram alojados com o parceiro
escolhido, enquanto a outra metade foi alojada o parceiro escolhido por
outros.
Usando aves que tinham sido escolhidos anteriormente por um outro
pássaro, eles controlavam a possível confusão de unir pássaros com
companheiros “objetivamente” inferiores. Ainda assim, estas aves
eventualmente também formaram laços. Finalmente, todos os pares agora
estabelecidos foram colocados em aviários maiores novamente (seis pares
em cada gaiola) para reproduzir.
O resultado foi dramático. Pássaros que reproduziram com parceiros de
sua própria escolha tiveram 37% mais filhotes que sobreviveram à idade
adulta do que as aves que copularam com um parceiro não escolhido por
ela. Isso mostrou que alguma forma de compatibilidade com o seu par é
importante para o sucesso reprodutivo desses pássaros.
Harmonia doméstica
Mas por que os pares “forçados” foram menos bem sucedidos na
reprodução? Existem duas possibilidades. Uma delas é que os parceiros
eram geneticamente menos compatíveis. Nos seres humanos, ser
geneticamente semelhante pode significar uma boa sintonia (embora também
tenha sido relatado em estudos que os seres humanos são mais atraídos
pelo cheiro de camisetas suadas usadas por pessoas que têm sistemas
imunológicos geneticamente diferentes).
A outra possibilidade é que os parceiros tinham um comportamento menos compatível (por exemplo, em seus temperamentos).
Os autores do estudo haviam mostrado anteriormente que a viabilidade
do embrião dos pássaros mandarins tem a ver com a composição genética do
embrião e, portanto, a compatibilidade genética dos pais biológicos,
enquanto a sobrevivência após a eclosão se devia puramente ao cuidado
parental.
Esperar pelo amor? Cuidado e atenção
Enquanto a viabilidade do embrião não diferiu entre os dois grupos,
mais filhotes morreram após a eclosão no grupo de “forçados”.
Os cientistas foram capazes de mostrar que os pares “forçados” eram
menos carinhosos uns com os outros – fêmeas do grupo “forçado” eram
menos atentas à corte do seu companheiro, enquanto os machos passaram
menos tempo no ninho e mais tempo cortejando outras fêmeas do que em
pares que escolheram os seus próprios parceiros.
Mas será que esses passarinhos podem nos dizer algo sobre a evolução
da escolha de parceiro em nossa própria espécie? Apesar das semelhanças,
obviamente não somos pássaros mandarins. Sistemas de acasalamento
humanos variam entre culturas e no tempo, porém, nós evoluímos emoções
como “atração” e “amor”, que têm a função de descoberta de um parceiro e
conexão com um indivíduo em particular.
E, assim como os mandarins, pessoas diferentes são atraídas por e
compatíveis com parceiros diferentes. Portanto, é provável que os nossos
próprios comportamentos de escolha do companheiro, incluindo “namorar” e
“terminar”, sejam parte de uma estratégia evolutiva para encontrar um
parceiro compatível, que iria (pelo menos na história evolutiva)
melhorar o nosso sucesso reprodutivo. Então, se você ainda não encontrou
o amor da sua vida, não se desespere. A biologia evolutiva sugere que
vale a pena o tempo e o esforço gasto na procura.
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