Soltos no final de abril deste ano, os insetos geneticamente modificados já reduziram a sobrevivência de novos mosquitos em 70%, o que ajuda no combate à doença que eles transmitem
No ano passado, VEJA publicou que a empresa Moscamed Brasil estava produzindo, por semana, 1 milhão de mosquitos Aedes aegypti modificados geneticamente. A linhagem transgênica estava sendo preparada para se tornar um verdadeiro exército de combate à dengue. Os primeiros resultados, divulgados na última terça-feira (21), de um teste de uma leva inicial desses mosquitos, soltos em Piracicaba, no interior de São Paulo, revelam que os insetos conseguiram neutralizar 70% dos ovos. Eles eliminaram grande parte do vetor da dengue que, na cidade, teve 3 254 casos confirmados da doença apenas neste ano. Em outras palavras, se o plano for amplificado pode diminuir drasticamente os casos de dengue no Brasil.
Batizada de OX513A, a produção artificial do Aedes aegypti (formada apenas por machos, que não picam e, portanto, não transmitem a doença) tem por função fazer esses insetos alterados copularem com as fêmeas que estão na natureza. Dessa forma, transferem para os filhotes um gene letal. Criado pelo laboratório inglês Oxitec, esse gene fabrica em excesso a proteína tTA, que interfere no metabolismo da larva e faz com que ela não consiga produzir outras proteínas necessárias para a sobrevivência. Como a cópula entre os insetos acontece apenas uma vez, o resultado é que cada mosquito transgênico "neutraliza" uma fêmea de Aedes aegypti, fazendo com que ela perca a capacidade de gerar novos transmissores da doença.
Os primeiros resultados da estratégia, chamada de Projeto Aedes aegypti do Bem, revelam que o índice de fluorescência, medida que informa a porcentagem de ovos que receberam o gene autolimitante, ultrapassou 70%. Ou seja, a cada 100 ovos recuperados na região em que os insetos foram soltos, no final do mês de abril, ao menos 70 não devem sobreviver até a fase adulta funcional.
Combate à doença - Agora, a expectativa é que nos próximos meses tenha início a diminuição da população de mosquito transmissor da dengue, e também das variações chikungunya e da zika, naquela região. "Imaginamos ver o início da supressão já em meados de outubro", afirmou Guilherme Trivellato, gerente do projeto em Piracicaba. Segundo Trivellato, a taxa de cópula pode ser identificada por meio de armadilhas distribuídas estrategicamente na área tratada com os mosquitos geneticamente modificados.
O secretário de Saúde, Pedro Mello, afirmou que, mesmo com a intensificação e ampliação no combate e prevenção ao mosquito, foram registrados três óbitos pela doença neste ano, no município. "Estamos buscando um novo caminho e os primeiros resultados são animadores", resumiu Mello.
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