sábado, 29 de agosto de 2015

Defaunação - As consequências de um planeta sem animais


Mauro Galetti, professor do Instituto de Biociências (IB) da UNESP, Câmpus de Rio Claro, junto com pesquisadores dos EUA, México e Reino Unido, acaba de publicar um artigo na revista Science mostrando que o mundo está passando por uma das maiores extinções de animais já vista. Essa onda de extinções de animais é chamada de “Defaunação”.

A mídia e o público conhecem bem o termo “Desmatamento” que é a perda de floresta, mas pouco é alertado sobre os efeitos da Defaunação na Terra. 

Enquanto imagens de satélite podem detectar mudanças rápidas de desmatamento, a perda da fauna é um evento que passa despercebido pelos órgãos de proteção ambiental. “Nosso trabalho vem a alertar a rápida diminuição das populações de vertebrados e invertebrados no Planeta e suas conseqüências para o bem-estar da humanidade”, explica Mauro Galetti, docente do Departamento de Ecologia do IB da UNESP. “Por que precisamos salvar os animais? Porque eles fornecem serviços ambientais imprescindíveis à sobrevivência da nossa própria espécie, não apenas porque são ‘bonitinhos”, complementa Galetti.

Desde o início das navegações o ser humano levou à extinção 322 espécies de vertebrados. Mas a extinção desses animais é direcionada aos grandes animais. Desde a última extinção de grandes mamíferos no final da Era do Gelo a 10 mil anos atrás, o Planeta vem afetando a sobrevivência dos grandes animais. Os pesquisadores mostraram que é evidente que no futuro apenas as espécies pequenas como camundongos, gambás e ratos sobreviverão em nosso Planeta.

Galetti explica que, do ponto de vista de abundância, nos últimos 40 anos, muitas espécies reduziram suas populações em cerca de 30%. A redução da abundancia de invertebrados tem sido mais severa ainda (35% nos últimos 40 anos). “A maioria dos pesquisadores analisa os efeitos humanos sobre a extinção das espécies e nesse trabalho nós enfocamos a extinção local de populações. A extinção de uma espécie tem um grande impacto, e a redução das populações animais causa um impacto maior ainda nos ecossistemas. Enquanto a extinção de uma espécie é um processo lento, a extinção local de populações é um processo rápido”, informa Galetti.
Resumo da pesquisa

Vivemos em meio a uma onda global de perda de biodiversidade impulsionada pela ação humana. Os impactos humanos sobre a biodiversidade animal são uma forma sub-reconhecida da mudança ambiental global. Entre os vertebrados terrestres, 322 espécies foram extintas desde 1500, enquanto as populações das espécies restantes mostram 25% de declínio médio em abundância. 
Padrões de invertebrados são igualmente terríveis: das 67% das populações monitoradas, 45% mostram significativo declínio na sua abundância. Tais declínios animais ocasionam um efeito cascata sobre o funcionamento dos ecossistemas e o bem-estar humano. Muito permanece desconhecido sobre a “Defaunação no Antropoceno”. Estas lacunas de conhecimento dificultam a nossa capacidade de prever e limitar os impactos da defaunação. Claramente, no entanto, a defaunação é tanto um componente penetrante da sexta extinção em massa do Planeta como um dos principais impulsionadores da mudança ecológica global.

Conseqüências da defaunação

- Polinização: Insetos polinizam 75% da produção agrícola do mundo e a redução na fauna de abelhas e outros polinizadores pode reduzir a produção de alimentos.
- Controle de Pestes: Morcegos e aves controlam pragas agrícolas. Nos EUA o papel desses predadores é estimado em US$45 bilhões/ano.
- Ciclagem de nutrientes e decomposição: Invertebrados e vertebrados (urubus) tem um papel importante na decomposição orgânica e na ciclagem de nutrientes.
- Qualidade da água: A defaunação também afeta a qualidade da água. O declínio de sapos e pererecas aumenta as algas e detritos, reduzindo nutrientes.
- Saúde pública: A defaunação afeta a saúde humana de diversas maneiras, desde a desnutrição até o controle de transmissão de doenças.

Diálogo com Mauro Galetti

Qual é a principal conclusão do artigo?

Nosso trabalho levantou dados sobre as populações de vertebrados e invertebrados no Planeta e para nossa surpresa, não estamos vivendo apenas uma onda de extinção de espécies, mas muitas espécies estão tendo um rápido declínio populacional. Não apenas grandes mamíferos, mas muitos invertebrados estão em declínio.

Por que isso é importante?

A ciência tem se preocupado com o impacto das extinções das espécies, mas o problema também é a extinção local de populações. Alguma espécies podem não estar globalmente ameaçadas mas podem estar extintas localmente. Essa extinção local de animais afeta o funcionamento dos ecossistemas naturais vitais ao homem. Nesse trabalho compilamos dados populacionais de grandes mamíferos, como rinocerontes, gorilas, leões e também de invertebrados como as borboletas. Um em cada 4 espécies de vertebrados está tendo suas populações reduzidas.

Qual o método utilizado e as implicações da pesquisa?

Compilamos dados da literatura. Nosso trabalho aponta para dois pontos importantes. Primeiro, muitas populações de animais estão em rápido declínio e, segundo, os animais beneficiam o bem-estar da humanidade não apenas provendo de alimento, mas polinizando e dispersando plantas, e controlando pragas e doenças. Um Planeta sem fauna trará sérias consequências para nossa própria espécie.




Oscar D'Ambrosio

Jornalista da Agência UNESP

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