domingo, 13 de julho de 2014

Medicina Veterinária estará celebrando 253 anos de existência


De Bourgelat ao Prêmio Nobel Peter Doherty

Percy Infante Hatschbach
CRMV/GO: nº 0403

Em 2014, a Medicina Veterinária mundial estará celebrando 253 anos de existência como profissão científica e liberal. Nasceu do ideal, sonho e iniciativa do advogado e hipólogo francês, Claude BOURGELAT (1712-1779), que fundou a primeira escola de medicina animal do planeta, na cidade de Lyon, sul da França, com autorização do Rei Luis XV, através de decreto do Conselho Real, datado de 4 de agosto de 1761.

Iniciou suas atividades acadêmicas em fevereiro de 1762. Ao criar este primeiro estabelecimento de ensino da Zooiatria, Bouurgelat, instituia, pioneiramente, a profissão de Veterinário.

Entre os principais fatores econômicos, sociais e políticos, que conduziram à fundação dessa primeira escola, pode-se citar a precária condição sanitária dos rebanhos equinos e bovinos na Europa, com a ocorrência de graves enzootias e epizootias, como Raiva, Mormo, Carbúnculo hemático, Febre aftosa e a devastadora Peste bovina.

A alta mortalidade dessas enfermidades ocasionava grandes perdas econômicas, pois os meios usados na tentava de as debelar eram totalmente ineficazes.

O progresso da Medicina Veterinária está ligado, precipuamente, ao desenvolvimento das pesquisas científicas no século XX.

É muito difícil, ainda, apontar-se entre tantos eventos, descobertas e trabalhos profissionais, o cometimento de maior significado para a profissão.

Todavia, podemos citar, muito superficialmente, alguns fatos marcantes. Na cidade de Lille, França, a mundialmente conhecida vacina contra a Tuberculose humana, foi desenvolvida por dois incansáveis pesquisadores, um Médico, Albert Léon Charles CALMETTE (1863-1933) e o outro, Veterinário, Jean-Marie Camile GUÉRIN (1872-1961) motivo pelo qual foi batizada pela sigla BCG (Bacilo de Calmette e Guérin).

O veterinário francês Jean-Baptiste Auguste CHAUVEAU (1827-1917) desenvolveu vários trabalhos sobre a etiologia e a imunoprofilaxia do Carbúnculo sintomático (Clostridium chauvoei).

Edmond Isidore Etienne NOCARD (1850-1903), também Veterinário e bacteriologista francês, descobriu, em 1898, o agente etiológico da Pleuropneumonia contagiosa dos bovinos.

Os estudos bacteriológicos do Veterinário norte-americano Daniel Elmer SALMON (1820-1914) sobre a Enterite suína, resultaram na descoberta da primeira Salmonella e no desenvolvimento da primeira vacina morta contra a Salmonelose!

Foi fundador e diretor do BAI- Bureau of Animal Industry em 1883, importante instituição de pesquisas veterinárias nos Estadis Unidos.

Em 1977, o Editor Chefe da revista dinamarquesa "História Medicinae Veterinariae", Prof. Joseph PARNAS, publicou o seguinte editorial: "Anualmente, desde 1905, a Fundação Alfred NOBEL outorga Prêmio Nobel às mais importantes pesquisas em diversas áreas do conhecimento humano, entre elas as Ciências Médicas e Biológicas. A OMS- Organização Mundial da Saúde, concedeu até hoje, dezenas de sua distinção mais importante, a Medalha Leon Bernard, para inúmeros líderes da saúde pública mundial. Mas até 1977, nenhum Médico- Veterinário recebeu tais prêmios ou distinções! Por que? Será que os pesquisadores veterinários jamais realizaram pesquisas ou descobertas científicas de interesse em ciências médicas e saúde pública? Se assim fosse, então a Medicina Veterinária não poderia ser considerada ciência! Todavia, é evidente que há muitos anos a zooiatria, como parte integral da ciência médica, segundo o conceito- Una sanitas, uma medicina, tem contribuído enormemente para o progresso da medicina e fisiologia, conforme era considerada por Nobel e Bernard em seus testamentos... Eu poderia citar centenas de exemplos para consubstanciar a acusação de que os cientistas veterinários têm sido ignorados pela Fundação Nobel e a OMS, apesar de seus brilhantes trabalhos e descobertas". 

Após citas esses nomes como exemplos das importantes descobertas e pesquisas realizadas por Veterinários e seus colaboradores, o Prof. Parnas termina, assim, seu editorial: "Poderíamos, ainda, relacionar inúmeras pesquisas pioneiras em Medicina Veterinária experimental e trabalhos práticos em saúde pública veterinária que não foram reconhecidos, seja pela OMS! Apesar de tudo, tomei a liberdade de explicar estes fatos junto à Comissão Nobel de Estocolmo e ao quartel- general da OMS em Genebra. As autoridades da OMS responderam que minhas ponderações críticas eram pertinentes. Indiquei, então, alguns nomes de eminentes Médicos- Veterinários para a consideração das duas instituições. Será que serão levados a sério?- QUI VIVRA... VERRA".

Pois bem. Em 1996, portanto, 19 anos após as ponderações do Prof. Parnas, a Fundação Nobel outorgou seu prêmio de Medicina ou Fisiologia ao Médico- Veterinário australiano, PETER DOHERTY, formado pela Universidade de Queensland, com PhD na Universidade de Edimburgo, Escócia.

O trabalho premiado refere-se à Imunologia, mais especificamente a descoberta de como o sistema imunológico animal reconhece células infectadas por vírus.

O prêmio foi dividido com o Médico suiço Rolf Zinkernagel. Os dois pesquisadores desenvolveram o trabalho premiado na "John Curtin School of Medical Research", em Camberra, Austrália.

Após quase duas décadas de espera e ansiedade, finalmente a justiça científica estaria feita. Ao comemorarmos o ANO MUNDIAL DA MEDICINA VETERINÁRIA, podemos nos orgulhar de nossa profissão por estar inserida entre aquelas escolhidas pela Fundação Nobel.Nossas homenagens a esses nobres pesquisadores.


Artigo retirado da REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA VETERINÁRIA
jan/mar 2011
página 06

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