terça-feira, 18 de novembro de 2014

Mundo equestre: Iniciação com potros

Matéria escrita por Bruno Sá Grise.
Atleta profissional e domador de cavalos
Fale com o autor: bcsagrise@gmail.com ou acesse: www.brunosagrise.com.br

O método de iniciação dos potros utilizado é baseado na psicologia do cavalo, no modo de percepção do ambiente ao seu redor e na compreensão do animal sobre o que iremos exigir dele.

Um cavalo tenso, assustado, assim como um ser humano que se sente assim, tem dificuldade de aprendizado. É fundamental respeitar e tentar ao máximo entender o modo pelo qual os cavalos reagem aos estímulos durante o treinamento para, assim, conseguir um animal relaxado que esteja apto a absorver o aprendizado.
Na prática, com um pouco de sensibilidade e muita paciência, através de uma comunicação clara e concisa conseguimos estabelecer uma relação de confiança e liderança com o animal. Monty Roberts foi muito feliz ao desenvolver o Join Up, linguagem homem/cavalo que é pedra fundamental no processo de criação de uma parceria de boa vontade e não submissão por opressão.

 Quando o cavalo coopera no treinamento porque quer cooperar, e não porque está sendo obrigado, seu rendimento é muito maior. Em competições de alto nível, sejam hípicas, de andamento ou morfológicas, nas quais o investimento é considerável, detalhes fazem a diferença e um cavalo que tem prazer em cooperar terá um desempenho melhor do que o que está sendo forçado a fazê-lo tendo, assim, chances elevadas de se tornar um vencedor.




No Brasil, investe-se pouco na fase de iniciação dos animais, e campeões às vezes passam despercebidos por falhas neste processo. Desde o começo do trabalho com os potros é fundamental buscarmos a confiança, o prazer e a cooperação de boa vontade. Quando o animal passa a nos reconhecer como líder, aceita mais facilmente os comandos sugeridos e percebe que pode ser prazeroso trabalhar em conjunto. O método desenvolvido tem estes pontos basilares direcionais: confiança, compreensão e respeito mútuos.


Iniciando os trabalhos
A fase de doma começa com exercícios de chão dentro do redondel. O Join Up é o início. Trata-se do processo de comunicação com o cavalo e se estabelece uma liderança e um elo de confiança. A seguir, iniciam-se exercícios de cabresteamento e aulas de boas maneiras como respeito ao espaço e flexionamentos laterais. Estes exercícios são base para o charreteamento e facilitarão a introdução à primeira embocadura evitando vícios provocados por falhas humanas ou por um processo rápido de “quebra”. A boca do cavalo é muito sensível e traumas podem originar problemas crônicos. Após o trabalho de chão/introdução à embocadura, quando obtemos o mínimo controle de rédeas necessário, passamos para a introdução à primeira sela e, posteriormente, ao primeiro cavaleiro. Técnicas de reforço positivo, pressão e alívio e dessensibilização fazem parte de todo o processo de iniciação dos animais. 

É ponto crítico recompensar o mínimo esforço positivo do animal ao estímulo e exigir gradativamente cada passo. Se isto for observado a risca, o progresso é diário. O cavalo aprende e evolui por repetição, aprendizado latente, intrínseco e extrínseco. Ao cavaleiro, além do domínio das técnicas, é vital paciência e sensibilidade.

Desenvolvimento

Normalmente a fase de doma dura três meses, em média. No final deste período temos um animal apto a desempenhar seis imperativos básicos que é comum observarmos cavalos experientes com vícios em seu cumprimento. São eles: andar para frente, parar, ficar parado (rédeas soltas, inclusive na hora de montar e desmontar), virar para um lado, para o outro e recuar. Também é pré-requisito básico nestes três meses de iniciação ou doma, o animal estar preparado para executar com equilíbrio, sem vícios de rédeas, as andaduras em três velocidades: passo, trote e galope. Desenvolver círculos, equilibrado nas três andaduras e se movimentar de forma retilínea ao cruzar o picadeiro. Exercícios específicos para determinada modalidade ou fim a que se destinará o animal começam a ser introduzidos no final deste período.

 Nesta fase é extremamente positivo que o potro saia do redondel e vá para a pista, mas não se limite a exercícios no picadeiro e faça exteriores, trabalhe em lugares diferentes, “veja o mundo” e se interesse pelo novo dia a dia de exercícios. Os cavalos são naturalmente curiosos e podemos usar isso a nosso favor. Todo processo de iniciação é totalmente indolor, sem violência ou trauma para o animal. Respeitam-se suas possíveis limitações como características físicas, idade e possíveis vícios adquiridos.
Bom saber

É importantíssimo observar que cada animal é um indivíduo diferente com determinada personalidade e reação aos estímulos, podem ser mal compreendidos e apresentar dificuldades se não observarmos suas peculiaridades. Os cavalos são iniciados como uma página em branco e cabe a nós ajudar a escrever a história de cada um.

Fonte:
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