terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Ibama debaterá criação de animais da fauna nativa para domesticação

 
O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) anunciou a abertura de processo de consulta pública em relação às espécies da fauna nativa brasileira que poderão ser reproduzidas em criadouros para serem comercializadas como animais domésticos. O aviso sobre a realização dessa consulta foi publicado na edição do dia 30 de novembro do Diário Oficial da União.

A consulta pública está aberta entre os dias 3 e 17 de dezembro. Material sobre o tema em debate será publicado no site do Ibama (http://www.ibama.gov.br). A discussão é aberta a todos os interessados, mas o Ibama ressalva que "as contribuições deverão ser embasadas tecnicamente, de acordo com os critérios estabelecidos na referida resolução, indicando-se as referências bibliográficas utilizadas na justificativa".

Além disso, o aviso publicado no Diário Oficial destaca que "manifestações enviadas por documentos impressos ou correio eletrônico (e-mails) não serão analisadas". Para opinar, portanto, será necessário acessar formulário eletrônico específico, dentro da página do Ibama na internet.

Fonte:
http://www.anda.jor.br/11/12/2015/dez-dezembro

É no convívio com os bichos que o homem revela o que tem de mais humano

 

Amor a quatro patas

Cachorro é como criança: basta chegar perto de alguém para receber afeto e carinho. Gatos, tartaruguinhas e papagaios são igualmente convidativos a um afago. Debaixo do mesmo teto, os animais se misturam à vida dos homens trocando companhia e amizade, numa relação muito além de qualquer sentido utilitário. Cachorros, gatos, peixes e outros animais domésticos não são criados para servir de alimento, como galinhas no fundo do quintal, nem tampouco para ajudar no trabalho, como burros de carga. A paixão por bichos atravessa a história humana e independe da geografia. Num país como os Estados Unidos, existem hoje 475 milhões de animais domésticos - dos quais 48 milhões de cães e 27 milhões de gatos - ou dois para cada habitante. Estima-se que 10 por cento dos brasileiros tenham um cachorro. Na França, a relação é de dezoito animais domésticos por cem habitantes. Números significativos existem igualmente da Suíça ao Japão. É uma convivência sem fronteiras.

Mas o que leva os homens no mundo cada vez mais urbanizado de hoje a apreciar a companhia de bichos? Antes de mais nada, a história dessa união é bem mais antiga - vem do tempo em que as sociedades humanas não passavam de agrupamentos em que a organização familiar e social, assim como a divisão de tarefas, apenas engatinhava. Acredita-se que a domesticação de animais data de uns 12 mil anos, no Período Neolítico, não por acaso a mesma época em que o homem começou a trocar a caça e a coleta nômades por um pedaço de chão, dando origem à agricultura.

Ao aprender a cultivar a terra, o homem do Neolítico aprendeu também a criar animais como reserva alimentar. Disso nasceu a teoria que explicava a associação gente-bicho exclusivamente em termos de domínio dos animais pelo homem. Mais recentemente, porém, entrou em cena o conceito de co-evolução, que aponta na direção de uma espécie de pacto implícito entre bichos e pessoas, com vantagens para ambas as partes. Os lobos, primeiros animais domésticos e ancestrais dos atuais cachorros, ganharam ao conviver com o homem proteção contra predadores, comida sem precisar disputá-la com outros carnívoros e até o abrigo aconchegante do calor das fogueiras. Os assentamentos humanos tornaram-se fonte abundante de sobras de alimentos, que atraíram pássaros, que por sua vez atraíram gatos e assim por diante.

À medida que a convivência evoluía, os animais foram se tornando também objetos de estima, numa recorrência que permeia várias culturas e épocas. Os opulentos habitantes da antiga cidade grega de Síbaris, no sul da Itália (da qual veio o adjetivo sibarita, para designar pessoa rica e indolente), e alguns membros da aristocracia ateniense tinham especial predileção pelos cachorros. Na China, o cão pequinês era venerado pela dinastia Han, há cerca de mil anos. Mesmo na Inglaterra do século XVII, enquanto o povo montava cavalos até que morressem ou torturava bois e porcos ao matá-los, os monarcas da dinastia Stuart eram apaixonados por cães. Ao chegar ao Novo Mundo, os europeus descobriram que tribos americanas mantinham animais de estimação. Era o caso dos navajos e seus gatos.

Se para os animais a proximidade dos humanos foi um achado, os homens também lucraram, tirando sustento da carne dos bichos que criavam e usando sua força para guarda, trabalho e transporte. É certo que essa relação originalmente utilitária de dominação foi sedimentando na mente humana a noção da inferioridade animal. Daí a maltratá-los sem necessidade ou mesmo por prazer foi um passo, como acontecia rotineiramente na Europa até o século XVIII. Apesar de todas as maldades praticadas contra os bichos, da convivência e da observação surgiu o afeto pelos animais - seres que nunca deixaram de surpreender pela inteligência ou por comportamentos que as pessoas podiam supor aparentados aos delas próprias, como a fidelidade (dos cães) e o ânimo brincalhão (dos gatos). Hoje suas atribuições incluem a de devolver ao habitante de uma sociedade governada pela tecnologia o contato com a natureza. O essencial, porém, é o afeto.

Este sentimento é a parte mais relevante da convivência entre homens e animais. “O animal responde incondicionalmente ao amor dos homens”, analisa a psicóloga Maria Helena Scherb, dona de um cachorro e dois gatos. O psiquiatra americano Aaron Katcher, autor de vários livros sobre homens e bichos, vai mais longe. Para ele, os animais influem diretamente sobre a saúde física e psicológica dos donos. Nas situações em que se está deprimido ou solitário, um animal serve para fazer companhia. Além disso, é algo vivo para se cuidar e para se sentir necessário, visto que o bicho depende da pessoa. Em situações de ansiedade ou de medo, o animal funciona como fonte de apaziguamento: ao tocá-lo e afagá-lo, pode-se adquirir algum sentimento de segurança.

“O ser humano tem uma necessidade de contato físico que é preenchida pelo animal”, nota a veterinária Hannelore Fuchs, que se doutorou em Psicologia na Universidade de São Paulo em 1987 com uma tese sobre homens e animais domésticos. Como se sabe, a vida atribulada das grandes cidades nem sempre deixa tempo (ou cabeça) para que as pessoas dêem ou recebam carinho na hora que desejam. Assim, se o bicho homem mais próximo está ocupado, a alternativa para muitos é afagar o de quatro patas.

Para uma criança, por exemplo, um cachorro pode servir como aula de vida: o bicho cresce diante de seus olhos, engravida, tem filhotes, fica doente, morre. Por um lado menos prático e mais sentimental, o cachorro funciona como substituto dos pais eventualmente ausentes num momento em que a criança precisa de afeto, ou mesmo quando ela briga com eles. Qualquer garoto que tenha um cão chora as mágoas para ele quando fica chateado. Nem é preciso ser criança para bater longos papos com os bichos e neles encontrar conforto.

A apresentadora de televisão Xuxa diz que entende e gosta mais de crianças e animais do que de adultos. Em sua casa vivem dezoito cachorros, dez micos, quarenta periquitos, três papagaios, um tucano, dois faisões, duas codornas, um carneiro, além de - ufa! - patos e pombas. “As crianças e os animais gostam do meu jeito de ser mesmo que esteja mal vestida e sem maquiagem, ao contrário dos adultos”, observa Xuxa.

Ela conta que quando tem problemas e quer desabafar conversa com os bichos, principalmente com o fila Xuxo: “Eles só ouvem, não recriminam não respondem, e o Xuxo ainda chora junto comigo e tenta me alegrar”. Bicho não é só consolo de jovem. Os velhos padecem de um isolamento gradativo devido à idade e ao culto da juventude que permeia a cultura ocidental hoje em dia. Com a pele enrugada e as mãos encarquilhadas, muitas vezes fica mais difícil para uma pessoa idosa tocar e ser tocada: nem todo mundo gosta do contato com uma pele que já não é macia. Sem a discriminação praticada pelos humanos, o cachorro e o gato aceitam e retribuem o carinho de um idoso com prazer.

Por isso, se não encontra mais companhia junto a seus parentes próximos, uma pessoa de idade pode suprir suas necessidades afetivas graças a um animal. A presença de um bicho pode ser tão significativa para os que estão à margem da vida normal da sociedade, como velhos e deficientes físicos ou mentais graves, que já existem em muitos lugares para eles terapias auxiliadas por animais. A simples companhia pode ser suficiente para melhorar o humor de quem convive com animais. O jogador de futebol Bebeto, consagrado no Flamengo do Rio, corre para junto de seus cães, papagaios e araras cada vez que tem uma folga.

“Gosto dos animais porque eles me distraem e me divertem muito”, conta ele. Para quem pensa em conhecer novas pessoas uma boa receita é arrumar um cãozinho e passear com ele pelas ruas. Isso não é só conselho de manuais de pseudopsicologia, daqueles que ensinam a fazer amigos. O zoólogo inglês Peter Messent observou numa pesquisa em ruas e parques que quase todas as pessoas que passeavam com cachorros eram cumprimentadas ou conversavam com estranhos. Já os que caminhavam sozinhos ou com crianças fizeram pouquíssimos contatos.

Ainda que haja uma distância talvez incomensurável entre criar uma criança e um bichinho, as duas atitudes, para os pesquisadores americanos Alan Beck e Aaron Katcher, têm pontos em comum. Gente ou animal, ambos têm de ser alimentados, protegidos, cuidados em sua saúde e receber carinho sempre que o pai, ou o dono, deseja dar. A diferença aparece quando crescem. Os filhos viram adultos e saem de casa, mas os animais continuam dependentes a vida toda e por isso mesmo podem ser amados egoisticamente como filhos que jamais crescem, eternas crianças, em oposição aos filhos verdadeiros que um dia batem asas para formar suas próprias famílias.

Essa característica, que influi na decisão de certas pessoas de ter animais domésticos, influiu também em sua evolução, desde que começaram a partilhar o mesmo espaço há uma dezena de milênios. Os primeiros lobos que se aproximaram dos homens tinham aparência selvagem, que foi evoluindo para traços mais suaves até chegar ao cachorro de hoje. Isto se deu porque os lobos favorecidos pelos homens eram naturalmente os menos agressivos, os que mantinham traços juvenis e amadureciam sexualmente mais cedo, transmitindo tais características aos descendentes. Excetuando os cães de guarda, os animais domésticos mais apreciados são geralmente fofos e mansos - como crianças.

O animal está na vida do homem como companheiro - e também dentro dele. Pelo menos assim o psicanalista suíço Carl Gustav Jung (1875-1961) via os animais enquanto símbolo - eles representariam o lado mais instintivo do homem, a porção fera de cada um. Esse animal símbolo estaria gravado no que Jung chamava o inconsciente coletivo, uma espécie de memória geral da espécie humana presente em nossa mente. “Se uma pessoa souber lidar satisfatoriamente com seu animal interno, possivelmente vai se dar bem com os animais reais”, afirma o psicólogo Ricardo Belfort Mattos. Quando ocorre o contrário, é provável que uma pessoa não goste de animais e até os maltrate. Sim, o homem agride os animais - mas também organiza sociedades protetoras de animais.

No caso de uma criança que torce o rabo do gatinho ou chuta o cachorrinho, porém, o motivo tende a ser outro. “A criança normalmente não é cruel, é curiosa”, diz Hannelore Fuchs. Cabe ao adulto educá-la para que não inflija a outro ser vivo a mesma dor que não quer sentir. Num momento de raiva, no entanto, crianças ou adultos podem descarregar a frustração em cima do bicho, que normalmente não revida, a não ser que tenha tamanho suficiente para dar o troco em mordidas ou unhadas. “Esse é o lado negativo da relação das pessoas com os animais”, diz a psicóloga Maria Helena Scherb.

Desde que não descambem para o espancamento, essas desavenças são, porém, comuns em qualquer paixão. Não só os cães, mas os passarinhos, gatos, macaquinhos e todos os animais domesticados podem se tornar grandes amigos do homem. Eles estão aí para dividir amizade, companheirismo, afeto, resgatando uma intimidade esquecida do homem com a natureza e consigo próprio. Como notou Hannelore Fuchs em seu trabalho acadêmico: “O animal possibilita ao ser humano mostrar suas qualidades humanas, quando cuida, se sacrifica, ama e chora a perda de um animal”.


Fátima Cardoso

Fonte:
super.abril.com.br/historia/domesticacao-de-animais-amor-a-quatro-patas 
 

Bichos Corruptos - A corrupção não é exclusividade dos brasileiros, a falta de caráter come solta no reino animal - e até no vegetal.

Bichos Corruptos
A corrupção não é exclusividade dos brasileiros, nem do ser humano. Por cortesia da evolução, a falta de caráter come solta no reino animal - e até no vegetal.
Quando um macaco não consegue o que quer, ele paga propina para ver se o negócio sai. Um chimpanzé típico não costuma ter muito acesso a grandes contratos com estatais. Então, como não tem dinheiro, ele só quer amar. Tendo sexo na vida, está tudo bem, o resto ele vai levando. Mas isso não torna a vida deles mais fácil que a nossa. Pelo menos não a dos machos. É que as fêmeas de chimpanzé têm o mesmo problema das de outras espécies: só dão bola mesmo para os mais fortes e bonitos. Mas os macacos feinhos deram um jeito de contornar isso. Como? Pagando propina.

 


Bichos CorruptosiStock

Quando um chimpanzé volta de uma caçada bem-sucedida, nem pensa duas vezes: já chama alguma gatinha para um churrasco, ainda que um churrasco cru, e a dois  - talvez o equivalente símio a convidar uma moça para jantar no japonês. E aí vê se rola alguma coisa depois.
Geralmente rola. O suborno dá tão certo lá na África subsaariana, a casa deles, quanto costumava dar na Avenida República do Chile número 65, a sede da Petrobras. As fêmeas agradecem a refeição com sexo. Não é exatamente um toma-lá-dá-cá. A macaca não vai para a moita com o cara na hora só porque ele pagou o jantar dela. Mas no longo prazo, como dezenas de pesquisadores já observaram, é diferente: elas acabam colocando os doadores de carne em seu rol de amantes, como a Petrobras colocava os propineiros em seu rol de fornecedores.

A flor dissimulada


Bichos CorruptosiStock
Outro bicho que apela para a corrupção nem é bicho. É a orquídea. Qualquer flor, na verdade, é um instrumento de dissimulação. As cores fortes e os perfumes marcantes são ferramentas para atrair insetos, e outros animais, de modo que eles carreguem o pólen delas para outras plantas. Do ponto de vista de um vegetal, ter o pólen transferido para outro indivíduo é exatamente o que para um homem significa ter seu sêmen transferido para outro indivíduo - ou indivídua. Significa sexo. E qualquer planta que se preze também não mede esforços para ter sexo. Na maior parte dos casos, a relação entre a planta e seu vetor sexual, o polinizador, é um jogo em que os dois lados ganham. A flor fornece néctar para a abelha, por exemplo, e a abelha carrega o pólen da flor para outro indivíduo fotossintético. Mas nem tudo são flores no reino vegetal, porque tem quem burle essa regra para se dar bem. E é aí que entra a orquídea. Um gênero específico de orquídea, completamente desprovido de caráter: a Bulbophyllum. Ela não produz néctar, então não atrai a atenção das abelhas. O negócio dela é com outro inseto: a mosca varejeira.
Varejeira gosta de carniça, você sabe. Então a flor simplesmente finge que é um cadáver. Sério. As pétalas dela têm o mesmo matiz daquele abajur da música do Ritchie: cor de carne. E exalam cheiro de coisa podre. As varejeiras, então, pousam lá e se ferram: não acham carniça nenhuma. Mas aí, quando as moscas vão embora frustradas, já fizeram o que a flor queria: o pólen da danada já está preso no corpo das moscas, a ponto de bala para sair e fecundar outra orquídea. No fim das contas, uma relação que deveria beneficiar as duas partes acaba favorecendo só a planta. A mosca só paga de otária. Sempre. ''E a prefeitura não faz nada!'', diria um Datena do mundo das moscas. Pois é. Aquele cidadão que dizia ''as árvores somos nozes'' estava mais certo do que parecia. Mas talvez não haja forma de vida mais sórdida que uma espécie de gazela, a Gazella thomsonii. Falemos um pouco mais dessa sacripanta ungulada.

A gazela traíra 


Bichos CorruptosiStock
Além de ter um dos chifres mais bonitos da África, essa gazela vive em bandos de centenas de indivíduos (segundo a PM, milhares; pelo Datafolha, dezenas). E ela tem um hábito particular: quando uma gazela avista um predador, lá longe, começa a saltar bem alto, usando as quatro patas para lançar-se ao ar.
Num primeiro momento, a maior parte dos pesquisadores interpretou a acrobacia como um modo de sinalizar o perigo para o resto do bando. Mais do que um gesto de altruísmo, seria um de heroísmo: o salto atrairia a visão do predador, que geralmente é um guepardo. O guepardo é a Lamborghini da savana: faz de zero a 100 km/h em 3 segundos (mais do que qualquer outro animal - e do que a maioria das Lamborghinis, até). Bom, atrair a atenção de uma máquina dessas é suicídio. A gazela que salta para avisar as outras coloca a vida em jogo. Então devia era ser canonizada, certo?
Talvez não. Para Amotz Zahavi, um zoólogo da Universidade de Tel Aviv, esse comportamento não tem nada de nobre. O israelense concluiu que a gazela pensa igual aquele cara da piada do tigre:
Dois sujeitos estão fazendo trilha e dão de cara com um tigre. Um pega a mochila, tira um par de tênis de corrida, e começa a calçar. O outro zomba: ''Não adianta. Você não vai correr mais do que um tigre''. ''Não mesmo'', ele responde. ''Mas vou correr mais do que você.'' É exatamente o que se passa na cabeça da gazela saltitante, pelo menos segundo a teoria de Zahavi. Os pulos não são para chamar a atenção do bando, mas para dar um aviso ao predador. É que os guepardos não são nada chegados em gastar gasolina à toa. Sempre preferem correr atrás das gazelas mais frágeis, lerdas, até para não exaurir o tanque a cada caçada. Ao dar saltos ornamentais na cara do predador, então, a gazela dá uma exibição de força e agilidade. É um aviso. Uma advertência do tipo: ''Escolhe outra gazela aí porque, se você vier atrás de mim, vou dar trabalho''. Uma atitude lúcida. Só que tão heroica quanto a do cara da piada do tigre.

O morcego aproveitador


Bichos CorruptosiStock
Mas, ei: existe heroísmo entre os animais, sim. Um desses benfeitores, imagine você, é o morcego-vampiro, que passa o dia dormindo e, à noite, sai para chupar sangue, geralmente de algum mamífero grande. Parece uma vida mansa. Mas não. Primeiro, porque nem todo dia dá para achar uma presa. E, se um deles passar 70 horas sem comer, morre.
Isso de a morte estar sempre à espreita uma hora fez baixar um Jean-Jacques Rousseau na morcegada. É que eles desenvolveram um contrato social: hoje os morcegos doam uma parte do sangue que conseguem na caçada para os companheiros que não tiveram a mesma sorte naquele dia.
Mas não falta quem tente burlar essa lei. Até porque doar comida ali não é uma atitude trivial. O morcego tem que vomitar um pouco do sangue que bebeu na caçada, na boca do beneficiário. É um processo que demanda tempo e energia. Mau negócio para indivíduos que não podem passar três dias sem comer.
A melhor estratégia do ponto de vista individual, então, é trapacear: nunca dar almoço grátis para os parceiros. Só receber, sempre que voltar para a caverna com os dentes abanando. Logo, todo bando de morcegos- vampiros tem seus aproveitadores.
Mas esse comportamento trapaceiro só vale a pena quando a grande maioria dos indivíduos é honesta. Se a corrupção vira norma, começa a faltar doador no mercado. E nenhum morcego jamais vai ganhar comida quando falhar na caça. Como a espécie dos chupadores de sangue é frágil, porque aguenta pouco tempo sem comer, o bando todo se trumbica. Foi mais ou menos o que aconteceu com outro bando de chupins: os empreiteiros que fraudavam licitações da Petrobras. No começo, só sete empresas participavam das trapaças. Depois, 16, 17, 18... No fim já eram 23. A corrupção virou regra. Julio de Almeida Camargo, um dos empresários-delatores da Lava Jato, explica: ''Havia uma regra do jogo: se o senhor não pagasse propina, não obteria contratos com a Petrobras''. Ou seja: era tanto esquema que o próprio esquema canibalizou o esquema.
Mas os morcegos-vampiros levam uma vantagem sobre o Homo sapiens: os caras têm um esquema eficiente para punir seus corruptos. ''Eles não dão alimento para qualquer um. Os morcegos selecionam, ao longo do tempo, os parceiros mais confiáveis para fazer suas doações'', diz o biólogo Gerald Wilkinson, da Universidade de Maryland, que descobriu esse comportamento e estuda o assunto há 30 anos.
Isso significa que só recebe comida quem doa comida. Os trapaceiros, que nunca doam nada, jamais ganham a confiança de ninguém. Com a reputação manchada, então, tendem a morrer de fome. Desse jeito, quem fica a um passo da extinção não é a sociedade dos morcegos, é o próprio comportamento corrupto. Fica a dica ;) 

Fonte:
http://super.abril.com.br/comportamento/bichos-corruptos

High Tech - Tecnologia 3D, uma nova oportunidade para o reino animal


Ao longo dos séculos tem sido o Homem o responsável pela extinção e destruição de algumas espécies de seres vivos no planeta. Segundo o Centro para a Diversidade Biológica, as actividades humanas são responsáveis por 99% das espécies em risco de extinção.

Mas o Homem que destrói as espécies pode ser também o responsável pela sua recuperação, onde a tecnologia 3D tem uma palavra a dizer.



Já por diversas vezes relatámos casos clínicos onde foram criadas próteses para doentes através de impressoras 3D. Esta tecnologia veio trazer à medicina o pormenor e o detalhe nas próteses que, até então, era mais difícil de conseguir, de uma forma muito mais rápida.

Esta é uma realidade que é também aplicada ao mundo animal

Existem alguns casos mais conhecidos, como os da tartaruga que recebeu uma carapaça ou de uma outra que recebeu uma mandíbula, ambas próteses criadas através de impressoras 3D.



Um dos outros casos, que expressa bem a maldade humana para com os animais, é o de um tucano na Costa Rica que foi alvo de maus tratos por crianças locais e que acabou por ganhar um bico novo graças a uma campanha de investimento colectivo e a quatro empresas locais ligadas à impressão 3D.

Depois de vários casos de sucesso, o objectivo de muitos investigadores é poder levar esta tecnologia ao mundo animal em vias de extinção.

Mas não é só de impressão de próteses que se fala. Fala-se também da captura de imagens em 3 dimensões e da criação de outros objectos que possam ser úteis à recuperação das espécies.

Captura de imagens 3D através de drones

Conhecer e explorar o habitat natural de algumas espécies não é fácil em muitos casos, onde existem muitas espécies selvagens perigosas e onde o Homem, para alcançar, terá que forçosamente destruir ou intervir negativamente no meio ambiente.

Nestes casos existem os drones capazes de capturar imagens e fazer reconstituições fiéis em 3 dimensões do habitat de algumas espécies.

Esta tecnologia já está a ser utilizada, por exemplo, numa reserva selvagem da Namíbia, onde, através das imagens em 3D está a ser construída uma reserva para salvar rinocerontes negros de África que estão a ser ameaçados pela caça furtiva.

 

A criação de um mapa 3D das diversas florestas a nível mundial poderá significar um controlo muito mais eficiente das espécies e o impacto das mudanças climatéricas, por exemplo, nos padrões de crescimentos das florestas. A comunicação entre os diferentes investigadores passará a ser, também ela, mais eficiente.

Tecnologia 3D no combate à caça furtiva

Ainda em relação aos rinocerontes negros existem equipas de investigadores a criar réplicas dos chifres destes animais com o objectivo de inundar o mercado com este material, com forma de combater a caça furtiva que está a acabar com esta espécie. A ideia é criar réplicas fiéis dos chifres em 3D de forma a não haver espaço no mercado para a compra do material de origem criminosa.

 

O mesmo acontece com outras espécies que têm sofrido ao longo dos últimos anos nas mãos de caçadores e comerciantes destes materiais ilegais mais valiosos, como é o caso das peles ou do marfim.

O caminho a percorrer ainda é longo e espera-se que até ao objectivo final nenhuma espécie se extinga por culpa das nossas práticas. 


Fonte:
PPLWARE

"Entre patas e rodas" - Tutores se encontram na USP para praticar esportes com seus cães


Tutores se encontram aos domingos no Bosque da Física para praticar esportes com seus cães

Em setembro deste ano, o buldogue Otto, cão peruano, entrou para o Guinness, o livro dos recordes, ao atravessar o “maior túnel humano” do mundo em cima de um skate.

Como Otto, muitos outros cães são incentivados a se exercitar pelos seus próprios tutores. Uma exemplo disso é a prática do dog pulling skate (cão puxando o skate, em tradução livre), atividade na qual o cão é responsável por conduzir o skatista que segura a guia do animal. A atividade tem se popularizado bastante e já adentrou o espaço universitário: o grupo de amigos Dog Pulling Skate é um exemplo disso. Com o uso de e skates ou patins, a prática tem capacidade de oferecer momentos de companheirismo e espaço para que o animal descarregue sua energia.
 
Amigo de quatro patas

Como os seres humanos, os cães apresentam habilidades sócio-cognitivas e são capazes de comunicar e interagir, além de criar vínculos afetivos com seus tutores. “Muitos padrões comportamentais dos cães parecem especialmente direcionados para induzir o cuidado de seus tutores, assim como fazem as crianças”, explica Carine Savalli, pesquisadora na área de comunicação cão-ser humano e professora da Unifesp.

Por isso, quando o tutor trata o animal com afeto e atenção, esse relacionamento cria forte vínculo afetivo, de forma que é benéfico tanto para o animal, já que garante sua sobrevivência com alimentação e segurança e atende suas necessidades física e emocionais, como para o ser humano. “Há estudos que mostram que acariciar e olhar para o seu cão promove alterações hormonais, como aumento da ocitocina, que está ligado a criação de vínculos afetivos, e alterações em parâmetros fisiológicos no sentido de aumentar a saúde e bem-estar”, comenta Savalli.

Como são animais sociais, o isolamento dos cães pode acarretar em problemas de comportamento, alguns dos quais são potencialmente destrutivos e agressivos. Responder a esses comportamentos com punições, contudo, é capaz de piorar a conduta dos animais. Nesse sentido, praticar atividades com o companheiro canino pode ser uma ótima oportunidade para passar um tempo com o animal, ainda mais para cães que possuem muita energia e necessitam de atividades para descarregá-la. “Se você percebe que seu animal continua agitado, mesmo com passeios diários, é importante pensar em outras atividades para que essa excitação não prejudique o cão”, comenta Alice Frank, psicóloga e mestre pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ-USP). 
 

Caio e seu Boxer Ozzy com o peitoral indicado para a prática (foto: Vitória Batistoti)
 
Patas e rodas

Essa é a ideia do grupo Dog Pulling Skate. Os encontros já ocorrem há quatro meses, aos domingos, a partir das 10h, no Bosque da Física, na Rua do Matão. As atividades são registrados no Instagram do grupo (@dog_pullingskate), que é alimentado com fotos de cães atletas que praticam o esporte tanto nos encontros pela USP como ao redor do mundo. Caio Alves, um dos idealizadores do grupo e tutor do boxer Ozzy, acredita que seu cão melhorou muito com a atividade. “Ele é um cachorro bastante agitado, mas, antes, era ainda mais. Agora, praticando esporte, ele consegue se desestressar e conviver muito melhor com outros cachorros”, relata.

Entretanto, antes que o cão se acostume com a atividade, pode existir certa resistência no começo. Fernando Furuya explica que para praticar com Sheik, pitbull do qual é tutor, começou utilizando um brinquedo que o cachorro gostava. “Coloca o brinquedo a uma certa distância, pega o skate e tenta fazer ele buscar. Vai aumentando a distância até ele pegar gosto”. O tempo de adaptação para a prática, todavia, varia de animal para animal. “Alguns terão mais aptidão, outros vão latir e morder o skate”, relata.

Para iniciar a brincadeira, é importante que o tutor tenha domínio com o veículo que vai utilizar, seja ele skate, patins ou bicicleta. Isso é necessário porque o cão pode estranhar muito no começo e disparar em alta velocidade, se distrair com algum outro objeto ou até mesmo parar de correr bruscamente. “Quem não tiver experiência e quiser começar a praticar, é bom vir com equipamento: capacete, cotoveleira, joelheira”, explica Fernando.
 

João Paulo e seus dois cachorros, Mufasa e Shitara (foto: Vitória Batistoti)
Cuidados prévios


Antes de incentivar o animal a praticar quaisquer atividades, contudo, é fundamental visitar um veterinário, pois, como é uma prática que exige esforço, animais acima do peso, idosos, cadelas prenhas ou filhotes, e ainda aqueles em situações de vulnerabilidade, devem evitar a brincadeira. Além disso, é importante que o animal faça um acompanhamento veterinário. De acordo com Maria de Fátima Martins, professora da FMVZ-USP, o acompanhamento serve para avaliar as alterações cardíacas, observar se após a caminhada o animal perdeu peso corporal ou apresentou fadiga cardíaca induzida por exercício. Ela ressalta a importância de ter atenção com a hidratação do animal, praticar a atividade em um ambiente calmo e vazio, no qual a temperatura esteja amena, além, é claro, de identificar se a atividade é prazerosa pra ele, o que é possível através da análise de seu comportamento.

Respeitando os limites do animal, a atividade pode proporcionar, ainda, uma melhoria no relacionamento entre cão e tutor, como relata Caio: “Até a educação deles melhora, porque eles executam melhor os comandos quando estão cansados do que quando estão agitados”. A professora Maria de Fátima afirma: “vejo como extremamente benéfico se for respeitada a biologia e fisiologia do animal”.

O grupo Dog Pulling Skate, além de promover atividades esportivas que unem cães e humanos, também é um encontro de socialização canina. Sem distinção de raça, os cachorros atletas e dóceis do grupo estão de patas abertas para quem quiser participar, até mesmo para quem não tem habilidades com a prática.

Por Vitória Batistoti
 
Fonte: