segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

O verão 'mais quente dos últimos anos' começou: não morra de calor

Segundo meteorologistas, termômetros podem registrar um calor até 4º acima da média neste verão

Morrer de calor é uma das expressões mais usadas no Brasil, sobretudo no verão. Num país tropical em que as temperaturas passam com frequência dos 30ºC - e, na estação mais quente, chegam aos 40ºC - não é de se espantar que muita gente esteja sempre "morrendo de calor".



Mas será que é possível mesmo morrer de calor?

O professor da Faculdade de Medicina da USP Paulo Saldiva explica que, embora seja raro, isso pode acontecer sim.

"Estudos mostram que durante as ondas de calor há um aumento da mortalidade, sobretudo de idosos e bebês, que têm menos capacidade de adaptação e, muitas vezes, dependem dos cuidados alheios para se proteger", explica o especialista.

Quando está quente, suamos como uma forma de regular a temperatura do corpo: o suor é uma das reações ordenadas pelo cérebro par fazer declinar a temperatura da pele e, consequentemente, do sangue circulando nos vasos sanguíneos superficiais.

O sangue refrescado corre pelo corpo, baixando a temperatura do organismo.

Entretanto, quando está quente demais, a tendência é que haja cada vez mais vasos de regulação térmica abertos no nosso corpo, para que suemos mais. O primeiro problema óbvio desse suor excessivo é a desidratação.

Alguns idosos - por conta de outras condições comuns à idade avançada, que danificam mecanismos de controle do corpo – podem perder uma quantidade significativa de água sem sentir sede. Quando perdemos muita água e não repomos líquido, junto com a desidratação podem surgir também outros problemas.

Com muitos vasos da pele dilatados ao mesmo tempo, por exemplo, a pressão sanguínea cai – o que pode levar a vertigem e tonturas, por exemplo. Com a pressão mais baixa, a tendência é que o coração comece a bater mais rápido numa tentativa de elevar a pressão e equilibrar o organismo.

O coração sobrecarregado e a menor quantidade de líquidos circulando deixa o sangue mais denso, o que aumenta também a chance de ocorrer algum tipo de obstrução – ou trombo. E também de uma parada cardíaca.

Em situações normais, a própria variação natural da temperatura ao longo do dia se encarrega de regular esse processo, evitando o superaquecimento do corpo.

Mesmo num verão quente, as noites sempre tendem a ser mais frescas que os dias, regulando naturalmente a temperatura corporal.

O grande problema, como explica o climatologista Carlos Nobre, atualmente à frente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), são as ondas de calor extremas e prolongadas, quando essa variação de temperatura ao longo do dia é tão mínima que não dá conta de regular a temperatura do corpo, provocando o superaquecimento.

"O pico de temperatura elevada, mesmo que acima dos 40ºC, não é o grande problema", explica Nobre.

"O risco é quando, ao longo de pelo menos três dias consecutivos, a temperatura máxima passa dos 36ºC e a mínima não cai abaixo de 21ºC. Quando isso ocorre, o corpo não consegue se resfriar de forma apropriada, o que pode levar a paradas cardíacas e derrames."


Fresco e hidratado

A forma de prevenir tais problemas é tão óbvia quanto intuitiva: se manter sempre hidratado e refrescado – por meio de ar-condicionado, ventilador, banho frio.

A adaptação das cidades às temperaturas altas é uma ajuda valiosa. Centros urbanos com árvores (e sombra), arquitetura que valorize a circulação de ar, a proximidade da praia, instalações refrigeradas, por exemplo, ajudam a minimizar os efeitos do calor excessivo e evitar problemas maiores.

Vale lembrar que estamos às vésperas de um verão que promete ser um dos mais quentes de todos os tempos no país, com as temperaturas ultrapassando facilmente os 40ºC por vários dias seguidos nos locais tradicionalmente mais quentes, como Rio de Janeiro, Piauí e Tocantins.

Segundo meteorologistas, os termômetros podem registrar um calor até 4ºC acima da média.

Isso porque estamos diante de uma combinação inédita de fenômenos: a elevação da temperatura média do planeta por conta do aquecimento global (que já é de quase 1ºC) somada a um fenômeno El Niño dos mais intensos já registrados.

O fenômeno está relacionado ao aquecimento das águas do Pacífico Sul e, em geral, à elevação das temperaturas globais. De acordo com a Organização Meteorológica Mundial, o El Niño deste ano pode ser um dos quatro mais intensos dos últimos 65 anos.

O El Niño também costuma causar chuvas mais intensas. Se, por um lado, as chuvas são importantes para baixar a temperatura, por outro, o calor com umidade tende a ser percebido com mais intensidade. A sensação térmica aumenta.

Não custa nada estar preparado para morrer de calor apenas metaforicamente e manter a saúde neste verão.


Fonte:
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/12/151221_verao_calor_saude_rj

Cientistas conseguem reverter o processo de envelhecimento em estudos com animais



Cientistas dos Estados Unidos disseram ter conseguido reverter o processo de envelhecimento em estudos com animais.

Eles usaram um produto químico para rejuvenescer músculos em ratos, em um processo que disseram ser equivalente a transformar um músculo de uma pessoa de 60 anos de idade em um de uma de 20 anos. A força do músculo, porém, não foi recuperada.

O estudo, publicado na revista Cell, identificou um mecanismo totalmente novo de envelhecimento e, em seguida, o reverteu.

Outros pesquisadores afirmaram que se tratava de uma "descoberta animadora".

O envelhecimento é considerado uma via de mão única, mas agora pesquisadores da Escola de Medicina de Harvard demonstraram que alguns aspectos podem ser revertidos.

A pesquisa teve como foco uma substância química chamada NAD, cujos níveis caem naturalmente com a idade em todas as células do corpo.

Experimentos mostraram que aumentar os níveis de NAD, dando a camundongos uma substância química que eles naturalmente convertem em NAD, poderia reverter os efeitos do tempo.

Uma semana depois da aplicação da medicação em ratos de dois anos de idade, seus músculos se tornaram semelhantes aos de um ratinho de seis meses em termos de função mitocondrial, perda de massa muscular, inflamação e resistência à insulina.

A doutora Ana Gomes, do Departamento de Genética da Escola Médica de Harvard, disse: "Nós acreditamos que esta é uma descoberta muito importante."

Ela argumenta que a força muscular poderia retornar com um tratamento mais longo.
'Envelhecimento agradável'

No entanto, o método não representa uma "cura" para o envelhecimento. Outros aspectos, como encurtamento dos telômeros (que formam a estrutura das sequências genéticas) ou danos ao DNA não podem ser revertidos.

Gomes disse à BBC: "O envelhecimento é multifatorial, não se trata de um componente único a ser corrigido, por isso é difícil de atingir a coisa toda."

O grupo de pesquisa pretende começar os testes clínicos em 2015.

Gomes afirmou que terapias em humanos são uma perspectiva distante.

"Pelo que sabemos até agora não acho que teremos que tomar (a droga) desde os 20 anos de idade até nossa morte."

"Parece que nós podemos começar quando já somos mais velhos, mas não muito velhos a ponto de já estarmos danificados.

"Se começarmos aos 40, provavelmente teremos um envelhecimento muito mais agradável - mas temos que fazer testes clínicos", disse ela.

Para o professor Tim Spector, do Kings College de Londres, a descoberta "é intrigante e emocionante".

"No entanto, é um caminho longo e difícil para que experiências com ratos mostrem efeitos de antienvelhecimento em seres humanos sem efeitos colaterais."

O doutor Ali Tavassoli, da Universidade de Southampton, argumentou: "É importante notar que não foi observada qualquer alteração no próprio rato com o um todo.

"Isso pode acontecer por duas razões. Ou eles precisam ser tratados por mais tempo para que as mudanças que ocorrem nas células afetem todo o organismo, ou alternativamente, as alterações bioquímicas por si só não são suficientes para reverter as mudanças físicas associadas ao envelhecimento."

"Mais experimentos são necessários para verificar qual destes casos é o verdadeiro."


Fonte:

Estudo revela que a depressão pode acelerar o processo de envelhecimento das células

Depressão (BBC)

Um estudo de cientistas holandeses e americanos sugere que a depressão pode acelerar o processo de envelhecimento das células.

Exames de laboratório mostram que as células parecem ser biologicamente mais velhas em pessoas que sofreram ou sofrem casos graves de depressão.

Os pesquisadores detectaram essas diferenças em uma estrutura da célula chamada telômero. O comprimento destas estruturas é usado para medir o envelhecimento celular.

Os especialistas já sabiam que as pessoas que sofrem de depressão têm um risco maior de desenvolver doenças ligadas ao envelhecimento, como alguns tipos de câncer, diabetes, obesidade e doenças cardíacas.

Isso pode derivar, em parte, de um estilo de vida não muito saudável, que incluiria também o consumo de bebidas alcoólicas e o sedentarismo.

O estudo foi publicado a revista especializada Molecular Psychiatry.
 

Telômeros curtos

Josine Verhoeven, do Centro Médico da Universidade VU, na Holanda, junto com colegas americanos, recrutou 2.407 pessoas para participarem do estudo.

Mais de um terço desses voluntários sofria de depressão; um terço tinha passado por um caso grave de depressão; e o restante nunca havia tido a doença.

Os voluntários deram uma amostra de sangue para os pesquisadores analisarem, em busca de sinais de envelhecimento celular. Eles buscavam alterações nos telômeros.

Os telômeros protegem os cromossomos, que contêm o DNA. A função do telômero é proteger os cromossomos de possíveis danos e, à medida que as células se dividem, eles vão ficando cada vez mais curtos.

Medir o tamanho destes telômeros é uma forma de avaliar o envelhecimento celular.

As pessoas que estavam com depressão ou já tinham sofrido com a doença no passado tinham telômeros bem mais curtos do que os que nunca tinham passado por isso.

Essa diferença era aparente mesmo quando eram levadas em conta diferenças no estilo de vida, como o fato de alguns voluntários fumarem ou beberem muito.

Além disso, os pesquisadores descobriram que os pacientes com casos de depressão bem mais graves ou crônicos tinham os telômeros mais curtos entre todos os voluntários.


Reação à angústia

Verhoeven e os outros cientistas especulam que os telômeros mais curtos podem ser uma consequência da reação do corpo à angústia causada pela depressão.

"Esse estudo em larga escala fornece provas convincentes de que a depressão está associada a muitos anos de envelhecimento biológico, especialmente entre aqueles que sofrem com os sintomas mais graves e crônicos", afirmaram os cientistas no estudo.

Ainda não está claro se esse processo de envelhecimento pode ou não ser revertido.

A médica britânica Anna Phillips, especialista da Universidade de Birmingham, pesquisou os efeitos do estresse no comprimento dos telômeros.

Segundo a médica, o comprimento dessa estrutura celular não fornece uma previsão consistente para outros problemas, como o risco de morte.

Phillips também afirmou que é provável que um grande problema de saúde relacionado à depressão - não um episódio ou uma vida inteira de sintomas moderados da doença - desencadeie a redução dos telômeros.


Fonte:

Com o que sonham os animais? Um mistério que deixa os cientistas cheios de curiosidade




Está claro que quase todos os animais participam dos sonhos, sejam eles aquáticos, aéreos ou terrestres”, escreveu Aristóteles em sua obra “Do sonho e da vigília”.


Mas, os animais são capazes de sonhar? O filósofo grego também tinha uma opinião sobre isso.

Em “História dos animais”, escreveu: “Pareceria que não apenas sonham os homens, mas também os cavalos e os cães e os bois; sim e as ovelhas, as cabras e os quadrúpedes vivíparos; e os cachorros mostram que estão sonhando latindo enquanto dormem”.

Faltava sofisticação aos métodos de investigação de Aristóteles, mas talvez ele não estivesse longe da verdade.

Como saber se os animais sonham? Observá-los enquanto dormem é um método.

Certamente não podemos perguntar aos animais se sonham, mas podemos notar evidências de que o fazem.

Os cientistas pensaram em duas formas para responder a pergunta. Uma delas é observar os bichos durante todas as fases do ciclo do sono. A outra é ver se o cérebro deles funciona da mesma forma que o cérebro humano durante o sonho.

A história da investigação sobre as mentes dos animais durante o sono começa nos anos 1960.


Sonhos em movimento

Naquela época começaram a aparecer notícias em revistas médicas descrevendo como as pessoas se movimentam enquanto sonham.

Isso era curioso pois durante a chamada fase de sonho REM (movimento rápido de olhos), nossos músculos normalmente estão paralisados.

Os pesquisadores se deram conta de que induzir um estado similar nos animais poderia permitir demonstrar como eles sonham.

Em 1965, os cientistas franceses Michel Jouvet e J.F Delorme comprovaram que retirando uma parte da medula, chamada ponte de Varolio, do cérebro de um gato evitavam que ele ficasse paralisado na fase REM.

Os pesquisadores chamaram esse estado de REM-A.

Em vez de permanecer quietos, os gatos caminhavam e se comportavam com agressividade. Isso era uma evidência de que sonhavam com atividades dos momentos em que estavam acordados.

E estudos posteriores revelaram comportamentos similares.

Segundo o veterinário Adrian Morrison, os gatos em REM-A movem suas cabeças como se seguissem estímulos.

Alguns gatos também mostram comportamentos idênticos a ataques predatórios, como se estivessem perseguindo ratos em seus sonhos. Também se constatou uma atividade similar em cachorros.
Humanos

Foi comprovado que alguns humanos “atuam” em sonhos se sofrem de um problema chamado transtorno de comportamento do sonho REM.

“Dar socos, pontapés, saltar e correr da cama durante as tentativas de atuações nos sonhos são manifestações frequentes e normalmente estão relacionadas com as imagens que conseguem ver”, segundo a Classificação Internacional de Transtornos do Sonho, cuja sigla em inglês é ICSD

Nessas pessoas – e em quem dorme com elas – os hematomas são comuns, segundo os cientistas.


Rato de laboratório

Mas o movimento não é a única pista que indica os sonhos dos animais.

Atualmente os pesquisadores podem observar as atividades elétricas e químicas das células cerebrais dos animais enquanto dormem.

Em 2007 os cientistas Kenway Louise e Matthew Wilson, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos Estados Unidos, registraram a atividade neural em uma parte do cérebro de um rato chamada hipocampo – uma estrutura relacionada com a formação e codificação de memórias.

Primeiro os cientistas registraram a atividade das células cerebrais enquanto os ratos corriam em labirintos. Depois analisaram a atividade dos mesmos neurônios enquanto os animais dormiam.

Louise e Wilson descobriram padrões idênticos de ativação durante a corrida e durante a fase REM do sono.

Em outras palavras, era como se os ratos estivessem correndo pelo labirinto em suas mentes enquanto dormiam.

Os resultados eram tão claros que os cientistas podiam calcular a localização específica dos ratos no labirinto durante o sonho.
Práticas de canto

Os biólogos da Universidade de Chicago Amish Dave e Daniel Margoliash examinaram os cérebros dos pássaros diamante mandarim e descobriram algo similar.

Esses pássaros não nascem com as melodias de suas canções gravadas no cérebro, pelo contrário, têm que aprendê-las.

Quando estão acordados os neurônios da parte anterior do cérebro é ativada durante o canto de cada nota. E os cientistas são capazes de determinar qual nota foi cantada com base apenas nos padrões de ativação desses neurônios.

Os cientistas monitoraram essas mesmas células enquanto os pássaros dormiam e descobriram que elas não se ativavam ao acaso – mas sim como se as aves estivessem praticando o canto.


Misterio

O comportamento dos gatos nas experiências podem ser considerados realmente sonhos?

Os ratos têm consciência subjetiva de que estão correndo em labirintos em seus sonhos?

Os pássaros cantores sabem que estão cantando durante o sonho?

Essas perguntas são difíceis de responder assim como a questão da consciência. É complicado.

Os humanos normalmente só se dão conta de que estavam sonhando quando acordam.

“Os diamantes mandarins se lembram de seus sonhos como sonhos quando são acordados?

Eles podem distinguir o mundo real do mundo dos sonhos?

Podemos dizer que as mesmas características fisiológicas dos sonho nos humanos são compartilhadas pelos animais. Mas se os bichos conseguem ou não experimentar os sonhos da mesma forma que os humanos segue sendo um mistério.
 

Fonte:

Os polêmicos testes de HIV em concursos públicos, em particular nas Forças Armadas



Mais de 30 anos depois do primeiro caso de HIV/Aids registrado no Brasil, uma polêmica antiga ainda persiste: a realização obrigatória do teste de HIV em concursos públicos, em particular nas Forças Armadas.

Ouvidos pela BBC Brasil, Exército, Marinha e Aeronáutica dizem que a lei está do seu lado e que ela permite a realização dos testes como forma de garantir a saúde plena de seus militares.

Mas indivíduos, grupos de defesa de direitos e especialistas argumentam que e medida é discriminatória e que os militares estariam ignorando avanços na medicina que permitem que soropositivos sejam capazes de cumprir normalmente as tarefas e exigências do trabalho.

Um bom quadro dessa polêmica pode se traçado pelo histórico das ações recentes na Justiça questionando a legalidade do teste.

Levantamento preliminar feito pela Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão a pedido da BBC Brasil lista pelo menos 29 recomendações do Ministério Público Federal para suspender a testagem obrigatória em concursos públicos, além de ações em vários Estados. Só no Rio de Janeiro, foram pelo menos três casos nos últimos meses.

Em um deles, o candidato disputava uma vaga de professor de Filosofia em um concurso de serviço técnico temporário do Exército e questionava a exigência do teste. A Justiça Federal entendeu que o Exército estava certo e agia com o intuito de preservar a saúde de seus integrantes. O Ministério Público Federal recorreu.

Dois outros casos envolvem pessoas que questionam a exigência, pela Marinha, dos exames negativos de HIV para ingresso ou promoção. O militar M.F.S., por exemplo, foi excluído da disputa pelo posto de oficial intendente por ser HIV positivo. Diagnosticado como portador assintomático, ele foi à Justiça, perdeu na primeira instância e recorreu ao Tribunal Regional Federal.

Muitos casos nem chegam à Justiça. X., de 21 anos, militar da Aeronáutica, fez o concurso em 2013, seu teste deu negativo, e o rapaz foi aprovado. Meses depois, o teste de HIV deu positivo. X. relatou ao superior imediato sua condição de soropositivo e iniciou o tratamento, mas até hoje não contou que é homossexual e vive com um rapaz.

"Ele começou a me perguntar se eu andava em más companhias, com drogados e homossexuais, aí não contei. No alojamento, um colega berrou que eu era B 24 (código do HIV na Classificação Internacional de Doenças), então todo mundo já ficou sabendo", reclama X., que falou à BBC Brasil na condição de anonimato.


'No alojamento, um colega berrou que eu era B 24 (código do HIV na Classificação Internacional de Doenças)', relata X.

X. disse que houve uma tentativa de afastá-lo do trabalho, mas que o serviço do Hospital da Aeronáutica, onde ele é atendido, não permitiu. O rapaz está de licença médica e deve voltar ao quartel em janeiro.

O estudante de engenharia Alan Pereira Mondego de Souza, de 23 anos, estava indo bem no concurso da Marinha em 2013, mas foi excluído quando seu teste de HIV deu positivo. "Acabei abrindo mão de um direito porque consultei alguns advogados, e eles me disseram que era muito difícil ganhar", diz Alan, que desistiu de levar o caso à Justiça.

Graças ao tratamento, a presença do HIV em seu corpo é mínima - ele tem o que os especialistas chamam de carga viral indetectável. Nunca desenvolveu a doença, toma um comprimido diariamente, tem um namorado fixo e está em boas condições de saúde, levando uma vida normal.

"Meu médico já me disse que posso morrer de qualquer outra coisa, de bala perdida, de atropelamento, mas não disso", comemora.
Exigência

Organizações que atuam na área de HIV/Aids, como a Abia (Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids) e o Pela Vidda,dizem que o teste não pode mais ser usado com instrumento de avaliar a saúde ou a capacidade de um candidato argumentando que a expectativa de vida dos soropositivos aumentou muito com os avanços do tratamento, oferecido de graça na rede pública de saúde.

"Essa lei (7.670/88, segundo a qual o HIV/Aids é justificativa para que o militar seja retirado da ativa) é de 1988, do tempo em que o panorama de HIV/Aids era outro, e não pode continuar regendo os destinos das pessoas", afirma a advogada Patrícia Diez, do grupo Pela Vidda/Niterói.

"Os portadores de HIV, principalmente os assintomáticos, conseguem ter vida normal, com alta capacidade produtiva. O Brasil é signatário de vários tratados internacionais proibindo a testagem obrigatória e a discriminação do portador de HIV."

'Acabei abrindo mão de um direito porque consultei alguns advogados, e eles me disseram que era muito difícil ganhar', lembra Alan  

Na maioria dos concursos públicos, à exceção dos concursos militares e policiais, a exigência do teste de HIV vem caindo graças a um conjunto de leis e notas técnicas que permitem caracterizar como ilegal e discriminatória a testagem obrigatória.

A Constituição Federal, em seu artigo 5º, proíbe qualquer tipo de discriminação. A Lei 12.984, de junho de 2014, tipifica como crime recusar ou dificultar a inscrição do portador de HIV em qualquer escola ou trabalho. Segundo essa mesma lei, divulgar que alguém é portador de HIV, contra a vontade da pessoa, pode ser considerado crime.

Nota técnica do Ministério da Saúde também se posiciona contra a exigência do teste. Parecer do Conselho Federal de Medicina de 2013 considera a exigência do exame não só antiética como contrária a convenções internacionais das quais o Brasil é signatário.

As Forças Armadas, porém, apelam para uma legislação própria, mantêm o teste e, representadas pela Advocacia Geral da União (AGU), têm vencido alguns processos graças à lei 7.670/88, segundo a qual o HIV/Aids é justificativa para que o militar seja reformado e saia da ativa.

Essa lei embasa a decisão mais citada em casos do tipo, proferida pelo ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Sebastião Reis Júnior em março de 2014. O ministro afirma que há jurisprudência no STJ a respeito do tema e reitera o entendimento de que o militar portador de HIV, em qualquer estágio de desenvolvimento da doença, é considerado incapaz para vida militar e tem direito de ser reformado.


Decisões

Decisões com entendimentos distintos têm sido proferidas pelo país. Em fevereiro de 2012, o Tribunal Regional Federal da 5ª Região, em Pernambuco, determinou que uma candidata portadora do HIV fosse mantida no concurso da Marinha.

Em ação parecida, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região, no Distrito Federal, anulou exigência de realização de teste HIV num edital para o concurso do Exército. A AGU, em nome do Exército, recorreu alegando que a vida militar tem peculiaridades que exigem boa forma física, e com isso pessoas portadoras de moléstias graves enfrentariam, em uma operação militar, condições adversas como a carência de medicamentos e estresse.

A AGU apontou ainda que traumatismos de guerra oferecem risco de contaminação aos demais combatentes em caso de ferimento de um combatente infectado. "Tais particularidades da vida militar justificam a exigência do teste de HIV, não representando um atentado contra o princípio da isonomia. A União entende que só há rompimento da igualdade quando o tratamento diferenciado é carente de razões que o justifiquem."

"E, no caso específico, tal distinção se mostra justificada, razoável e necessária", argumentou a AGU ao recorrer. Em junho de 2015, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Ricardo Lewandowski manteve a exigência do exame até que o caso seja julgado pelo plenário - o que ainda não ocorreu.

Ouvidos pela BBC Brasil, Exército, Marinha e Aeronáutica reforçaram a argumentação da AGU, afirmando que a vida militar tem especificidades que exigem plena saúde e que as Forças Armadas seguem legislação particular para admissão.

"A exigência de submissão dos candidatos a testes para verificação do vírus HIV nos exames admissionais para a carreira militar se coaduna com a missão precípua das Forças Armadas disposta no artigo 142 da Constituição da República", afirmou o contra-almirante Flávio Augusto Viana Rocha, diretor do Centro de Comunicação Social da Marinha.



Exército afirma que "profissão militar exige vigor físico (...) e que determinadas patologias podem impedir atividades obrigatórias e trazer risco para a saúde do próprio militar."

 

O Centro de Comunicação Social da Aeronáutica informou que não exige a apresentação do teste, mas verifica essa condição na inspeção de saúde para o ingresso.

Aeronáutica e Exército citaram a legislação e a jurisprudência que estabelecem o HIV/Aids como motivo de reforma militar. Para o Exército, é preocupante que o cidadão recém-ingresso na Força seja reformado.

O Exército informou ainda que a profissão militar exige disponibilidade permanente, mobilidade geográfica e vigor físico para atividades de grande esforço, como acampamentos, marchas de longa distância e exercícios de tiro, que exigem boa saúde. Para o Exército, determinadas patologias podem impedir atividades obrigatórias e trazer risco para a saúde do próprio militar.

Para o especialista no tratamento de HIV/Aids e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) Esper Kallás, os argumentos sobre possíveis limitações físicas de portadores de HIV parecem ignorar avanços notórios da medicina no tratamento da infecção.

"Está na hora de as Forças Armadas reverem seus conceitos sobre o HIV. Temos vários exemplos de pessoas que vivem com o vírus por muito tempo e conseguem desfrutar plenamente da vida, tanto em termos físicos como intelectuais", afirmou Kallás, que é professor da USP e vice-coordenador do comitê de retroviroses da SBI.
Discriminação?

Sobre especificidades da vida militar e risco de contaminação de outros soldados, Kallás afirmou que não há perigo maior que na vida em sociedade, já que o HIV se transmite pela relação sexual ou pelos fluidos do corpo, como sangue, esperma e leite materno. "Então um HIV positivo que toma um tiro na rua não vai ser atendido? Não há motivo para esse temor", afirma.

O procurador federal dos Direitos do Cidadão, Aurélio Rios, afirmou à BBC Brasil que, no entendimento do Ministério Público Federal, não há decisão definitiva sobre o teste de HIV em concursos militares. Pelo contrário, disse acreditar que o STF, que já permitiu a união homossexual, em breve aceitará a argumentação de que a exigência do teste é discriminatória e, portanto, afronta a Constituição.

"O Exército mais poderoso do mundo, o dos Estados Unidos, já retirou a exigência de testagem de HIV. Quero deixar claro que não somos contra os testes físicos. Pelo contrário, as Forças Armadas têm todo o direito de exigi-los, inclusive do portador de HIV. Se ele não passar, que seja reprovado. Mas não aceitamos que esse indivíduo seja barrado do concurso sem nem poder fazer o teste físico", afirmou Rios.

O procurador também contesta o uso da lei 7.670/88, que permite reformar o militar soropositivo. Rios diz que o objetivo da lei é dar um benefício ao soropositivo, o acesso à Previdência, mas que ela vem sendo usada com o objetivo de negar um direito.

"Toda essa argumentação encobre na verdade uma forma de discriminação velada: estou excluindo essa pessoa porque ela é gay, ou é provavelmente gay. Não é dito de forma explícita, mas, no fundo, é disso que se trata. A legislação já reconheceu que toda forma de amor precisa ser respeitada e que o homossexual tem direito a benefícios do companheiro. A questão do teste de HIV é agora uma questão de tempo", afirma.

Fonte:

Uso excessivo de antibióticos na criação de animais ameaça a saúde humana


Fazendeiros e criadores precisam cortar drasticamente o uso de antibióticos em seus cultivos e criações de animais, porque essa atividade está se tornando uma ameaça à saúde humana, segundo um relatório publicado no periódico Review on Antimicrobial Resistance.

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O uso abusivo destas substâncias tem feito com que algumas doenças sejam atualmente quase impossíveis de serem combatidas.
Mais da metade dos antibióticos no mundo são usados em animais, muitas vezes para fazer com que cresçam mais rápido.
O relatório científico ainda indica novos parâmetros para o uso de antibióticos em animais.
A administração excessiva destes medicamentos na criação de animais ganharam novo destaque no mês passado, quando, na China, pesquisadores advertiram que estamos à beira de uma "era pós-antibióticos".
Os cientistas descobriram uma bactéria resistente à colistina, antibiótico usado quando outros meios usualmente empregados para combatê-la haviam falhado. Aparentemente, ela surgiu em animais criados por agricultores e também foi detectada em pacientes em hospitais.

Excesso

Em alguns casos, antibióticos são usados para tratar infecções em animais doentes, mas a maioria é usada de forma profilática em animais saudáveis para prevenir infecções ou aumentar seu ganho de peso - uma prática controversa e mais comum em criações intensivas.
A expectativa é de que o consumo de antibióticos no mundo aumente 67% até 2030. Só nos Estados Unidos, são usadas anualmente 3,4 mil toneladas destas substâncias em pacientes e 8,9 mil toneladas em animais.
O economista Jim O'Neill, que liderou o estudo, disse que estes índices são "estarrecedores" e que 10 milhões de pessoas morrerão por causa de infecções resistentes a antibióticos em 2050 se esta tendência não for revertida.

 AMR Review
O'Neill destaca em seu trabalho que a maioria das evidências científicas apontam para uma necessidade de redução do uso de antibióticos.
Ele indica que uma meta razoável para o uso de antibióticos pela agricultura seria de 50 mg para cada 1 kg de animais - um nível já colocado em prática por um dos principais países exportadores de carne de porco do mundo, a Dinamarca.
A título de comparação, os Estados Unidos usam quase 200 mg/kg e Chipre emprega mais de 400 mg/kg.

Custo

"Tenho certeza que muitos criadores pensarão 'Bem, se temos que fazer isso, significa que o preço cobrado pelo que produzimos aumentará e não conseguiremos mais concorrer no mercado", disse O'Neill à BBC.
"O exemplo dinamarquês mostra que, após um custo de transição inicial, a longo prazo, os preços não foram afetados, e a Dinamarca manteve sua participação de mercado."
Antibióticos são mais úteis em criações com instalações com muitos animais e sujas, onde as infecções se espalham mais facilmente, então, locais mais espaçosos e higiênicos são uma forma de reduzir a necessidade de aplicar estas substâncias.


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Condições ruims de criação favorecem infecções
O relatório também recomenda um maior investimento na pesquisa de vacinas e testes para diagnosticar infecções específicas e afirma que países deveriam adotar uma lista de antibióticos que nunca deveriam ser usados em animais por causa de sua importância no tratamento de humanos.
Jianzhong Shen, da Universidade Agrícola da China e um dos descobridores da resistência à colistina, diz que "todos os países do mundo deveriam usar antibióticos na criação de animais de forma mais prudente e racional".
"Agora é a hora de haver uma reação global para restringir ou proibir o uso de antibióticos para acelerar o crescimento ou prevenir doenças."


Fonte:

http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/12/151208_antibioticos_animais_rb