quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Suínos: A importância da alimentação adequada na fase da gestação e lactação




Nos suínos, as fases de gestação e lactação são extremamente importantes e muito condicionadas por fatores como a alimentação, o maneio e o equilíbrio sanitário. Avaliar os animais para determinar e suprir as suas necessidades torna-se crucial para otimizar a sua performance produtiva.

No universo dos suínos, regra geral, as porcas ou estão gestantes ou lactantes, sendo estas duas fases distintas a vários níveis e de extrema importância. Começando por analisá-las à luz da alimentação, é primeiramente necessário conhecer as exigências nutricionais ideais em cada uma delas. Por outro lado é preciso ter em conta que estes dois estados são cíclicos, ou seja, interferem um com o outro positiva e/ou negativamente.


Daí que, como aponta a engenheira zootécnica Raquel Ramião, “antes de se interferir na alimentação das porcas é necessário ter uma elevada acurácia na determinação/avaliação da sua condição corporal”. A engenheira zootécnica, autora da tese de mestrado ‘Avaliação dos Efeitos do Plano Alimentar de Porcas em Gestação sobre a Condição Corporal e a Prestação Produtiva’, explica que “existem formas mais ou menos objetivas de avaliar a condição corporal, mas é necessário saber que este é um parâmetro que varia bastante caso não haja um rigoroso acompanhamento dos animais”.

Assim sendo, uma vez que nem a magreza extrema, nem a obesidade são estados saudáveis, “a alimentação na gestação tem como objetivos potenciar a taxa de sobrevivência embrionária, otimizar o desenvolvimento uterino e da glândula mamária, gerar um ótimo crescimento fetal, bem como um apropriado ganho materno de massa muscular e reservas adiposas de forma a resultar numa maximização do tamanho, peso e uniformidade da ninhada ao nascimento, numa diminuição do intervalo desmame-cio e na otimização da vida produtiva da fêmea”, conclui Raquel Ramião.

Em função das necessidades

Tendo em conta este cenário, o maior desafio será sempre “alimentar em função das necessidades, o que nem sempre é tão fácil quanto parece”, salienta Divanildo Outor-Monteiro, engenheiro zootécnico da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). “Alimentar adequadamente uma porca no início da gestação implica, na maior parte dos casos, uma forte restrição quantitativa do alimento disponibilizado”.

Neste sentido, Rui Charneca, professor auxiliar do departamento de Medicina Veterinária da Universidade de Évora, expõe que no início da gestação, no primeiro mês “estão reportados efeitos negativos de um nível alimentar elevado sobre a sobrevivência e crescimento embrionário em porcas nulíparas, embora alguns estudos recentes não tenham observado tais efeitos nas linhas modernas mais prolíficas”.

Pode-se então afirmar que o objetivo geral de um bom maneio alimentar na gestação é a constituição de um nível adequado de reservas corporais, evitando a chegada ao parto de porcas demasiado magras ou gordas. “A baixa condição corporal ao parto aumenta a probabilidade de ocorrência de lesões durante a lactação, baixa produção de leite, bem como o aumento do intervalo desmame-cio”, declara o docente. Ainda segundo Rui Charneca, porcas demasiado gordas no final da gestação “apresentam maior probabilidade de problemas de parto e menor ingestão voluntária de alimento durante a lactação, aprofundando o estado catabólico nessa fase com idênticas consequências no ciclo seguinte”.

Importância da lactação

Chegada a fase da lactação, “uma apropriada produção de colostro e de leite são a garantia necessária para que os leitões recebam uma adequada imunidade materna e a quantidade adequada de nutrientes para fazer face às suas necessidades de manutenção e de produção”, refere Divanildo Outor-Monteiro, alertando que “a prolificidade elevada que caracteriza a generalidade das reprodutoras atuais levou a um menor peso ao nascimento. A acrescer a este facto surge uma maior competição pós-natal pelo colostro e pelo leite”.

Se as porcas conseguem responder ao maior número de leitões aumentando a produção total de leite, contudo “esse aumento é insuficiente, sendo menor a quantidade disponível por leitão”, indica o engenheiro zootécnico. A deficiente ingestão de colostro leva, “numa primeira fase, o leitão a uma situação de subnutrição, fome, hipotermia, apatia e, em muitos casos, a uma morte por esmagamento”, sublinha ainda Divanildo Outor-Monteiro, alertando que “a insuficiente ingestão de leite terá como consequência um aumento da heterogeneidade das ninhadas e da morbilidade e mortalidade, indo ainda condicionar todas as prestações futuras dos leitões”.
“Uma apropriada produção de colostro e de leite são a garantia necessária para que os leitões recebam uma adequada imunidade materna e a quantidade adequada de nutrientes para fazer face às suas necessidades de manutenção e de produção”, refere Divanildo Outor-Monteiro

A produção de leite é, assim, o maior investimento da porca lactante. No pico da lactação cerca de metade do azoto e da energia da ração são transferidos para os leitões via leite. “Assim, na lactação pretende-se uma maximização da ingestão voluntária de alimento pela porca, no sentido de responder às elevadas exigências energéticas e nutritivas desta fase fisiológica, proporcionando um crescimento adequado dos leitões e limitando a mobilização das reservas, evitando condições corporais baixas ao desmame”, explana Rui Charneca. Segundo o professor da Universidade de Évora, “qualquer tipo de restrição (energia ou proteína) e em qualquer fase da lactação influencia o padrão de secreção das gonadotrofinas (sobretudo da LH) e influi negativamente no intervalo desmame-cio, havendo também evidências de impactos negativos na taxa de ovulação e na sobrevivência embrionária”.

A fase de transição

O período de transição entre a gestação e a lactação tem sido alvo de vários estudos recentes com vista a uma otimização da alimentação das porcas nesta fase tão crítica. Se considerarmos como fase de transição os últimos dez dias de gestação e os primeiros dez de lactação, “verificamos que nela ocorre uma boa parte do crescimento fetal, um aumento acentuado de tecido placentário e uterino, um crescimento das glândulas mamárias (que se estende até ao 10º dia de lactação), o processo de parto, a síntese de colostro e a produção de leite propriamente dita”, sublinha Rui Charneca.

 

Todos estes fenomenos fisiológicos são de extrema importância para o sucesso do processo reprodutivo, mas muitas vezes, segundo o docente, “a transição alimentar é feita nas explorações de acordo com critérios de ordem logística e prática e de gestão da mão-de-obra e não tentando coordenar as quantidades e características qualitativas dos alimentos com as reais necessidades das porcas, em constante alteração neste curto período de tempo”.

Garantir o bem-estar

Em termos de maneio alimentar, dado que a ingestão deve aumentar de forma gradual durante a primeira semana de lactação, uma boa estratégia poderá passar pelo “registar diariamente a quantidade de ração fornecida à porca em fichas individuais de alimentação junto ao comedouro por exemplo. Este método também tem a vantagem de melhorar a coordenação e comunicação entre a equipa de trabalho”, indica a equipa veterinária Agropecuária Valinho, composta por Beta Duque, Joana Ceia, Pedro Lopes e Tiago Nunes.

No que toca ao maneio, de uma forma geral, durante a gestação e lactação “devemos procurar garantir o bem-estar dos animais através de uma alimentação adequada, boas condições ambientais (temperatura, qualidade do ar, conforto e higiene das instalações), enriquecimento ambiental e um manuseamento adequado, com tranquilidade, procurando trabalhar com os animais sem os enervar ou assustar”, refere a equipa veterinária.

Devido ao alojamento das porcas em grupo, de acordo com a equipa referida, “após os 28 dias de gestação há que ter especial cuidado com o agrupamento dos animais, procurando minimizar as brigas por alimento, espaço e dominância”. Já durante o período de lactação é preciso dar especial atenção aos cuidados neonatais dos leitões, mas também às necessidades das porcas, que são muito exigentes nesta fase. Assim sendo, “o potencial leiteiro das porcas deve ser maximizado através de uma boa gestão das adoções de leitões e da rentabilização do número de tetos disponíveis (especialmente importante nos primeiros partos)”, referem os médicos veterinários.
Por outro lado é particularmente importante “manter as porcas limpas para prevenir mamite e outras infeções bacterianas, nomeadamente na descendência, e não aquecer demasiado as salas, pois as porcas reduzem a ingestão de alimento e a produção de leite”

É ainda fundamental procurar garantir que “todas as porcas ultrapassem o parto sem grandes sequelas, como metrites e prolapsos, e que ingerem água e alimento em quantidade e qualidade suficientes ao longo da lactação, devendo haver especial atenção em casos de redução de consumo (verificar sinais vitais, levantar a porca, remover ração estragada do comedouro)”, sublinha a equipa veterinária. Por outro lado é particularmente importante “manter as porcas limpas para prevenir mamite e outras infeções bacterianas, nomeadamente na descendência, e não aquecer demasiado as salas, pois as porcas reduzem a ingestão de alimento e a produção de leite”.

Equilíbrio sanitário

Outro aspeto fundamental no âmbito da gestação e da lactação é o equilíbrio sanitário da exploração, que tem um impacto significativo no bem-estar dos animais e na sua performance produtiva. “Existem diferentes agentes patogénicos que, quando em circulação numa exploração, podem resultar em infertilidade, reabsorções embrionárias, abortos, aumento do número de leitões nados-mortos e diminuição da prolificidade das porcas”, refere a equipa veterinária Agropecuária Valinho. Segundo os médicos veterinários, “vários agentes podem estar na origem deste tipo de problemas, sejam vírus (vírus da SRRP, parvovírus, vírus da Doença de Aujeszky, gripe suína) ou bactérias (Erisipelothrix rhusiopathiae, Chlamydia suis, Leptospira spp, …)”.

E mesmo os agentes patogénicos que não atuem diretamente sobre a fertilidade ou sobre a gestação da porca “poderão prejudicá-la devido ao desconforto causado (febre, inflamação)”. Por outro lado, uma exploração sanitariamente desequilibrada também tende a “ter maior incidência de patologia durante a lactação, como metrite e mamite, prejudicando a produção de leite e o crescimento e saúde dos leitões, nomeadamente aumento da incidência de diarreia e/ou problemas respiratórios, baixo crescimento, maior incidência de infeções articulares e do SNC e maior taxa de mortalidade em lactação”, sublinha a equipa veterinária, que chama ainda a atenção para o facto de os problemas que ocorrem no ciclo produtivo atual da porca “frequentemente afetarem negativamente os ciclos produtivos seguintes. Assim, um desequilíbrio sanitário, mesmo que de curta duração, tende a ter um impacte prolongado na vida da exploração”.

Estratégias de biossegurança

Deste modo é importante que uma exploração seja sanitariamente equilibrada e, como tal, “deve ter uma boa estratégia de biossegurança externa – prevenindo a troca de agentes patogénicos com o exterior – e de biossegurança interna – controlando a circulação de agentes patogénicos entre os diferentes sectores da exploração como gestação, maternidades, baterias, engordas, quarentena e cais de carga -”, aponta a equipa veterinária.

É também essencial a implementação de um programa profilático adequado a cada exploração, ou seja, “tendo em conta os agentes patogénicos presentes, o historial clínico, os fatores de risco existentes na exploração e na área envolvente, e a frequente monitorização do estatuto imunitário dos animais, recorrendo a análise sorológica de amostras colhidas no efetivo”, asseguram os médicos veterinários. No entanto, “a limpeza e desinfeção de instalações e ferramentas de trabalho, incluindo camiões de transporte de animais, é também essencial para a manutenção do equilíbrio sanitário”.



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