quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Extinção de animais silvestres nas florestas, pode agravar efeitos das mudanças climáticas

Como se a extinção de animais já não fosse ruim o suficiente, o fim dos bichos que se alimentam sobretudo de frutos, chamados de frugívoros, também comprometerá a capacidade das florestas tropicais de absorver o dióxido de carbono (CO2) da atmosfera.

A diminuição da absorção de CO2 preocupa os cientistas, uma vez que o excesso do gás na atmosfera é um dos responsáveis pela aceleração das mudanças climáticas em nosso planeta.



 Antas estão entre os animais que espalham sementes de frutos grandes pelas florestas

O que acontece, segundo os cientistas, é que os animais frugívoros são os responsáveis por dispersar sementes de frutos grandes pelas florestas. Com sua extinção, a dispersão deixará de acontecer e as árvores não irão crescer em diferentes áreas, afetando o potencial da floresta no combate as alterações climáticas.

Esses animais cumprem funções importantes em relação às plantas, seja por polinizar as flores ou por comer os frutos e dispersar as sementes, favorecendo a regeneração natural das florestas.

Pesquisadores de várias instituições brasileiras e internacionais publicaram um artigo na revista Science Advances onde estimam a perda da capacidade de estoque de CO2 na Mata Atlântica a partir de diferentes cenários de defaunação, como é conhecido o fenômeno de diminuição acentuada da população de animais em um ecossistema, em geral induzida por atividades humanas como desmatamento e caça ilegal.
 

Divulgação

Cutias cumprem funções importantes por comer frutos e dispersar sementes, favorecendo a regeneração das florestas

Com simulações, os cientistas verificaram que a extinção dos bichos compromete significativamente a capacidade de armazenamento de CO2 na floresta, pois coopera para a diminuição no número de árvores que dependem da dispersão de suas sementes para brotar na Mata Atlântica.

Para desenvolver o estudo, os pesquisadores relacionam a composição e a abundância de espécies de árvores e o tipo de dispersão de suas sementes, à padrões de dureza da madeira e altura, características que podem ser usadas para medir o quanto a árvore pode estocar de carbono.

Na pesquisa, a equipe do coordenado do biólogo brasileiro Mauro Galetti e sua orientanda de doutorado, Carolina Bello, ambos do Departamento de Ecologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Rio Claro, interior de São Paulo, concluiu que árvores com troncos grandes e duros têm sementes igualmente grandes.

Ou seja, quanto maior a semente, maior será a árvore. As árvores maiores são aquelas capazes de armazenar mais quantidade de dióxido carbono e são as que dependem da dispersão de seus grandes frutos para brotar em diferentes lugares.

Com esses dados, os pesquisadores concluíram que à medida que os animais dispersores de sementes grandes são progressivamente extintos, as árvores grandes que armazenam maiores quantidades de CO2 também se tornam menos abundantes. 


Luciano Candisani/Folhapress

Extinção de animais que se alimentam sobretudo de frutos, como os muriquis, compromete as florestas

Em outras palavras, na ausência de antas, bugios e muriquis, a floresta mudará para uma composição de espécies de árvores de sementes pequenas e madeira "mole". Com o tempo, segundo a análise, a tendência é que somente as sementes menores sejam encontradas na natureza, em um efeito cascata induzido pela ação humana que pode desencadear mudanças ecológicas significativas.

"As sementes de canelas, jatobás e maçarandubas, por exemplo, são grandes e dispersadas apenas por animais grandes, como antas e muriquis", diz Galetti. "Essas árvores são as de madeira mais nobre e as que estocam mais carbono", explica o biólogo.

A Mata Atlântica é um dos mais degradados ecossistemas brasileiros, do qual restam, segundo algumas estimativas, aproximadamente 12% da cobertura original – mais de 80% da vegetação remanescente encontra-se altamente fragmentada em áreas com menos de 50 hectares.

De acordo com os pesquisadores, o mesmo raciocínio que eles aplicaram à Mata Atlântica pode ser extrapolado para outros ambientes, como o amazônico, cujas espécies de árvores que retêm até 50% de CO2 da atmosfera dependem em grande medida da dispersão das sementes por frugívoros de grande porte. Segundo eles, os resultados ressaltam a importância de se considerar os animais como parte fundamental no processo de redução de emissões de gases do efeito estufa por meio do armazenamento de carbono em florestas tropicais.


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