segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Para que serve o pedigree?


Antes de começarmos a falar do pedigree, precisamos analisar outra questão, a de se ter um cachorro de raça ou um vira-lata, mestiço, tomba-lixo, SRD (sem raça definida) ou CRI (com raça indefinida).

Ter um vira-lata pode ser uma excelente escolha para alguém que queira apenas um adorável companheiro, mas não para quem quer um cão para exposição ou para procriar. Claro que um vira-lata também pode cruzar, mas não existe um propósito lógico nisso. Se observarmos a quantidade de cachorros abandonados pela rua, seria muito mais apropriado que eles ganhassem um novo lar, ou que os desejosos em aumentar a matilha procurassem o seu novo amigo em alguma instituição, do que deixar o bicho cruzar e colocar mais 6, 7, 9 filhotes de cachorros sem raça definida no mundo.

A vantagem de se ter um vira-lata é que eles custam muito pouco ou absolutamente nada. Além disso, ao menos em teoria, são mais resistentes fisicamente que os seus primos de sangue azul, já que a mãe natureza costuma eliminar naturalmente os filhotes fracos e doentes. Também costumam ter boa índole, e a maioria de proprietários de VLs retirados das ruas acredita que os cachorrões demonstram sinais claros de gratidão por agora possuírem uma excelente casa, com comida, proteção e carinho. Em contrapartida, é praticamente impossível prever suas características físicas (tamanho, peso médio, comprimento de pelo) e até mesmo ao temperamento quando ele se tornar adulto.

Já os cachorros de raça pura são fruto de cruzamentos de cães com características físicas e de temperamento próximas do ideal do padrão, e bastante semelhantes entre si – ou pelo menos deveria ser assim. E aí começa a nossa discussão. Se você optou por ter um cachorro de raça pura, ainda pode decidir se quer um cachorro com ou sem pedigree. Para quem quer ter filhotes com pedigree ou pretende expor seu cão em shows de beleza, é imprescindível. Mas o que é o pedigree, para o que ele serve, e o que eu posso e devo “ler” no pedigree de um cachorro?

O pedigree registra a árvore genealógica do seu filhote. Ou seja, é um papel que diz quem são os pais, os avós e os bisavôs do cachorro, além de indicar os títulos conquistados por estes parentes em campeonatos de beleza. O pedigree é também o único documento que atesta quem é o proprietário do peludo. Para criadores ele é fundamental, pois ajuda a manter o controle sobre as linhagens disponíveis e sobre as características que os cachorros passam para seus herdeiros, positivas ou negativas, desejadas ou não, e com esta informação planejar os rumos de sua criação.

Como este é um assunto extenso, polêmico e um mistério para muitos donos, não será possível descrever todas as considerações sobre um pedigree, mas seguem algumas informações para que um leigo entenda um pouco melhor o que diz o documento do seu amigo.

Importante: é possível encontrar pessoas que vendem filhotes com ou sem pedigree, com preços bastante diferentes. Se o vendedor disser que o cão com pedigree custa R$ 500,00 e sem pedigree R$ 300,00, você com certeza, está sendo enganado. Desconfie! O custo para se registrar um canil e emitir um pedigree não eleva tanto assim o custo de um filhote.

Um bom criador pode lhe oferecer um filhote sem pedigree, mas ele vai deixar claro porque não quis registrar o peludo, e o motivo nunca será “baratear” a venda. Pode ser que o cachorrinho tenha alguma característica indesejada como a ausência de marcações corretas da cor do pelo para a raça, ou algum outro defeito físico (surdez, por exemplo). Nada disso vai impedir o cachorro de ser um companheiro maravilhoso, mas o criador quer ter a certeza de que o animal não será usado para procriação por alguém que queira ter um canil.

No pedigree do cachorro sempre aparecerá, pelo menos, três gerações de ancestrais, pais, avós e bisavós. Alguns criadores mantém um acompanhamento mais detalhado, chegando facilmente até a 5ª geração, mas estes dados são mais para atender a curiosidade do que por influência consistente destes parentes. Para se ter ideia, a contribuição de um trisavô (quarta geração) é de 1/256 no fenótipo (características físicas) e no genótipo (características genéticas) do filhote. Os machos (pai, avôs e bisavôs) aparecem sempre acima do nome das fêmeas (mãe, avós e bisavós) com a qual eles cruzaram. Abaixo de cada nome aparecerá o número do registro do cachorro e a sigla do Kennel Club em que ele foi registrado, bem como os títulos conquistados pelo cachorro até a data em que o pedigree foi emitido (atrás do pedigree você vai encontrar uma lista que relaciona a sigla com o título conquistado, por exemplo, A4 quer dizer que o cachorro possui o título de Campeão Internacional). Em alguns casos o pedigree informará ainda qual é a cor da pelagem do filhote e dos ancestrais dele, já que em algumas raças determinados cruzamentos de cores são indesejados, proibidos, ou até mesmo indicam futuros problemas graves de saúde para o filhote.

A emissão da certidão demora cerca de 40 dias, portanto é bom você pedir ao criador uma cópia dos pedigrees dos pais do seu filhote, além de uma cópia e o protocolo de entrega do mapa de ninhada. Estes documentos são a garantia de que o criador registrou a ninhada e que também está aguardando o pedigree, já que é primeiramente enviado em nome dele, que deverá assiná-lo transferindo a propriedade do filhote para você, que deverá providenciar um novo pedigree, desta vez já com o seu nome. Ufa!

Por que é bom você ter o pedigree de um cachorrinho? Bom, como já dissemos anteriormente, este documento é a garantia de que o filhote é seu, de raça pura, e se você estuda-lo com atenção poderá descobrir várias coisas sobre os potenciais genéticos do seu bichinho e o que o criador está buscando para a sua criação. É claro que um pedigree, por si só, não garante que o seu cachorro seja um espécime da melhor qualidade, nem mesmo um excelente representante da raça. O fato dos pais e avós serem campeões não é garantia de que o seu filhote será também. O cruzamento dos pais do seu filhote não é necessariamente a garantia de sucesso na preservação das características desejadas para a raça, sejam elas de temperamento ou físicas. Mesmo de posse de um pedigree maravilhoso, é preciso ter cuidado e atenção na hora de escolher um filhote, mas sem dúvida o documento poderá ajudar a ter um filhote sadio e bonitão.

Mas vamos lá: o pedigree pode indicar que o seu filhote é fruto de inbreeding, linebreeding ou outcross. Se a linhagem dele é aberta ou fechada. Falei grego? Vou tentar explicar!


Inbreeding é quando o pedigree mostra que houve um cruzamento entre cães com um parentesco muito próximo, por exemplo entre irmãos, meio irmãos, pai com filha, ou mãe com filho.

Este tipo de cruzamento só deveria ser usado por criadores muito experientes e com grande conhecimento da genética de seus animais, pois ao mesmo tempo em que serve para fixar qualidades espetaculares nos filhotes, também traz o grande risco de potencializar e fixar doenças, defeitos e desvios de temperamento, transmitidos geneticamente. O criador que tem uma ninhada baseada em inbreeding deve estar preparado para analisar cuidadosamente o resultado deste cruzamento e eliminar do seu plantel (castrando e evitando que estes filhotes venham a se reproduzir no futuro) aqueles que carregam problemas genéticos.

A menos que você também conheça bastante sobre as linhagens deste filhote e esteja disposto a correr riscos (algumas doenças como atrofia progressiva da retina, que deixa o cachorrinho cego e é transmitida geneticamente, por exemplo, só aparecem com o passar dos anos), é melhor não comprar um peludinho com um pedigree destes e muito menos deixar que os seus cães, se forem parentes, cruzem.

Linebreeding é o termo usado para cruzamentos entre parentes, mas não diretamente relacionados: normalmente eles possuem apenas um único ancestral comum. Por exemplo, cruzamento de tio com sobrinha, avó com neto, etc. Este cruzamento é o mais praticado pelos criadores que desejam fixar determinada linhagem no seu plantel, que possui e transmite características físicas e comportamentais altamente desejáveis. Também é normal que estes criadores introduzam, de tempos em tempos, um “sangue novo” (um animal de outra linhagem) para ajudar a corrigir eventuais faltas na sua criação. Com a prática do linebreeding o criador levará mais tempo para fixar uma característica desejada nos filhotes do que com o inbreeding, mas o criador também diminuirá os riscos de desenvolver problemas genéticos no seu plantel.

Quando vários ancestrais se repetem no pedigree do filhote ele é chamado de “fechado” e denota que o criador tem um forte interesse em determinada característica que deve estar sendo transmitidas para os filhotes.

Quando o mesmo ancestral aparece, mas poucas vezes, o pedigree do filhote é chamado de aberto, e provavelmente quer dizer que o criador encontrou a linhagem desejada, mas que ainda procura em outros cães e linhagens complementos para reforçar ou corrigir determinadas características da sua criação.



Outcross
é o termo usado quando o cachorro não apresenta nenhum parentesco entre os seus ancestrais até a sua quinta geração (tataravôs). Este é um pedigree aberto e é o caso da maioria dos cachorros que possuem pedigree, mas sem cruzamentos planejados. São os famosos cachorros da vizinha. Se por um lado você dilui bastante as chances de fixar um defeito genético na ninhada, por outro é mais provável que as características físicas destes filhotes também se tornem muito diferentes das encontradas nos grandes exemplares da raça. É o caso de muitas raças populares que embora tenham o pedigree atestando a sua linha de sangue, nem parecem puros, de tão diferentes que são de seus companheiros de exposição e que aparecem em revistas e livros. Ao contrário do que muitos pensam, o cruzamento outcross não garante que os filhotes resultantes estarão livres das doenças genéticas típicas da raça. Na verdade tudo vai depender do quanto o criador é cuidadoso e responsável na hora de escolher o parceiro do seu cachorro.

Agora que você já sabe o que deve ser observado no pedigree do seu futuro filhote, não se esqueça que nada substitui uma boa conversa com o criador para tirar as dúvidas e ter certeza de que ele tem um objetivo (e qual) na hora em que foram escolhidos os pais dos filhotes. Ah! Só mais uma coisinha importante: vale lembrar novamente que não é só porque os pais do seu filhote são campeões que o seu bichinho será também um “semideus” da beleza e do bom comportamento. Nem sempre os cães passam para os herdeiros apenas as suas melhores qualidades. Os defeitos também são igualmente resultado do cruzamento e da genética. E o comportamento deste filhote vai depender mais de você do que qualquer coisa. Cuidado!

Fonte:
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