terça-feira, 6 de maio de 2014

Especialidades: Dermatologia

DERMATOLOGIA


Otohematomas

Os otohematomas ou hematomas auriculares são pequenas acumulações de sangue e líquido sanguinulento entre a pele e a cartilagem da orelha do animal, formando autênticas bolhas no pavilhão auricular. São um problema bastante frequente nos nossos cães e gatos.
Normalmente, os donos notam um inchaço repentino na orelha do animal, cheio de liquído e extremamente doloroso ao toque. A dor vai desaparecendo com o passar dos dias, mas se o otohematoma não for tratado continuará a acumular-se líquido e pode mesmo começar a aparecer tecido fibroso na orelha do animal, podendo este desfigurar a sua estrutura normal.

Tanto os cães como os gatos podem desenvolver otohematomas, contudo é mais frequente nos cães. Os animais mais predispostos para otohematomas são todos aqueles que têm problemas crónicos de ouvidos – otites infecciosas, otites a ácaros ou otites de causa alérgica.

Estas patologias provocam comichão no ouvido do animal e fazem com que ele se coce e abane a cabeça violentamente, conduzindo facilmente à formação de um hematoma. 
Para tratar o otohematoma, o líquido deve ser removido através de uma punção com agulha e seringa. A quantidade de líquido sanguinolento que retiramos é, por vezes, impressionante. 

Após a remoção do líquido instilamos na zona do otohematoma, um corticosteróide de acção prolongada para evitar a formação de novo hematoma. Podemos também fazer um penso compressivo ligeiro que auxilia no desaparecimento total do hematoma. Se o animal tiver muita comichão é fundamental que use um colar isabelino durante alguns dias, para evitar o auto-traumatismo. Nos casos recidivantes optamos pela cirurgia. Esta consiste em pequenas incisões suturadas ao longo do pavilhão auricular.

A melhor forma de prevenir os otohematomas é evitando o auto-traumatismo do próprio animal. Se notar que ele abana muito a cabeça ou que se coça muito nos ouvidos, não hesite em levá-lo ao seu médico veterinário para que a otite seja logo tratada numa fase inicial e não haja o risco de se formar os hematomas auriculares.

Dermatofitoses – “Tinha”

Designa-se por dermatofitose todas as infecções de pele provocadas por fungos. Os fungos mais frequentes são Microsporum canis, Microsporum gypseum e Trichophyton mentagrophytes. Nos nossos animais de companhia, o género mais frequente é o Microsporum e, vulgarmente, designamos esta dermatofitose por “tinha”.

Todos os mamíferos podem contrair dermatofitoses, incluindo os humanos. No entanto, a maior parte dos mamíferos torna-se imune às dermatofitoses e não exibe sinais da doença, excepto se estiverem imunossuprimidos ou se forem muito jovens ou muito idosos. Daí ser mais frequente encontrar dermatofitoses em cachorros e gatinhos.

As lesões de “tinha” são normalmente áreas circulares, descamativas, sem pêlo ou com pêlo muito quebradiço, com alguma vermelhidão, podendo ou não existir prurido. Localizam-se normalmente a nível do focinho, orelhas, patas e cauda. Nos cachorros a “tinha” restringe-se, habitualmente, a uma lesão isolada. Nos gatos temos, habitualmente, uma “tinha” mais generalizada.

Lesão de "tinha" localizada

O diagnóstico da dermatofitose pode ser feito usando um aparelho especial denominado Lâmpada de Wood de luz ultravioleta que, quando percorre o corpo do animal, torna as lesões verde fluorescente. Também podemos fazer uma colheita de pêlos e colocá-los num meio especial para crescimento de fungos ou observá-los ao microscópio para encontrar eventuais esporos dos fungos.

As dermatofitoses são patologias que exigem um tratamento contínuo e demorado (pelo menos 1 a 2 meses). Por isso, a persistência do dono é fundamental para o sucesso do tratamento.

Os animais afectados estão constantemente a disseminar esporos dos fungos pelo meio ambiente e estes esporos resistem durante meses nesse mesmo meio, daí ser essencial uma limpeza profunda do local onde o animal se encontra, nomeadamente camas, tapetes, canis ou gatis. Sejam lesões localizadas ou generalizadas é essencialmente lavá-las periodicamente com champôs à base de clorhexidina, que é um desinfectante para a pele extremamente eficaz para a manter saudável. Nas lesões localizadas optamos por loções ou pomadas de aplicação tópica em cada lesão. Nas lesões generalizadas, além das loções e pomadas, devemos administrar fármacos anti-fúngicos por via oral. Em qualquer uma das situações é de extrema importância que o dono siga à risca todas as indicações do tratamento e que nunca o páre até o médico veterinário achar que o deve fazer, mesmo que todas as lesões já tenham desaparecido da pele do animal.

Acne felino

O acne felino é um problema dermatológico bastante frequente nos nossos gatos. Pode afectar gatos de qualquer idade, de qualquer raça, machos ou fêmeas. Localiza-se, essencialmente, a nível do queixo e dos lábios do gato.
Localização típica do acne felino ligeiro
No acne, os folículos das glândulas sebáceas, presentes naturalmente no queixo do animal, ficam obstruídos, dando origem aos vulgarmente denominados “pontos negros”. Estes pontos negros incham, infectam e dão origem a pústulas.

A causa do acne felino é desconhecida. Contudo, existem vários factores que podem desencadear o processo:
stress; 
*grooming insuficiente; 
*hiperplasia das glândulas sebáceas; 
*alergias alimentares; 
uso frequente de recipientes de plástico para a alimentação: o plástico, por ser poroso, é uma fonte de bactérias, que rapidamente se transferem para o queixo do animal. Acredita-se também que há gatos que fazem alergia ao próprio plástico. 

Os sintomas do acne felino são a presença de pontos negros no queixo e lábios do animal, dando a aparência de sujidade. Nos casos mais graves, em que já há uma infecção bacteriana secundária, o animal pode apresentar a pele inflamada e com focos de pús.Nos casos graves, além do tratamento tópico, optamos também por tosquiar a zona afectada para permitir uma melhor limpeza da pele e administramos antibióticos e corticosteróides por via oral.
Se o seu gato tem tendência para acne, lembre-se sempre de evitar os recipientes de plástico, lave os comedouros e bebedouros diariamente e lave-lhe o queixo após as refeições com uma solução antisséptica.

Dermatite por lambedura

A dermatite por lambedura, também denominada por “acral licking”, é um dos problemas de pele mais complicados de resolver em veterinária.
Consiste no lamber incessante de uma parte do corpo, nomeadamente as patas, até causar uma lesão na pele.
Lamber incessante

A maior parte dos donos revela que a lesão começa por ser uma pequena ferida. O animal lambe constantemente a pata e, numa fase inicial, causa iritaçao da pele, mudança de cor do pêlo (fica mais escuro por ser queimado pela saliva) e peladas. À medida que o problema progride, a pele começa a ficar ulcerada e infectada. O animal começa a sentir cada vez mais prurido e tende a lamber ainda mais a lesão. Trata-se, por isso, de um ciclo vicioso: quanto mais o animal lambe, maior ulceração ele faz, mais prurido tem e, consequentemente, mais quer lamber.

As raças mais predispostas para este tipo de dermatite são:
*Labrador Retriever; 
*Golden Retriever; 
*Weimaraner; 
*Doberman Pinscher; 
*Pastor Alemão; 
*Setter Irlandês. 

Atualmente, acredita-se existirem várias causas para este tipo de dermatite. De entre elas, as mais frequentes são:
Stress: períodos solitários muito longos, mudança de ambiente, entrada de um novo membro, entre outros; 
dor articular: a dor numa articulação pode ser um motivo para o animal começar a lamber-se; 
corpos estranhos ou picadas: desencadeiam prurido ou dor localmente. 

Claro que todas estas causas podem fazer o animal lamber-se e isto não ser obsessivo. Apenas alguns animais tornam o lamber um vício; será ao equivalente humano de roer as unhas – as pessoas já o fazem inconscientemente. No cão o mesmo se passa.

A forma de tratar este tipo de dermatite é acelerar a cicatrização total da lesão. Isto só é possível se o animal não se lamber. Para isso, usam-se colares isabelinos e, nos casos mais graves de animais muito stressados, pode ser necessário a toma de algum tipo de calmante. 

Na lesão aplicam-se pomadas com antibiótico e anti-inflamatórios esteróides que retiram o prurido. Pode ser necessário a administração sistémica destes fármacos para as lesões mais extensas. Nos casos recidivantes pode-se optar pelo encerramento cirúrgico da lesão após tratamento com antibióticos. Contudo, nestas situações também se pode dar o caso do animal lamber a zona de sutura e voltar a abrir a lesão antiga. Daqui se conclui que, o mais importante, é remover toda e qualquer fonte de stress para o animal por forma a evitar um comportamento obsessivo-compulsivo.

Otites

As otites são um dos motivos mais frequentes para consulta no dia-a-dia da prática clínica. Consistem na inflamação do conducto auditivo do animal.Conducto auditivo do animal

Podem ser classificadas em:
externas: com inflamação da orelha do animal; 
médias: com afectação do ouvido médio, são identificadas facilmente através de um otoscópio; 
internas: são as mais graves, atingindo a bula timpânica, e conduzindo a sinais de desequilíbrio, designados por síndrome vestibular; as otites internas só são possíveis de identificar através de imagiologia (rx ou mesmo um TAC) 

As otites podem ser provocadas por vários agentes: bactérias, leveduras, ácaros e corpos estranhos. Todos eles conduzem a sintomas semelhantes:
*prurido; 
*dor; 
*inclinação da cabeça; 
*odor mais intenso do ouvido afectado. 

O tratamento das otites passa por, primeiro, identificar a sua causa. Há animais que frequentemente têm otites e, nalguns casos, passa a ser um problema crónico. Isto pode dever-se ao meio ambiente onde estão inseridos, a hábitos que propenciam o seu aparecimento, como por exemplo banhos de mar frequentes ou passeios de carro com a cabeça à janela, ou mesmo à sua anatomia (é o caso dos animais com o conducto auditivo muito apertado que impossibilita um arejamento adequado do ouvido). É aconselhável efectuar uma limpeza semanal com um produto de limpeza adequado nestes animais mais predispostos a otites.

O tratamento das otites consiste sempre na aplicação de um produto tópico e, nos casos mais graves, de medicação sistémica. Nos casos de corpos estranhos é fundamental a sua detecção e remoção antes de iniciar o tratamento. Assim que o tratamento é iniciado, não deverá ser interrompido sem o seu médico veterinário voltar a avaliar o ouvido do seu cão ou do seu gato. Otites mal tratadas, conduzem a resistências nos tratamentos futuros e, consequentemente, aumentam a possibilidade desse problema se tornar crónico. Para um tratamento mais eficaz recorre-se, por vezes, a uma zaragatoa do ouvido do animal que permite identificar o agente envolvido.
Se notar que o seu cão ou o seu gato abana demasiado a cabeça ou que se coça de forma mais intensa, não hesite em consultar o seu médico veterinário.

DAPP
Dermatite alérgica à picada da pulga

A dermatite alérgica à picada da pulga, vulgarmente denominada de DAPP, é uma doença de pele que afecta tanto cães como gatos. Trata-se de uma reacção alérgica à picada da pulga, que ocorre na epiderme do animal.
Normalmente, a pulga ao picar, induz um certo incómodo no animal. Mas se o animal for alérgico, esse prurido é muito intenso e o animal começa a coçar-se desesperadamente. 

Este auto-traumatismo por parte do animal conduz a lesões na pele mais ou menos graves, podendo ir de uma simples vermelhidão até zonas sem pêlo e com a pele totalmente infectada.

Prurido intenso

A DAPP caracteriza-se por aparecer inicialmente no final do dorso do animal, já próximo da cauda. No entanto, se não for tratada pode alastrar rapidamente num pequeno espaço de horas.

Os sinais mais relevantes da DAPP são:
*prurido intenso; 
*queda de pêlo localizada ou generalizada; 
*pele inflamada ou mesmo infectada; 
*crostas; 
*cheiro intenso na pele – quando o grau de infecção já é acentuado; 
*pontos pretos na pele do animal que representam as fezes das pulgas adultas. 

Para tratar a DAPP, é vital controlar a população de pulgas existentes, quer no animal, quer no ambiente em que ele vive. Atenção que a DAPP não significa ter o animal contaminado por um número elevado de pulgas – basta o animal ser alérgico e ser picado por uma pulga para fazer uma dermatite grave. Assim, nos animais alérgicos é indispensável fazer uma boa prevenção de ectoparasitas, a fim de evitar que a DAPP apareça.

No caso de já existir, é fundamental controlar o prurido, de forma a evitar que o animal se auto-mutile. Pode mesmo ser necessária a aplicação de um colar isabelino, nos primeiros dias, para evitar que ele se coce. O controlo do prurido pode ser feito localmente, com pomadas ou loções com antibiótico e anti-inflamatório ou, de forma sistémica para os casos mais graves. Os banhos com champôs anti-alérgicos podem também ser úteis quando a DAPP abrange uma área muito extensa – acalmam a pele e dão conforto ao animal.

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